Bom Demônio Brasileira

Autor(a): Trajano


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 29: poderes

Finalmente, após toda a preparação para terminar esse aquário, Ase explicou o motivo por trás de tudo aquilo.

Em suma, ao saber que Atlas era um título relacionado a um elemento, buscou saber seus limites. Na grande maioria, títulos com relação a algo elementar como água, fogo etc, costumam ter propriedades parecidas, mas a ponto de ter certeza, o Vassalo decidiu fazer esse local de testes.

Então, algumas conclusões que chegaram junto ao auxílio de Atlas:

-Equilíbrio térmico. Em contato com água e substâncias próximas, Sea não necessariamente sentiria calor ou frio, e sim uma temperatura agradável.

Contudo, isso não se estende a todos os líquidos. Lava, por exemplo, apenas o derreteria. Assim como óleo a 1000 graus positivo ou negativo, ele sentiria os efeitos. Todavia, com elementos como água oxigenada(H2O2), funcionaria. Já para água, abrange todas as temperaturas.

-Atlas não traz consigo nenhuma força física por si só, mesmo sendo conhecido por carregar os céus. No entanto, devido sua afinidade com água, sua força cresce exponencialmente, mas apenas quando o corpo inteiro, sem exceções, está coberto por água.

Por óbvio, descartaram a utilidade desse poder, afinal, seria praticamente impossível lutar sob a água.

-Também existe a regeneração de feridas e cansaço. A primeira funciona quando a área machucada em si for coberta. Ainda assim, a água naturalmente tentará perseguir o machucado, mesmo que de forma lento, e dependendo da distância. O segundo é bem simples, o cansaço pode ser curado ingerindo água, dois litros para uma recuperação completa. Infelizmente, isso não o poupa de dormir, sem falar que, aparentemente, prolonga o descanso.

A propósito, tanto Sea quanto os Vassalos questionaram se a falta de sono do invocado fosse devido essa habilidade, mas como dito, não interfere na ação de dormir.

-Como Sea já havia percebido quando nadara no lago, a água praticamente não o afeta no quesito mobilidade. Ou seja, nadar seria extremamente simples. Até andar em um terreno lamacento seria mais fácil.

-Quanto a controlar água, nada muito grande, na verdade, ela mal se movia. Por sorte, seu talento natural somada ao do título o proporcionavam uma alta afinidade com o elemento água, então isso podia ser aprimorado futuramente. Não que fosse algo para ser utilizado em breve.

-Automaticamente líquidos em geral tentarão proteger Sea.

Enquanto no aquário, Ase lançou vários golpes contra o corpo do garoto, e por mais que continuassem fortes, o líquido parecia drenar um pouco do poder. Isso foi repetido até a exaustão, nas palavras de Ase “quanto mais testar, melhor.”

-Por fim, respirar sob a água.

Ainda que tudo mencionado anteriormente pareça muito, na verdade, não é bem assim.

Não é raro que títulos, principalmente mitológicos, tenham seus usuários protegidos por X elemento. Na verdade, essas habilidades passivas podem-se ser ditas como extremamente comuns.

A fim de informação, isso segue até uma “hierarquia mitológica.” Como, se os poderes passivos aquáticos de Atlas fossem comparados com os de Poseidon, o do primeiro seria claramente mais fraco.

Ou seja, resumindo, Atlas possuía as habilidades passivas de “Protegido pela água” e “Corpo fofinho.”

O Vassalo disse que é bem provável que Sea desperte mais poderes com o passar do tempo, mas ele não conhecia o mito de Atlas, e quando o invocado explicou, ele teve algumas teorias, mas nada mais que isso.

A propósito, seria bastante simples apenas perguntar para Atlas, mas cada título possuía seu próprio psicológico e formas de continuar o jogo dos invocados. Afinal, continuam tendo seu livre arbítrio.

Atlas disse que seria mais complicado usar seus poderes ativos após explicar. Segundo ele, Sea descobrir por si mesmo traria uma eficácia e entendimento melhorado.

E assim se concluiu as conclusões feitas com o aquário.

—Você extrapola quando é para ser inútil, hein?

*H-hur... maneire sua forma de falar comigo, ainda posso renunciar.*

—... Certo, com isso finalizo os experimentos.

Esses testes foram sendo feitos durante um dia inteiro.

—Então vai deixar o aquário de lado?

