Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 2 – Arco 5

Capítulo 50: Fuga na floresta!

Dio, ainda dá tempo, cara. A gente vai entender, não precisa ficar em choque — disse Natsuno.

— Eu já falei, Natsuno, não quero voltar. E você já está me irritando!

Ele se referia ao fato de eu estar completamente esgotado após uma tarde inteira de treinamento.

Existia uma pequena cascata na floresta perto de casa que se chamava Rio de Água Pesada. Atrás da queda d’água, uma entrada para uma caverna onde havia um lago com uma passagem subterrânea para uma especia de câmara. E era nesta câmara que tinha um portal.

Fizemos todo este percurso para chegarmos em Venandi, o mundo paralelo ao nosso. Nadei com dificuldade em razão dos meus braços desgastados do treino. Digamos que ficar encharcado também não era meu ponto forte.

Quando saímos do lago, Riku não perdeu tempo e acionou o portal, apertando o botão que abria a parede de pedra. Ele passou para dentro sem nos esperar e sumiu.

— Bora, maninho — disse Natsuno, então entrou também. Depois foi a minha vez.

Eu ainda precisava me acostumar com a sensação de atravessar um túnel roxo que ele próprio fazia o serviço de te levar ao fim, mas já lidava melhor do que a vez em que Riku e eu descobrimos o Reino dos Vampiros. Poucos segundos depois, estava num dos becos da cidade de Firen.

— Onde fica esse vilarejo, exatamente? — perguntei.

— Alguns quilômetros a sudeste da cidade — respondeu Riku. — Podemos chegar rápido lá se não ficarmos perdendo tempo com besteira.

Dito isso, Riku utilizou alguns caixotes de madeira como trampolim e já estava no telhado de uma das casas do beco. Natsuno e eu fizemos o mesmo, envolvidos pela brisa noturna da bela cidade de Firen cujas construções tinham as mesmas características: eram casas que lembravam o Japão Feudal.

— Caramba! — falei. — Que imagem linda!

O emaranhado de telhados piramidais se estendia para todos os lados acompanhados pelas copas de árvores floridas. A lua parecia pulsar num brilho prateado que iluminava toda a cidade, no fim do horizonte, cercada por pequenas nuvens e estrelas.

Riku saltou para o telhado da casa vizinha, silencioso feito uma pena, e nós o seguimos. Observei que as ruas estavam pouco movimentadas, o que contrastava com a primeira vez que visitei a cidade.

— Então, Natsuno, o que você sabe sobre a missão? — perguntei. — O Riku te explicou?

— Mais ou menos, Dio, você sabe como ele é. — Riku saltava de telhado em telhado sem nos esperar. Eu até o alcançaria, não fosse o cansaço. Natsuno, pelo menos, corria ao meu lado. — É basicamente uma caçada de limpeza, muito comum em Venandi. Meu velho uma vez falou que há zilhões de pequenos vilarejos espalhados por aí, geralmente pessoas que não aceitaram morar nas cidades ou vilas para serem independentes e blá blá blá, algo assim. Acontece que isso é bom para os vampiros. Nenhum vampiro tenta entrar em Firen porque sabe que aqui a morte é certa. Mas nos vilarejos… Caçadores não moram em vilarejos.

— Entendi… — falei, não muito feliz com a informação. — Isso significa que todos os moradores do vilarejo para o qual estamos indo…?

— Mortos — lamentou Natsuno. — Exceto se houver algum habitante com as qualificações padrões para um vampiro. Esses são sortudos e escapam da morte.

— Para ser infectado e fazer parte do bando — presumi.

— Isso mesmo.

“Que horror!” pensei. Entre morrer e me tornar vampiro, eu preferia a primeira opção. Não conseguia me imaginar atacando pessoas inocentes.

— Loucura — falei.

Riku ficava cada vez mais distante. Eu até o entendia: não caçávamos em semanas.

— Ei, Riku, espera! — gritou Natsuno. Ele foi fulminado pelo olhar do Medeiros, mas o garoto diminuiu a velocidade.

— Eu só espero que você não seja um peso morto — disse com arrogância.

Eu preferi ficar quieto.

— Será que é longe? — perguntei ao Natsuno. — Digo, o vilarejo.

— Torço para que seja aqui em Tsurichan.

— Tsurichan?

