Volume 1
Capítulo 6.5: Mesmo incapaz
— Você está bem? — Há uma leveza e gentileza nas palavras dele que confortam o coração dela.
Rie acena com a cabeça, exausta, em meio o brilho azulado de sua aura quase desaparecendo. O alívio em seu olhar desperta uma determinação renovada em Jun. Mas antes que possa se concentrar novamente em Renji, Seiji e Chie aparecem a puxando e afastando para longe da zona de perigo. Com ela em segurança, o espadachim volta seu foco para o general à sua frente. Os soldados que restaram irão ficar por conta deles a partir de agora.
— Então decidiu se sacrificar para salvar a vida da namoradinha? — provoca o general, um sorriso de desprezo no rosto dele.
— Bem, o major fugiu depois do nosso último ataque, então não tive outra escolha para sua infelicidade. Ótimo companheiro, esse que você escolheu, aliás.
Ele não sabe ao certo quando Noburo escapou, mas supõe que foi momentos após sua barreira ser atingida. O fato dele conseguir deixar que uma projeção mágica continue persistindo numa mesmo local sem a presença dele e ainda suportar por um tempo o poder em conjunto dele e Seiji, com toda a certeza é surpreendente. No entanto, só intensifica ainda mais a frustação de que aquele homem fez todo um show e ainda os tratou feitos uns idiotas.
Um misto pensamentos borbulham na cabeça dele até esse pressente. Mesmo assim, Jun precisa se manter forte e não perder o controle.
— Qual é o sentido disso tudo? Por que temos que lutar? Sinceramente, já estou cansado de toda essa perseguição.
Renji ergue a sobrancelha em reação.
— Já devia estar claro, a simples existência de alguém como você ameaça toda a vida pacífica da humanidade.
— Quando fala humanidade, obviamente se refere aos Ones, não é?
Para Jun, esse discurso do cavaleiro soa como uma piada. Como que alguém consegue acreditar estar vivendo em paz vivendo desse jeito? Isso é algo que talvez nunca consiga conceber.
— O que vocês fazem é se proteger atrás de uma barreira e fingir que tudo está bem, quando não está! Têm a ilusão de que vivem em um lugar seguro, mas aqueles que são diferentes de vocês morrem todos os dias, descartados como meras ferramentas!
— Já basta! — grita o cavaleiro, apontando sua espada que emite um brilho ameaçador intenso.
Jun abaixa a cabeça e deixa um único murmuro escapar:
— É sério que não existe nenhum diálogo possível com vocês…
Ele ergue a lâmina da cor da noite à frente com o olhar fixo e canaliza uma energia prateada que a envolve. Em um piscar de olhos, ele dispara em um dash feroz com o fio cortando o ar em direção ao homem. Renji bloqueia o ataque, mas Jun avança e não deixa que o impacto o detenha.
Com movimentos rápidos e angulados, ele desfere cortes contínuos contra o oponente na tentativa de romper a armadura dourada capaz de concentrar a aura para reforçá-la. Cada golpe é um estrondo em meio faíscas e fragmentos que saltam, mas Renji mantém sua defesa cada vez mais tenso sob o ritmo insano.
Jun sabe que não pode recuar; ele irá levar essa espada especial ao limite e tirará o proveito máximo que ela pode lhe dar. Seus olhos brilham ao intensificar os movimentos, aproveitando cada ínfima abertura que percebe. Ele cria um arco vertical de energia em um golpe poderoso que atinge o peito do cavaleiro fazendo a aura prateada cristaliza-se no impacto que se estilhaça em mil fragmentos brilhantes.
Contudo Renji se mostra inabalável com sua armadura ainda sem demonstrar qualquer arranhão. E Jun se move de um lado para o outro, desferindo golpes velozes. Salta em direção à parede de uns dos prédios ao redor e pisa com força, impulsionando-se de volta para o inimigo, traçando linhas de prata no ar. Gira sobre si mesmo, propagando ondas de energia que colidem na área ao redor, até que a cena se enche com o rastro prateado de cada golpe.
Eles trocam golpes em um frenesi vertiginoso; as espadas se chocam e as auras se misturam. As partículas de energia se espalham como poeira cintilante no campo de batalha. Seu coração acelera, sentindo refletindo contra si. Mas Jun continua a acelerar, mais rápido do que nunca, na esperança de superar seus limites sem que precise recorrer aquele trapaça de poder que suga sua vida aos poucos.