—Nah, na verdade, ainda temos como usar ele.—Respondeu Bianca.—Veja, não tem graça um entretenimento fraco, então tanto você quanto qualquer outro invocado recebe um... “mais” de talento, por assim dizer. Como o tempo limite para vocês é seis anos, vocês aprendem as coisas bem mais rápido que uma pessoa comum. Ou seja, algo que demoraria quinze anos para ser aprendido, vocês fariam em um.

—Isso... faz sentido, mas o que tem a ver se tanto eu quanto meu oponente temos o mesmo poder?

—Bem, o ideal seria te ensinar magia de reforço logo, mas seu corpo é tão fraquinho que nem faria tanta diferença. Sabe, pode-se dizer que a magia de reforço multiplica a capacidade do seu corpo base, se fica mais fácil entender. Ou seja, se sua fadiga é curada bebendo, se move com facilidade sob a água, com seu corpo continuando normal, e por algum motivo não consegue dormir... sabe onde queremos chegar?

—Ah...

Isso também passou pela mente de Sea, mas somando todas as habilidades anteriores...

—Eu basicamente tenho um cheat de treino 24/7!?

—A não ser que algo estranho ocorra, é o que parece. Portanto, fizemos um plano de que você treine o físico por volta de duas semanas, duas em alguma arte marcial, e o resto em reforço. Achamos ser o melhor para o combate.

—Apenas tenha em mente que há algo de errado com você. Provavelmente terá algum tipo de pagamento com juros quando souber o que está ocorrendo com seu corpo.—Complementou Ase sobre o “cheat” de Sea.

...

—Ah...

Um suspiro de satisfação exalou de sua boca.

Ase ficou um tempo auxiliando Sea a conseguir treinar sozinho, permitindo a sua esposa a descansar.  entregou-lhe uma agenda e dicas. Por fim, disse que ele ou Bianca iria visitá-lo de tempos em tempos para qualquer coisa.

Bem, claro, ficar ao seu lado o máximo possível seria o melhor para o rendimento de seu corpo, mas...

—Chato...

Sua vida não era só isso. Na verdade, o jogo dos invocados não chega a estar nem dentro de suas prioridades. É mais como algo que lhe foi obrigado.

Na verdade, estritamente falando, os Vassalos sequer precisam verdadeiramente ajudar os invocados, aí é mais uma questão de suas personalidades.

Ase não se importava nem um pouco. Tudo que fazia era por Bianca, sempre ao chegar um novo participante, afeiçoar-se facilmente. Suas emoções fluem rapidamente, então ele tenta deixá-los vivos o máximo de tempo possível pois, consequentemente, ela se alegra junto.

Obviamente ela sabia disso, mas como não interferia em nada, deixava rolar.

—Nheh, nheh, nheh. “Te dou a imortalidade, mas em Liv fará o que eu mandar.” Idiota.

Não havia nada que Ase prezasse mais que seu tempo com a família. Na verdade, ele já planejava ficar enviando Sea para vários locais no intuito de cumprir esse desejo... Sua esposa fica feliz, ele fica feliz, Sea... fica feliz, talvez.

Claro, agora, estava fazendo seu melhor para ao menos não deixá-lo enlouquecer. Se ele ficasse depressivo sem a sua guia, consequentemente afetaria Bianca... a depender do quanto de tristeza ele causasse a ela, o mataria.

Bem, não seria o primeiro.

Já foi deixado claro, mas enfim, resumindo.

Ele não se importava com nada fora quem lhe fosse próximo.

Também, não hesitaria em fazer qualquer coisa em prol dessas pessoas.

No momento, acabava de chegar em seu quarto, onde a Vassala já estava há alguns minutos. Ela estava com seu pijama característico, mas com a adição de uma barra de chocolate na boca. Um livro estava aberto sobre a cama, então sua capa não podia ser vista.

Ase estranhava bastante suas vestes. Sempre atraía atenção indesejada por onde quer que passassem, e isso o incomodava.

Mas não é como se ele quisesse que ela tirasse.

—Cheguei.

—Não me diga?

Suas sobrancelhas apertaram.

A resposta havia sido receptada quase como se fosse um tiro, ou uma faca cravando em seu coração.

—Poxa, eu só fiz uma brincadeira, não precisa ficar triste.

—...

—Tá, tá, desculpa, certo? Que bom que chegou.

