Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 32: Conhecendo Venandi: a Base do Fogo Militar

Quinze dias haviam se passado desde a noite da aparição do Sacerdote Divino. O que fiquei fazendo nesse tempo todo? Praticamente nada — isso porque estávamos proibidos de caçar pelo restante da cidade devido à nossa quase-morte.

Eu estava angustiado, ainda mais com a distância que aumentava cada vez mais entre eu e a Sophia na escola. Desde o dia em que descobri que ela era caçadora, tinha receio de chegar perto da garota imaginando que seria rejeitado a golpes — embora ela não fosse uma lutadora, segundo o Riku. Sophia, por outro lado, ainda tinha rancor do “toco” que lhe dei — não foi proposital, você sabe — e também por ter visto o beijo entre mim e a Zoe — bem, digamos que nessa parte eu pisei na bola. De fato, ela nem sequer olhava para mim, e quando olhava, eu sentia que seria atacado a qualquer momento.

E você deve estar se perguntando sobre a Zoe.

Bom, eu também tinha saudades dela. O fato é que desde o dia do “pequeno” ocorrido — o “beijo por acidente” —, eu não tive mais coragem de voltar ao parque. Minha mãe até chegou a convidar ela e a  mãe para almoçar conosco nos dois últimos domingos, porém eu arranjei um jeito de dar o fora, passando esses dias com o Natsuno na casa dele, jogando PS4. Não, eu não estava fugindo dela, acontece que...

Sei lá, era estranho. Eu sentia que quanto mais distante eu ficasse da garota, melhor seria para ela. A Zoe era uma pessoa maravilhosa e não merecia sofrer. Ela precisava me esquecer — e a forma que encontrei foi me afastando. Eu sentia falta das nossas conversas e dos nossos entendimentos, e isso me deixava maluco, mas eu preferia assim. Pelo menos os sentimentos dela poderiam enfraquecer, ou até mesmo ela poderia perceber que não gostava realmente de mim.

Por fim, eu estava angustiado.

Não falava com as duas, muito menos caçava com o Riku e o Natsuno, já que o noticiário não mostrava nenhuma notícia estranha pelo sul de Honorário, somente em outras regiões, mas estávamos proibidos de sair da nossa zona de caça. O que me salvava eram os treinamentos.

Como meu tio ainda não encontrara um lugar para morar, permanecia em casa e me treinando na floresta. Inclusive me trouxe uma espécie de colchão cinza que, por mais que recebesse ataques do meu Punho de Fogo ou da minha Takohyusei, sequer era danificado, mostrando uma resistência fora do normal. Era produto de uma das lojas de Firen, segundo ele, o que me fez pensar que Venandi era mesmo uma dimensão um tanto estranha.

Falando nisso, meu pai havia mandado agentes da organização Ko-Ketsu para averiguar aquela caverna que Riku e eu havíamos entrado no outro dia e, de alguma forma, implodiram a entrada, o que impossibilitaria qualquer ser de tentar entrar ou sair de lá.

Enfim, mais de duas semanas haviam se passado desde o dia da invasão ao hospital abandonado e a minha vida não havia mudado nada. O mês de abril passava feito um trem numa estação, deixando apenas lembranças estranhas e complicadas para trás. Estava chegando o dia do nosso segundo jogo do torneio intersalas do colégio Martins, deixando todos os garotos do nosso time ansiosos.

— Enfrentaremos o 1ºG depois de amanhã — informou Natsuno, após arrumar seu material escolar.

— Dizem que este time é repleto de jogadores agressivos que jogam sujo — inseriu Pedro; o professor de História (não o vampiro) entrou na sala.

— Isso não importa — disse o grandalhão Jhou. — Nós temos que ganhar. — Ele terminava rapidamente de comer seu sanduíche, falando de boca cheia, já que não era permitido comer na sala de aula.

— Claro que vamos ganhar! — sorri confiante, embora fosse apenas um reserva. Ainda assim eu acreditava no potencial dos meus companheiros.

Os três assentiram.

Já em casa:

— Finalmente, hein pai! — falei.

Ele sorriu, enquanto abaixava-se para acariciar um Billy feliz; tinha acabado de chegar.