É uma vontade egoísta da sua parte, pois mesmo que esteja disposto a sofrer quaisquer consequências para chegar no fim em que almeja, de nada vai adiantar se não puder estar ao lado daquele que gosta. Portanto, precisa estar vivo até chegar lá.
Vai ter que ser desse jeito…
Então, em um último recurso ele dá um salto poderoso que o faz subir além prédios, cortando o ar, até que seu pé toque o céu — ou, na verdade, o domo que aprisiona cidade. Ele sente a resistência invisível, mas a empurra com todas as suas forças.
Sua energia explode, quebrando o vidro em um estrondo devastador enquanto cai como um cometa apontando a lâmina imbuia em prata que deixa sua calda para atrás. Ele despenca em direção a Renji, aproveitando-se da gravidade ir além de qualquer barreira e intensificar o impacto.
O rastro prateado de Jun risca o mundo enquanto ele mergulha, caindo como uma força da natureza que se cristaliza, partindo-se em meio ao impacto. A terra estremece, e a onda de choque se espalha pelo ambiente lançando poeira e detritos para todos os lados. Contudo, quanto recupera sua visão do espada ao redor, um calafrio o atinge de vez.
Renji se mantém firme e de braço erguido bloqueando o ataque.
— Ser destrutivo não é o mesmo que ser forte — diz o homem, logo na sequência ao empurrar as lâminas e arremessando Jun para trás com brutalidade.
Jun voa pelos cidade de modo que a espada escape de sua mão e rodopie antes de cair com um som seco no chão ao lado dele. Ofegante, ele tenta se erguer, mas Renji já o encara com sua sombra sobre ele como um presságio.
O general avança lentamente, abaixando-se para apanhar a espada caída. Ele a segura, inspecionando-a como um troféu. E de joelhos, Jun apenas o observa com uma expressão abatida, enquanto o inimigo se ergue vitorioso com a herança que recebeu de sua mãe cintilando em sua mão.
* * *
A visão de Jun se turva enquanto observa o general segurando a adaga. Como pode ter chegado a isso? Ele se sente vulnerável, como se o chão sob seus pés fosse tirar sua base a qualquer momento. Sem sua lâmina, sem defesa e sem como revidar — tudo parece desmoronar.
Renji começa a avançar em sua direção e ergue sua arma chique para finalizá-lo. O ar se trona difícil de inalar, e o desespero começa a apertar seu peito. O que fazer? Sente seu coração ameaça a explodir, mas seu corpo está paralisado. A fio cintila um brilho dourado, e ele sabe que não tem para onde correr.
É quando ele percebe um raio de luz tocando sua pele. Levanta o olhar e entre as sombras nota um vislumbre do céu estrelado através do buraco no domo. Apenas um instante de liberdade e imensidão antes que a abertura comece a se fechar novamente. Seus olhos mal conseguem processar direito o que avistou, contudo aquilo lhe toca de alguma forma.
Jun move a mão para a cintura e saca a adaga da mesma daquela rápida imagem. Um objeto mais fraco e simples do que o anterior, porém sua última alternativa na qual não é mais uma herança. No entanto a matização de ser real eu.
Com um movimento rápido e suave ele ergue a lâmina sacando em meio sua ativação. Seu movimento se desloca com um reflexo e então bloqueia o ataque de Renji no último segundo. O impacto ressoa com uma força brutal, e seu olhos apenas encontram o cavaleiro sem qualquer brilho o imbuindo, mas agora com suas assumindo completamente a cor prateada de sua magia.
— Ainda não acabou! — declara, a voz firme.
Renji pressiona a espada, e Jun não cede. Ele move o braço e uma rajada empurra o general. Com um giro ágil desvia do ataque e lança uma sequência de estocadas precisas, cada uma carregando um pouco mais da sua energia. O homem recua com passos pesados que ressoam pelo chão enquanto ergue o escudo para conter os ataques.
As lâminas se cruzam e uma tempestade de faíscas irrompe entre eles. Jun sente o peso esmagador da armadura do inimigo, mas cada vez que é golpeado sua regeneração o restaura, forçando-o a avançar sem pausa. Ele desliza pela lateral do general, atacando em ângulos improváveis e jogando-se para trás para a barreira que se volta contra ele.
