Volume 2
Capítulo 1.1: Desejo de viver
Sons de passos são escutados. Foi baixo, mas o suficiente para deixá-lo alerta. Não faz muito tempo desde que acordou; vestiu seu uniforme escolar e andou para arrumar suas coisas numa mala para vazar deste lugar de uma vez.
Já passou a noite toda com dificuldade de dormir, imaginando o que poderia ocorrer, contudo até que deve se considerar como alguém com sorte. Esperaram gentilmente até o amanhecer para virem emboscá-lo.
Enrola o seu cachecol no pescoço — já está calor demais para continuar vestindo isso, porém usa para que Rie se sinta valorizada pelo presente que deu —, e coloca bainha junto da adaga atrás das costas em que ficam escondidas por debaixo da roupa. Não sabe ao certo como funciona a tecnologia disso, mesmo assim o que importa é que gruda no decido e não saí de forma alguma sema que puxe um mecanismo nisso.
E o barulho de passos são escudados novamente, e se coração passa a bater com força em um ritmo apressado. Um linha de suor gélido começa a escorre por seu rosto. Precisa ser rápido e terminar logo o que precisa fazer. Permanecer nessa apartamento não é mais seguro.
Entretanto, é quando uma alta melodia ecoa pelo quarto.
Em meio ao susto, ele quase caiu de bunda no chão, ao mesmo tempo agradecendo internamente a todas as forças da natureza que não há ninguém ao redor para vê-lo nessa posse lamentável… ainda, é caro. De todo modo, é somente o toque de seu celular.
— Alô? — diz cochichando na miserável esperança de que aqueles nos quais de aproximam pelo lado de fora, ainda imaginem que não têm ninguém nessa residência.
— Aleluia! Finalmente você atendeu, fiquei a uma eternidade entanto fazer contato pelo comunicador, mas não respondia de forma alguma.
É alguém que Jun já conhece, mas que não imaginaria que entraria em contato com ele, uma vez que mal conversaram direito. Tratava-se daquela garota de cabelos rosas que está quase sempre junto de Rie, a Chie Ueno.
— Mas, enfim… Seu prédio está cercado. Dá logo o fora daí e coloca a desgraça dessa comunicador na sua orelha. — Ela fala de forma, o que torna tudo ainda mais bizarro levando em conta a suas palavras. — Vou tentar encontra uma rota despistar deles e te levar até sua nova casa escondida.
— Certo, certo… já faço isso…
— Aí, aí… — Chie suspira. — Agora estou começando a questionar os gostos de minha tão pura irmãzinha? Oh, como foi que ela decidiu escolher um depravado desses como parceiro para iniciar uma união? De fato, está fora da minha compreensão!
Minha nossa, que mulher dramática…
— Bem, diferente de você, ela não é alguém de índole duvidosa, suponho.
De todo o modo, não vou ficar perdendo meu tempo com essa louca, por enquanto. Prezo pela minha sanidade mental.
Jun desliga o celular na cara da garota sem se importar e coloca o comunicador no ouvido, escondido pelo cabelo. Não tem tempo para amarrar, e, para ser sincero, nem vontade nos últimos dias. Fecha o zíper da mala e logo a janela do quarto, preparando-se para pular. Só torce para isso não virar um hábito, já que é a segunda vez desde que se mudou para essa cidade.
O que mais posso fazer? Abrir a porta e convidar os soldados para um café? Claro que não! Embora admita, seria hilário.
Antes de pular, ele pega algo importante: um par de fones de ouvido que ganhou da mãe quando era criança. Por muito tempo, isso foi um símbolo dos seus pecados, mas agora o encara como um amuleto de esperança.
Me pergunto se isso ainda funciona. Bem, quando tiver um momento sem que uma enxurrada de soldados atrás do meu corpinho nu — não no sentido literal, claro —, irei parar para escutar minhas antigas músicas… ah, o que eu tô pensando…
Obviamente, nenhuma das músicas que sua mãe cantava está ali — Jun não é tão narcisista. Mas não nega que compartilha o mesmo gosto musical dela. As músicas são as mesmas que ela usava para se inspirar e, de tão antigas, devem ser dos anos 2000. Uma época em que a humanidade nem sonhava em usar magia ou lutar contra bestas colossais.
