Volume 2 – Arco 5
Capítulo 65: Superando tudo e todos. O poder da união!
Assim como a torcida, o locutor da partida estava em êxtase:
— Que jogo louco, meus amigos! O 2ºH começou arrebatador, envolvendo a equipe do 1ºB em contra-ataques eficientes e fazendo três a zero logo no primeiro tempo. No segundo, quando pensamos que o 1ºB reagiria, veio um baque: o quarto gol. Pronto! Tudo acabado, certo? Nada disso! Não sei de onde tiraram força, mas o time de vermelho decidiu que as coisas não ficariam assim e, em menos de cinco minutos, já fez dois gols! Agora, a grande questão é: o 1ºB conseguirá, enfim, reagir a tempo? Ou esse fogo é de palha?
Quando o jogo retomou, percebi que minhas suspeitas estavam certas: os adversários haviam ficado desmoralizados. Fracassavam em todas as tentativas de ataque. Por outro lado, meu time parecia ter tomado um banho de ânimo. Defendíamos como se o cansaço tivesse ido embora, pressionando o 2ºH em qualquer parte do campo. E nem precisávamos focar apenas no Yago para anular as jogadas.
O jogo havia mudado.
Agora éramos nós que estávamos no controle. Trocávamos passes rápidos e chegávamos ao gol com facilidade. Não fosse por Giuliano, que fazia ótimas defesas, o placar já teria sido alterado.
Em um desses ataques, eu tinha a bola na linha de fundo. O marcador da vez, no entanto, era o próprio Yago.
Havia um ar de desafio entre nós dois. Eu sabia que aquele simples lance poderia ter extrema importância no resultado final da partida. Eu poderia passar e dar uma assistência para algum dos atacantes do meu time. Em compensação, Yago tinha total capacidade de roubar a bola e iniciar um contra-ataque e matar de vez qualquer resquício de esperança do meu time.
— Você não vai passar por mim — garantiu o caçador do clã Cordeiro.
Eu já havia calculado tudo. Sorri.
— Nem preciso.
Dei um toque para alguém que estava se aproximando: Carlos. Carlos recebeu na ponta da grande área e, percebendo que os nossos companheiros estavam marcados, bateu forte contra o gol. Mais uma vez, Giuliano deu um grande impulso e espalmou a bola para fora.
— DEFESA MAGNÍFICA! — narrou o locutor.
Yago pareceu não ter gostado daquilo. Dei de ombros e observei Riku correr para a marca do escanteio.
Mais uma vez, todos ficaram na expectativa. E o locutor conseguia trazer tensão para as arquibancadas com sucesso, visto que a torcida amenizou o barulho quando ele questionou se Riku tentaria outro chute.
Riku cobrou o escanteio. Cruzou, mas a defesa tirou. A bola sobrou nos pés do Pedro, fora da área, e o garoto chutou rasteiro, bem no canto, longe do alcance do goleiro.
— GOOOOOOOOOLLLLL!!!
Enquanto meus amigos comemoravam, eu só conseguia pensar numa coisa: "falta só mais um".
Olhei para o treinador, curioso para saber qual expressão estampava seu rosto. Rubens, sério, apenas assentiu.
Quando o 2ºH deu a saída de bola, Yago gritou:
— Chega de brincadeiras! Vamos acabar logo com isso!
— Certo! — gritaram seus companheiros.
Fiquei impressionado com a mudança de postura dos adversários. Nos minutos seguintes, ficaram mais agressivos e perigosos que antes. Atacavam e defendiam juntos. Tabelavam, driblavam, nem pareciam os mesmos. Meu time só pôde ficar na defensiva com a série de ataques do 2ºH. Não conseguíamos fazer mais nada!
Então Yago recebeu na meia-lua, driblou dois jogadores e bateu para o gol, forte, no cantinho. Lucas saltou e ainda conseguiu relar a ponta dos dedos na bola, empurrando-a para a trave.
— QUE PANCADA NA TRAVE!
Nícolas apareceu chutando para fora.
— Juiz! Substituição! — gritou o treinador Rubens. Ao seu lado, o zagueiro Mike e o atacante Samuel davam pulos em forma de aquecimento. Os que saíram foram o meio-campista Carlos e o lateral esquerdo Thiago. Rubens chamou também Otávio, que aparentava estar exausto, assim como os outros dois.
Todos olhamos para ver quem seria o terceiro a entrar.
