Volume 1
Capítulo 6.2: Mesmo incapaz
Embaixo da terra onde um brilho cintila entre as pedras que se debatem, um som levemente agudo semelhante ao de guizos ecoa pelo ar. O imenso cristal luminoso, no centro do céu de rochas sustentado por pilastras, ilumina o local com uma luz entre diversas pigmentações das cores do arco-íris espalhadas por onde tocava.
Ao lado de um poste entre cercas de ferro forjado preto, um gatinho com o corpo feito de energia branca e olhos azuis passa a patinha na cabeça e solta um miado. Rie dá um sorriso para a pequena criatura a achando a coisa mais fofa e segue andando ao lado de Chie. Nesse instante, as duas estão carregando pedras de aura que foram buscar para que assim o senhor ferreiro tenha seu estoque cheio novamente.
— E então? Como foi exatamente a reação daquele garoto ao saber?
— Foi muito inesperada. Ele simplesmente, ficou muito inconformado.
Rie está contando para outra do momento em que revelou sobre sua condição para Jun. E obviamente, a garota de cabelos rosas guiada por sua curiosidade — um instinto fofoqueira —, agora se vê mais interessada do que qualquer outra coisa a respeito dessa situação. Aliás, teve um resultado bastante considerável se assim pode-se dizer.
Por outro lado, parando melhor para analisar a situação no momento, a única coisa que Rie consegue sentir é uma vergonha imensa internamente, mas é claro que ela nunca vai externar isso para ninguém. A maneira como ela se comportou foi simplesmente ridícula. Sempre viu o fato de atrás do que seus sentimentos desejam como algo muito cruel e egoísta da sua parte, pois estaria colocando falsos desejos e esperança a alguém que logo teria que deixar. Estaria se aproveitando e roubando o tempo de outra pessoa para satisfazer seu egoísmo.
Entretanto, a postura que Jun assumiu na hora foi o completo oposto do que ela esperava. Ao invés de deixá-lo triste ou abalado e dar um motivo definitivo para que se afaste dela, fez com que o garoto tomasse uma atitude digna de uma das fantasias mais profundas de sua imaginação.
Ouvir de alguém que ela não irá desaparecer é algo que desde então quis escutar, de fato. Saber que ele a quer viva foi algo que a fez desabar na hora. A ideia que até então tinha é de que não era merecedora de algo assim — já perdeu as contas de quantas vezes do tanto que escutou que não prestava, e a realidade de mostrava só confirmar isso. E então, veio aquela confissão…
— Ahhh… Eu ainda não consigo acreditar o que aconteceu… — Rie fecha os olhos com força e sente um arrepio percorrer pelo corpo enquanto de recorda.
— Você é uma idiota por completo, devia se valorizar mais. Ainda bem que o garoto soube fazer algo antes.
— Ei!? Eu só estava tentando ser realista, tá?
E repentinamente Chie para de andar, cerra os punhos e encara a outra com uma face indignada. Um olhar que penetra Rie diretamente nos olhos.
— Isso é pra você perceber o quanto é importante, caso contrário ele não teria dito na mesma hora iria atrás do jeito para que seu futuro seja diferente. Você conseguiu arranjar alguém especial para si, mesmo agindo como uma imbecil… isso é revoltante!
Por que tudo mundo tá agindo assim comigo nesses últimos dias?
Chie anda até a frente da garota de cabelos brancos, fazendo-a até mesmo se inclinar levemente para atrás devido à distância. Ela coloca a mão no peito e com uma postura confiante anuncia:
— Quero que fique sabendo que vai ser eu quem vai conseguir uma cura para você a tempo! Não estudei e nem mesmo me tornei uma mestre em magia nesses últimos anos para nada! — A saia de Chie balada e as pedras de aura na bolsa em sua outra mão se chocam em um impacto.
— Você não precisa fazer tudo isso por mim.
— Sua idiota! Mesmo que você nunca tivesse adquirido esse estado, eu teria trilhado esse mesmo caminho. A família é a coisa mais importante pra mim, e você faz parte dela.
