Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 5.5: Antes que desapareça

Seu coração está disparado freneticamente. Contudo, qual é a razão principal disso? Na realidade, Rie sequer consegue definir direito. Enquanto ela se troca, está submersa em meio a um turbilhão de emoções tão intenso que só a faz ficar cada vez mais desesperada. Mesmo assim, de um jeito ou de outro, vai começar pela frustração momentânea.

Por que ele estava evitando olhar pra mim? Ele me acha feita? Eu sou realmente tão horrorosa assim!? Ahhhh!!!

A garota coloca as mão na cabeça e se sacode para espantar esse seu pânico emocional. Rie realmente não entende direito o que está sentindo, isso tudo é tão novo que sequer sabe como reagir ou se comportar. Só tem certeza de que, de fato, está se comportando de modo diferente do habitual.

Ela se maquiou, colocou uma roupa muito provocante em comparação as que usa normalmente que revela mais do seu corpo, também destacando sua forma e até mesmo calçou um salto alto. Chie falou que ela iria deixar qualquer que a visse babando em relação ao seu visual. Então, por qual motivo? Por que o garoto ficou desviando os olhares toda vez que ia de encontro a ela? Rie só queria que ele a olhasse. Queria que a elogiasse e ficasse caidinho por ela de verdade.

Isso seria pedir muito? Se bem que… eu não fiz muito diferente…

Já o achava muito bonito, mas toda a vez que o vê usando o cabelo solto tem uma imagem mais máscula dele, digna de a fazer corar toda vez, e ele está assim hoje. Na realidade não foi somente isso, pois ele usava somente aquela camisa preta esportiva de gola alta. Ela teve que se conter muito para conseguir focar em fazer sua canção, pois tudo nela a dizia para olhá-lo desesperadamente.

Levando em consideração o fato de que, muito provavelmente, Jun estava fazendo algum tipo de treinamento antes de aparecer, além de já ser justa, o suor fez com que ficasse ainda mais grudada nele. Até então não tinha reparado que embora magro, tem um físico atlético bem definido.

Minha nossa… o que eu tô pensando!!?? Ahhhh!!!

O que está acontecendo com ela? Rie nunca ficou desse jeito antes. Nunca teve pensamentos como esse, ou teve desejos como esse. Quando mais ela olha para sua cara refletida no espelho do vestuário, mais lamentável se acha.

Se bem que eu devo ser assim mesmo! Tenho que dar o troco para esse idiota por não ter olhado pra mim! Isso mesmo!

Ela aponta o dedo para sua figura numa pose convencida e encara a si mesma. Isso momento durou por poucos segundos, mas a fez logo em seguido entrar em pânico outra vez, ameaçando explodir por completo.

Ainda assim, a garota de olhos azuis está decidida. Ela não vai mais usar aquela roupa tomara que caia e se dar a decência de usar um sutiã para deixar de se sentir tão exposta. Contudo, usará apenas seu vestido preto convencional de alças e com o decote em V sem nada a mais por baixo. Calçando botas longas e deixando a gargantilha com uma joia em gota azul no centro. Também mantendo seu penteado que consiste em deixar o cabelo amarrado e solto ao mesmo tempo.

Apesar do que for vai fazer com que Jun a note dessa forma. Vai garantir que ele não tire os olhos dela um minuto sequer.

Rie terminou de arrumar seu visual e embora ainda esteja com um certo rubor no rosto, garantiu de analisar a si mesma um pouco mais. Certas emoções profundas lhe traz uma angústia e uma insegurança que a atormenta. Entretanto, dessa vez não ter a ver com o garoto que quer impressionar, porém com a garota que ela enxerga adiante.

Será que está certo uma espadachim de parecer desse jeito? Nos últimos anos meu corpo ficou definido demais, meus seios cresceram a tal ponto que agora é impossível de os esconder e até meu cabelo está ficando longo… Essa não é a imagem que uma guerreira deveria ter, não é mesmo?