Natsuno me olhou pasmo. Percebendo que eu era leigo no assunto, começou a explicação:

— Tsurichan é o país que estamos, maninho. É onde fica Firen, o Palácio do Fogo e mais uma porrada de cidades e vilas. Lembra do Monte Zentaishi? Bom, ali já é extremo norte de Rapturio, país onde fica o Palácio do Vento.

Era muita informação.

— E o Palácio do Relâmpago? — decidi perguntar. — Fica em que país?

— Victanzil. É bem longe daqui.

Falei a mim mesmo que não faria mais perguntas sobre a geografia de Venandi — que eu acreditava ser o nome de um planeta.

Minutos depois, chegamos a uma área onde as casas davam espaço para campos e lagos; era o limite da cidade. Se olhássemos para a direita, era possível ver a montanha do templo do Conselho a alguns quilômetros, cercada por árvores e mais árvores.

Nós descemos para a estrada e rumamos sentido à floresta, ainda em direção à enorme e brilhante lua cheia. A imagem era deslumbrante. Os lagos espalhados pela paisagem refletiam a luz lunar. O ar era fresco.

— Eu só espero — disse Natsuno — que a gente não encontre um monte de vampiros evoluídos. Tenho trauma desde a última vez.

— Isso foi antes — disse Riku, severo. — Quer provar que é um caçador de verdade? Vença os mais fortes! Ou continuará sendo um fracote!

— Pô, Riku…

— O Riku tem razão — falei, lembrando da conversa motivadora que tivera com o seu Juca. — Não vamos evoluir nunca se continuarmos pegando só mamão com açúcar. E eu acho que estamos bem mais preparados que aquele dia, pra ser honesto.

— Beleza, Dio, já entendi! Não preciso ficar ouvindo sermão.

Imergimos na floresta, envolvidos por um clima muito diferente. Eu senti calafrios.

 

— Parece vazia — sussurrei, observando a casa solitária que encontramos. Alguns arbustos serviam como esconderijo para nós três. — Mas não baixem a guarda.

A casinha era de tijolos e possuía telhado de cerâmica. Devia ter, no máximo, dois cômodos, a julgar por sua dimensão. Nós nos esgueiramos bem devagar em direção à porta e eu a abri com muito cuidado, o que não adiantou muito: ela rangeu alto perante o silêncio.

— Não há nada aqui — disse Riku, analisando a sala-cozinha e seus móveis velhos. Ele começou a farejar o ar. — Não sinto cheiro de sangue nem de cadáver.

Retornamos para o lado de fora e seguimos a trilha. Quanto mais avançávamos, mais casinhas encontrávamos entre os troncos e arbustos. Até que finalmente avistamos um amontoado delas, enfim o vilarejo.

— É aqui — Natsuno informou o óbvio. — Será que os vampiros já foram embora?

Não havia nenhum tipo de movimentação, apenas sangue pelas paredes e pelo chão de barro. Oito casas de tijolos e um estábulo cercavam um poço também de tijolos. Somente uma das casas possuía um andar superior, e era ao lado dela que havia uma caminhonete velha. E, como o estábulo estava bem de frente para nós, adiante do poço, era possível enxergar alguns animais mortos, dentre eles uma vaca.

Natsuno e eu trocamos um olhar assustado. Era um verdadeiro cenário de filme de terror. Depois, olhei para Riku, notando seu cenho franzido.

— Riku? — estranhei.

— Vejam — disse ele, e apontou para uma serra elétrica no chão.

— Aquilo se chama ‘serra elétrica’ — ironizou Natsuno.

Engoli em seco, entendendo para onde de fato Riku estava apontando.

— Observe bem, Natsuno — falei.

Natsuno arregalou os olhos.

— E aquilo se chama ‘braço amputado’ — disse ele. Um braço desmembrado segurava o cabo da serra elétrica. Só era possível notá-lo se olhasse com atenção, uma vez que a pele do braço era quase da cor do barro.

De repente, um grito:

— Socorro!

Natsuno estremeceu ao meu lado. Riku e eu olhamos em volta, mas quando o segundo grito ecoou, nossos olhos cravaram o poço do centro do vilarejo.

— Vem de lá — falei. — Um sobrevivente.

— E o que a gente faz? — perguntou Natsuno com voz de medo.

— Ué — falei o encarando. — Vamos salvá-lo.