Se Chie soubesse da dificuldade que tem para conseguir sentir o mesmo, muito provavelmente bateria nela, ou até mesmo choraria. Aliás, Rie sempre se viu sem pertencer a qualquer lugar, pois é alguém que nunca prestou para nada; um erro que nunca deveria ter existido para começo de conversa. Como que alguém assim seria merecedora de tal família? A existência dele se trata de algo muito cruel, realmente.
Por que eu ainda tenho esse tipo de pensamento? Por que isso não saí da minha mente? Já deu, isso já passou… ahhhh! Eu sou mesmo uma estúpida.
— E também, não vou parar só porque você pediu para fazer. Eu já cheguei muito longe e finalmente estou perto de fazer algo, então só espere!
A garota de cabelos rosas, então, retira seu celular do bolso, desliza o dedo algumas vezes e mostra a tela para Rie. Nele há diversos gráficos e imagens complexos que ela mal consegue entender o que significa.
— Isso aqui são todas as informações e ilustrações do que consegui descobrir ao escanear o seu coração. Basicamente, é como se o núcleo no interior dele esteja se tornando uma joia bruta, igual esses cristais.
Isso na bolsa em que elas carregam são chamados de pedras de aura, minérios gerados pela própria energia do mundo. Grandes quantidades desse poder, ao se concentrarem em um único ponto, se solidificam até assumirem essa forma.
— O que fez você despertar esse poder especial de forma prematura, causou uma explosão de energia que criou um pequeno fragmento sólido ao redor do núcleo. E com o tempo esse pedaço vai absorvendo a energia, apesar de você usar para gerar ou não, até que se torne grande o bastante para cobrir tudo.
Então é o mesmo que dizer que seu coração vai se fechar ao ponto de não ser diferente de uma pedra? É irônico, no entanto, pensar dessa forma não vai ajudar em nada para aliviar a situação. Só faz Rie se sentir pior consigo mesma.
— Como sem exceção, ninguém tem uma aura exatamente igual a de outra pessoa, mesmo sendo Zero ou One, acaba disso ocorrer de forma diferente para cada um. Seja casos de morte, coma, ou o seu que se desenvolve com o tempo.
É interessante pensar sobre isso levando em conta a imagem do Ones, uma vez que eles se autodenominam como uma raça igualitária e única. Se for olhar na teoria, todos são diferentes mesmo que aos olhos não seja perceptível.
— Por essa razão, transplante de coração não são mais possíveis, mas há feitiços que curam doenças e danos envolvendo os mesmos. Se for assim, basta criar um que elimine esses fragmentos e deixe o núcleo limpo.
— Você é mesmo demais. É surpreendente que descobriu tudo isso sozinha.
Chie guarda o celular e solta um suspiro em relação à última fala que escutou.
— Essa sua forma de falar, toda desacreditada como se não houvesse mais solução, me irrita de muitos modos! — Ela diz de um modo um tanto debochado. — Você precisa ser mais positiva, garota! Francamente…
E as duas voltam a caminhar, silenciosamente. Enquanto isso, Rie pensa a respeito quando a postura que tem assumido até então, a respeito de sua condição. Para ele é extremamente torturante se ver dessa forma, pois uma vez que chegue seu tempo limite é capaz de apagar do nada quando menos perceber. Ir dormir durante alguma noite e não acordar mais. Ela não tem o controle quanto a isso, portanto não sabe prever quando ocorrerá.
Rie estaria vivendo sua vida normalmente e repentinamente, cairia num sono sem chance de despertar. Pensar nisso é sufocante. Mesmo assim, deixar de aproveitar a vida que tem por ansiar esse futuro é mais.