Kai levou um susto quando foi chamado.
— Kai! — disse Rubens.
— Sim, senhor.
— Confio em você!
Ninguém conseguia disfarçar a surpresa. Aquela era uma final de campeonato, um jogo muito difícil e que já estava quase no fim.
Mas eu confiava não só no treinador, como também no meu amigo nerd. Lembrava perfeitamente do desempenho do garoto na partida que empatamos com o 2ºH. Poderia faltar ao Kai técnica e habilidade, mas raça e vontade ele tinha de sobra.
— M-mas treinador — ainda gaguejou o coitado. — O senhor t-tem certeza, hã, disso?
— Não treinamos duro para quando chegasse esse momento? Então sim, eu tenho certeza. Quero você no ataque!
Foi inevitável: meu queixo caiu. Os demais jogadores do 1ºB, titulares e reservas, se entreolharam espantados. Nem o locutor esperava por essa. O que lhe restou foi narrar a entrada do nerd.
— Kai é a terceira troca! Um novo atacante para reforçar o 1ºB!
O jogo continuou com o 2ºH pressionando e o nosso time se defendendo. Todos, incluindo Riku e Natsuno, estávamos recuados, formando um paredão para que os adversários não chegassem à área. O único que parecia meio perdido era o Kai.
Percebi que ele não sabia onde se posicionar. Vez ou outra corria atrás da bola, desnorteado, como um roqueiro que tenta cantar num grupo de pagode. Não dava nem para culpá-lo.
Depois de um bom tempo, eu finalmente recebi a bola próximo ao círculo central. Olhei em volta e vi Riku e Natsuno se aproximando. Entre o meio-campo e o gol do 2ºH, somente três jogadores de verde.
Aquele era o momento.
Nós três avançamos lado a lado. Quando um dos zagueiros apareceu para bloquear a minha passagem, toquei para Natsuno que, de primeira, deu um passe para Riku. Riku estava em grande velocidade e avançou em direção à área, aproximando-se de seu marcador. Devolveu a bola para mim. O zagueiro fez menção de me desarmar. Fiz o que me ocorreu: joguei o corpo para um lado, perseguido pelo defensor, e deixei a bola passar, enganando-o. Natsuno dominou no intuito de entrar na área, quando consegui me livrar do zagueiro e corri ao seu lado. Natsuno então passou para mim, e eu a levei para a linha de fundo.
Parei e olhei a movimentação. Riku e Natsuno estavam marcados, enquanto os demais jogadores dos dois times já se aproximavam. Eu precisava ser rápido, ou o 2ºH se fecharia totalmente. Via-me diante de um zagueiro e sem ângulo para o chute. Cruzar não adiantaria. Driblar muito menos, pois eu não era tão habilidoso para fazer isso parado, somente em arrancada.
Decidi que tentaria o mais improvável. Mas tentaria de um jeito diferente.
Chutei para o gol, de trivela, com o máximo de força que consegui.
A bola foi esquisita na direção de Giuliano que, em circunstâncias normais, defenderia facilmente. No entanto, a bola foi fazendo curva, rápida e girando, obrigando o goleiro a espalmar, não da forma que queria, mas da forma que dava.
Giuliano acabou mandando para a própria área. Por ironia do destino, alguém estava lá. Mesmo marcado, e também um tanto desajeitado, Kai conseguiu esticar a perna e tocar na bola. Ela ainda bateu na trave antes de atravessar a linha.
— GOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL!!!
Incrédulo, Kai ficou parado, seus olhos puxados fixos na bola, que estava no fundo da rede. A torcida fazia tanto barulho que as arquibancadas pareciam a ponto de desabar. O locutor narrava eufórico a jogada que resultara no gol. Todos os garotos de vermelho abraçaram o nerd com sorrisos largos e gritando de alegria. Eu não poderia fazer diferente.
Kai sorriu, enrubescido e desajeitado. Depois começou a bater no próprio peito, berrando coisas como "aqui é o 1ºB!", "Tem que respeitar!" e mais uma série de palavrões.
Olhei para Rubens e o vi fazer algo raro: sorrir.
Faltavam poucos minutos para a partida acabar.
No retorno, o 2ºH passou a tocar a bola ainda mais nervoso que antes. Yago até tentava manter a calma, mas era nítida sua preocupação. Ele estava sendo facilmente desarmado.