Saímos do esconderijo e andamos devagar em direção ao poço, uma sensação de estar sendo vigiado me dominando por completo. Eu olhava em volta e só via casas e árvores. Tentei não olhar para a serra elétrica e o braço amputado. Ou acabaria vomitando.

— Graças a Deus — disse a voz assim que chegamos ao poço e olhamos para o seu interior. Por ser fundo e escuro, era impossível enxergar qualquer coisa que estivesse lá embaixo.

— Aguenta um pouco — falei. — Nós vamos te tirar dessa.

Uma pancada me jogou longe.

Eu desabei no chão sem entender o que havia acontecido e me levantei rapidamente. Um sujeito avançava na minha direção feito um predador, com garras erguidas e olhos vermelhos que faiscavam com maldade.

No momento em que posicionei meu corpo para contra-golpear, Natsuno atingiu o vampiro com uma rasteira, derrubando a criatura e ficando de costas para mim.

— Natsuno! — gritei, percebendo a presença de um segundo inimigo. Mas foi um pouco atrasado; ele enterrou um soco no estômago do meu melhor amigo e o agarrou por trás.

Mas uma lâmina veio na horizontal, empunhada por Riku, e arrancou a cabeça do vampiro, cujo corpo caiu imóvel no chão. Tronco e cabeça se desintegraram em areia.

Natsuno se virou com expressão incrédula.

— Vou arrancar a cabeça de cada um de vocês e depois mastigar bem mastigada — disse o vampiro que Natsuno derrubara. Quando ele se levantou e fez menção de atacar, arregalou os olhos ao ser acertado no peito pela ponta da espada do Riku.

— Areia não mastiga — disse o caçador com uma alegria assassina.

— Um mais louco que o outro — disse Natsuno.

Uma sensação que eu conhecia muito bem envolveu o meu corpo. Era a sensação de presenças malignas.

Vampiros.

Quase como uma resposta, vultos surgiram por detrás das casas e árvores e nos cercaram num círculo fechado. Eles estavam não só pelo chão, como também em cima dos telhados, fechando qualquer meio de fuga.

— Eu temia que isso fosse acontecer — resmungou Natsuno.

— E a maioria deles é dos evoluídos — acrescentei.

Era meio assustador ser observado por dezenas de olhos vermelhos. Ainda mais quando seus donos queriam nos devorar. Não consegui contar quantos eram, mas passavam de vinte, eu tinha certeza, entre homens e mulheres que trajavam roupas velhas e sorriam feito demônios loucos para se alimentarem de carne humana. Muitos tinham veias grossas pelo rosto, característica que acusava se o vampiro era evoluído ou não.

— Esperávamos por caçadores mais velhos em vez de simples criancinhas — sorriu um deles, um sujeito cuja boca estava manchada de sangue. — Mas não há problemas, crianças também são apetitosas.

— Pena que são apenas três — disse uma mulher que mais parecia com uma moradora de rua. Ela estava toda suja e tinha o cabelo bagunçado.

— Aquele ali do cabelo roxo parece delicioso — disse o vampiro mais musculoso do grupo, um dos evoluídos; Natsuno deu um passo para trás.

— Agora é a hora da verdade — falei para os meus amigos. — Se merecemos mesmo ter deixado de ser aprendizes.

— Podem vir, suas aberrações — bradou Riku, assumindo sua personalidade psicótica. — EU ESTOU LOUCO PARA ANIQUILÁ-LOS!

Todas as criaturas guincharam e vieram na nossa direção feito animais ferozes. Dali em diante, só guerra e confusão. Era ataque pra cá, defesa pra lá. Muito contra-ataque e sangue.

No começo estávamos com força total, lutando em boa sincronia, lidando bem até mesmo com os vampiros evoluídos. Mas não demorou para o meu cansaço vir à tona. Comecei a sofrer da desobediência: meu cérebro queria fazer uma coisa, mas o corpo fazia outra. Era como se eu estivesse coberto por uma armadura metálica; lento e pesado. Toda vez que acertava um soco em alguém, a dor que eu sentia era muito maior que a dor da vítima, isso porque minha pele estava queimada por dentro. E começava a sentir vestígios de cãibras.

Eu estava atrás dos meus amigos. Natsuno e Riku lutavam em boa forma, ágeis, ferozes. Natsuno parecia estar dançando devido ao seu estilo de luta se assemelhar ao Kung Fu. Ele misturava socos com rasteiras e saltos incríveis. Riku, por sua vez, parecia fundido à brisa da noite, pois sua leveza e facilidade em lutar faziam jus às características de seu elemento. Seus chutes potentes eram originados do Taekwondo e quebravam muitos dentes.