Uma magia de gelo é invocada e estacas surgem do chão em uma investida. Jun salta para trás e se lança à frente com um movimento impecável desferindo cortes rápidos e de uma potência assustadora que faz o feitiço congelante explodir, atravessando-o criando uma cratera. O general se protege atrás do escudo que absorve os impactos, mas Jun continua pressionando se movendo em círculos, desviando e atacando sem dar chance para descanso.
Renji faz um corte diagonal, e o garoto move-se com uma leveza surpreendente, salta para o lado e contra-ataca com uma rajada frenética de golpes com a espada. O tempo de reação do garoto é apavorador. Independente do quanto tente reagir as investidas, esse homem sequer consegue o acompanhar.
— Agora não parece mais que está balançando a espada sem sentido algum, mesmo assim só isso ainda não vai ser o bastante!
Com um movimento ágil o general invoca sua magia, congelando o chão ao redor deles. Jun sente o frio intenso subir pelas pernas e luta para manter o equilíbrio enquanto tenta deslizar na superfície traiçoeira. Renji o pressiona em uma investida que mais parece uma muralha avançando. Jun em pulo brande sua arma com a ponta reluzindo um golpe de baixo para cima.
A espada corta o ar, mas Renji bloqueia com o escudo e contra-ataca com um golpe de ombro. Jun é empurrado para trás e sente a pressão esmagadora do impacto em seus ossos. Contudo a dor sequer consegue o atingir, pois se cura mais rápido. E assim, aproveita a abertura e avança novamente.
Jun canaliza sua magia na lâmina da cor do céu estrelado e uma série de cortes que criam arcos reluzentes são feitos na intenção atingir as brechas na armadura do general. Renji, no entanto, se defende com eficiência. Uma onda de energia estoura entre os dois, e o espadachim corre sem parar de mover seu braço que lança rajadas de energia que avançam e travessam tudo o que tocam.
O homem observa a ação e exclama:
— Isso é inútil!
— Apenas continue parado só se defendendo. Enquanto isso, eu acelero cada vez mais…. — responde Jun, determinado.
Ele dispara novamente para frente em um estrondo sônico, correndo ao longo da linha do gelo que derrete e se torna vapor. Ao se aproximar, atravessa a defesa como um borrão e desfere um golpe que ressoa pelo campo de batalha. A lâmina se choca com o escudo e o som reverbera jogando Jun para trás, mas ele gira no ar, pousa suavemente e continua com movimentos frenéticos.
As linhas prateadas ricocheteiam contra o alvo, e com piruetas ele circula toda a área ao redor. O poder jorra de sua espada e acelera exponencialmente. Em pulos, chutes e acrobacias elegante e com arcos e mais arcos de energia fatia qualquer magia de gelo que vem ao seu encontro rodopiando seu corpo de um lado para o outro, brandindo e fazendo riscos reluzentes voarem para todas as direções.
— Não interessa se você roubou minha adaga, eu não preciso dela para atingir todo o meu poder!
— Esse é seu verdadeiro poder? — Renji provoca, girando sua espada antes de envolvendo-a em uma camada densa de gelo.
O homem reage com uma poderosa sequência de cortes congelantes com cada golpe criando explosões de fragmentos de gelo que atingem o garoto como estilhaços. Jun é atingido de raspão, mas sua regeneração é imediata. Ele sente o poder restaurar seu corpo enquanto avança, atacando com uma nova investida desferindo cortes que parecem infinitos tentando encontrar qualquer brecha que possa explorar. Desvia e continua atacando, uma combinação precisa de movimentos ferozes.
Renji ergue o escudo para um golpe esmagador. Jun percebe a abertura e se esquiva para a lateral redirecionando o metal contra o general. Mas o oponente cria uma parede de gelo para bloqueá-lo que o faz recuar antes de ser atingido. A barreira se despedaça em mil fragmentos que caem no chão como neve.
— Eu já estou cansado de você, garoto!