Esse pensamento vem das memórias daqueles dias em que a única coisa que ela fazia era treinar para ficar forte. Quando devia seguir um ideal inabalável e deixar de mostrar qualquer vulnerabilidade se tornando uma figura independente por si só. Ainda assim, o tempo fez com que se tornasse tão feminina desse modo que é agora inevitavelmente, querendo ou não. Ela é o perfeito exemplo do que aquela mulher considerava como fraqueza.

A minha mãe iria me odiar ainda mais se visse como estou agora…

Está fugindo de como uma guerreira de verdade deve ser, e essa aparência mais delicada tanto quando estar tendo esses sentimentos por um garoto é a prova disso. Mas esse ideal é algo que não quer seguir. Então, será que talvez ainda seja possível ser uma espadachim que continua cantando e almejando se tornar tão linda quanto aquela que a inspirou? Na perspectiva dela é algo contraditório, porém o que seu coração quer.

Essa é quem Rie Koike do presente é realmente de verdade. Portanto, vai fazer o esforço para se atracar de uma vez e deixar claro tudo o que quer com o garoto, antes que seja tarde demais.

 

* * *

 

Sub o pôr do sol tingindo o céu de rosa e roxo, com os polígonos que constituem o domo mudando de tom sutilmente em um ritmo elegante, os dois caminhavam pela cidade deixando o destino lhes guiar. Quando chegaram a um lugar em específico, mas bastante familiar.

Adiante está um precipício com sua borda protegida por uma cerca de ferro forjado. Ao lado, uma torre com um sino dourado no qual musgo começava a crescer ao redor. Entretanto, dessa vez não há nem uma garota inesperada escutando música encanto o espera, pois está ao seu lado.

Além da queda, está imagem da cidade em toda sua magnitude. Uma área repleta calçadas de mármores e prédios de vidro entre diversos rios tomada pela vegetação, com fadas e ilhas flutuando com cascatas caindo infinitamente. Esse cenário antecede uma muralha na qual protege uma região utópica banhada a ouro com uma torre tão imensa ao centro que chega a tocar o céu, criando esse abrigo que limita o mundo em que vivem.

— Que coincidência, eu não esperava vir aqui de novo outra vez — comentou Rie enquanto caminha em direção a vista na borda.

— É diferente sem ter você cantarolando nesse lugar.

— Pelo visto, então parece que essa minha melodia marco você de alguma forma.

Uma forte brisa cruza entre os dois e faz com que os cabelos da garota balancem harmonicamente. Eles brilham como se fossem a própria luz de um luar incandescente repleto de vida. Enquanto isso, Rie admira a paisagem com um olhar avoado e inocente, embora diante de si só estivesse uma gaiola que impede que seus pássaros possam voar nas custas de protegerem seres tão egocêntricos.

Ainda assim, para Jun apenas a imagem da garota é o mais fascinante.

Ele não sabe afirmar se foi de propósito, no entanto decidiu vir com um visual diferente do que ela usa normalmente. Com certeza é menos provocante que aquele que estava usando durante a gravação do vídeo, ainda assim mais do que ele está acostumado a ver. Agora que estava sozinho, Jun não tirou os olhos dela uma única vez, e garota está adorando receber toda essa atenção.

— Você tá muito bonita desse jeito. Até mesmo com a roupa de antes.

— Muito obrigada!

Rie mostra um grande sorriso e se encolhe um pouco para se conter. Contundo, ela ainda não aguenta e chega a dar alguns pulinhos. A garota, então com os olhos brilhando preenchidos por um ânimo avassalador fala:

— Mas por tocar naquele assunto, o que você achou da minha nova música?

— Você canta muito bem. Teve horas que o seu controle de voz me causou sustos e até mesmo arrepios, só que ainda quero ver o resultado com o instrumental. Tem potencial — Ele fala em um pose de análise convencida.

— Olha só, o crítico — E Rie deixa escapara algumas risadas.

Se fosse levar em consideração o que ele escutou hoje é muito de se estranhar que estejam desgostando dela devido a isso. Se bem que, aparentemente ela está mudando a fórmula dessa vez. Portanto, se for assim essa nova canção foi excepcional. Não faz sentido dizer que está debochando da Lily ou qualquer coisa, pois Rie tem seu estilo próprio e consegue ser tão boa quanto.