— Punho de Fogo! — ataquei. — Ai, merda!

O golpe provocou uma dor forte no interior da minha mão direita. Decidi que evitaria utilizar minhas técnicas especiais por ora. Investi, então, com chutes, o que não era o meu forte. Derrubava vampiros, mas quase fui acertado por um triz em diversos momentos.

— Se não aguenta lutar do seu jeito, use a espada! —  advertiu Riku.

Errado ele não estava. Decidi sacar a Takohyusei. Senti um poder extra de imediato.

— Caramba, bem melhor! —  falei, provocando cortes nas criaturas.

A espada evoluíra para o nível 3 e estava maior. Não mudara tanto o design, apenas parecia mais afiada. A lâmina dourada cintilava mesmo diante da má iluminação do vilarejo, e o cabo vermelho era repleto de detalhes alaranjados. Eu estava ciente de que não a manuseava com maestria, mas já era uma grande ajuda. Os vampiros pareciam mais relutantes com sua presença. 

E eles começaram a diminuir de quantidade. Alguns inconscientes, outros deperizados, haviam sobrado apenas meia dúzia. Tudo sobre controle, correto?

Ilusão. Eu fui atingido por um soco — outra vez. Caí no chão e ali permaneci. Não consegui me levantar, era como se eu estivesse revestido com chumbo. Meu corpo não me obedecia.

— Dio!

— Eu… tô bem — falei com esforço. Com muita dificuldade, consegui ficar de joelhos. Não podia deixar meus amigos lutarem sozinhos.

Mas tornei a cair.

“E agora?” pensei. O cansaço estava me vencendo de goleada.

Natsuno veio para perto de mim no exato momento em que mais vampiros surgiram no vilarejo.

— Temos que sair daqui! — disse ele. — Vamos, eu te ajudo!

Foi difícil para ele conseguir me levantar. Natsuno pôs meu braço em volta de seu pescoço e gritou para o Riku:

— Riku, vamos dar o fora! O Dio não está bem!

No momento em que Riku viu minha situação, ele rosnou.

— Car@$%#!

Ele veio para perto, enfurecido, mas não tínhamos tempo para lamentar. Natsuno me conduziu em direção ao único veículo do vilarejo: a velha caminhonete. Perguntou:

— Riku, você manja de direção?

Ele não respondeu. Os vampiros estavam na cola, em grande quantidade e sedentos. A todo momento profanavam palavras maldosas que envolviam nós e comida.

— Eu consigo — falei quando chegamos à carroceria. Ignorei as dores internas e subi de qualquer jeito. Natsuno apenas saltou. Em seguida, o ronco do motor; Riku já estava no assento do motorista.

— A chave estava no contato? — estranhei.

— Fiz ligação direta — respondeu o Medeiros com arrogância. — Tentem ficar vivos pelo menos, seus inúteis! E Natsuno, não deixe que eles se aproximem muito!

— Certo, chefe.

Riku deu partida e, tremendo feito uma carroça numa estrada repleta de pedras, a caminhonete começou a se mover para fora do vilarejo.

Então me lembrei do rapaz que estava no fundo do poço.

— Precisamos salvar aquele cara! — gritei de imediato.

— Tá louco, cara? — disse Natsuno. — Se voltarmos lá, a gente vira refeição de morcego!

Dezenas de vampiros nos perseguiam com olhos vermelhos que cintilavam diante da escuridão. O vilarejo ia sendo substituído por árvores e mais árvores até sermos engolidos pelo breu da floresta.

Eu cerrei os punhos, zangado e frustrado comigo mesmo. Não fosse pela minha condição física, poderíamos ter combatido os vampiros e tê-lo salvo. Era tudo minha culpa, o sangue do sobrevivente do vilarejo estaria nas minhas mãos. Eu me perguntava se aquele era o peso do fardo de ser um caçador. Mal imaginava que a tendência era piorar muito.

— Riku, tem como dar uma acelerada aí? — perguntou Natsuno com voz apavorada.

— Não dá pra tirar água de folha seca! — foi a resposta do garoto, que fazia algumas curvas para desviar de árvores, fazendo com que a caminhonete balançasse bastante. A fraca luz do farol dianteiro era suficiente para iluminar pelo menos alguns metros à frente.