Eles avançam simultaneamente em um confronto direto. A lâmina de Jun se cruza com a de Renji, e o som do metal ressoa pelo ar. O garoto, então age de forma inesperada: ao invés de enfrentar o escudo diretamente, apoia sua mão no mesmo e toma impulso rodopiando seu corpo e brandindo a espada em um corte vertical contra a cabeça do cavaleiro.
Entrando, em uma fração de segundos Renji o golpeia com o escudo acertando Jun no estômago com força esmagadora. Sangue jorra por sua boca, e o general em um salta cai por cima dele o esmagando com a barreira o arremessando de volta ao solo. O impacto cria uma cratera no chão que se expande continuamente. Jun é empurrado e sente o corpo começar a ceder enquanto a terra se rompe.
Ele avança de forma avassaladora a uma distância cada vez mais fundo, quando de repente começa a cair freneticamente.
Descontrolado, ele despenca em direção à cidade subterrânea. Seu corpo atinge a borda de uma das ilhas flutuantes, batendo contra o solo com violência e a atravessar em uma explosão até que afunde na água luminosa abaixo em um jato feroz. O brilho azul o envolve como uma última memória de sua luta.
* * *
Jun afunda lentamente na lago banhado de magia. A luz ao seu redor é intensa e calorosa, mas dentro dele tudo parece frio. Completamente vazio. Ele sente o peso de cada derrota, de cada momento que se escondeu do mundo, de todos os sacrifícios e pecado feitos que nunca poderá se redimir.
Desde ter deixado Hiro morrer, por ser responsável do fim que Aimi sofreu... e até mesmo agora que almeja salvar Rie. Cada nome carrega uma dor, e ele se afoga nela junto da água que envolve seu corpo.
No fim você só usou o destino trágico dessa garota como um motivo para fugir da própria dor… Não é porque você realmente ama ela. Seu falso! Eu te odeio!
Esconder-se... fingir quem não é... ser quem os outros querem… tudo isso para que consiga minimamente viver. Até então sempre foi obrigado a reprimir o próprio poder e todas as vezes que o usou só trouxe mais e mais tragédias para as pessoas ao seu redor. E apesar de tudo, talvez seja esse o destino que deva sofrer. É assim que uma existência tão egoísta deve acabar.
Do que adiantou todo esse estrago que acabou de fazer? Agora está submerso sem poder o que fazer. Eliminou inúmeros soldados que realmente podem também ter seus sonhos e famílias, tudo isso para chegar até onde quer. Até aqueles que são importantes para si em uma luta que não é deles. Será que ele está disposto a passar por quais quer consequências que for para chegar no fim em que almeja? Nesse momento soam mais como palavras colocadas da boca para fora.
Eu queria mesmo salvar ela. Queria passar mais tempo ao lado dessa garota, ficar mais próximo e construir algo, mas… afinal esses sentimentos realmente são reais, ou só uma desculpa? Eu consigo amar alguém?
Mas agora, debaixo d’água sucumbindo lentamente sozinho, no fundo ele ainda sabe o que verdadeiramente deseja. O que seu coração inseguro diz para esse seu eu perdido. Jun quer algo diferente.
Eu quero viver, mais e mais do que nunca. Quero mudar este mundo, para que não tirem ninguém de mim.
Jun estende a mão na água e sente a o cabo frio de sua espada.
Eu ainda não cheguei no meu limite.
Com determinação, seus dedos se fecham ao redor da espada. E então, algo desperta. Toda a sua magia prateada percorre pelo corpo em uma corrente que se intensifica, o abraça e então se réplica.
Ele ativa a aceleração dupla e seu ser é envolvido por uma explosão de energia. A água ao redor é expulsa em um turbilhão, e Jun emerge num salto intenso, rompendo a superfície em uma tempestade de luz.
Ao longe avista o general sumindo em uma torre de gelo que cria abaixo de seu pés para retornar de onde caiu. E em um movimento fluido, Jun projeta sua aura e se lança em direção ao homem. A velocidade o leva para o alto, cortando o ar enquanto o inimigo o percebe com uma face assustada.
— Eu ainda não acabei! — exclama o garoto direcionando um olhar feroz, com suas ires prateadas imbuídas por um brilho intenso.
