Caçador Herdeiro Brasileira

Autor(a): Wesley Arruda

Revisão: Ângela Marta Emídio


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 15: O dia do encontro

Tem coisas na vida que podem ser boas para você, ao mesmo tempo em que podem não ser tão boas para um amigo. Por conta disso você pode até se sentir mal, quando na verdade você não fez nada de errado. É apenas algo bom que não veio no melhor momento, mas se você não  aproveitar, talvez essa oportunidade não apareça novamente. Seu amigo poderá até ficar feliz, ao contrário de você, que poderá se arrepender por um bom tempo. Por isso não é sempre que se deve desistir de algo por causa de um amigo.

Era assim como eu me sentia.

Era sábado, 12 de março, o dia do encontro com a Sophia. 

O mais natural seria eu ficar animado e contente, porque afinal, eu tinha um encontro com uma das garotas que faziam o meu coração disparar! Uma das — esse era o problema. Embora eu me sentisse bem perto da Sophia, a Zoe me provocava o mesmo sentimento bom, especialmente depois da conversa que tivemos. Ela simplesmente havia admitido que estava gostando de mim.

Eu sabia que tinha só quinze anos e que talvez sequer saberia como namorar — não devia ser fácil, pelo menos na minha opinião. As garotas são estranhas e perigosas, e são bem difíceis de entender também. Eu nunca tinha me dado muito bem com elas, nem mesmo na outra escola, em Belém. Quando tentava me aproximar, elas se afastavam. Quando eu me afastava, aparecia um monte querendo se aproximar. Uma vez beijei uma menina depois da aula, até pensei que estávamos namorando, mas no dia seguinte, lá estava ela beijando outro. Não fiquei muito triste pelo ocorrido, mas acredite: esse tipo de coisa também não é muito agradável. Acredito que, por causa desse fato, passei a ficar na defensiva em relação às garotas. Cheguei em Honorário e a Sophia me ajudou, demonstrando ser uma pessoa meiga, gentil. Eu a achei linda de início, e com os dias, comecei a sentir algo a mais. Se é isso o que chamam de amor, eu podia dizer que estava quase amando. Mas eis que surge a Zoe...

Uma pessoa que entendia os meus sentimentos e dizia o que eu precisava ouvir. Além de linda, possuidora de um caráter admirável. Ela estava gostando de mim! Estava prestes a me encontrar com a Sophia, no entanto, não estava tão empolgado quanto deveria estar. Ao mesmo tempo em que o meu coração parecia balançar por duas garotas, eu me sentia culpado. Suponhamos que a Sophia também estivesse gostando de mim, e eu descobrisse que era dela que eu gostava, qual seria a reação da Zoe? Como ela se sentiria? Definitivamente, eu não queria ver a Zoe sofrendo, e foi esse pensamento que envolveu a minha mente durante o sábado inteiro. Eu não podia vacilar com a Sophia, muito menos deixar a Zoe triste. Resumindo: eu havia me metido em uma baita de uma encrenca. 

 

Na hora do café da manhã, avisei à minha mãe:

— Mãe, hoje vou sair, e só volto à noite.

Sara, que enchia as xícaras de café, logo estranhou:

— Aonde você vai, filho? Sabe que a cidade é perigosa com todos esses vampiros por aí...

— Na casa de um amigo. — Eu odiava mentir, mas dessa vez foi necessário. Então recebi um olhar de malícia. — O que foi, mãe?

— Nada. Esse amigo é homem ou mulher?

— O que você quer dizer?

— É algum encontro?

Fiquei vermelho. Cara, minha mãe percebia tudo! 

— Um encontro? Com quem? Que ideia maluca!

— Por que você está nervoso? — Ela riu. — É com a Zoe, não é?

Tentando me manter firme, eu mordi uma das torradas e falei de boca cheia:

— Não é não.

Assim que respondi, ela estreitou seus olhos negros sobre mim, como se tivesse preparado uma armadilha. Eu caí direitinho. Como era burro...

— Ah, então realmente é um encontro! — exclamou. Eu quase me engasguei. — Se não é com a Zoe, é com quem, então?

Ela ficou pensativa, com uma expressão confusa, mas logo cortei seu devaneio:

— Mãe, eu já disse que não vou a encontro algum! Vou à casa de um amigo da minha sala, o Natsuno. Só isso!

— Ok... — Ela parecia ter desistido, mas eu conhecia bem a dona Sara. — Que horas você vai e a que horas volta?