— Ei, Chie? Muito obrigada por tudo, até então…
* * *
Desde o dia em que o namoro dos dois iniciou, independente da forma dramática que foi, eles só voltaram a se encontrar no começo da próxima semana. Embora a festa só vá ocorrer no começo do próximo ano, o casal se reuniu no estádio da escola para treinarem juntos — fazer as preparações para as disputas e apreender a forma de lutar de cada um para que assim consigam elaborar boas estratégias nos combates.
A esgrima dele é limitada quando se trata de usar uma espada de um tipo diferente do qual está acostumado. Contundo, graças a aceleração, Jun até que consegue se virar muito bem em diversos tipos de situações, mesmo que não tenha técnica com o equipamento que utiliza.
Rie tenta ensinar o que sabe para ele, uma vez que o aprendizado que teve durante a infância foi consideravelmente mais elaborado que o do garoto. A princípio imaginou que seria bastante complicado ajudá-lo a sair da zona de conforto, porém para sua supressa Jun está desenvolvendo tudo numa velocidade surreal.
Então quer dizer que a aceleração torna o raciocínio dele mais rápido e assim o faz ter mais facilidade para aprender? Isso não é justo…
Entretanto, em compensação, Jun possuí uma experiência em batalha muito acima da dela. Portanto, conhece táticas e estratégias que jamais ouviu falar antes.
— Acho que por hoje está bom. Não quero chegar no orfanato exausto mais tarde.
— Seu frouxo.
O garoto de cabelos vermelhos apenas ignorou a óbvia provocação e ajeitou o cachecol, guardando a espada de madeira na bainha logo em seguida. Rie está contente que após tanto cobra sobre, ele começou finalmente a usar o seu presente, apenas de uma certa culpa de vê-lo se forçar a vestir quando a temperatura já está começando a esquentar. Ainda assim, tem até mesmo momentos em que tem que se controlar para não ficar o encarando demais.
— Só esse treinamento de hoje foi muito bom, nunca apreendi tantas coisas de uma vez antes. Bem, mesmo que eu ainda me sinta meio incomodada por talvez estar roubando seu tempo com isso…
— Você é a minha dupla. Não existe ninguém que possa te substituir — disse Jun, praticamente cortando a última fala da garota. — Mesmo sabendo agora da sua condição isso também não é um motivo, embora eu não possa mais te tratar da mesma forma.
Rie não sabe muito bem como reagir perante o que acabara de escutar, porém um pequeno sorriso brotou nos lábios dela. Para ela tudo ainda é um pouco estranho, pois desde o começo sequer imaginou que Jun iria agir da forma que está.
— Se não for muito, eu ainda gostaria que me tratasse como antes.
— Bem não foi nesse sentido que eu quis dizer no final… Não tem como mais, pois agora a gente está namorando. — Ele desvia o olhar para o lado numa postura de como quem não quer dizer nada.
— Sim… Nós estamos, sim! — Rie fala de forma atrapalhada em uma afirmação desesperada.
Ela foi pega de supressa ao escutar aquilo dele. Mesmo assim, com certeza é algo que ela não quer negar de forma alguma, mas apenas não está acostumada. Ainda não lhe caiu a ficha de vez que a relação deles agora avançou para um próximo estágio.
— Eu gosto de você e, portanto, obviamente não quero te deixar. — E Jun complementa, agora a encarando diretamente.
Negar que ela está toda boba só escutar essa fala é algo impossível. Apesar de que ela sequer saber como agir ou se comportar por não ter experiência nisso é algo que quer ir até o fim. Se fosse perguntar para ela alguns dias atrás, diria que ela namorar era algo impossível, mesmo existisse uma vontade muito forte.
Antes ela ficava de provocação com ele, pois sabia que não iria dar em nada, só que no presente eles não precisam mais só ficar nisso. Um novo mundo de possibilidades se abriu para ela a partir desse momento.
Quer dizer que eu posso beijar ele se quiser, né? Aliás, eu tenho que pedir antes ou posso só fazer? Ahhh, o que diabos eu estou pensando…
Por onde que ela deve começar agora? Está uma questão que não tem certeza. Significa que podem fazer mais coisas do que antes, como andar de mãos dadas e passar boa parte do tempo bem próximos sem que acabe sendo algo esquisito na visão dos outros. É tudo muito novo, mas não muda o fato do tanto que ela está empolgada para o que está por vir.