Até melhor, caso deixem de duvidar.

— Dessa vez, quis mudar completamente o estilo e fazer aquilo que você me sugeriu, de falar sobre aquilo que gosto. Foi por sua causa.

— Bem, posso afirmar que dessa vez você brilhou e muito.

Ela mostra brevemente um sorriso, porém logo esconde seu rosto, deixando Jun confuso pela reação e fala num tom mais baixo:

— É mesmo? Então se você diz… Obrigada.

Essa garota até então tem escondido coisas dele e no momento ainda não perguntou de algo que quer saber mais a respeito. Como aconteceu coisas semelhantes ao que passou na outra cidade, têm a necessidade de descobri mais sobre. Sendo assim, tem que entender melhor aquele assunto que seu pai mencionou anteriormente quanto a ela, mesmo que seja insensível da sua parte.

— Me desculpa se não gostar da pergunta que vou fazer, mas eu tenho que saber sobre isso. É o incidente no passado nessa cidade que fez com que pessoas se tornassem bestas…

A garota fica em silêncio e imóvel por alguns segundos.

— Não tem problema perguntar, pois querendo ou não essa é a realidade.

— Você estava lá, certo?

— Isso. Eu sou um dos experimentos que restaram daquilo. Diferente dos outros, eu era alguém com um poder especial, que não perceberam na hora, mas me salvou.

Quanto todo aquele caos ocorreu na cidade em que morou anteriormente, como consequência todos que foram submetidos a isso foram transformados em aberrações. Jun precisou matar cada um para evitar que se tornassem num problema maior, inclusive Aimi. Entretanto, o que aconteceu no caso de Rie foi diferente. Entre o restante eles encontraram um novo tipo com um poder que vai além do que estão acostumados, um capaz de criar armas humanas com um potencial maior que o dos próprios Ones e que fossem completamente submissas a eles.

— Não sei se posso me considerar sortuda, já que não me tornei um monstro como os outros. Graças a esse dom conseguir sobreviver, porém, por despertar essa aura mais intensa da forma errada, fui amaldiçoada.

— Sinto muito, não devia ter tocado nesse assunto.

— Já disse que está tudo bem.

Ela se vira e olha diretamente para Jun sorrindo. Os olhos azuis dela, de um tom extremamente forte e vivo, estão fixados e vidrados nele, na tentativa de atingi-lo com algum tipo de magia para que não fugisse dela, no entanto…

Até que parte desse sorriso é verdade?

— E mesmo ao tentarem me forçar a alcançar esse poder tenha feito o núcleo no meu coração trincar, por causa das suas palavras naquele dia ao lado do rio com os lírios agora sei a direção que quero seguir. Aí está o motivo de ter feito aquela canção.

— Como assim?

— Antes que desapareça, farei que todos saibam que estive aqui!

Essa não é uma simples exclamação que anuncia um objetivo inabalável, mas o mesmo que ela mencionara na letra de sua música — obviamente algo que não era em vão. E ao escutar essas palavras mais uma vez, foi quando ele ligou todos os pontos e compreendeu finalmente o real sentido.

Só posso estar louco… Isso não tem como ser verdade…

O objetivo daquele projeto era controlar o núcleo de aura das pessoas, pois assim acreditavam que desse modo é possível criar uma arma perfeita ao manipulá-lo. Portanto, ao mexerem com o dela, muito provavelmente durante esse experimento algum tipo de dano tenha ocorrido.

— Rie, não me diga que… — Jun murmurou com os olhos trêmulos.

Quer perguntar diretamente para ela, mesmo assim nem uma palavra mais consegue sair da sua boca.

E a garota simplesmente sorriu. Um sorriso que mascarava todos os segredos que até agora guardava apenas para si. Mas naquele instante, foi o suficiente para confirmar o que ele mais teme, a hipótese que se recusava a acreditar. Como consequência, ao despertar poder total de sua magia de forma incorreta, Rie Koike teve seu destino selado: seus dias estavam contados. Logo, ela cairá em um sono eterno, destinada a ser esquecida... e então, desaparecer para sempre.



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