Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 59: Enfrentando a fera ao modo caçador!

Respirei fundo. Enquanto observava o Mercedes preto se aproximando, algumas cenas de Sandro me esculachando passavam por minha cabeça; cenas diferentes, mas com o mesmo fim: o pai da garota me expulsando e dizendo que jamais nos aceitaria juntos.

Exceto por mim e Sophia, a praça do colégio estava deserta. Todos que assistiram ao jogo já tinham ido para casa, e a turma que estudava à tarde havia entrado no instante em que meus amigos e eu nos ajeitávamos no vestiário do ginásio. Eu começava a sentir fome. Ou era meu estômago revirando de pavor?

— E aí, Beto — cumprimentei o motorista assim que o Mercedes encostou.

— Olá, senhor. Boa tarde.

Eu ainda não havia me acostumado nem com o “senhor”, nem com o sotaque gaúcho do homem. Eu abri a porta do carro para que Sophia entrasse, sem saber ao certo se ela se sentaria mesmo no banco de trás. Ela sorriu e entrou. Depois foi a minha vez.

— Está preparado, senhor? — perguntou Beto assim que o carro deu partida.

— Hã, sim… — Eu tentava me mostrar firme, mas me perguntei a quem estava enganando. Até Sophia me olhava com ironia.

— O senhor Macedo é uma boa pessoa — disse Beto, fazendo com que eu entendesse que aquilo era uma forma de incentivo; o carro mergulhou na avenida movimentada.

— Por que você está falando isso? — perguntei, rindo. — Está achando que eu estou com medo, é? Eu tô de boa.

Sophia me encarou novamente.

— Diogo, eu estou com medo — disse ela.

— Medo? Tem medo do seu pai não aceitar o nosso namoro?

Eu a fitei forçando ironia. Mas ela estava séria.

— Não. Tenho medo de ele te matar.

Engoli em seco.

— Fica em paz — falei. — O Beto acabou de dizer que ele é uma boa pessoa. Ele não faria isso. Né?

A resposta que ganhei foi o silêncio dos dois, o que não era muito tranquilizador.

 

No momento em que o Mercedes imergiu numa rua larga e repleta de árvores, eu reconheci o lugar: era onde Sophia morava. Estivera ali uma vez, quando ela foi atacada por vampiros. O que eu não conseguia entender era por que alguém de boa condição financeira estudaria numa escola pública como o colégio Martins em vez de uma escola particular. O bairro de Sophia, assim como o do Natsuno, era caracterizado por possuir sobrados e condomínios de luxo. Uma pessoa com pouco poder aquisitivo jamais moraria num lugar como aquele.

— Chegamos — anunciou Beto, cortando meus pensamentos.

O motorista manobrou o carro no acostamento da rua e Sophia abriu a porta. Antes de descer, ela ainda disse, olhando nos meus olhos:

— Vai dar tudo certo.

Eu a acompanhei até a entrada da mansão. Ela abriu o conjunto de portas e eu levei um susto ao me deparar com dois brutamontes postados do lado de dentro, após a entrada. Eles não disseram nada; eram homens altos e de expressões rígidas que poderiam facilmente ser confundidos com duas estátuas.

— Esses são o Silas e o Pablo — informou a garota —, os dois seguranças responsáveis pela parte frontal da casa.

Eu acenei, mas nenhum deles se moveu.

Observando o saguão de entrada, percebi que as paredes lisas e brancas eram ornamentadas por quadros valiosos. Sentiu calafrios. Não sabia ao certo se era por receio de encontrar Sandro ou pelo ar gélido que pairava sobre o cômodo. Notei, então, que o frio vinha do corredor à minha frente, oposto à entrada da casa. Presumi que ele me levaria a alguma área aberta.

Além de duas portas de madeira fechadas — uma em cada extremidade do saguão — havia uma escada bem no centro, forrada com carpete azul-claro. Ela levava ao andar superior, e no topo dela havia outro quadro grande e provavelmente muito valioso. E foi no último degrau dessa escada que Sandro Macedo apareceu.

Meu coração se agitou no peito. Sandro descia os degraus a passos firmes e com uma expressão dura feito uma pedra. Seus olhos estavam fixos em mim, como se estivessem tentando identificar quem estava tendo a audácia de desafiá-lo.