Pensando nisso, uma pergunta lhe vem à mente: quanto tempo passou desde que a aura voltou ao mundo até 2098? Foi em 2022, então deve fazer uns setenta anos, mas não vai perder tempo calculando. Tem coisas mais urgentes agora.
Portanto, ele coloca a mala no ombro e pula a janela ligando o comunicador.
— Você não tem educação, não? Hein, seu arrombado? Não te ensinaram que feio desligar na cara do outros!? Ainda mais de uma dama que nem eu!
— Espera… Quem?
— Você, seu animal!
Agora Jun só consegue imaginar aquela garota bufando e olhando para a tela de um computador indignada. Ele queria muito poder ver isso, pois deve ser uma imagem extremamente cômica e impecável. O seu lado sádico está atacando e sente isso como algo extremamente terapêutico.
Mas é claro que ela não diz essa últimas falas seriamente, pois o tom de voz que a garota assume é o de brincadeira.
— Tá rindo do que, moleque? Eu vou te meter um chute quando te ver!
— Ui, ui… Tá brava, é?
— Tomara que você tome um tiro. Vai ser merecido.
— Daqueles caras ali? Eu solo cada um deles, facilmente.
Enfrentar todos sem uma estratégia ao menos, ainda mais sem saber de quanto se tratam, é um atitude extremamente idiota e suicida, portanto as palavras de Jun não passa de uma mera tentativa para aliviar a situação. Também, sequer sabe de que nível são os soldados. Dependendo, se forem de uma patente muito muito alta, vários deles de uma vez será um problema.
— Minha nossa… Espera só chagar aqui, eu vou fazer você engolir cada uma das suas palavras quando te encontrar — fala a garota de cabelos rosas num suspiro.
— Hm… Então ela realmente ficou brava…
Mas, piadas à parte — mesmo que ninguém mais ache graça, pois ele se diverte com tudo isso —, os soldados finalmente descobrem sua fuga. Ele percebe o barulho dos passos e os tiros sem muita preocupação.
Com uma pulsação que lateja no peito e se espalha como um jato até os pés, ele usa pequenas arrancadas para diminuir a velocidade de queda. Mesmo concentrando a aura para reforçar o corpo, cair do nono andar de um prédio seria fatal. Um especialista em magia de concentração talvez sobrevivesse, mas ele não. No ar, numa situação dessas, ele se sente como um cãozinho com o rabo entre as pernas.
Como descrever a aterrissagem? Uma completa loucura! Ele precisa chegar ao solo, mas também desviar dos tiros enquanto despenca. Usa o dash para os lados para evitar os projéteis, o que acaba aumentando sua velocidade. Se continuar assim, a gravidade o esmagará.
Por isso, segue com a mesma tática para desacelerar, ficando estático. Fecha os olhos, respira fundo. A energia percorre seu corpo, dos pés à cabeça, até se estabilizar. Ao abrir os olhos, vê as balas metralhadas vindo em sua direção, mas agora ele está acelerado em relação ao mundo. Consegue processar tudo a tempo.
Ele retira a adaga de cor noturna e, observando o movimento dos projéteis, corta três deles de uma só vez. A arma, no formato de uma espada longa, desliza com precisão entre os projéteis, eliminando a próxima rajada. Jun agora foca exclusivamente no movimento dos braços, usando a memória muscular desenvolvida para coordenar os golpes e a queda.
Finalmente, os pés tocam o chão em segurança e assim começa a correr.
— Pelo que consigo observar, há um pequeno grupo esperando você logo à frente. Pelo visto, já estavam prevendo que você tentaria fugir, mas acho que o estrelinha consegue despistá-los contornando os dois prédios à frente — explica Chie em tom agressivo.
— Vou interpretar essa do estrelinha como um elogio — diz Jun fazendo uma careta em reação.
— Mas, sabe de uma coisa muito importante? Fica a observação e aprenda com sua namorada a fazer uma missão de boca calada. — Ela fala soletrando a última palavra.
— É com isso descobrimos o porquê de você estar solteira e sua irmã, não.
— Eu tenho bom gosto.