Por mais que parecesse sério e carrancudo boa parte do tempo, quando isolado com ela, agia como se fosse uma adolescente apaixonada do colegial.

Ele colocou seu cachecol para trás e deitou na cama, ao lado de Bianca. Ela, em resposta, fechou o livro com ambas mãos e guardou de lado.

Na contra capa estava escrito “Grimgar.”

—Chegou em que volume?

—Três.

—Huh? Já?—Uma certa surpresa percorreu seu rosto, e para conferir, pegou o livro.—Você havia parado no um faz alguns... dias...—Como esperado, seu rosto torceu.

Ase a encarou com um olhar de desgosto.

—A-ah... você disse volume? Entendi capítulo, há há...

Ele chegou a abrir o volume na página com o marcador, apenas para se deparar com o “capítulo 2” na página, e na capa havia “volume 1”.

Bianca deu um olhar brincalhão e bateu o punho contra a cabeça, fazendo um “oops...” atrapalhado.

Ela estava lendo há quase uma semana.

Ase fechou o livro com uma única mão e se virou de barriga para cima. Já de feição habitual, falou:

—Se não está gostando, não tem porque continuar lendo.

—E-ei, não é assim...

A garota deu um impulso para cima, sentando-se de pernas abertas, de frente a Ase. Normalmente ela conseguiria mudar a situação em um jogo de encarar, mas ele havia premeditado isso e fechou os olhos.

Repentinamente, seus olhos ficaram amuados, e seu rosto vermelho. Juntou seus braços e colou os punhos contra o queixo, em seguida, deitou-se encolhida no braço de seu marido.

—Eu... tava lendo...

—Não precisa mais.

—A-ah... eu... só... queria ler tudo que você gosta, mesmo comigo gostando ou não, pra poder te entender melhor...

Com essas palavras, o coração de Ase bateu em uma velocidade impossível de medir. Suas bochechas estavam corando e ficando da mesma coloração de um tomate. Ele virou um pouco sua cabeça, e pelo canto dos olhos, conseguia ver a garota encolhida, como se fosse um cãozinho tentando agradar o dono.

Parecia que ela estava prestes a soltar lágrimas, mordendo o beiço tentando ao máximo segurar. Essa pose fez a mão de Ase inconscientemente ir de encontro ao cabelo loiro, movendo um pouco para acalmá-la.

Seguindo o instinto, o próprio homem baixou seu corpo e aproximou seu corpo, indicando um “perdoada.” Bianca, em instantes, mudou sua face para uma de alegria.

Quando ela dizia que ele parece uma garota adolescente, ela não exagerava.

Como um pedido de reconciliação, Bianca abraçou o pescoço de Ase, trazendo sua cabeça ao peito.

É dessa forma que esses anciões viviam suas vidas, dia após dia, por muito tempo...

—Ei, sobre o filhinho, já arrumou tudo?

—Uhum.

—Fez o treino correto para ele, né?

—Humhum...

Era como se fosse um filhote respondendo ao dono, sempre recebendo uma recompensa pela resposta desejada.

Por um breve momento, por de trás de suas lentes podia ser visto um amarelo brilhoso.

Incomodado com o livro aberto dentre os lençóis, Ase, quase sussurrando, questionou:

—Vai continuar lendo?

—Não~... já li demais hoje... duas páginas...

—...

—Não fica bravo comigo...!

—Não vou.

Ele já estava prestes a fazer como a garota pressupora, mas quando viu seus olhos voltando a encherem de lágrimas, desistiu.

Um suspiro de cansaço.

“Como ela tem tanta energia...?”

O número de rostos e emoções que ela podia fazer em sequência era absurdo...

Ele fechou o livro e o jogou pelo quarto. Bateu contra a escrivaninha e quase caiu, mas ficou sólido em sua posição.

—He... he... a filhinha parece bem bonitinha e fofa, né?

—Uhum...

—Ei! O que tá fazendo elogiando outra garota!? Era pra dizer “Sim, mas nem se compara a você.”

—...

Ela também era muito ciumenta. Ase era um perigo para os invocados masculinos, mas Bianca não ficava muito atrás quando eram mulheres.

—Sono...

—Não!

—Sim.

—Ah... Ah...! Não. Ainda não! Você prometeu que íamos jogar Monopoly hoje...!

Ase desferiu um peteleco contra a testa dela.

Chegando ao limite, as lágrimas começaram a preencher seus olhos, o corpo começou a tremer, e a boca a oscilar...