Estávamos na metade de abril, a segunda visita do meu pai desde que nos mudamos para Honorário. Ele parecia ansioso para saber como eu estava desde quando descobri que era caçador. Então, já que só nós dois estávamos em casa, ele perguntou:

— Como estão as coisas?

— Bem — eu menti, forçando um sorriso, me levantando do sofá e desligando a TV.

Tony Kido percebeu a mentira e disse:

— Diogo, acho que é hora de eu te mostrar o lugar onde trabalho. Iremos fazer uma visitinha à Venandi.

Ao mesmo tempo em que ficava surpreso, eu me senti extremamente empolgado.

 

Meu pai e eu caminhamos pela floresta sentido Rio de Água Pesada, deixando Billy sozinho em casa, o que eu achei um pouco perigoso — tinha receio de ele fazer alguma coisa perigosa, como se transformar e comer a televisão. Eu não sabia para onde iríamos, mas imaginava que seria um lugar surpreendente. Tony mantinha-se silencioso, apesar de atento. Nem sabia se ele soubera do acontecimento no hospital abandonado, muito menos ousei tocar no assunto. Ele parecia mesmo focado em me mostrar Venandi, o que já estava de bom tamanho, afinal, há dias eu vinha me perguntando como era esse lugar — embora de uma forma bem inusitada, o visitara uma vez. (Claro que ali era apenas o Reino dos Vampiros, um lugar não muito agradável nem muito amigável, mas não deixava de fazer parte de Venandi). Eu queria matar minha curiosidade, saber como eram as cidades, as pessoas, os tais palácios...

Cheguei a me questionar por que não morávamos ali, mas decidi afastar o pensamento.

Andamos em silêncio pela mata, que ia aumentando aos poucos até finalmente chegarmos em um campo bem cuidado cujo gramado fora aparado pelo tio Michael no mês anterior. Em uma das árvores estava amarrado o colchão resistente cinza que ele trouxera de Firen; estávamos na margem do Rio de Água Pesada, local onde eu treinava, pois ali a gravidade me ajudava a ter, digamos, mais agilidade.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntei, franzindo o cenho e encarando Tony.

Ele caminhou rumo à queda d’água da cascata e virou-se para mim com um sorriso empolgado.

— Aqui tem um portal — gritou, já que era forte o barulho da água impactando no rio traiçoeiro. Era uma bela cascata cheia de rochas enormes. O som da água era agradável e tranquilizador. Eu amava aquele lugar.

Meu pai adentrou no penhasco por detrás da queda d’água e desapareceu. Não ousei ficar ali parado, portanto corri até ele e me surpreendi quando vi que havia uma entrada no meio das rochas.

— Caramba...

Pisei na pequena trilha que havia atrás da cachoeira e entrei na caverna, sentindo o ar puro imediatamente. A única coisa que iluminava aquele lugar era a lanterna acesa do meu pai, que estava apontada para mim. Tony virou-se para o fundo da gruta e fez sinal para que eu o seguisse. Obedeci, analisando as rochas do “corredor”. Minha curiosidade aumentava conforme adentrávamos a caverna, e eu nem imaginava em que parte de Venandi sairíamos.

As paredes do túnel eram úmidas e frias. O ambiente também era frio. Ainda assim não deixava de ser um ótimo lugar, tanto para respirar quanto para meditar, se "desestressar".

A caverna ficava ampla ao fundo, possuindo um lago redondo à nossa esquerda, não muito largo. O mais estranho era que havia tochas de fogo no fundo da água, iluminando-a. Olhei nervoso para o meu pai, que apenas falou, curvando os lábios:

— Teremos que nos molhar um pouco.

Ele correu em direção à margem do lago e, com um salto-mortal surpreendente para frente, pulou na água, deixando apenas sua cabeça para fora. Nunca sequer imaginei meu pai, um homem grande e forte, fazendo um movimento daqueles.

— O que está esperando? — disse ele, com um olhar desafiador, então mergulhou.

— Pô, coroa, me espera!

