Cavaleiros do Fim Brasileira

Autor(a): zXAtreusXz


Volume 1

Capítulo 19: Passado de Zane. Parte 3: O Preço da Aposta

CLÁÁNG!

O sino soou, anunciando o início da luta. A plateia explodiu em gritos assim que os dois se posicionaram.

Jeff avançou devagar, lançando socos retos, mas Elijah bloqueava todos com facilidade, sem sequer revidar.

O garoto percebeu rápido que não venceria na força bruta. Passou a rodar em torno do adversário, atento, o olhar fixo na guarda firme do gigante.

Do segundo andar, Zane observava tudo com o coração acelerado enquanto a multidão mantinha o ritmo ensurdecedor:

— Vai, garoto, acha uma brecha! — murmurou.

Jeff então lançou um jab rápido no rosto só para testar a defesa. Em seguida, acertou outro no peito, um pouco mais forte. Elijah recuou um passo, desconfiado.

— Chega aqui, grandão... — provocou, com um sorriso desafiador.

Mais um jab, dessa vez no abdômen, e notou a mão esquerda do oponente baixar por uma fração de segundo.

Aproveitando a brecha, deslizou para o lado, fingindo recuar, mas girou o quadril com precisão e desferiu um direto no queixo do oponente. O impacto ressoou com um baque seco.

A cabeça de Elijah se virou abruptamente, e um som abafado ecoou pela arena.

O grandão vacilou, as pernas tremendo quase imperceptivelmente.

A plateia enlouqueceu ao ver aquele monstro sentir a força de um soco.

A partir dali, Elijah desferiu golpes precisos, que Jeff evitava com agilidade, contra-atacando com uma série rápida de estocadas diretas.

Zane assistia ansioso, o medo crescendo em seu peito enquanto o gigante lançava olhares rápidos para Edmund, como se buscasse uma resposta no semblante sério do inglês.

No instante em que Elijah voltou toda a atenção para o combate, lançou um único golpe brutal que arremessou Jeff metros adiante.

O garoto caiu de costas no chão, o ar saindo em ofegos pesados enquanto tentava se erguer, claramente abalado.

A plateia explodiu aos gritos, maravilhada com a virada repentina.

Zane encostou-se no vidro, os olhos fixos no corpo estendido, apreensivo.

Jeff cuspiu sangue no ringue. 

O gosto metálico tomou conta da boca enquanto o zumbido nos ouvidos começava a ceder. A multidão rugia ao redor, mas soava distante, abafada, como se estivesse longe dali.

— Levanta, Jeff! Não deixa ele te amedrontar! — Zane repetia para si mesmo, a voz firme no silêncio interior.

Com um gemido contido, o garoto apoiou a mão no chão e ergueu o corpo devagar, cada músculo queimando em protesto. O suor escorria pelo queixo, pingando no chão gelado. O olhar cruzou o do adversário que vinha como um touro, decidido e implacável.

— Esquiva, moleque! — gritou da cabine.

Elijah lançou um direto potente, mirando o queixo. Jeff desviou por um triz, abaixando o corpo e deslizando para o lado. Um cruzado veio em sequência, mas ele já estava dois passos à frente. Rápido demais para ser pego.

Revidou com um soco seco nos rins seguido por dois golpes rápidos no estômago, que fizeram o gigante arquear a coluna, ofegante.

— Finaliza com um uppercut!

Antes que Elijah pudesse se recuperar, Jeff girou o tronco e cravou um uppercut certeiro no queixo.

O grandalhão cambaleou, o nariz escorrendo sangue, o lábio rachado. Tentava manter a guarda, mas os golpes quebraram seu ritmo e, com isso, a confiança.

— Isso, porra! — comemorou Zane.

Jeff respirava pesado, olhar fixo, a expressão de uma presa que agora virou caçador. Com um gesto desafiador, chamou o adversário para continuar.

Elijah arfava, os olhos rápidos fugindo para Edmund, que encarava com rosto fechado. O lutador soltou um suspiro longo, piscou demoradamente, e voltou a se concentrar no jovem, limpando o sangue do nariz com o dorso da mão.

A multidão berrava, mas entre os dois havia um silêncio tenso, carregado de expectativa. Jeff deu um passo à frente, firme após a sequência bem-sucedida.

— É tudo por você, mãe!

O homem rosnou em resposta e avançou ferozmente. Jeff ergueu os braços, pronto para desviar do golpe que parecia óbvio.

Mas não foi isso que veio.

Elijah fingiu um direto e no último instante, abaixou o corpo e cravou o ombro com toda a força na barriga de Jeff, arremessando contra ele todo o peso brutal.