Já percebeu que Chie possuí um senso de humor absurdamente maior que o de Rie desde que a conheceu. Só não imaginava que ela é assim com qualquer um. Ou será que ambos já se tornaram mais próximos e ele ainda não percebeu? De um jeito ou de outro, isso é divertido. Por um momento, até esqueceu que há pessoas querendo o matar.
— De todo o modo, é melhor focar agora.
— Realmente… — A garota comenta mudando sua postura.
É claro, ele não vai negar que ficar de piada com ela tenha se estendido por tempo demais. Mesmo em situações caótica como essa, mesmo assim é extremamente bem-vindo tentar criar momentos divertido. Ao invés de sucumbir a pressão e a ansiedade causada pela tensão, tentaram vez tudo da forma mais positiva e confiante. Por mais absurdo que pareça à primeira vista, ainda é algo bom.
Pelo menos é dessa forma que Jun gostaria de ver a situação.
— Nós caímos numa emboscada — avisa Chie. — Desde o início, o inimigo planejo que tomássemos essa rota. Me desculpe por não ter notado a presença deles antes…
— Tá tranquilo, você não tem culpa. Eles nos superaram dessa vez.
A palavra “emboscada” ecoa na mente de Jun. Dessa vez, ele gostaria que isso fosse uma brincadeira, mas logo percebe dois soldados juntos de uma figura inesperada à frente deles.
— Meu Deus… Não acredito que tudo isso é por causa de um moleque…
Pela primeira vez alguém que é claramente visível uma cavaleira se fosse levar em conta o conjunto todo, além da voz. A armadura segue o mesmo padrão, porém com as cores trocadas indicando que é de uma alta patente e possivelmente um desafio maior, sem falar que o formato é moldado para o corpo feminino.
— Um deles tem o padrão de cor invertido — comenta enquanto observa de longe, receoso.
— Isso é péssimo, esse é o padrão de um vice-comandante pra cima! Você precisa fugir daí o mais rápido possível! Não vale a pena tentar enfrentar alguém assim.
Ela está logo abaixo do pai de Rie e em uma posição semelhante à de um major. Ele conseguiu segurar alguém mais forte que ela por um bom tempo, quase vencendo. Ainda assim, enfrentá-la agora é desnecessário. Depois da luta de dois dias atrás, Jun não tem certeza se pode derrotar qualquer One além dos soldados.
Ele ativa a habilidade acelera e se prepara para partir com velocidade máxima, sem usar o recurso que dobra sua força, mas também consome rapidamente sua magia. Mesmo assim, está certo de que ninguém ali consegue acompanhar sua velocidade.
Para sua surpresa, a cavaleira se move antes que ele reaja. Ela se desloca como um relâmpago — literalmente. Raios dourados emanam de seu corpo, impulsionando-a com uma velocidade absurda. Ela domina a magia elétrica, um dos quatro elementos básicos.
Embora sua velocidade rivalize com a de Jun ao acelerar, ainda não chega à rapidez de um raio legítimo. Jun é mais rápido e sabe que pode escapar facilmente, o que faz sem hesitar. Num dash, atravessa por ela e pelos outros dois soldados. Se o perseguissem, ele poderia despistá-los, mas não é o caso. Um imenso relâmpago é disparado em sua direção, rápido demais para desviar.
O coração de Jun congela ao sentir a descarga acertá-lo em cheio.
Entretanto, nada acontece. Ele continua exatamente como antes, como se nada tivesse ocorrido em meio a uma confusão intensa que o faz rapidamente se questionar o que acabara de ocorrer:
Ela errou e eu não percebi? Ou talvez, o medo me fez imaginar coisas? De todo o modo, agora isso não importa.
Ele precisa chegar ao abrigo onde pretende se esconder pelos próximos dias, ou enquanto essa caçada perante a ele durar. A situação parece um eterno ciclo, como se estivesse preso em um looping temporal. No entanto, uma dúvida surge: como chegar até lá sem que eles descubram a localização?
— Chie, sabe como posso despistar deles para chegar lá sem revelar o lugar?
— É óbvio! Quem você pensa que eu sou? Vou guiar o seu caminho.
— Obrigado…
Com uma meta definita em sua mente, Jun segue as instruções da comunicado e se dirige até um beco escuro.