Pulei também, sem mortal (eu era péssimo), apenas pulei; e o vi nadando até um buraco no fundo do lago, a uns dois metros da superfície. Entrei no buraco logo em seguida sentindo a água gelada na pele e a camisa já completamente colada ao meu corpo. Passamos por um túnel-horizontal-subterrâneo sentido leste da caverna até sairmos em outro lago, cuja água tinha um tom mais azul que o lago anterior. Nadamos até a superfície e saímos em uma outra caverna, um pouco mais iluminada graças às tochas que estavam espalhadas pelas paredes, semelhante... à câmara que Riku e eu revelamos semanas atrás.

Meu pai saiu da água primeiro, seguido por mim. Eu estava encharcado, sentindo frio e a água escorrendo por todos os meus membros. Tony estava da mesma forma, sua camiseta branca — transparente, por causa da água — evidenciava todos os seus fortes músculos do peito e abdômen; sua corrente prateada (a Ko—Kyuketsuki) se destacava por fora da camisa, ainda brilhando muito, reluzindo à luz do fogo que dançava nas tochas. Meu pai chegou perto de mim e, repentinamente, me abraçou.

Fiquei sem reação, ao mesmo tempo em que estranhava. Em seguida, senti um calor percorrer o meu corpo, percebendo que as nossas roupas estavam secando aos poucos, como se estivéssemos mergulhando no fogo puro.

Era meu pai, eu sentia. Um calor quente vinha da pele dele, de todas as partes, aquecendo tudo em volta.

Aquilo era tão confortante...

E depois que já estávamos completamente secos, ele enfim me soltou, perguntando:

— Está pronto?

— Sim — respondi, ainda surpreso com a "secagem" ao modo Tony; a única coisa que permanecia molhado era os meus cabelos castanhos, que grudavam na minha testa e deixavam pequenas gotas escorrerem pelo meu rosto. Fora isso, eu estava seco, o que já estava de bom tamanho.

Meu pai apenas sorriu e caminhou até o fundo da caverna, apertando uma espécie de botão na parede entalhado com algum símbolo estranho, mas que eu reconheci na hora: era o mesmo símbolo que havia na rocha da caverna que Riku e eu entramos. Com o toque, uma porta de pedra se abriu ao nosso lado, deixando à mostra um círculo roxo esquisito e envolvente que girava em diversas direções diferentes.

Um portal.

— Vamos — disse Tony.

Juntos, entramos no portal, passando pelo túnel que ligava os dois mundos de forma bem confusa. Era estranha a sensação de entrar ali, pois tudo girava em direções diferentes, deixando qualquer mente desorientada.

Fomos “expulsos” do portal e me vi numa espécie de beco. Eu estava meio tonto, mas logo quando voltei ao normal, percebi que as casas do beco eram diferentes das casas comuns das cidades da Terra: as casas de Venandi tinham telhados curvos e inclinados, formando V's de cabeça para baixo, lembrando o Japão Feudal. Estava de dia, e o céu era comum, azul e acompanhado de nuvens, o que já era um alívio. O sol, no entanto, aparentava ser maior que o normal, brilhando de forma escaldante, provocando um calor imenso, clima que eu amava.

Olhei para o meu pai, que apenas caminhou sentido fim do beco, sem nem ao menos me esperar. Eu ouvia vários tipos de barulho, ainda que nenhum fosse de carro ou de moto. Era algo como pessoas falando, animais grunhindo, cavalos relinchando. Fui atrás do Tony, ficando ao lado dele no exato momento em que pisávamos numa rua estranha, cujo asfalto era feito de paralelepípedo. Realmente não havia carros nem nada do tipo. Em contrapartida, a rua era tomada por uma multidão de pessoas de todas as idades, que vestiam roupas simples com cores variadas, e percebi que todas as casas daquela cidade eram no estilo feudal.

— Bem-vindo à Venandi — sorriu meu pai, gesticulando, com as mãos, em nosso torno, mostrando o lindo cenário. — E bem-vindo à cidade de Firen, a terra dos caçadores de vampiros da tribo Fubukio.

 

Dobramos várias ruas da cidade e passamos por pessoas de todos os tipos. Vários habitantes da cidade faziam uma espécie de reverência quando viam o meu pai, indicando que ele era muito conhecido na cidade. Caminhávamos bastante pelas ruas estreitas dali — ora de paralelepípedo, ora de terra mesmo — e eu não fazia ideia de para onde meu pai estava me levando; eu começava a ficar cansado.