Após muitas tentativas, conseguiram completar um ataque: tabelaram entre si e Yago, de fora da área, chutou para fora. Era a única maneira que o 2ºH encontrava de chegar perto do gol de Lucas.
Minutos depois, outro ataque parecido. Dessa vez, Yago caprichou no tiro. A bola tinha o ângulo como alvo e estava a uma velocidade assustadora. Lucas, no entanto, saltou e a defendeu, encaixando-a e caindo no chão.
Todo o nosso time aplaudiu.
No momento em que o notei sorrir ao se levantar, fui tomado por uma sensação de vigor. Lucas gritou:
— É a hora da vitória!
Ele mandou a bola para Anderson, que dominou e disparou. Anderson passou para Pedro e continuou avançando. Pedro fez uma rápida e curta tabela com Samuel e tocou para Natsuno mais a frente. Natsuno foi rapidamente marcado por dois jogadores, portanto não demorou em dar um passe para mim.
Eu me vi com espaço para chutar. Minha intenção era pegar Giuliano de surpresa. E se não fosse pelo meu ótimo reflexo, que me alertou a tempo de puxar a bola e tirar Yago da jogada, eu seria desarmado pelo Cordeiro.
— Eu! Eu! — alguém gritou.
Obedeci: passei para Kai, que estava estranhamente sozinho. Era como se ninguém se importasse com a sua movimentação, apesar do gol que ele havia marcado. E mesmo livre de marcação, Kai tocou para Riku como se a bola machucasse seus pés. Talvez fosse o medo de fazer alguma besteira e comprometer a equipe.
Riku dominou perto da grande área. Logo, dois zagueiros apareceram. Pedro veio de trás, pedindo a bola. Riku ajeitou para ele e saiu do caminho.
Pedro chutou com toda a sua força no canto. Giuliano saltou e espalmou a bola para cima e vários jogadores foram atrás dela. Um dos zagueiros conseguiu afastá-la para perto do escanteio, onde Anderson estava. O baixinho fez um cruzamento perfeito para mim, perto da marca do pênalti. Eu dominei a bola no peito e vislumbrei alguém de verde se aproximando. Driblei-o com um chapéu e chutei. Giuliano tornou a espalmar, mas dessa vez para a pequena área. Natsuno apareceu para chutá-la, e o coração de todo mundo parou — dos jogadores, do locutor eufórico, da torcida agitada —, quando alguém surgiu de algum lugar e derrubou o garoto com um carrinho violento.
Meus amigos e eu imediatamente olhamos para o árbitro, que apitou.
— PENALIDADE MÁXIMA! — berrou o locutor ao recuperar o ar. — Pênalti para o 1ºB! E o zagueirão está expulso! — emendou quando o juiz revelou um cartão vermelho para o responsável pela falta.
Os garotos de verde, indignados, se juntaram ao redor do árbitro para questionar sua decisão. Mas não havia o que discutir. O árbitro viu melhor que ninguém que o zagueiro em nenhum momento tocou na bola, somente nas pernas de Natsuno.
Natsuno estava acostumado a levar chutes de vampiros. O carrinho recebido não era nada comparado aos golpes das criaturas. Porém, obviamente para que não houvesse a chance de o árbitro voltar atrás, permaneceu no chão fingindo que não conseguia se levantar.
O clima no Miniestádio mudou. Eu sentia a tensão no olhar de cada um dos meus amigos, que refletia também a expectativa da torcida. Ignorando os jogadores do 2ºH, o árbitro pegou a bola e a colocou na marca do pênalti.
Ninguém ousou se aproximar dela. Ninguém era tão ousado, ou corajoso, ou confiante.
— Deixem comigo — decidi dizer, engolindo em seco. O pensamento de errar me atormentava, confesso, mas como capitão, eu sabia que precisava assumir a responsabilidade.
— Tem certeza? — perguntou Riku.
Fiz que sim. Por mais que tentasse forçar, como já fizera tantas vezes para não deixar meus amigos preocupados, dessa vez eu não conseguia sorrir.
— Boa sorte — desejou Anderson, colocando a mão sobre o meu ombro.
— Confiamos em você — afirmou Samuel, embora seus olhos demonstrassem medo.
O zagueiro de verde, aturdido pelo que fizera, saiu do campo chorando. Ainda assim, seus amigos lhe diziam palavras de conforto, o que eu achei admirável.
Todos se posicionaram fora da área. Giuliano dava pulos para a direita e para a esquerda. Distanciei-me da bola. O Miniestádio ficou quieto.