—Hum...!

Mas, pouco antes de começar uma baderna, Ase tapou sua boca com bastante força, segurando seus braços com seus membros superiores.

Ele a encarou com força, por vários segundos, aqueles olhos amuados pareciam como um coelho sendo caçado por um lobo, negro e inacabável... como se visse sua alma por dentro, revirando-a...

Por fim, ele soltou um último “Não.

Ela engoliu o choro.

Depois, Ase se ajeitou na cama, ficando na posição vertical, arrumando alguns travesseiros. Bianca ficou um pouco parada, mas logo começou a rastejar até o lado dele, abraçando com força seu braço.

—Hehe... Ase mau...—Seu rosto estava bastante corado, de pura felicidade.

—...

A relação de ambos parecia simples, mas ao mesmo tempo, complicada.

E assim se passsaram as semanas...

...

—Ei, o prazo já tá acabando, como se sente?

No momento, a Vassala havia chegado na sala após o tempo combinado. Ase estava dormindo, e como ela achava extremamente adorável vê-lo assim, optou por deixá-lo.

—É um sentimento meio estranho suar sendo cercado pela água...

—...?

Já tentou suar dentro da água sendo que ela não te afeta? Bem, Sea sim, e ele podia dizer com certeza: não é legal.

—Certo... Desconsiderando suas reclamações, mudanças?

—...

Era uma pergunta quase que retórica, já que ela ainda vinha observá-lo vez ou outra para corrigir qualquer coisa. Realmente, como dito anteriormente, sua taxa de crescimento era bastante elevada. Por os músculos alternadamente junto ao seu “boost” de invocado, seu corpo antes magricela estava proveitoso.

Tanto os braços quanto pernas, glúteos, costas, barriga etc... tudo estava a um nível que demoraria meses para ser alcançado. Isso só provava o que lhe foi dito.

Ainda assim, ele queria dar uma testada.

—Já posso sair?

—Sim!

Claro, Sea havia treinado bastante, praticamente sem descanso... sua única diversão no meio tempo foi Atlas, e... bem, não era a melhor das companhias.

De qualquer forma, ele começou a bater várias vezes contra o vidro, auxiliado pela bênção de força proporcionada pela água.

Bianca olhou para aquilo fixa, de olhos parados, como se um ponto de interrogação passasse pelo seu cérebro.

“Ele não vai...”

A série de socos, obviamente, fez a superfície rachar até, por fim, quebrar. A água depositada naquele cubo enorme escorria sem pestanejar, fluída e vigorosa, adequando-se ao novo volume adquirido... até, por fim, nivelar-se com alguns centímetros de água sobre o solo.

Por consequência, Sea foi levado para fora pela força de escorrimento.

Durante todo o processo, a única coisa parada era a garota, vendo tudo aquilo como se não pudesse acreditar. O sorriso estático ficava mais e mais cínico a cada gota que batia contra o chão...

—Seu... idiota...!

De repente, um soco poderoso havia sido desferido contra a nuca de Sea, cravando-o no chão. Até o solo havia se rachado com tamanha potência...

Mesmo com um corpo tão bonito e aparentemente delicado, possuía tanto poder... dava medo.

—Minhas roupas são a prova d’água, então não tem tanto problema, mas... Sabe quanto tempo demorei pra arrumar esse cabelo!?—Ela pegou o fim dos fios e trouxe para a frente.— Normalmente é o Asinho que escova, mas hoje acordei primeiro, então arrumei para deixar ele feliz... e olha o que você fez...! Você é burro? Tenho cara de patati patatá?

Sua irritação deixava bem claro que isso era de extrema importância. Na realidade, ela estava se segurando bastante contra o impulso de desferir mais algumas porradas nesse coco vazio.

...

Não muitos minutos depois, o aquário foi consertado. Ase chegou e viu a situação, explicada de forma benéfica para si por Bianca... Ela propôs outra dança para encher o cubo, mas ele negou e simplesmente preferiu não fazer o ritual. Isso não ajudou em nada seu humor.

Ase também bateu algumas vezes em Sea, a propósito.

—Certo... Acho que treinar o corpo já tá bom.

Ambos Vassalos deram uma boa olhada em Sea, ainda não estava exatamente perfeito, mas seria o melhor por enquanto. Não seria bom perder mais tempo.

—Bem, agora, vamos aprender mais sobre artes marciais.



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