Pelo que eu entendi tem uma passagem secreta nesse lugar. Quando encontrar descubro o que é, mas tomara que seja algum tipo de passagem mágica… seria um máximo se fosse algo do tipo.
No entanto, sua imaginação é rapidamente interrompida por Chie sob uma voz tingida de preocupação:
— Jun, temos um problema... é a Rie. Ela tá em perigo!
Ao ouvir essas palavras, o garoto da cabelos vermelhos deixa de lado tudo em seus pensamentos. Ele muda o se curso e acelera o ritmo de seus passos, determinado a resgatá-la antes que seja tarde demais.
* * *
Uma forte pressão o envolveu e circulou por todo seu ser. Estava com batimentos acelerados, a mão trêmula e o forte arrepio que percorria dos pés à cabeça, faziam querer suplicar para fugir. Milhares de sons desagradáveis eram metralhados e chegavam à sua mente, assim, só intensificando mais e mais o extremo medo no seu interior.
Aliás, todos que estavam presentes nesse local, desejam lhe matar. Não importava o quanto tentasse escapar — por mais lamentável que fosse —, essa era a triste realidade. E insistiram até conseguir o que desejam. Entretanto, mesmo em meio a esse caos, existia uma exceção; alguém que o fazia sorrir e avançar em direção ao tumulto.
Ele abriu suas íris de cores prateadas e movendo pelo ar, deixando um rastro, como um cometa que avançava sem parar. Girou seu corpo e sentiu o calor daquelas linhas douradas cruzarem por si e, mesmo nervoso, conseguiu aterrissar no chão.
Aos seus pés tocarem a superfície, eles deslizam e deixam um traçado desenhado no solo, assim se partindo logo na sequência. A pressão que o envolvia, atravessou ele com tudo,
fazendo seu cabelo e cachecol balançarem, e assim, logo desaparecendo com a energia, levada junto, se dissolvendo à frente.
— Desculpa a demora.
— Fazer esse showzinho de entrada não me surpreende. Eu podia, muito bem, cuidar disso sozinha.
— E qual vai ser a graça, então? Precisamos de um pouco de emoção.
As costas dos dois se tocaram e então ajeitaram a postura de combate. A garota de cabelos brancos, usando um blazer escolar branco aberto, com um vestido curto por cima de uma camisa com colarinho, sorriu. E o garoto de cabelos vermelho vinho, usando o mesmo blazer, com uma camiseta de gola alta por cima de um colete social da mesma cor escuta, em conjunto de um cachecol vermelho, sentiu-se aliviado e encorajado.
— De todo o modo, estou feliz que tenha vindo! — exclamou Rie, o empurrando contra ela.
— Independente do quanto habilidosa que você seja, não posso deixar que lute sozinha contra essas pragas.
— Não vamos desrespeitar os queridos — fala em tom cômico a garota.
— Até parece.
Em meio essa breve conversa dos dois, uma terceira voz invade a situação:
— Ei! Não é hora para vocês ficarem de flerte! — resmunga Chie.
Jun desliga seu comunicador na mesma hora ao escutar ela. Agora que está junto de Rie, não se sente a vontade de que essa garota fique entrevendo.
Diante da atitude completamente despreocupada do casal, os inimigos obviamente se irritaram. Mas, para Jun e Rie, a presença deles não era uma ameaça, apenas um incômodo. Continuarem atirando enquanto o casal conversava só reforçava esse ponto.
Os soldados de armadura negra com detalhes dourados podiam ter sido perigosos uma semana atrás. Contudo, após tantas (e insuportáveis) tentativas de capturá-los nesse tempo, tornaram-se previsíveis e banais a ponto de perder a graça. Ainda assim, por mais insignificantes que fossem, Jun nunca deixaria Rie lutar sozinha. Afinal, por menor que fosse a chance, algo poderia dar errado. E ele estava disposto a fazer o necessário para evitar isso.
— Então? Está preparado para o tal show? — perguntou Rie concentrado a energia azul na sua espada.
— Óbvio! Porém, faça questão que apenas durmam no processo.