— Diogo se concentra — narrou o locutor, sem disfarçar a tensão. — É o último lance do jogo e a chance para a vitória. Todos ficam em suas posições, prontos para o apito…
Um filme passou pela minha cabeça, rápido como um raio, mas claro como a água. Todos os momentos de superação que meus amigos tiveram que passar. A alegria após as vitórias e a tristeza quando uma peça saía do lugar. Os treinos exaustivos e os sermões do treinador.
Eu definitivamente não podia errar. Estava fora de cogitação.
O juiz apitou. Corri com o coração quase saindo pela boca. Giuliano saltou. A torcida gritou.
— GOOOL!!! GOOOL!!! GOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLL!!!!!!!
Aquele foi o grito de gol mais retumbante e emocionante que eu me lembrava de ter ouvido daquele locutor, que eu até então sequer sabia o nome.
Nem deu tempo de comemorar; muita gente de vermelho me envolveu com pulos e abraços, fazendo com que o apito de encerramento da partida indicando que havíamos vencido soasse quase inaudível..
— Conseguimos! — berravam os garotos.
— Campeões!
— Ganhamos! Ganhamos!
Além dos gritos da vitória, eles também gritavam outras palavras que eu não conseguia entender. Nem queria. Eu só precisava apreciar o momento de felicidade.
— SUPERANDO TODAS AS EXPECTATIVAS, O 1ºB É CAMPEÃO DO CAMPEONATO DE FUTEBOL DO COLÉGIO MARTINS! APÓS UMA PARTIDA EMOCIONANTE, REPLETA DE GOLS E REVIRAVOLTAS, OS CALOUROS ATRAVESSARAM TODAS AS DIFICULDADES E SE SAGRARAM VENCEDORES EM CIMA DA PODEROSA EQUIPE DO 2ºH!
Notei que Jhou chorava feito uma criança. Depois olhei para a arquibancada, onde minha mãe acenava enquanto sorria. Michael fez um sinal de positivo com o polegar, insinuando aprovação. Não muito longe, Sophia parecia emocionada. Pulava e cantava com suas amigas, mas seus olhos não desgrudavam de mim.
Não encontrei Sandro Macedo.
Rubens nos chamou para próximo do banco de reservas. Nos parabenizou sem tanta cerimônia e informou que deveríamos ficar reunidos para receber o troféu.
No outro banco, os jogadores do 2ºH se cumprimentavam cabisbaixos. Chamei meus amigos para tentar confortá-los.
— Parabéns, Diogo — sorriu Yago assim que chegamos até eles. — Parabéns a todos. Nunca enfrentamos um adversário tão forte!
Houve breves cumprimentos, felicitações e palavras de consolo. De repente, Giuliano disse:
— Vocês ganharam dessa vez, mas nos aguardem no Torneio da Cidade. Nós vamos treinar muito até lá!
Olhei para os meus amigos, confuso. Perguntei para o goleiro rival:
— Como assim? Vocês também vão participar?
Tanto Giuliano quanto os demais jogadores do 2ºH sorriram.
— Eles foram os campeões do ano passado, Dio — respondeu Natsuno. — Então já têm uma vaga garantida.
Gostei da ideia. Apesar da rivalidade, percebi que começava a se formar uma grande amizade entre as duas equipes.
— Nós também estaremos mais fortes — mas avisei, motivado pelo desafio lançado. — E espero que, mais uma vez, nos encontremos na final!
Um grupo de pessoas elegantes emergiu no Miniestádio, atraindo a atenção do público. Carregavam pequenas maletas e vestiam roupa social: os homens de terno preto e gravata — o que eu achei um absurdo mediante o calor que fazia — e as mulheres de vestido branco. Eram alguns dos professores da escola. Quem os conduzia era um homem negro e alto trajando um terno sem gravata. Era o único que tinha um microfone nas mãos, e eu não fazia ideia de quem ele era. No total, eram nove pessoas com o desconhecido.
— O novo diretor — alguém comentou, próximo.
— É a primeira vez que o vejo — disse outro, como se dissesse por mim.
Foi impossível não me lembrar do antecessor maligno.
O grupo se posicionou no círculo central do campo em linha e de frente para a torcida, com o diretor no meio; os quatro professores de um lado e as quatro professoras do outro.
— Boa tarde a todos! — começou o diretor, sua voz ecoando por todos os alto-falantes. — Para quem não me conhece, eu me chamo Luiz Carlos e sou o novo diretor da Escola Estadual Roberto Martins!