— Boa sorte — sussurrou Sophia. Apesar do sussurro, era nítida a preocupação em suas duas únicas palavras.

Sandro parou diante de mim. Seus olhos castanhos pareciam carregar uma fúria contida. Ele parecia um galã de novela, com seu cabelo cacheado e sobrancelhas grossas que combinavam com sua barba bem-feita. Mas se fosse para taxá-lo com algum papel, eu certamente o colocaria como um antagonista.

— Você não é o filho do Tony? — perguntou Sandro.

— Sim, eu…

— Quer namorar a minha filha — presumiu, mantendo a expressão séria.

Hesitante, fiz que sim. Estava sendo pior do que imaginava. O clima estava tenso e desconfortante. Quanto tempo duraria, eu não fazia ideia.

Sandro desviou o olhar para Sophia, e então disse:

— Eu quero ter uma conversa a sós com o Diogo.

Ele deu meia-volta e começou a andar. Ainda sem entender muito, tive que ser cutucado por Sophia.

— Ele quer que você o siga.

Eu o segui.

Sandro me conduziu pelo corredor ao lado da escada, por onde vinha a corrente de ar, sem sequer olhar para trás. Ele vestia camisa social branca por dentro da calça jeans, cujas mangas estavam dobradas até a altura do cotovelo. Pude notar cicatrizes espalhadas pelos seus antebraços, sinais de um caçador experiente.

Atravessamos uma porta de vidro e chegamos a uma pequena área aberta de lazer, com uma piscina rodeada por um deck de madeira e algumas cadeiras de banho; outros dois seguranças faziam a guarda do local.

Por um momento pensei que Sandro e eu nos sentaríamos próximos à piscina para conversar, mas o sujeito não parou. Ele seguia rumo ao gramado depois do deck. Só podíamos estar indo para a quadra, eu presumi, uma vez que um muro de tijolos dava fim ao terreno e não havia qualquer outro tipo de saída. E foi nela que Sandro parou, bem no centro da quadra, imóvel como uma pedra.

"Onde eu vim me meter?" pensei, parando logo atrás e tentando imaginar o que se passava na cabeça do caçador da água.

De repente, o homem virou-se com um ataque que me pegou totalmente desprevenido: com o punho fechado, me acertou no peito com tanta força que me fez voar até uma das balizas da quadra e parar no fundo da rede.

— Que foi isso!? — protestei, ficando de pé e olhando para Sandro sem entender. Senti o sangue gelar ao perceber que o cara avançava em minha direção com uma velocidade assustadora.

Sandro desferiu outro golpe, que desviei facilmente, mas não perdeu viagem e me derrubou com um chute que para mim seria impossível de defender. Caído no chão, esquivei-me por um triz de outro soco do caçador, rolando para o lado e me levantando. Deduzi que não havia outra escolha a não ser revidar.

Trinquei os dentes e ataquei:

— Punho de…

Não deu tempo. Senti muita dor no estômago ao receber uma pancada violenta. Contorci-me para frente e recebi outro golpe, dessa vez na cara. Minha bochecha ficou ardendo e latejando quando caí para o lado.

"Não posso me dar por vencido" eu disse a mim mesmo ao ficar de pé, sabendo que o homem não me daria tempo para descansar, muito menos para pensar.

Vi de relance o braço de Sandro vindo em minha direção e consegui esquivar-me a tempo, movimentando-me desajeitado para trás e encontrando uma brecha. "É agora!".

— Punho de Fogo!!

Mirei no rosto, calculando que o ataque seria suficiente para nocautear o caçador, talvez assim ele se acalmaria. Pensei que acertaria Sandro Macedo em cheio e acabaria com a luta naquele momento.

Pensei.

Feito um elástico, Sandro puxou o tronco para trás, rápido como um vulto, e observou a minha mão flamejante passar diante dos seus olhos. Ele então agarrou o meu braço e disse:

— Ingênuo.

— Droga… — murmurei.

Sandro rodou uma vez e me soltou de forma que eu voasse novamente em direção à mesma baliza de instantes atrás. Não satisfeito, correu em minha direção e me golpeou antes que meu corpo tocasse no chão; chutou-me de cima para baixo, cessando o "voo" de maneira nada legal e fazendo eu bater forte as costas contra o chão da quadra.