Mesmo que esses homens tivessem a intenção de matar os dois, ainda eram pessoas que foram ordenadas a fazer isso. Independente da raiva guardada dentro de Jun pelo Ones, a tal raça superior em que esses cavaleiros pertencem, ele não era um assassino. Jamais sairia matando os outros sem pensar… pelo menos, não outra vez.
— Certo! — Rie disse em concordância, assim, sinalizando para que eles partam em ataque.
Revezando os ataques, Jun e Rie golpeavam os inimigos em sequência. Rie concentrava a aura e, com movimentos lineares, criava projéteis de energia — não tão potentes quanto as armas deles, mas fortes o suficiente para quebrar a postura dos alvos, permitindo que Jun os finalizasse. A estratégia funcionou por um tempo, até que os adversários reagiram.
Agora, com espadas, machados e lanças, partiram para o combate corpo a corpo. Lanceiros avançaram tentando perfurá-los, mas Jun, em milésimos, saltou e girou o corpo. Uma onda de energia prateada atingiu os homens. Num dash, acertou o estômago de um com o cotovelo, chutou o peito de outro e, girando como uma navalha, golpeou as costas do último, derrubando-o no chão.
Com movimentos graciosos e precisão de esgrima, Rie desferia cortes e estocadas certeiras. Desviava de ataques horizontais dos machados com saltos e, usando feixes de energia, lançava os oponentes ao chão. Agachava-se e, com pequenos impulsos de aura, deslizava para golpear as pernas deles, tirando-lhes o equilíbrio.
Jun, sentindo uma sobrecarga de energia estabilizar-se como uma forte corrente, acelerou até uma velocidade absurda. Ninguém conseguia reagir. Ele abria as defesas dos cavaleiros e seguia para os próximos, traçando linhas prateadas pelo ar e criando oportunidades para Rie finalizar os inimigos.
Em perfeita sincronia, Jun e Rie continuavam como um dueto. Linhas e silhuetas brilhantes cortavam o ar, rasgando e espalhando pedaços de ferro negro enquanto os inimigos caíam um a um. Ondas de energia percorriam o campo até que, enfim, restasse apenas o silêncio.
No final, as costas dos dois se tocaram novamente.
— Eu me sinto um pouco mal por causa disso… — Jun comentou enquanto observava os diversos indivíduos, agora quase sem armaduras, caídos contra o chão à sua volta.
— E isso estar começando a se tornar uma rotina deixa tudo mais bizarro.
— Depois do que aconteceu, acho muito difícil que nos deixem em paz… E boa parte disse que está acontecendo é minha culpa — falava enquanto guardava sua espada que, gradualmente, diminuiu de tamanho e se tornou uma adaga, na bainha escondida em sua cintura. Uma forte melancolia, causada por acontecimentos passados, o cercava.
E a garota, não parecia ter ficado nada contente com o que via.
— Ei! Para de ser tão idiota! Se toca, garoto!
Rie andou até a frente dele, pegou as suas duas mãos e as juntou na frente do peito. Era como se isso fosse uma forma da garota assegurá-lo e garantir que olhasse diretamente para ela durante todo o tempo.
— Essa sua forma de agir, como se carregasse todo o peso do mundo, de todos os modos, me irrita muito! Sem dúvidas!
— Me desculpa…
— Você não devia parar de tentar todas as coisas sozinho. Tem pessoas que se importam muito com você e estão dispostas a ajudar. Eu sou uma delas.
— É só uma mania minha de não querer incomodar os outros… — Ele cosa a bochecha com a ponta do dedo, tentando disfarçar.
Há dois dias, Mikio, o irmão biológico de Jun e também o príncipe dos Ones, interveio para acabar um conflito envolvendo eles e o general do exército. A princípio, era para todos os ataques terem cessado, caso contrário seriam dissolvidos por serem contra a vontade da família real.
Como a armadura dos cavaleiros são de uma patente mais baixa, o certo é que outra pessoa esteja insistindo nesse perseguição, apenas de estar indo contra as ordens. Se continuarem assim por mais tempo, Rie sente não irá mais aguentar.
— Eu sou a sua namorada, uma das pessoas que você mais devia confiar… Jun, você não confia em mim?
A maneira como Rie olhou apreensiva para ele nesse instante, fez com que Jun se sentisse um completo bosta. Ele não podia deixar que continuasse assim…
— É claro que eu confio! — Havia se desesperado um pouco na hora de falar.