Muitos aplausos, mas sem gritos ou qualquer euforia. Parecia que os alunos não eram tão ousados a esse ponto.
— Antes de entregar o troféu de campeão, eu gostaria de parabenizar o professor Rubens Almeida e a equipe do 1º ano B pela conquista do campeonato e dizer que gostei muito do futebol apresentado nesta partida, que ficará marcada na história desta escola! Parabenizo também os jogadores do 2º ano H e o professor Everaldo! Uma salva de palmas!
Mais aplausos. O diretor virou-se para o banco de reservas onde estava a maioria dos jogadores de ambas as equipes e nos chamou. Rubens e Everaldo sinalizaram para nós, tanto titulares quanto reservas, ficarmos entre a fileira de professores e a arquibancada lateral.
— Além disso — continuou ele —, seguindo os moldes do Torneio da Cidade, gostaríamos de premiar os jogadores que se destacaram no decorrer do campeonato. Nossos avaliadores utilizaram inúmeros critérios para a premiação, dentre eles: disciplina, comprometimento, relevância e, é claro, habilidade.
A torcida ficou atenta, olhos grudados no campo.
— Primeiramente, o prêmio será dado ao melhor goleiro, uma das funções mais difíceis do futebol, afinal de contas, ou você é o herói que salva, ou é o vilão que entrega o jogo. — O diretor olhou para os jogadores de verde e anunciou: — O "Arqueiro" é você, Giuliano Matos!
Em meio aos aplausos, alguns indivíduos da torcida tomaram coragem e gritaram. O restante dos alunos acompanhou e, finalmente, os torcedores repetiram a mesma euforia que demonstraram durante a partida.
Embora ainda nitidamente abalado pela derrota, Giuliano sorriu quando pegou o pequeno troféu, tirado da maleta por uma das professoras de branco. O troféu tinha o formato de um goleiro prateado saltando com um dos braços esticados e espalmando uma bola, também prateada.
— O artilheiro do campeonato, que nomeamos de "Artilheiro Nato", é o Yago Cordeiro! — continuou o diretor, sem perda de tempo.
Yago também foi aplaudido enquanto recebia um troféu com um jogador prateado chutando uma bola. Antes que retornasse para onde estavam seus amigos, o diretor emendou:
— E Yago receberá também o prêmio de "Craque do Campeonato Interclasses"!
Os gritos e aplausos tanto da torcida quanto dos jogadores do 2ºH foram ainda mais intensos.
Eu senti uma pontinha de inveja, mas fiquei feliz pelo amigo. O troféu era um jogador com o pé em cima da bola, também prateado como os outros.
— Ressaltando que Yago marcou vinte e três gols em seis partidas!
A informação surpreendeu a todos. Yago recebeu abraços de seus amigos e a premiação continuou:
— Agora, é a vez do “Muralha Martins”. Jonathan Leal!
Jhou ficou pálido, incrédulo por ouvir seu nome. Natsuno teve que empurrá-lo para que o grandalhão saísse do lugar. Todos aplaudiram, dando risada pela reação engraçada do garoto. Jhou, aos prantos, recebeu o troféu, que consistia de um jogador prateado dando um carrinho na bola.
Notei que das oito maletas, quatro já haviam sido abertas e, a julgar que uma delas era maior e que provavelmente era o troféu de campeão, deduzi que ainda faltavam três prêmios individuais.
— Faltam, ainda, três prêmios — disse o diretor, confirmando minha suspeita. — Um deles nomeamos de "Super Estrategista". O ganhador não participou da final, mas demonstrou grande potencial nas partidas que disputou. Joaquim Silva!
O garoto que era meu colega de bairro surgiu de algum lugar, provavelmente ciente do prêmio com antecedência, e sorriu ao receber o troféu de um jogador prateado com as mãos na cintura. Acenou brevemente para mim, e eu correspondi erguendo o polegar.
— Diogo Kido é o ganhador do prêmio "Grande Revelação"!
Arregalei os olhos, pego de surpresa pelo anúncio repentino. Coração acelerado e pernas trêmulas, caminhei até um dos professores e recebi um troféu prateado representado por um jogador correndo com a bola nos pés.