Desejei que meu pai aparecesse para tentar acalmar aquele homem louco que, embora soasse como uma coisa absurda, era um caçador aliado.

—Argh! — gani de dor ao sentir o punho cerrado de Sandro enterrando-se em meu estômago. Depois senti minha perna ser agarrada e tudo começou a girar num borrão.

— Quem você pensa que é para querer namorar a minha filha? — bradou Sandro enquanto rodava feito um pião segurando minha perna como se eu fosse um mero boneco.

Eu não estava em condições de responder. Se abrisse a boca, certamente vomitaria. Fui solto pelo Macedo e me estatelou de qualquer jeito no meio da quadra.

"Preciso pensar em alguma coisa" presumi desesperado. Minha visão estava tão confusa que eu só conseguia ver estrelas. Levantei-me com dificuldade, tomado por dores, e arregalei os olhos ao avistar o caçador se aproximando numa nova investida. Minhas pernas bambeavam. Ainda assim tentei acertar o pai da Sophia com um chute.

Ganhei outro soco no estômago. Depois outros dois. Agora mal conseguia respirar.

— Ainda quer namorar a Sophia?! — O homem finalmente deu uma trégua. Talvez pelo fato de eu estar acabado, repleto de hematomas e escoriações pelo corpo. Tive que apoiar um dos joelhos no chão para não cair para frente. Sandro, por outro lado, não parecia nada cansado.

— Quero — respondi. Desistir de Sophia sequer passava pela minha cabeça. Pensando nisso, agradeci mentalmente pela garota não estar assistindo àquela humilhação.

Sandro desferiu outro soco, mas dessa vez eu não caí. Recebi a pancada na mesma bochecha que antes e mesmo assim resisti ao máximo que conseguia. Eu me levantei, sentindo a cabeça latejar.

Respirei fundo.

— Agora o golpe final — disse Sandro com uma voz calma e seca, porém me encarando com fúria.

Ele ergueu o punho esquerdo, talvez pensando que eu não estivesse apto a desviar, mas quando o desceu na direção da minha boca, percebeu que estava errado: abaixei-me com precisão, concentrei toda a minha força na mão direita e gritei:

— Gancho-faíscaaaaaa!!!

Senti o braço queimando por dentro conforme minha energia interna se direcionava ao punho. Atingi em cheio o queixo de Sandro. Só não esperava que, antes de cair, Sandro ainda pudesse me chutar, e fez isso com uma força assustadora. Resultado: ambos caímos no chão, juntos. A diferença era que eu ofegava exausto enquanto Sandro sequer suava. Percebi isso assim que nós dois ficamos de pé. Notei também que havia uma distância de uns dez metros entre ele e eu. Perguntei-me quem dera o golpe mais forte. Deduzi que foi meu Gancho-faísca devido ao comentário de Sandro:

— Até que você não é tão fraco assim.

Decidi considerar aquilo como um elogio, embora parecesse que Sandro mais estava debochando do que realmente falando a verdade.

Ele me olhou dos pés à cabeça e afirmou:

— Você não está preparado para ser o namorado da minha filha. Por que ainda insiste?

Respondi o que veio à cabeça:

— Porque eu a amo!

Sandro me olhava com desprezo. Parecia enxergar uma barata nojenta em vez de um garoto que só queria sua autorização.

— Vocês são novos demais para saber o que é amor. Não é só dizer que ama e está tudo bem. Amar alguém é muito mais do que apenas dizer em palavras!

Dito isso, Sandro tornou a avançar. Suspirei; sentia o corpo tão pesado e dolorido que tinha completa noção de que não teria forças para me proteger de nenhum ataque.

— Pai, para com isso! — gritou Sophia desesperada. Era tudo que eu menos queria: agora a humilhação estava completa, pois a garota se tornaria uma expectadora e veria minha derrota vergonhosa. Não bastava o caçador simplesmente dizer "não"?

Nem com o pedido da filha Sandro parou. Seu punho erguido e seus olhos ferozes indicavam que as coisas só acabariam quando alguém estivesse morto. E parecia essa sua intenção.

— Você nem deveria ter vindo tomar o meu tempo! — esbravejou ele enquanto se aproximava em velocidade. — Até agora não me convenceu de que merece o que quer!

Eu já me sentia esgotado e sem paciência.