— Então me deixa te proteger também…
Ao terminar de falar, Rie se aproxima lentamente de Jun. Ela inclina seu corpo e se apoia pelas pontas dos pés, sem soltar as mãos dele, e então lhe dá um breve beijo. O garoto, com sua face surpresa, a ver com um sorriso no rosto. A face dela, com certeza, agora parecia estar mais confiante e contente do que antes.
Contudo, Jun ainda se sentia incomodado com algo…
— Ei, Rie? Sabe de uma coisa? Isso que você fez foi estranho. Não é nada bonito beijar alguém enquanto tem diversas pessoas nocauteadas ao redor.
Em reação, a garota paralisa por um breve instante e, de madeira totalmente desajeitada, responde:
— Ah, bem… eu não aguentei…
Jun vira seu rosto para o lado e tampa sua boca com a mão para impedir que uma risada escape. Porém, pequenos barulho não conseguem se mantidos e fazem com que a garota dê um puxão no braço dele e diga:
— Se você rir, eu vou te bater! — O rosto dela estava totalmente vermelho.
— Opa, opa! Cama aí!
Mesmo que por um breve segundo tivesse sentido sua vida ser ameaçada, ainda não deixava de achar esse tipo de situação uma das coisas mais deslumbrantes de se ver. Como que uma garota que na maior parte do tempo era ousada e agressiva, podia estar fazendo beiço com uma cara completamente envergonhada agora? Significava que ainda tinha muito a conhecer sobre ela.
— De qualquer forma, vamos logo Jun. Eu não quero ficar aqui até os reforços virem ou esses caras acordarem — Rie pega na mão dele e então o puxa para ir embora junto, porém o garoto se mantém estático.
Nesse cenário, com prédios de vidro e edifícios de mármore, tomados por vegetação, entre milhares de rios que cruzavam por toda a cidade, no momento eles se encontravam em frente a uma borda. Logo a frente, havia uma praia com areia indo ao encontro do mar, mas que logo no início era cortado por uma parede poligonal de vidro. Os dois estavam cara a cara com o final desta capital.
— O que foi? Você viu algo? — Rie perguntou preocupada.
— Não foi nada. Apenas pensei que, mesmo tão perto só consigo ver borrões.
— Bem, nesse lado só tem o oceano, acho. Quem sabe no outro tenha algo?
— Vai saber… Que pelo menos tenha um pouco de espaço com água disponível.
Uma feição animada brota na face de Rie.
— É mesmo! Tomara! Faz muito tempo desde a última vez que pude nadar. Eu quero muito fazer isso de novo.
— Bem, vamos procurar então. Duvido muito que seja em todas as regiões em que o domo pega bem no começo do mar. E, de todo o modo, mês que vem já começa a fazer calor.
Foi nesse instante que Jun se tocou que mencionou algo que não devia. Rie já não estaria mais junto dele nessa troca de estações. A condição terminal em que ela se encontrava, no máximo, só duraria até a primeira semana do próximo mês e, depois disso, cairia em sono sem fim. Ele precisava arranjar um jeito de salvá-la logo, antes que seja tarde demais, no entanto, por hora apenas tentaria deixar sua namorada mais feliz.
— Eu vou procurar algo a respeito disso, feito um doido. Vai que eu já posso te ver usando um biquíni nesse final de semana. — Ele fala como um garoto sonhador.
— Hmm… Seu pervertido… — Ela ri brevemente e muda sua feição para uma maliciosa. — Mas confesso que quero te ver sem camisa.
— Ok, por essa eu não esperava.
— Hehe
E assim, o casal deu as mãos e foram andando em direção ao refúgio deles nessa última semana. Como passaram o tempo todo sendo perseguidos, não poderiam mais ficar vivendo casualmente em suas casas sem arriscar serem invadidos do nada. Por enquanto, Jun aproveitaria esses momentos para ficar mais próximo dela, pois acreditava que poderia salvá-la assim.
Não. Na verdade, tinha certeza de que faria com que Rie permanecesse viva. Está disposto a pagar o preço que tivesse para isso se realize.
Entretanto, ainda precisa descobrir como.
* * *