A cidade era grande, possuindo casas pouco diferentes umas das outras que lembravam o Japão da época do feudalismo. Eram poucas as casas que tinham mais de dois andares. As pessoas eram sorridentes e simpáticas ao se cumprimentarem quando passavam umas pelas outras. Como nas cidades da Terra, ali havia também um grande comércio (frutas, verduras e até de besteiras do nosso mundo). E, quanto às roupas, eram as comuns do dia a dia, porém sem as marcas famosas. Ou seja, Venandi não era tão diferente da Terra, pelo menos aquela cidade.

Chegamos em um lugar um pouco isolado de outras casas, cujo quarteirão era um pouco diferente dos demais. Era repleto de árvores bonitas, e um edifício enorme de dois andares tomava conta de tudo. Este tinha paredes  vermelhas que se destacavam perante as árvores verdes de seu entorno. O muro que o cercava era bastante alto, nos impossibilitando totalmente de ver o que havia no interior do terreno, e a entrada era um largo portão de metal, prata, guardado por dois seguranças com um fardamento de exército vermelho-escuro; fomos até eles.

— Boa tarde, senhor Kido! — cumprimentaram os dois juntos. Eram altos, fortes, musculosos e sérios, ambos com postura de soldados de exército e uma boina na cabeça, da mesma cor do fardamento. O brasão em seus peitos era algo como uma chama por dentro de um círculo, com uma sigla logo acima: B.F.M. 

— Boa tarde — disse meu pai com certo carisma. Ele sempre era assim.

Os dois seguranças abriram passagem a nós e Tony abriu a porta.

Assim que entramos, fiquei impressionado com o que vi. O lugar era a céu aberto, repleto de adolescentes que treinavam iguais aos soldados do exército brasileiro! Aquilo era um exército. Todos estavam uniformizados com um fardamento vermelho-escuro mais simples que os soldados lá de fora e marchavam ao mesmo ritmo, possuindo expressões sérias e focadas, a vários metros à nossa frente, da esquerda para a direita. À frente do grupo, havia um homem vestido com um uniforme da mesma cor dos adolescentes, porém mais evoluído, mais autoritário, com medalhas reluzentes no peito.

O pátio era bastante amplo, cercado por paredes de tijolos simples e vermelhos. Mais adiante dos rapazes que marchavam, havia um prédio de dois andares com poucas janelas na fachada. Estas, porém,  eram enormes e de vidro espelhado, refletindo a luz solar nos olhos de quem as olhasse com atenção. 

Depois de analisar muito o soldado à frente dos adolescentes, não acreditei quando percebi que era o meu tio Arthur. Eu não o via havia quase dez anos, desde que viajara a São Paulo com os meus pais. Ele não mudara nada, sempre com sua aparência rude e agressiva, possuindo sobrancelhas grossas e uma feição de soldado experiente. Assim como o meu pai, ele era moreno.

— Sentido! — gritou ele; os soldados gritaram "Sentido!", bateram continência e ficaram imóveis.

Caminhamos pelo chão de concreto até o meu tio que, quando nos viu, mostrou uma expressão de muita felicidade.

— Antônio! — ele cumprimentou o meu pai.

— E aí, Arthur.

Os dois realmente estavam felizes, como se fizesse tempo que não se viam. Era incrível a semelhança entre os dois, mudando apenas o cabelo e a altura. Enquanto meu pai era alto e tinha cabelos curtos e bagunçados, Arthur era baixo e seus cabelos estavam penteados para o lado. Era forte também e, assim como o resto da nossa família, tinha as pontas dos cabelos negros castanha, por toda parte.

Quando meu tio olhou para mim, não conteve o olhar de surpresa.

— Não me diga que esse é o Diogo! Diogo! — Ele me abraçou, muito forte. Fiquei meio sem jeito, como se tivesse acabado de conhecê-lo.

— Oi, tio — foi o que consegui falar diante do sufoco.

— Arthur, acho que agora não é uma boa hora para abraços — avisou Tony, percebendo a feição de vergonha dos jovens soldados.