— Eu sei o que quero e não serão socos e palavras que vão me fazer mudar de ideia. — Encarei sério Sandro Macedo, olho no olho, não permitindo que o caçador me intimidasse. — Eu amo a Sophia e quero ser o companheiro dela. Posso não ser o cara mais forte, mas com certeza eu daria minha vida para protegê-la de quem quer que fosse.  — Sandro já estava bem perto; seu punho erguido se moveu na minha direção. — Entenda – continuei —, eu sou o Diogo Kido, e nada e nem ninguém me fará desistir do que quero, ESSE É O MEU MODO DE PENSAR!! — Eu gritei com toda a minha voz, trincando os dentes com tanta força que não soube como não quebraram.

De face estática, contemplei o punho do homem aproximando-se do meu rosto feito um cometa, um golpe que seria um verdadeiro nocaute, mas no final a única coisa que me acertou foi o vento provocado pela parada súbita do ataque. Eu fiquei confuso. A mão do pai da Sophia parara a centímetros da ponta do meu nariz. Perguntei-me se havia escapado da morte.

Um alívio extraordinário tomou conta do meu corpo.

Ergui os olhos e me deparei com um olhar diferente de Sandro Macedo. Seus olhos, que outrora demonstravam apenas desprezo, agora tinham um leve tom de... admiração?

Um sorriso discreto formou-se no rosto de aspecto rígido e cansado do sujeito, que falou:

— Eu vou pensar no seu caso.

Foi como se o céu se abrisse. Embora meu corpo inteiro doesse, era como se eu estivesse dentro de um sonho. Olhei para baixo, arrependido do que estivera prestes a fazer, torcendo para que Sandro não mudasse de ideia quando notasse.

— Jesus Cristo! — exclamou Beto.

Sophia também percebeu e soltou um grito sufocado.

Aturdido com as respectivas reações, Sandro olhou curioso para baixo e finalmente entendeu — seus olhos ficaram arregalados ao encontrarem a ponta de uma espada a um centímetro de seu estômago. Uma Takohyusei vermelho-dourada que eu empunhava e que certamente o perfuraria caso o ataque do Macedo fosse bem-sucedido.

O olhar que o caçador da água direcionou a mim tinha, agora, uma curiosidade nova. Eu caí exausto, mas não larguei a espada. Uma série de hematomas e inchaços marcavam o meu corpo, e meu rosto doía em diversas partes.

Sandro estendeu a mão para mim, ainda encarando a lâmina da espada. Solicitou que Beto trouxesse uma bebida e disse:

— Você é bom com palavras igual ao seu pai. Mas elas não são o suficiente, saiba disso.

Apesar de ainda se manter sério, Sandro não soava tão ameaçador quanto antes. Era perceptível que ele estava diferente. Um bom sinal, se olhasse pelo lado certo. E fitando-o com mais tranquilidade, eu conseguia sentir o vazio dentro dele, ao mergulhar naqueles olhos que pareciam tão sem vida que me faziam lembrar do Riku. Era como se o pai da Sophia estivesse liberando seus sentimentos ao vento.

Sophia surgiu indignada.

— Não precisava disso tudo! Olha pra ele, pai! Você acha isso certo?

— Eu vou pensar seriamente no namoro de vocês — disse Sandro sem responder à pergunta da filha. — A Sophia é o meu bem mais precioso, e não podemos ceder nossas riquezas a qualquer pessoa. Espero que você compreenda.

Eu fiz que sim prontamente. Sophia, por outro lado, pareceu em choque. Parecia não estar acostumada a ouvir aquele tipo de coisa do pai.

Sandro beijou a testa da filha, deu meia-volta e seguiu em direção à mansão.

— Pai, você vai ficar mais um pouco, né? — quis saber Sophia.

Sem sequer parar de andar ou ao menos olhar para trás, Sandro respondeu:

— Não posso, filha. Tenho coisas a resolver e perder tempo aqui não vai ajudar em nada. Eu te amo.

Sophia calou-se desapontada. Acabei vendo a mim mesmo na garota, quando Tony precisava voltar ao trabalho e mal se despedia. Embora agora soubesse o motivo real de ambos os caçadores precisarem deixar suas famílias daquela forma, não pude deixar de sentir pena dela, que claramente queria a companhia do pai.