— Vocês não vão escapar, moleques! — gritavam os vampiros.

— Logo menos iremos saborear a carne frágil de vocês!

— Eles não desistem nunca? — estremeceu-se Natsuno.

Eu me sentia cada vez mais desesperado. Não tinha certeza se Riku sabia para onde estava indo, muito menos se a caminhonete aguentaria mais muito tempo, visto que parecia estar caindo aos pedaços. Torcia para haver gasolina o suficiente.

Natsuno fez esforço para ficar de pé e se concentrou. Atacou:

— Socos Relâmpagos!

Flashes dourados de eletricidade voaram rumo aos pares de brilhos vermelhos, mas eu não podia dizer se haviam acertado alguém. Antes que caísse, Natsuno se abaixou e suspirou. Aquela era a técnica base do clã Kogori, o que significava que era uma técnica especial — e de produção — de 1 estrela.

— Nessa situação, minha técnica é inútil. Maninho, a gente tá ferrado!

Olhei para frente para ver se estávamos chegando — embora não soubesse onde — e só vi vislumbres de árvores e arbustos que eram iluminados vagamente pela luz da caminhonete. Nenhum sinal de cidade ou vila. Acabei me recordando da fuga que demos dos vampiros que residiam nos arredores do Monte Zentaishi. Não foi um pensamento muito tranquilizador.

De repente, meu sangue gelou quando avistei uma imagem sinistra. Foi tudo muito rápido, mas eu podia jurar que vi uma garota ao lado de um dos troncos. Uma garota de olhos verdes que sumiu no momento em que a vi.

— Dio? — chamou Natsuno. — Você viu algum fantasma?

Eu não consegui responder. Engoli em seco. Havia apenas árvores e escuridão. Talvez estivesse alucinando. Ou Riku diria alguma coisa.

— É… acho que não — respondi.

Acha que não?

Senti calafrios ao olhar novamente para trás, pois os pares de olhos estavam ainda mais próximos. Os vampiros estavam nos alcançando!

— Sigam o meu plano, se quiserem viver! — ouvimos Riku dizer.

— Diz aí — disse Natsuno.

— Olhem pra frente — ordenou ele, então o fizemos. — Assim que chegarmos do outro lado, cortem a corda! Ouviram?

Eu não conseguia acreditar no que via. A única coisa que consegui encontrar para dizer foi:

— Riku, isso é loucura!

O lado bom? A floresta tinha fim. Era possível enxergar um céu azul-escuro adiante das últimas árvores do nosso campo de visão frontal.

O lado ruim? Estávamos nos aproximando de uma ponte de madeira sob o que parecia ser um penhasco!

— Então fique para trás e morra — rebateu Riku com raiva.

Quanto mais nos aproximávamos da ponte, mais eu tinha certeza que despencaríamos e morreríamos. Por outro lado, ficar para trás e ser a refeição de dezenas de vampiros não me agradava nadinha.

— Deus, nos proteja, eu prometo ser um aluno melhor — sussurrava Natsuno ao meu lado.

Os vampiros gritavam com ainda mais euforia, loucos para nos alcançar e abocanhar. Era possível vê-los com mais clareza devido ao fim do mar de troncos. Não havia mais escuridão nem fantasmas, apenas vampiros famintos, uma caminhonete velha, nós desesperados e uma ponte que dificilmente suportaria o nosso peso.

— Acho que não tem como piorar — falei.

Errado. Tinha sim.

— Car@$%#! — xingou Riku, por mim e por Natsuno.

Postado diante da entrada da ponte, um vampiro sorria para nós com um divertimento maldoso. E ele empunhava uma faca. Não precisava ser um gênio para perceber que a sua intenção era cortar a corda que sustentava o nosso único meio de fuga.

Lentamente, ele cerrou uma das cordas que prendiam a ponte à estaca de madeira cravada no chão. Antes que ele cortasse a segunda, a ponte desabou penhasco abaixo. E a julgar que não ouvimos nenhum outro barulho, Natsuno e eu nos entreolhamos com o mesmo olhar de dedução: o penhasco era fundo.

— Últimas palavras, maninho? — disse ele.

Mais apavorado do que nunca, eu respondi:

— Foi bom conhecer vocês.

Era o nosso fim.



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