— Ah é, desculpe-me. — Ele me soltou e virou-se para os garotos: — Descanso!

Os garotos largaram o jeito sério e comemoraram. Percebi que eles não eram o que eu pensava, pois pareciam mais soltos e mais... moleques. Uns faziam brincadeiras com os outros, enquanto outros conversavam entre si, sorrindo à toa. No fim, eram garotos comuns.

— Quem são eles? — perguntei.

— Seu tio os treina para o exército da nossa cidade — respondeu Tony, olhando-os com admiração.

— Como assim? — estranhei.

— Diogo — agora era Arthur quem falava, num tom estranhamente simpático para a sua voz grave —, talvez você ainda não saiba, mas em Firen há vários e vários clãs misturados, sejam eles pequenos, médios ou grandes. Todos aliados do clã Kido. Somos a tribo Fubukio.

— Eu pensei que nossa tribo era composta apenas pelo clã Kido, Kogori, Rodríguez e Macedo — falei, coçando a cabeça.

— Esses são os principais — disse meu pai. — Nossa tribo tem dezenas de clãs aliados. Nós os protegemos e eles nos protegem. Por isso nós criamos um exército, para nos proteger das tribos rivais em caso de atentados ou guerras à Firen.

— Então vocês usam caçadores de clãs pequenos para isso? — perguntei, não gostando muito da história, olhando de um para o outro várias vezes.

— Mais ou menos — respondeu meu tio, virando-se para os soldados animados.

Fiquei confuso.

Natsuno não me falara sobre isso. Eu nunca soube sobre exércitos e que nossa tribo ocupava uma cidade inteira. Nem sequer eu sabia que meu pai usava adolescentes para servirem no exército!

No entanto, meu pai explicou:

— Esses adolescentes são voluntários.

— Então quer dizer que estão aqui porque querem — falei um pouco mais aliviado; os dois fizeram que sim. De fato, parecia que todos os jovens soldados pareciam gostar do que faziam. Estava explícito no rosto deles.

— Esses jovens — disse meu pai — não são tão fortes quanto caçadores de clãs médios ou grandes, por isso querem se mostrar úteis fazendo parte da nossa força militar. Claro que ainda não estão preparados, mas nós temos adultos que já passaram por todo um treinamento e estão na nossa linha de frente de defesa.

— Entendi — falei, afinal. — Mas eles não caçam vampiros?

— Não, exatamente. O foco deles é apenas defender a nossa cidade. Mas claro que, se encontrarem um vampiro por aí, vão exterminá-lo sem hesitar.

— E adivinha quem fundou o exército — disse Arthur, virando-se para nós novamente. Mas antes de me deixar pensar, ele mesmo respondeu: — O seu avô.

Alessandro Kido. Morreu logo após o meu nascimento, a quinze anos atrás de parada cardíaca, como disseram meus pais. A única coisa que eu sabia era que ele foi um homem muito bom e generoso, e meu pai, de certo modo, era como ele.

— Assim como o restante da cidade — inseriu meu pai com orgulho.

Eu fiquei surpreso com a informação. Nunca imaginei que meu avô havia fundado uma cidade. Era incrível!

— Incrível, não? — disse Arthur com empolgação. Nem parecia o homem rígido de instantes atrás que treinava jovens soldados do exército.

Concordei com a cabeça.

— Bom, temos que ir — disse meu pai, por fim. — Tenho mais coisas para mostrar.

Nos despedimos do meu tio — que voltou a treinar os adolescentes — e saímos do edifício.

 — Como você chama esse lugar, pai? — perguntei, observando o muro alto pelo lado de fora, o edifício enorme de dois andares.

— BFM.

— E o que significa?

— Base do Fogo Militar.

— Base do Fogo Militar — repeti, com um sorriso no rosto. Eu estava feliz por conhecer aquele lugar, aqueles soldados, vendo que todos gostavam de ajudar de algum jeito.

Meu pai virou-se para mim, seus olhos me analisando profundamente, e disse:

— Agora chegou a hora de você ver o meu local de trabalho. Vou te mostrar a sede da organização Ko-Ketsu.



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