No entanto, por hora ela não será capaz de experimentar qualquer coisa. Repentinamente, uma voz na qual desconhece chega até os dois:
— Eu enfim te encontrei novamente, Jun.
O som veio de um garoto de cabelos prateados e olhos dourados no qual veste o uniforme da escola. Ela rapidamente assume uma postura de confusão ao ver um One se dirigindo a eles. Todavia, Jun na mesma hora mostra uma face descontente ao avistar ele. Um mau pressentimento começa a surgir em seu peito.
E quando mais observa perdida, estranhamente nota uma semelhança entre os dois. A forma de se vestir e o penteado são completamente diferentes, mas tanto a altura, tipo do corpo e a feição são muito semelhantes.
— O que você quer, Mikio? — A fala de Jun saí em um tom sério e até mesmo ameaçador.
— Eu preciso falar com você a respeito da espada da nossa mãe, antes que seja tarde demais.
— Não vou entregar ela pra vocês, se é isso que quer. Essa espada é minha por direito e de ninguém mais.
— Não é disso que quero falar. A questão é você está em perigo se continuar usando isso.
O One dá um passo adiante na direção dele e no instante, Jun move seu braço até a espada na cintura e então hesita, pois se recorda que é uma de madeira. Como não estão em uma disputa onde é obrigatório usarem armas de verdade, mas num treino amistoso, deixaram as deles guardadas por segurança.
— Jun! — Rie chama por ele assegurando sua mão.
Apesar de estar confusa e não entender a situação, apenas agiu por instinto para impedi-lo de fazer qualquer coisa receptada contra um One. Contudo, logo tem o sentimento de que sua tentativa seria em vão, ao escutar uma segunda voz entrando no ambiente:
— Ora, ora… sito muito atrapalhar esse lindo reencontro de família, mas sinto que será necessário que eu tome conta disso, vossa alteza. Já tenho experiência quanto ao lidar com esse moleque.
Andando lentamente entre o ecoar de seus passos, uma figura vai dando as caras. Um homem alto de longos cabelos dourados de olho vermelho com um tapa-olho no outro. Ele veste um uniforme preto que indica ser de uma alta patente, com ombreiras e detalhes dourados, coberto por uma capa carmesim em um dos lados.
Na hora ela olha de volta para Jun e o avista com uma feição que a deixa espantada. Seu rosto está tomado por uma fúria intensa, e sua ires embutidas pela aura de brilho prateado expressando uma vontade assassina. Foi quando ela associou a imagem daquela pessoa com que ele lhe contou.
Esse é homem cujo Jun comentou sobre quando lhe contou o que aconteceu com ele na cidade que morava anteriormente. Aquele no qual fez coisas terríveis e arruinou toda a vida que tinha naquele lugar. Agora ela consegue deduzir que essa deve ser a roupa usada por um major.
— Chega de conversinha e entregue essa espada, agora. Caso contrário, eu te mato aqui e agora — ameaçou, sacando e apontando um sabre chique para Jun, com sua lâmina tomada por energia dourada.
— Ei! O que você tá fazendo? A minha intensão aqui não é essa! — contesta o garoto de cabelos prateados.
O major ignora a fala do outro e direciona um olhar também tomado pelo mesmo brilho. E o coração de Rie congela por uma fração de segundos, mas o tempo suficiente para que ela não consiga agir antes de perceber o cabo de madeira na mão de Jun começar a expelir fumaça.
Usando essa ferramenta de treino, ele faz com que a arma do major seja jogada para o alto num relance, assim caindo e cravando no chão ao lado deles. Em reação, o objeto que não foi feito para concentrar a aura se despedaça em brasas no ar.
— Seu insolente!