O ar saiu violentamente dos pulmões do rapaz, como se um soco invisível o tivesse atingido.

— Não! — Zane se sufocou com a cena.

Jeff despencou de costas com um baque seco. Antes que pudesse reagir, Elijah já estava por cima.

Um soco afundou direto no estômago.

Outro.

Mais um.

O corpo inteiro se curvou involuntariamente. Jeff tentou puxar o ar, mas nada veio. A boca se abriu em desespero, os olhos arregalados como se suplicassem por oxigênio. O som da multidão se dissolveu em ruído abafado. Tudo em volta parecia embaçado, distante, como se estivesse debaixo d’água.

— Reage, moleque! Não deixe ele te prender! — Zane gritava da lateral, os punhos cerrados no vidro.

Foi então que veio o golpe covarde.

Uma joelhada, baixa demais.

No limite da legalidade — ou talvez além dela.

O corpo de Jeff se encolheu, um espasmo de dor percorrendo cada fibra. A multidão silenciou por um instante. Parte gritou em protesto. Outros gargalhavam, como se tivessem esquecido que havia um ser humano ali embaixo.

Jeff rolou para o lado, tossindo entre gemidos abafados. O braço se curvou sobre o abdômen, num reflexo de autoproteção. A pele reluzia com suor. Sangue escorria pela boca. O pó da arena grudava em tudo, sujando cada centímetro, tornando-o irreconhecível.

No limite, esticou o braço, a palma prestes a tocar o chão para desistir. Mas antes que pudesse selar o fim da luta, Elijah agarrou seu punho.

O olhar do grandalhão se desviou, encontrando Edmund. O velho cruzou os braços e acenou com a cabeça. Um gesto seco. Uma aprovação silenciosa.

Elijah fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. Quando os abriu, algo dentro dele parecia diferente.

Então segurou os dois braços de Jeff com firmeza e começou a desferir os golpes.

Um. O punho explodiu no rosto.

Dois. A cabeça do garoto virou com o impacto, seu sangue voando em arco.

Três. Outro soco. Mais seco. Mais pesado.

Foi aí que começou. A contagem. Uma tradição nas lutas daquele lugar — não oficial, não escrita, mas pulsando na garganta de cada espectador.

— UM!

— DOIS!

— TRÊS!

As vozes se erguiam, mas vacilaram ao encontrar o que viam.

— Q-quatro... — alguém murmurou, já sem convicção.

— C... c... cinco... — outro tentou completar, mas sua voz se perdeu.

E então, o silêncio.

A multidão se calou. O que antes era provocação, desafio, espetáculo — havia se tornado algo mais sombrio.

Só se ouvia o barulho dos socos, naquele galpão que agora parecia tão vazio.

O rosto de Jeff começou a se desfigurar. A pele se rompia, os olhos já não piscavam, e a mandíbula pendia levemente para o lado.

A plateia, que antes rugia, agora assistia em silêncio. O horror surgia em cada rosto, um a um, como uma onda fria engolindo a euforia.

Zane não esperou. Saiu correndo escada abaixo, empurrando ombros e cotovelos, a voz cortando o ar:

— Tyler! Encerra a luta! AGORA!

— Ele... ainda não deu os dez segundos… — respondeu, perplexo.

— Pro caralho a contagem! ENCERRA ESSA PORRA!

Tyler enfim se moveu, correndo em direção ao ringue, mas lento demais para o que precisava ser rápido.

Elijah continuava.

Socos pesados.

Brutais.

Cada impacto mergulhava o rosto de Jeff em mais sangue, espalhando a carne, apagando traços.

O garoto já não reagia.

Só o som úmido dos ossos sendo atingidos, da pele rasgando, preenchia o espaço.

— JUAN! — gritou Zane, apontando desesperado para o bar.

O companheiro não hesitou. Arrancou o kit de primeiros socorros debaixo do balcão e saiu em disparada.

A plateia, em choque, encarava aquilo como se algo tivesse sido rompido dentro deles. A luta já não era um espetáculo. Era uma execução.

Os três pularam no ringue de imediato. 

Juan se ajoelhou ao lado de Jeff, que cuspia sangue e arquejava como se cada respiração rasgasse sua garganta. Tentava puxar o ar, os olhos vidrados, sem foco.

Zane e Tyler agarraram o braço de Elijah, que ainda descia como uma marreta em direção ao corpo do garoto. Com esforço, conseguiram puxá-lo para trás.

Tyler logo correu para ajudar Juan, mas Zane se manteve em frente ao agressor, os punhos cerrados e o corpo firme, como se impedisse que a violência avançasse mais um centímetro.