— Vou às cinco e volto antes das onze — respondi, mordendo outra torrada e dando um gole no café em seguida. Precisava ficar calmo, e o único modo era comendo rápido.

— Mas por que tão tarde? Você poderia ir depois do almoço e voltar antes do jantar.

E agora? O que responder? As palavras saíram automaticamente:

— Ele joga num time de futebol, e o jogo será durante a tarde.

Apesar de muito simples, a resposta derrubou de vez as hipóteses da Senhora Detetive. E eu suspirei.

 

Depois do almoço, Sara me mandou ir ao mercado para comprar alguns alimentos para o jantar. Isso já era por volta da uma hora da tarde. Caminhei devagar, pensativo como sempre.

As ruas do meu bairro eram sempre movimentadas de crianças e sem tanto tráfego de carros:  isso me lembrava um pouco o lugar onde morava. Passei pelo parque na esperança de ver a Zoe, mas nada, apenas crianças nos diversos brinquedos acompanhadas de seus pais. Enquanto passava por ali, passou um filme pela minha cabeça. Desde quando a encontrei pela primeira vez, quando falamos sobre a solidão até quando vi o Riku Medeiros, com o seu rosto calmo e desinteressado. Mais tarde, descobri que o "desinteresse" significava tristeza por tudo que ele havia passado e por ter que morar com os "tios imbecis", como ele mesmo dissera.

Eu me lembrei dos meus primeiros dias na cidade, quando eu me sentava em um dos bancos de pedra e ficava lembrando dos meus amigos de Belém. Como eu me sentia só!

Felizmente, isso acabou. Consegui fazer novos amigos. Natsuno, Sophia, Zoe, Pedro e Jhou me estenderam as mãos e me salvaram fazendo com que eu encontrasse uma luz no fim do túnel. Descobri que a amizade pode transformar a vida de alguém, pois transformou a minha.

Enfim cheguei ao mercadinho. Comprei o que tinha que comprar e voltei para casa. Depois decidi ir ao parque.

 

Após tomar um banho e vestir a roupa mais bonita que tinha — uma camiseta vermelha e uma calça jeans escura —, desci para avisar minha mãe que eu já estava de saída; por sorte, ela estava na cozinha, por isso não me viu arrumado. Se visse, com certeza faria todas aquelas perguntas que sempre me deixavam irritado e constrangido. Até o cabelo eu havia penteado.

Segui rumo à escola onde me encontraria com a Sophia. Enquanto caminhava, tentava imaginar como ela estaria, qual roupa estaria usando, ao mesmo tempo em que torcia para nada dar errado — nenhum vampiro aparecer e me atacar. Precisava ser um sábado especial. Não era apenas um encontro, mas um encontro com a Sophia. Eu não poderia perder aquela oportunidade por nada nesse mundo — porém, mal sabia eu que estava errado.

Eu já estava quase na metade do caminho, mas ainda tinha tempo de sobra para chegar ao ponto de encontro. Marcamos para às cinco, e ainda eram quatro. Presumi que fui exagerado ao sair de casa cedo demais. Quanto mais perto da hora de vê-la, mais a animação aumentava — o que era surpreendente, considerando que até algumas horas atrás eu não estava me sentindo muito bem. Era como se a ficha finalmente tivesse caído: a Sophia tornava  a ser a dona dos meus pensamentos.

De repente, senti um arrepio.

Meu coração disparou, conseguia perceber presenças estranhas por perto. O mais incrível era que eu estava bem na entrada da floresta, onde semanas atrás vira alguém me vigiando e se escondendo. Algo iria acontecer, eu tinha certeza disso.

— Aonde pensa que vai? — perguntou uma voz masculina.

Eu me virei e observei dois caras não muito amigáveis a poucos metros, cujos olhos tinham um brilho carmesim intenso. Eles eram altos, corpulentos e vestiam roupas simples. Pareciam irmãos. Tinham o mesmo corte de cabelo, a mesma cor de pele: um bronze escuro. Eles imediatamente mostraram seus dentes afiados e assassinos: eram vampiros.

— Droga! — exclamei. Éramos os únicos na rua até onde eu conseguia ver, e isso não soava muito legal.

— Parece que alguém não gostou da nossa visita — ironizou um deles, lambendo os lábios feito um animal sedento. Perguntei-me se havia algum tipo de rastreador dentro de mim. Ou então eu era mesmo muito azarado.