De dentro da capa, o major retira uma pistola. No entanto, essa não é feita para disparar projéteis de energia e sim, de metais. Ela se desespera ainda mais, pois foi o mesmo tipo de equipamento que utilizaram pra feri-lo outra vez. O instinto dela é de que precisa fazer urgentemente algo para impedir que Jun seja baleado.
Portanto, ela rapidamente pega o sabre cravado seu lado. Corre e coloca-se na frente do outro movendo seu braço na vertical, desenhando uma linha azul feroz e cortando o objeto de ferro ao meio. Ela gira seu corpo e para com a ponta da lâmina apontada a poucos milímetros do pescoço do major.
— Sai daqui! — Rie grita com seus olhos preenchido pelo poder azul.
— O… O quê!? — E o homem apenas se demonstra supresso.
É quando um segundo grito interrompe a situação:
— Já basta! — exclama o One de uniforme escolar, utilizando-se de uma espada longa para partir a que Rie empunha em duas. — Eu peço que o major se retire daqui imediatamente. É uma ordem!
Sem ao menos contestar, o homem apenas abaixa a cabeça e lentamente se vai do estádio com uma cara inconformada. O garoto olha para Rie e Jun, transforma sua arma em adaga e a guarda na bainha, se vira e fala:
— Mais tarde eu volto para resolver sobre esse assunto com você. Agora, tenho uma dor de cabeça a mais para lidar.
Na sequência, ele vai embora e deixa os dois no lugar sem brecha para reação. Apenas ficaram observando o rasgo deixado no chão por aquele ataque de energia simplório, aparentemente.
* * *
Após o último ocorrido, os dois fizeram questão de estar com suas espadas. Aliás, como o major Noburo deu as caras novamente, Jun acredita que ele tentará ir atrás dele outra vez, pois obviamente há um grande rancor com ele. Pra um One, fracassar ao lidar com um Zero é uma das maiores humilhações possíveis.
Capturar dois deles naquela vez e ainda por cima ter falhado com seus objetivos, resultando na maior parte de seus capangas morrer perante um dois, ao perder o controle e se tornar um monstro, se trata de uma vergonha. Além disso, permitir que o outro escape e continue vivendo normalmente é inadmissível.
— Ei, Jun? Acho que ficou um assunto inacabado entre nós.
— É mesmo, eu ia te convidar pra aproveitar e saímos antes de visitar o orfanato, mas aqueles dois foi um incômodo maldito.
No meio de uma ponte em arco de madeira logo após a escola, em uma rota que vai em direção ao caminho para chegar na casa da garota, os dois pararam. O lugar está praticamente deserto nessa hora, então é uma boa oportunidade para os pombinhos terem um momento deles.
— Olha só, não esperava esse tipo de atitude vindo de você. — Os olhos dela ficam vidrado nele de uma vez.
— Tá toda convencida, hein? Mas o que foi? Não me diga que esse tipo de coisa já não anima mais você essa ponto? — Ele fala em uma pose dramática, obviamente para provocar a garota.
— Pelo contrário, fez muito bem. Não espero menos de um namorado meu. — E Rie por sua vez, já responde com orgulho deixando um pequeno riso escapar de canto.
— Não me subestime.
Ele move a mão até o rosto dela, puxando para perto. Rie mostra uma feição muito animada e sorridente, deixando-se levar pela atitude do namorado. Os dois começam a se aproxima lentamente com o toque da garota indo ao encontro do garoto e seus rostos ficando próximos um do outro.
Contundo, por mais que fosse o que seus corações desejam no momento, eles não conseguem cumprir isso nessa hora. O que aconteceu, o casal sequer percebeu ou viu qualquer indício de se aproximar.
Jun é acertado por um tiro que o faz perder o equilíbrio.
De repente, escutam o som de incontáveis passos vindo em suas direções. Ele tenta segurar o ferimento com sua outra mão, e Rie vai de encontro para socorrê-lo. No entanto, antes que consiga fazer qualquer coisa ela é agarrada pelos braços e puxada para atrás a força.