— Ei! — A voz de Edmund cortou o silêncio pesado da plateia. Ele se ergueu da cadeira. — São só dois lutadores no ringue! A contagem ainda não terminou, e o garoto não apagou!

— Dissemos sem mortes! — gritou em resposta, os olhos faiscando.

Num salto repentino, desferiu um uppercut seco que estourou no queixo de Elijah, lançando-o de costas ao chão com brutalidade. Um suspiro coletivo percorreu o local. Ninguém esperava ver o homem cair daquela forma com um único golpe.

Zane se jogou sobre ele e puxou o braço de volta para outro golpe, pronto para desferir o que viesse.

— Seu desgraçado! — rugiu. — Olha pra ele, porra! Por que fez isso!?

Elijah, estirado, virou o rosto devagar, parando sobre o corpo de Jeff. A imagem do garoto machucado pareceu enfim quebrá-lo.

As lágrimas vieram antes das palavras. Um soluço.

— Eu... eu não queria isso...

— Olha pra ele de novo! Enxergue o que fez!

— Edmund me obrigou... — sussurrou Elijah, a voz entrecortada. — Disse que ia vender minha filha. Minha mulher... ameaçou tirar as duas de mim. — as palavras saíam entre lágrimas e tremores enquanto ele se agarrava ao braço do rapaz. — Eu só queria protegê-las, tem que acreditar em mim...

Zane permaneceu em silêncio por alguns segundos. O punho fechado foi abrindo aos poucos. A respiração pesada se acalmou. Ainda encarando o homem caído, balançou a cabeça e se ergueu devagar.

— Hattie! — chamou, sem desviar a atenção do chão. — O documento. Ele está pronto?

Ela, que havia dado alguns passos em direção a Jeff, parou, virou-se e correu até a mesa de apostas. Pegou um papel, e seguiu até Zane.

— Está aqui. — estendeu o braço, ofegante.

Ele passou os olhos pelas linhas, lendo rapidamente. Então ergueu a cabeça com a voz grave:

— Eu tenho aqui um documento que declara este homem. — apontou para Elijah. — Um homem livre! Também serão incluídos os nomes da esposa e da filha.

Em seguida, apontou o dedo em riste para Edmund.

— E o senhor vai assinar essa carta.

— Ficou maluco!? — rosnou o velho. — Isso não faz parte do acordo!

De súbito, dezenas de seguranças ao redor ergueram as armas, apontando diretamente para ele e seus guarda costas.

Zane deu um passo à frente, a voz firme.

— Eu não estou pedindo.

— Zane! — chamou Juan, a voz aflita. — Não vou conseguir tratar isso com meu kit. Precisamos levá-lo pro hospital agora!

O rapaz respirou fundo. Virou-se para Otis.

— Otis, faça aquele verme assinar a escritura.

Depois rodou sobre os calcanhares, fitou a multidão como um general que encerra a batalha.

— A luta acabou! Todas as apostas serão devolvidas!

— E a minha!? — berrou Edmund, ainda sentado.

— A sua? — Zane arqueou uma sobrancelha. — O senhor não apostou. Apenas concordou em doar quatrocentos e oitenta e cinco dólares à nossa equipe. Para distribuir entre famílias necessitadas.

— Do que diabos está falando!? Seamus!

O irlândes até então na mesa de apostas gritou em resposta.

— Eu lhe avisei Edmund. Um dia você iria cair do cavalo. A américa não é para amadores.

Zane, alheio a conversa, correu até Juan e Tyler, que já tentavam erguer Jeff com cuidado. Os três seguiram juntos, apressados, saindo pela porta de ferro ao fundo do galpão, com o garoto entre os braços.

Lá fora se depararam com a jovem que distribuía panfletos se distanciando da propriedade a cavalo. Mas ao ouvir a movimentação ela se virou vendo a cena desesperadora e veio de encontro.

— Meu Deus! O que aconteceu com este garoto!?

— Por favor! — Zane se ajoelhou diante dela. — Ele precisa de um hospital urgente! Preciso do seu cavalo.

A jovem, sem pensar duas vezes, fez um sinal para que ele subisse com o rapaz na garupa. Assim que ele montou, ela tomou a dianteira nas rédeas e os conduziu rapidamente em busca do hospital mais próximo.

Tyler e Juan ficaram parados ali, observando até que eles desaparecessem de vista.

— Você acha que ele vai sobreviver, Juan?

Mas o colega não respondeu. Continuou imóvel.

— Juan!?

— Eu não sei, droga!












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