Virei-me novamente por instinto e me deparei com outros três sujeitos, também a poucos metros. Assim como os outros, eram altos, fortes e assustadores.

— Estou cercado — percebi, sentindo as pernas tremendo. Sim, eu estava com medo. Porque oras, eram cinco vampiros de uma só vez, algo que eu não imaginava nem na pior das hipóteses. Parecia que eles faziam questão de mostrar as presas caninas, talvez para me deixar mais apavorado. De súbito, avançaram na minha direção com os punhos erguidos.

Felizmente, o meu reflexo estava melhorado. Como eu era bom em artes marciais, desviei do primeiro soco com facilidade, do segundo e, um pouco assustado, desviei do terceiro, mostrando boa agilidade embora com a respiração ofegante. Mas não foi o suficiente: um dos vampiros irmãos me derrubou com uma rasteira por trás e eu caí de bunda no chão. Rolei para o lado no último segundo e consegui me esquivar de unhas que mais pareciam garras de morcego. Levantei-me num pulo com o coração acelerado. Os vampiros me circundavam com sorrisos maldosos e horríveis. Todos aparentavam ser homens normais, musculosos — a não ser pelas íris escarlate e os dentes pontiagudos, que os deixavam com uma aparência demoníaca.

— O que vocês querem? — perguntei, preparado para tudo, olhando-os atento. Era uma pergunta meio imbecil naquele momento, mas eu não pude controlar.

— Você — a resposta de um dos "irmãos" foi simples.

Eu sabia que não podia lutar contra cinco vampiros ao mesmo tempo, portanto só me restava uma escolha: escolher o momento certo para fugir. Para isso, no entanto, eu precisava enrolá-los.

— Eu? Por quê?

— Para um caçador, você faz muitas perguntas, garoto — disse o que me acertara, com um olhar que parecia me estudar. Pelo jeito ele sabia que eu era caçador. E isso ficava meio que sem sentido, uma vez que eram os caçadores quem deveriam caçar.

— Vamos pegar logo esse moleque! — gritou o vampiro.

— Só em sonho! — eu disse.

Os cinco correram na minha direção com garras e eu saquei o meu anel dourado. No mesmo instante ele se transformou na Takohyusei de lâmina dourada. Desviei de todos os golpes com grande habilidade, mas quando fiz menção de contra-atacar, fui surpreendido por outra rasteira — isso mesmo, mais uma. Realmente era impossível lutar contra cinco ao mesmo tempo. Eu caí e eles saltaram contra o meu corpo de uma só vez, feito animais ferozes prestes a alcançar sua presa. Entretanto, antes de me acertarem…

— HÁÁÁÁ!!!! — bradou uma voz conhecida; ele surgiu acertando uma das criaturas com um soco, chutando o segundo e derrubando os outros três com uma rasteira. E a cena foi tão rápida que a única coisa que eu consegui fazer foi pestanejar.

— Natsuno? — estranhei, aliviado e surpreso.

— E aí, Dio, vai ficar aí no chão mesmo?

Vendo-o de costas para mim, eu não pude deixar de me admirar.

Fiquei de pé e dei um passo para frente, ficando ao seu lado. Um vento sufocante vinha da floresta atrás de mim e me provocava calafrios na nuca. Os vampiros não pareciam muito felizes. Eles se levantaram, rosnaram e atacaram.

— Vamos sair daqui! — gritei em alerta.

Sem perder tempo, eu me virei para a floresta e corri. Planejava escalar a grade e pular para o outro lado, mas o portão enferrujado estava escancarado. Passamos por ele e adentramos na fria escuridão sem olhar para trás. Eu me perguntei se aquilo estava sendo inteligente, afinal os vampiros no nosso encalço pareciam sedentos por sangue.

— Eles são muitos — falei com o coração acelerado e desviando das árvores. — Não podemos contra eles.

A floresta era realmente assustadora, com seus enormes troncos estranhos e retorcidos, cheios de galhos que atrapalhavam a nossa visão. Corríamos sem rumo desviando das árvores e abrindo passagem entre os arbustos altos, com os cinco vampiros nos perseguindo, tão velozes quanto selvagens.

— O encontro! — lembrei.

— Dio, eu particularmente não acho que essa é uma boa hora para pensar em encontros. — Natsuno me olhou com escárnio. — Cara, nós vamos ser devorados por vampiros!