Jun se aproxima e desfere um golpe, o impacto brutal que rasga o gelo em uma corrente dissipando-o em uma onda de vapor. A espada se torna incadescente e estoca o peito da armadura que causa uma onda de impacto avassaladora e arremessa Renji com brutalidade contra o teto. Ele dá uma segunda arrancada e carregando o oponente rasga com ele as rochas acima em uma trilha. Então, num instante eles retornam à superfície.
Contudo o local é diferente de antes, então no meio de uma cidade que brilha com uma majestade opulenta. Seus edifícios e construções feitos de mármore branco, perfeitamente polidos e detalhes decorados em ouro. A vegetação é escassa, porém tudo é feito de uma arquitetura de ponta, com o visual mais chique possível.
Jun não tem tempo para apreciar o cenário, mas sabe que está no meio do lar dos Ones. Ele encara Renji, e o homem limpa o rastro de sangue da boca que escorreu após sofre esse último ataque. Sua energia não vai mais se descontrolar e seu núcleo sofrer danos, mas seu corpo ainda vai se desgastar até que não resista mais mesmo se curando sem parar, portanto precisa ser rápido a partir desse instante.
— Não é possível! Sua energia não acabar nunca!? — grita Renji que ergue a espada e o escudo.
— Já falei… Mesmo que não seja capaz, não tem como você me vencer!
Eles avançam um contra o outro. Jun sob a aceleração dupla se move em uma dança frenética. Cada movimento é calculado para evitar os golpes mortais de gelo que Renji conjura. O mundo ao redor se expande. Seus sentidos agora passam a ser quase um com tudo que o cerca.
Sua agilidade é estimulada além de todos os limites. E em uma única rajada que faz uma parte cintilante jorrar como vapor e se espalhar, ele dilacera todos os obstáculos que vem de encontro a si. As magias e ataques físicos sequer chegam a tocá-lo em ações que apenas acertam o ar de forma lamentável, nas quais criam brechas onde golpes potentes são desferidos. Não importa o que faça contra ele, pois nessa hora Jun é imparável.
O chão se desfaz em blocos e fragmentos com cada ataque do general. No entanto, movendo-se apenas pelo instinto Jun salta, desvia, pisa neles para se locomover e em um giro rápido, balança o braços projetando um ar massivo que despedaça tudo a frente, e a lâmina continua a jorrar um jato de energia.
A espada de Jun corta o ar em múltiplos ataques e um rastro prateado ilumina cada golpe. Renji bloqueia com o escudo, mas a força dos ataques cria rachaduras na superfície da barreira que o protege. O espadachim escarlate usa a aura para se lançar em uma nova investida, girando e golpeando com velocidade inigualável. A cada contato, faíscas e fragmentos se espalham numa cena em que clarões relampejam tomando o mundo ao redor.
Renji recua, mas contra-ataca com uma rajada de gelo. Jun salta rodopiando no ar e corta o ataque em pleno voo, desviando e aterrissando com uma graça quase sobre-humana. O impacto espalha ondas de energia que ecoam pela cidade dourada, destruindo pilares e escombros em todas as direções.
Eles trocam olhares brevemente. O cavaleiro pressiona, porém o jovem é mais rápido, contornando o general e atacando com estocadas que visam as brechas da armadura. Partículas explodem formando estrelas, e quando o inimigo tenta reagir é superado no mesmo instante. Um vendaval de cortes é lançando contra ele transado linhas que estraçalham a armadura.
Contundo, Jun continua a acelerar. Locomovendo-se de um lado para outro, fazendo com que os movimentos da espada e escudo sejam inúteis, ele lhe dá chutes e pontapés ao mesmo tempo que reversa ataques com sua lâmina deixando a imagem luminosa de sua silhueta para trás. Rasgos incandescentes são marcados na proteção dourada, quanto em um picar todo o torço se fragmenta em milhares de estilhaços e exponde a malha preta de algodão que cobre a pele.
— Você está me forçando a mais do que devia! — Renji ruge e investe com o escudo, no entanto em um movimento rápido, Jun o golpeia com uma sequência que ressoa em ecos pela arena enquanto a proteção metálica estoura em um líquido ardente.
As espadas entram em um embate frenético que faz a terra ao redor tremer. Linhas de energia prateada e dourada se entrelaçando em uma dança feroz que jorram como jatos avassaladores de poder. O som de metal se chocando ecoa e faíscas voam, entre ondas de impactos que golpeiam o cenário ao redor e destroem o vidros dos prédios. Todavia, somente um deles continua a acelerar.