Antes que ele sequer consiga processar o que está ocorrendo, recebe um impacto nas costas que o derruba contra o chão. O garoto tenta se erguer, mas algo o empurra de volta contra a superfície. É quando ele avista como está Rie na sua frente. Se debatendo e tentando soltar-se desesperadamente, ela luta contra soldados que a prende pelos braços, porém esses são diferentes dos que já conhecem, pois todos usam armaduras pretas com vários detalhes em dourados.
Como assim? Desde quando eles surgiram? Eles estavam se escondendo para atacar a gente?
Jun combate ferozmente contra aqueles que o mantém no chão na tentativa de se livrar, mesmo assim a única coisa que consegue é provocá-los e receber golpes em suas costas e cabeça. Ele ignora a dor do ferimento e não desiste de se levantar a força. A garoto na qual mais se importa está sendo levada bem diante de seus olhos.
— O que vocês estão fazendo!? Larguem a Rie!
Os cavaleiros então se acalmam; a questão é que não foi devido à fala de Jun e sim a entrada de uma figura soberana.
— Após o major relatar a existência de um indivíduo de aura azul capaz de usar uma arma de One, não teve como ficar quieto. Ainda mais por saber de quem se tratava.
Um pouco ao longe, apenas observando tudo com uma face inexpressiva, lá está o Noburo. Todavia, o dono dessa voz que escutara veio de um homem no qual sua armadura tem as cores trocadas em comparação as dos outros. Ele tem olhos da cor do ouro, um cabelo levemente comprido penteado para atrás e uma barba curta branca bem definida, muito provavelmente estando na casa dos trinta anos.
— Como comandante do exercido e, infelizmente, pai dessa criatura que já devia estar morta há muito tempo. Eu Renji Koike, vou dar um fim a esse problema com minhas próprias mãos.
A expressão na face de Jun é de surpresa, quanto de Rie de alguém que se vê incrédula. Enquanto isso, o garoto rapidamente tenta processar a enxurrada de informações que está recebendo. Ela nunca falou que seus pais morreram, apenas que nasceu como uma Zero entre os One e sendo abandonada devido a isso. Portanto, existe uma possibilidade do que aquele homem falou ser verdade.
— Cala a boca! Eu nem sei que é você! Nunca te vi na vida! — Ela contesta, agora golpeando os soldados com as pernas.
Apensar do que for, ele não pode ficar parado, ainda mais perante alguém que disse que Rie devia estar morta. Portanto, Jun está pouco se importando se aquela figura é pai dela ou não, representa uma ameaça.
— Eu já disse pra soltarem a Rie! Larguem ela!! — Ele grita começando a se levantar, dessa usando da aura para se fortalecer fisicamente.
Contudo, os cavaleiros conseguem o jogar para baixo outra vez. A força que eles possuem está muito além daqueles que enfrentaram antes. Independentemente do tanto que Jun insiste em se libertar, mesmo com suas ires imbuídas por sua magia prateada, apenas consegue observar a garota.
— Parrem! Não machuquem o Jun!
— Fecha essa sua boca! — O major que até então estava quieto, então anda até ela lhe dá um roco no rosto.
Ao ver a face de Rie cambalear para o lado, algo em Jun se descontrola. A energia prateado começa a jorra de ser corpo de forma massiva e ele passa a lutar contra os inimigos que o derruba como nunca antes.
— Seu desgraçado! Você vai ver, eu vou te matar!
Os homens de armadura golpeiam o garoto na tentativa de apagá-lo de todas as formas, mas ele não desiste. Todo que ele recebe de volta é o mesmo que cócegas para ele nesse instante.
— Soltem a Rie! Deixem ela em paz!
Nada adianta. Não importa o quanto grite, continuam a levar embora. E é só uma só questão de tempo para que o nocauteiem e façam o mesmo com ele.