Natsuno estava certo na primeira parte. O problema era que o encontro seria com a Sophia. Nunca mais ela iria querer olhar na minha cara, considerando que ela parecia ser do tipo de garota que não gostava de levar “toco” — afinal, quem gostava? Mas outra coisa me perturbava:

— Natsuno, o que você fazia por ali?

— Recebi um recado de que vampiros iriam te atacar, maninho.

Ele voltou a olhar para a floresta que se estendia adiante.

— De quem?

— Riku.

— Riku?

Era incrível como a adrenalina nos dava força para correr mesmo em lugares complicados. Eu corria feito um louco desviando dos troncos com a maior facilidade, e olha que a escuridão que envolvia a floresta não era muito aconchegante. Por outro lado, se continuássemos naquele ritmo, acabaríamos saindo da cidade. A todo momento eu me desequilibrava pisando em raízes ou no solo irregular. Aquele definitivamente não era um bom lugar para uma corrida matinal.

— Não podemos fugir a noite toda — disse Natsuno que, ao contrário de mim, não estava tão desesperado.

— Eu sei, nós temos que lutar — lamentei, ainda com o coração batendo rápido. Natsuno olhou para trás, e avisou:

— Nunca ataque pela frente. Vampiros têm uma agilidade impressionante. As árvores podem ser de grande ajuda pra gente, mas também podem ser obstáculos, vai depender de como vamos usá-las. Sua espada tem o poder do fogo e a minha do relâmpago. Ou seja: use todo seu poder concentrado nela, assim a deixará ainda mais forte. Ah, e lembre-se: procure sempre atacá-los no peito ou no cérebro, se você não tiver tanto nojo.

Arqueando uma sobrancelha, concordei.

Paramos e nos escondemos atrás de uma árvore. Os vampiros também pararam. Estava escuro naquela região, e eles pareciam não saber onde estávamos escondidos. Mas o meu coração acelerou ainda mais quando percebi os cinco nos farejando. Os batimentos eram tão fortes ao meu ouvido que imaginei que os inimigos também pudessem ouvir; o anel roxo do Natsuno estava se transformando em sua espada de fio duplo, lentamente.

— Ali! — gritou uma das criaturas, apontando para uma das árvores perto de onde estávamos. Eu não entendi bem. Os vampiros avançaram até ela e encontraram um pano branco. Um dos "irmãos" pegou o pano e farejou, mostrando, em seguida, raiva nos olhos.

— Eles nos enganaram.

Finalmente me dei conta do que acontecera: Natsuno havia deixado o pano lá para confundi-los, sabendo que eles poderiam tentar nos farejar. Inteligente, eu tinha que admitir.

Ele olhou para mim e disse, suas palavras quase sem som, mas nítidas como a luz: agora.

Com o coração quase saindo pela boca, acompanhei Natsuno. Atacamos dois dos vampiros acertando-os no peito com as nossas espadas afiadas, pegando-os de surpresa; eles imediatamente se desintegraram ao ponto de virarem pó. Os outros três ficaram espantados, depois, furiosos.

— Menos dois — falei , já me recompondo para a luta. O medo se transformava em empolgação (e surpresa, com a extrema afiação das lâminas das espadas). Simplesmente atravessaram o corpo dos inimigos.

— Quem vai ser o próximo? — provocou Natsuno, também puxando sua Takohyusei.

Os vampiros rosnaram. Estávamos frente a frente. 

Natsuno e eu já estávamos prontos para atacar, quando um dos vampiros disse, olhando diretamente para mim com os seus olhos vermelhos e sua voz tão fria quanto o clima da floresta:

— Seus pesadelos estão apenas começando, caçador. Prepare-se para a dor.

Feito um felino traiçoeiro, ele virou-se com os outros dois e disparou, correndo pela floresta. Eu não senti outra coisa senão vontade de segui-lo, porque aquilo já estava me intrigando.

— Vocês não vão fugir desse jeito!

Ficando para trás, eu ouvi o Natsuno gritar:

— Dio, cara!

Ele suspirou murmurando alguma coisa, mesmo assim nos seguiu. O jogo havia virado. Agora éramos nós quem estávamos correndo atrás dos vampiros, desviando das árvores e dos galhos grossos.