Movendo seus pés em um ritmo harmônico, Jun vai se esquivando e intensificando a fúria do homem que passa a fazer ações mais bruscas. Ele agacha, dá pulos e rodopios que o fazem escapar da área de ataque do homem que apenas acerta o nada, enquanto cortes são descarregados contra sem que possa reagir. E mesmo se repete quando broqueia as investidas as aparando, seja de frente ou até de costas.
Apesar de estar sem armadura, a defesa do General ainda é forte. Não é à toa que tenha chegado a tal patente, porém a partir desse momento Jun dará um fim definitivo a isso e o matará.
Com sua aura prateada se rasgando em partículas ferozes como brasas e avançando em uma intensidade tão devastadora ele dá início. Usando de arrancadas que ultrapassando o limite da barreira do som, ele rasga a realidade onde cruza deixando rajadas poder para trás locomovendo por todas as direções e desgarrando ataques potencializados no inimigo.
O homem é arremessado e voa por toda a cidade dourada, e Jun rodeia sem parar de investir. Ele acelera mais e mais. Trilhas de destruição são desenhadas no solo junto de um rastro ardentes, ao mesmo tempo que rombos são deixados nos prédios que usa para se impulsionar. A espada de cor noturna fatia o que toca em uma tormenta de arcos e avança progressivamente.
E assim a muralha que divide duas realidades é atravessada em um impacto estrondoso que ressoa com um potência avassaladora.
Em um ato brusco, o general com seu topo tomado por cortes, mais ainda uma postura inabalável faz uma explosão de inúmeros cristais de gelos serem disparadas ao redor de si. Jun sente o cansaço pesar, mesmo assim algo o impulsiona a continuar lutar com tudo o que tem. Em meio os estragos que são feitos no ambiente, ele fecha seus olhos e deixa seus instintos o guiar.
Os usando ao seu favor, corre e salta entre blocos de pedra que se soltam do chão destruído, se apoia com a mão vazia, desvia entre escombros e pula de um fragmento para outro enquanto corta o ar ao redor. Renji se vira e lança uma muralha de gelo para bloquear o caminho, mas é quando Jun revela sua ires prateadas outra vez e a corta em um instante com sua espada deixando-a em cacos.
É agora ou nunca! Eu vou superar os meus limites!
O jovem dá uma arrancada de aura e um estrondo faz tudo ao de redor de propagar numa rajada. Aponta sua lâmina e com um movimento em linear lança uma sequência de estocadas. Uma chuva de estrelas cadentes metralha Renji que voa de forma avassaladora.
Contudo Jun continua indo atrás. Momento se como a própria luz, toda vez que o inimigo se afasta ele vai ao seu encontro outra vez e repete o ataque cada vez mais rápido. O garoto não para de acelerar.
— Seu maldito! — grita o general em meio ar, instantes de se chocar contra a superfície em uma explosão feroz.
Suavemente, o espadachim de cabelos vermelhos aterrissa. Sua respiração está pesada, sua visão começando a ficar turva e sentindo que está prestes a perder o equilíbrio a qualquer instante. Nessa condição não lhe resta outra alternativa além de dissipar a habilidade que causa um desgaste maciço em seu corpo antes que o pior aconteça.
E é quando repara no cenário ao seu redor. Ele deu toda uma volta e então conseguiu retornar para o ponto inicial da batalha com o prédio abandonado que possuí uma abertura, onde Rie, Chie e Seiji continuam lutando contra o restante daqueles soldados intermináveis. Por um momento Jun se sente aliviado.
Entretanto, foi só uma questão de segundos para que um grande arrepio o atinja de vez o deixando desacreditado. Adiante de si, erguendo-se entre escombros o general surge outra vez, ainda inabalável apenas de todos os machucados em seu corpo.
Não… Isso não pode ser possível…
Como se tudo o que fez até então foi em vão, o homem avança até ele lentamente. O garoto assegura com força o cabo de sua espada e então a aponta para ele em uma postura de batalha. Até que ponto Jun consegue aguentar nessa luta? Não faz a menor ideia, mas vai continuar mesmo que não tenha mais energia.