A torcida aplaudiu, agitada. Eu segurava a emoção para não chorar igual ao meu amigo grandalhão. O diretor disse:
— Mas isso não é tudo. O último prêmio, que consideramos o mais importante dentre todos, pois não se trata de números ou estatísticas, reflete a importância que o ganhador teve para que sua equipe jamais desistisse. Gols são importantes? Claro que sim! Passes, dribles, assistências também! Porém, mais importante que tudo isso é a mentalidade que contagia seus companheiros. É aquele jogador que consegue contornar uma situação impossível e de um jeito improvável. Quando tudo está perdido, é ele quem entra em cena e prova que a esperança é a última que morre. Estamos falando do prêmio “Capitão de Ouro”. E nossos avaliadores chegaram a um consenso, sem qualquer tipo de dúvida, de que ele só poderia pertencer a um jogador. Diogo Kido, você é o ganhador!
Dessa vez, o troféu era de um jogador prateado com os braços cruzados e uma faixa de capitão dourada no braço esquerdo.
Eu fazia esforço para não chorar. O que diriam meus amigos? Minhas mãos trêmulas provavelmente chamaram a atenção do diretor, que sorriu. Para o meu alívio, os olhos dele não ficaram vermelhos, apenas tinham um tom de admiração.
Agradeci à Yasmim mentalmente tantas vezes que perdi as contas. Ela fora fundamental para que eu erguesse a cabeça e desse a volta por cima. Meu anjo da guarda também merecia um troféu.
Quando retornei para onde estavam meus amigos, recebendo cumprimentos e abraços, decidi olhar para Sophia. Ela ainda me aplaudia, sorridente, linda como sempre.
Os garotos do 3ºC, nossos adversários na semifinal e que ficaram em terceiro lugar, desceram e formaram uma linha ao lado do nosso time. Rubens, de forma descontraída, murmurou algo sobre ser injusto não haver um prêmio de melhor treinador, enquanto fazia nossa equipe formar uma linha com todos os jogadores. Everaldo também organizava seu time, de forma que o nosso time ficasse no centro, o 2ºH à direita e o 3ºC à esquerda.
Os jogadores das três equipes receberam medalhas, conforme a colocação que adquirimos no campeonato. Por fim, a última maleta foi aberta, revelando um troféu dourado com formato de bola, maior que os troféus anteriores. Eu o ergui e a escola inteira vibrou. Houve um misto de gritos, assobios e aplausos.
Eu nunca me senti tão alegre e eufórico. Aquela pequena conquista ficaria guardada para sempre em meu coração.
Todos os garotos do meu time já haviam tomado banho no vestiário do ginásio e saído da escola, exceto por mim, que optei por deixar meus amigos se ajeitarem primeiro. Havíamos combinado de comemorar na Lanchonete Lendária. Eu, inclusive, fiz questão de pentear o cabelo, pois considerava aquela uma ocasião muito especial.
No momento em que terminei de me vestir e pisei no gramado do bosque, deparei-me com a presença de Sandro Macedo.
— Parabéns pela vitória — disse o homem com sua habitual expressão facial rígida.
Entretanto, eu sabia que ele não estava ali só para me parabenizar. Ainda assim, respondi um obrigado e esperei.
Havia um tom de análise nos olhos de Sandro. Eu me sentia intimidado feito um jovem que busca uma vaga de emprego e é avaliado justamente pelo gerente da empresa. Esforcei-me muito para não desviar o olhar.
Por fim, Sandro disse:
— Cuide bem da minha filha.
Eu não soube o que responder, tamanho fora o meu espanto. E nem deu tempo. Meu (agora) sogro deu meia-volta, duro feito uma pedra, e começou a se afastar. Apressei-me em dizer:
— O-obrigado, senhor Macedo.
— Não me chame de senhor — disse Sandro sem olhar para trás. — E não me decepcione.
Na praça frontal da escola, todos ficaram estranhos quando apareci. Talvez porque eu ainda estava sem fôlego. Foi Natsuno quem perguntou:
— Perdemos alguma coisa, maninho?
Estava todo mundo reunido, até mesmo o Riku — para minha surpresa — e o treinador Rubens. Decidi contar:
— O pai da Sophia deixou a gente namorar.
Foi como se tivesse saído mais um gol; os garotos pularam em cima de mim, bagunçando novamente o meu cabelo.
Sem dúvida nenhuma, aquele foi um dos dias mais felizes da minha vida. E para fechar com chave de ouro, eu estava de férias. Não poderia haver nada melhor.
--- FIM DO ARCO 5 ---