— Pelo menos ele me deixou vivo —  tentei quebrar o clima.

Os olhos da garota estavam marejados. Ela olhou para a espada nas minhas mãos, pensativa, e disse:

— Pode guardar seu anel assassino. Engraçado que meu pai nem quis saber como você fez surgir uma espada do nada, né? Sem falar que parecia que ele já te conhecia.

— Bom, é que…

— Não precisa dizer nada — suspirou ela. — Hoje não estou a fim de ouvir desculpas.

Fiquei sem jeito. Talvez percebendo o estado físico em que me encontrava, Sophia pareceu arrependida pelas palavras. Eu estava todo machucado. Afinal de contas, havia aguentado Sandro Macedo por ela.

— Vamos entrar — disse ela com certa pena na voz. — A bebida que o Beto foi buscar vai te ajudar com os ferimentos.

Eu sorri. Estava contente que as coisas não haviam acabado tão mal. Bastava esperar a aprovação do pai da garota para enfim poder ficar junto dela.

— Me surpreende que você esteja alegre depois da surra que levou — disse a garota. 

— Como falei, seu pai me deixou vivo. Isso é um bom sinal… eu acho.

Sophia deixou escapar um pequeno sorriso. E ver que conseguira tal coisa, por menor que fosse, fez eu ficar aliviado.

E a bebida fez mesmo um efeito extraordinário. Pensei, a princípio, que fosse algum tipo de energético. Mas quando me dei conta de que meu corpo inteiro havia parado de doer, presumi que era a mesma bebida que Pandora me fizera beber.

— Caramba! Eu me sinto bem melhor! — disse entregando o copo para o motorista Beto. — O que foi? — perguntei para Sophia, que pestanejava.

— Os hematomas sumiram. Beto, o que significa isso?

— Hã, esta é uma bebida curativa, senhorita. Temos um pouco dela no estoque.

Não só as dores foram embora, como também todo o cansaço físico. Era como se eu nunca tivesse levado uma surra na vida. Acabei me perguntando por que a organização não fornecia aquele tipo de bebida aos jovens caçadores que lutavam em Honorário.

Depois disso, tendo que insistir muito, Sophia me fez tomar um banho e me emprestou uma camiseta e uma calça que ficaram um pouco grandes por serem do Beto.

Enquanto eu descia a escada para o hall da casa, conseguia ouvir um belo som de piano que preenchia o ambiente com leveza e harmonia. E fiquei ainda mais maravilhado quando vi que era Sophia quem tocava. Ela cantava também, mas de maneira bem mais discreta. Parou assim que notou a minha presença.

— Não sabia que você tocava.

— Eu arranho — sorriu ela. — Quando se tem tempo, dá pra aprender bastante coisa. — Mas a forma como ela disse a última frase deixou transparecer um pouco de tristeza.

— Você… se sente sozinha aqui? — perguntei.

— Eu não tenho família. O quarto do meu pai está vazio há anos. Tio Sérgio era quem passava mais tempo aqui. Mas… eu já estou acostumada.

Ela começou outra música, um pouco mais lenta. Parecia o reflexo dos seus sentimentos. A música era suave, formando um som gostoso de ouvir, mas os dedos da garota eram ágeis de modo que eu mal acompanhava. Ela começou a cantar. Meu coração se derreteu de vez. Ela tinha talento. E embora eu não entendesse a letra da música por ser americana, sabia de alguma forma que era algo romântico.

Passamos o restante da tarde juntos, conversando sobre diferentes assuntos dos quais gostávamos como séries e esportes. Infelizmente não rolou nenhum beijo, pois Beto circulava pelo hall em intervalos de tempo, talvez por ordens de Sandro para nos vigiar.

No fim da tarde, quando decidi que precisava ir, Beto fez questão de me deixar em casa. Fiz menção de recusar por querer andar com os ótimos pensamentos da tarde que passei com a garota, precisava processar tudo para saber se era real ou um sonho, mas acabei aceitando quando Sophia disse que nos acompanharia. Alguns minutos a mais com a garota era uma oferta impossível de recusar.

Eu não tinha dúvidas: estava apaixonado e não via a hora de Sandro Macedo dar o aval para o namoro. Sophia era quem eu queria ao meu lado para sempre.



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