Entretanto, antes que a batalha possa continuar, uma figura inesperada surge.
Invadindo esse cenário, um homem de cabelos longos da cor do vinho que veste um sobretudo preto, cujo carrega com sigo uma longa espada curva, dá as caras. Ele anda até o cavaleiro e então diz as seguintes palavras:
— Nós precisamos conversar, vosso comandante do exército.
— Quem diabos é você? Saia da minha frente!
O cavaleiro brande sua espada que cortando a lateral do rosto do capitão, mas no mesmo instante se cura. E então, num piscar de olhos, ecoa um estrondo que faz os ouvidos de todos serem invadidos por um zumbido durante um breve instante e chamar a atenção de qualquer um de modo que os conflitos na volta parem. Toda a atenção é direcionada para essa cena. O fio da lâmina de Isamu Asano ameaça de atravessar o pescoço do outro.
— Eu sou o capitão das forças de ataque. Alguém com influência o bastante para iniciar uma entre nações com poucas palavras.
— Não me venha com blefes. — Renji diz em um tom sarcástico. — Você só pode estar louco em insinuar algo assim.
— Se eu fosse você, não duvidaria disso.
No segundo em que o general começa a movimentar seus músculos para reagir, Isamo concentra sua aura na lâmina. Mesmo que o corte não esteja tocando, somente a energia ao redor já começa a queimar o pescoço daquele cara. E o indivíduo de sobretudo permanece sem expressar nenhuma reação perante o outro.
— Bem, só eu quero que você ordene que seus soldados se retirem e a partir de hoje nos deixem em paz de uma vez. Portanto que isso aconteça, jamais irei fazer o que mencionei. Muito simples, não concorda?
— Não se iluda.
Ambos os guerreiros assumem posições de combate. A energia vibra ao redor de suas lâminas e lança um brilho cortante no ar. O olhar de Jun permanece fixo, frio e concentrado, carregado de insegurança de quem anseia algo trágico e inevitável no qual agora foge de seu controle.
A tensão domina o campo, suspensa no ar como uma tempestade à beira de explodir — até que uma sombra interrompe o embate. De passos firmes, uma figura surge com olhos de um dourados que varrem a atmosfera: Mikio. Seus cabelos prateados e o uniforme escolar com detalhes em outro se agitam suavemente, e ele avança trazendo consigo um ar de autoridade implacável.
Parando entre todos, ele lança as seguintes palavras que jamais se esperaria saírem da boca dele:
— Como príncipe dos Ones, ordeno que obedeça o que ele disse. Retire suas tropas agora ou vou dissolver o exército atual e esmagar qualquer resquício de resistência contra a vontade da família real.
A cena congela com as lâminas imóveis no ar, como se o tempo aguardasse a reação diante da autoridade de Mikio.
* * *
Horas depois de toda a batalha anterior, o sol emerge no horizonte tingindo o céu com uma luz tênue e quase reverente. Rie está na beira do terraço, entoando uma melodia que ecoa suavemente pela quietude ao redor, misturando-se à brisa da manhã. Jun a observa em silêncio, perdido nos próprios pensamentos sobre o tumulto recente.
Em sua mente, os eventos do dia anterior recomeçam como um filme interminável; ele tenta — ainda que inutilmente — imaginar maneiras de reverter o que já aconteceu. Mas, no fundo, ele sabe que o passado agora é imutável.
Ele se permite esquecer um pouco das dúvidas e observar apenas Rie, a voz dela vibrando e preenchendo o espaço com um leve conforto. Ela parece quase etérea sob a luz, seus cabelos brancos flutuando suavemente ao sabor do vento.
Rie interrompe a melodia e vira-se para ele, a surpresa em seu rosto ao vê-lo ali a observando.
— Há quanto tempo você está aí? — pergunta ela, a voz com uma nota de curiosidade.
Tempo suficiente para ouvir você cantar — ele responde, dando um passo à frente, a cabeça ainda cheia de pensamentos sobre o caos e as mudanças que se aproximam.
Rie dá um sorriso provocador e caminha até ele.
— De todo modo, isso é bom. Tem algo que eu queria falar com você — diz ela com uma leveza que contrasta com o peso dos eventos recentes.