Jun solta um grito profundo, um som que reverbera em seu peito e ecoa pelo ambiente ao redor. Ele estica o braço, os dedos trêmulos tentam alcançar o impossível, enquanto a visão começa a escurecer aos poucos, como se o mundo esteja se desfazendo diante de seus olhos.
Está sendo como àquela vez. Da mesma forma que foi incapaz e permitiu que levassem Aimi naquele dia, agora estão levando Rie. Ele não pode permitir que isso aconteça, não aceita que façam isso de novo. Essa é uma situação de vida ou morte e ele ainda não conseguiu fazer nada.
Não importa qual seja o preço que tenha que pagar…
Mesmo que não tenha dominado perfeitamente a habilidade, ele usaria.
E assim fez.
Jun acelera. O ferimento no ombro começa a se regenerar, fechando-se com uma urgência violenta. Acelera uma segunda vez. Sua aura prateada se rasga em partículas ferozes como brasas, avançando com uma intensidade tão devastadora que, caso ele não se curasse mais rápido do que os danos se formam, cortes seriam feitos em sua própria pele. Diferente da última vez, esse poder está mais estável do que antes, mas os riscos ainda são o mesmo.
Suas ires brilham incandescentes com a cor prateada. E num estrondo devastador, os cavaleiros são arremessados para o alto com corpos lançados com o mundo ao redor se partindo em pedaços.
— Não vou perdoar vocês…
No ato de sacar a adaga, entre o processo de se transforma em uma espada, com a lâmina jorrando uma corrente maciça de magia ele fatia a armadura em conjunto do primeiro homem que corre em ataque contra ele em um único corte. O outro que tenta avançar contra o rastro de sangue, então tem seu estomago atravessado causando uma onda de impacto avassaladora que empurra tudo que toca entre os pedaços metálicos que se espalham no ar.
Ele dá uma arrancada de aura partindo a ponte abaixo em pedaços e fazendo a água explodir contra o seu movimento. A escolta ao redor dispara uma chuva de projéteis de metal contra ele, mas que Jun cruza adiante como se fossem nada, — só de chegarem perto da energia a sua volta se dilaceravam.
O major tenta atacá-lo com seu sabre, contundo o garoto atravessa além, como um borrão que retalha o braço empunhado a arma em um linha precisa. Aquele membro, então se espatifa no chão. E o garoto rotaciona seu corpo fazendo um movimento vertical que divide ambas as pernas no homem.
No entanto, antes que caia no chão, ele o agarra pelo cabelo e o puxa.
Com um chute acertando em meio ao peito, ele cospe o líquido vermelho, deixando ele para trás. Entre uma explosão descarregada completamente contra ele, Noburo é arremessado freneticamente, ricocheteando até alcançar a muralha de mármore próxima e a atravessar.
Desenhando um rastro luminoso de sua silhueta por onde passa, avança até chegar no autodenominado general e suposto pai de Rie. O homem, então o bloqueia usando de um escudo dourado imbuído em magia.
— Sai da minha frente!
A espada de cor noturna em um estrondo sônico vai de encontro a barreira com força devastadora. O impacto transfere toda a intensidade contra, tornando o metal incandescente. Em um instante, o aço se torna líquido e se se espalha em gotículas ardentes em meio uma explosão que causa uma onda de choque, deixando o cheio de metal quente preenchendo a volta.
Renji cambaleia tentando manter o equilíbrio, desestabilizado. O ataque foi suportado, porém Jun não deixa a oportunidade passar. Com uma precisão inabalável, ele avança aproveitando-se da brecha com os olhos fixos em seu próximo alvo.
Ele desmembra o primeiro cavaleiro que prende a garota e finaliza perfurando sua armadura derrubando-o. Quanto o segundo, se vê diante múltiplos cortes em uma velocidade tão assustadora que o deixa em pedaços. A aura que continua a retalhá-lo a cada segundo continua a fluir. Jun pega a garota em seu colo e concentrando o poder para uma nova arrancada, parte para o local mais longe e seguro de que consiga encontrar antes que sua vida seja drenada.
* * *