— Dio, relaxa! — Natsuno já estava atrás de mim, mas a minha vontade falava mais alto. Eu queria saber o que aquele vampiro queria dizer com "seus pesadelos estão apenas começando". Parecia muito com o recado do motoqueiro misterioso, e eu precisava saber quem estava por trás.

Os vampiros fugiam, desviando dos obstáculos com extrema facilidade e nos abandonando. Estavam a vários metros de nós, distanciando-se a cada segundo. Até que fizeram algo que eu não esperava: pararam e ficaram nos esperando. No momento em que eu também parei, percebi a fraca iluminação do crepúsculo do céu, que alcançava a clareira pela falta de árvores naquela região.

Natsuno parou logo ao meu lado respirando um pouco ofegante. Parecia cansado, e olhava sério para os inimigos. 

Eu estava com um péssimo pressentimento. Os vampiros estavam no meio da clareira feito três estátuas robustas, quando, enfim, um deles se virou e foi inevitável não olhar para os seus olhos escarlates.

— Vocês querem mesmo sentir a dor da morte? — perguntou. 

— Por que vocês estão atacando o Dio? — Natsuno fez a pergunta que eu planejava fazer; os vampiros responderam soltando uma gargalhada horrível e assustadora. Os outros dois também se viraram, fuzilando-nos com um olhar de sangue.

— Eu vou acabar com vocês, seus otários! — eu disse sentindo uma mescla de medo e raiva tomar conta de mim.

O vampiro do meio, cuja expressão demoníaca deixava transparecer fome e confiança, lambeu os lábios em provocação; aquilo me fez sentir náusea.

De repente, vários pares de brilhos vermelhos feito rubis iluminaram a escuridão da floresta à nossa volta. Eu senti o sangue gelando quando inúmeros vampiros surgiram por detrás das diversas árvores, alguns até em cima dos galhos grossos, todos olhando para mim e para Natsuno; olhos cor-de-sangue que mais pareciam faróis acesos diante de um túnel escuro. Eu não fazia ideia de onde saíram tantos assim, mas estava claro que era uma armadilha.

As palavras pareciam ter sumido da minha boca, enquanto minhas pernas começavam a tremer.

Procurei por confiança no olhar do Natsuno e encontrei uma expressão de puro horror, enquanto ele olhava em torno como se estivesse vendo fantasmas.

— De novo não — murmurou ele, tremendo mais do que eu (e olha que eu tremia pra caramba!).

Então, eu me lembrei da conversa que tivemos no seu quarto, quando Natsuno dissera que ele e seus parceiros haviam caído em uma armadilha feita por vampiros, algum tempo atrás. Uma armadilha na qual somente ele sobreviveu.

Isso só me deixou mais apavorado.

— Porcaria! — gritou Natsuno. Lágrimas escorriam de seus olhos furiosos. Pensei que ele partiria ao ataque, mas manteve-se imóvel, como se soubesse a encrenca na qual havíamos nos metido; metade dos vampiros riam com gosto, especialmente os três que tinham armado para nós.

Eu me senti um idiota por tê-los seguido. Deveria saber que estavam nos levando para uma emboscada.

Contei rapidamente quantos eram, e consegui notar dez, fora os três que perseguimos. Eles pareciam preparados para nos atacar. Sorriam feito verdadeiros canibais, vampiros psicóticos que não poupariam esforços para nos matar.

Eu apertei o punho da minha espada com força, tentando controlar a tremedeira e focar em qualquer ataque surpresa que viesse. Eu não podia baixar a guarda — sabia que enfrentar treze vampiros, naquelas circunstâncias, era sinônimo de suicídio, mas tentar fugir pela floresta seria algo estúpido, visto que Natsuno e eu já estávamos cansados.

— Parece que a diversão começou — disse alguém atrás de mim, sua voz muito calma e gélida como uma pedra de gelo. — Mas não me chamaram.

Riku surgiu da escuridão empunhando sua Takohyusei de prata. Caminhou até ficar ao nosso lado, olhando para os vampiros com uma calma surpreendente. 

— Parece que isto pertence a vocês — disse ele que, embora estivesse com seus olhos cinzentos fincados nos vampiros, dirigia a palavra a nós, jogando dois frascos cristalinos vermelhos cheios de pó à nossa frente. Seu rosto sereno mudou para uma felicidade bizarra, e ele disse, dessa vez para os vampiros: — Agora... é hora do show! Chegou a hora de vocês irem para o inferno, suas aberrações das trevas! Eu vou acabar com vocês!!



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