Quando ela se aproxima, Jun sente o coração acelerar. Ela para a um passo dele, tão próxima que ele quase recua, pego de surpresa pela intensidade de sua presença.
— Nós deixamos um assunto inacabado no outro dia. — Ela afirma, inclinando-se ligeiramente, com os olhos fixos nos dele.
— É mesmo? Eu não tô lembrando… — reflete o garoto, pensativo em uma pose de questionamento.
— Sabe, antes dos soldados nos atacarem quando saímos da escola… Você está me devendo algo desde aquele momento — responde Rie com a expressão determinada de sempre. — Quero uma conclusão.
Jun sente o calor subir ao rosto e, por um instante, hesita. No fundo ainda é um garoto de dezoito anos, inexperiente e cheio de dúvidas quanto à como se comporta nesse tipo de relacionamento. Mas ao vê-la ali, tão próxima e determinada, ele decide se seguir adiante sem mais hesitações. Ele estende a mão direita e tocando o rosto dela com suavidade, e a outra mão desliza até sua cintura puxando-a para perto.
Ela não recua; pelo contrário, aproxima-se ainda mais. Ele sente o coração dela batendo rápido, como o seu. E então a beija, um beijo breve, mas que ecoa para além do momento, uma faísca que parece durar uma eternidade.
Quando ele se afasta, Rie está com o rosto corado com o olhar em um misto de surpresa e contentamento. Ela solta uma risada leve, quase inaudível.
— Eu... Não esperava que você fosse realmente fazer isso agora... — Ela murmura, com as mãos trêmulas.
— Eu disse para não me subestimar naquela vez — diz ele, tentando suavizar o momento com humor.
— É mesmo? — Ela comenta inocentemente, antes de surpreendê-lo ao passar os braços ao redor de seu pescoço e trazê-lo para um beijo mais longo, desta vez sem pressa.
Eles ficam ali, juntos enquanto o sol ascende e a cidade aos poucos desperta ao redor. Entre vários segundos que levam para chegar a um fim, mas que parecem durar minutos. Milhares de pensamentos borbulhavam por sua cabeça, mas por hora apenas se concentra em sentir o momento.
E quando enfim se afastam, ela sussurra contra no ouvido dele:
— É estranho... enquanto eu me sinto mais feliz do que nunca, uma parte de mim se sente mal por isso.
Jun compreende muito bem o que ela quer dizer. Aliás, mesmo que os dois estejam juntos, Rie ainda permanece sob uma condição que levará ela a um sono sem fim após alguns meses. Portanto, querer estar ao lado de alguém sabendo que logo em seguida o deixará, realmente deve ser algo extremamente torturante. No entanto, embora isso ameace o futuro que mal começaram a construir juntos, ele não acredita que irá acabar desse jeito.
— Não se preocupe. — Ele diz com convicção. — Eu não vou deixar que você se vá. Vou fazer de tudo para que você tenha tempo. Muito mais tempo do que qualquer um espera e viva até não aguentar mais.
Ela o encara com um olhar de ceticismo misturado com esperança.
— Não quero que faça promessas que não possa cumprir…
Ele a olha diretamente nos olhos, junto de uma intensidade em sua expressão que reflete nas palavras que está para dizer:
— Vou repetir, não estou prometendo nada. Estou dizendo o que eu vou fazer.
Ela permanece em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dele até que um sorriso tímido surge em seus lábios.
— Então eu irei acreditar em você — diz ela, e em sua voz há uma sinceridade que ele nunca ouviu antes.
Jun solta um suspiro, sentindo uma determinação inédita em seu coração. Ele não permitiria que esse mundo, cheio de barreiras e injustiças, os separasse. É agora que esse mundo começa a mudar. Pela primeira vez, tem uma certeza inabalável: ele lutará para transformar esse lugar para que Rie possa realizar seus sonhos. Para que a voz dela ecoe além de qualquer limite, além de qualquer destino iminente.
A luz do sol nasce mais forte, e ele se prepara para o que está por vir, certo de que não importa o preço ou a dificuldade. Mesmo que todos se voltem contra ele, que todo o mundo se oponha, Jun está disposto a mudar cada parte disso — para que, no futuro, Rie cante mais alto e mais livre do que jamais imaginou. E a partir desse momento é quando esse mundo começa a mudar.
Shelter Blue v.1 — fim