Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 5.4: Antes que desapareça

Depois de um bom tempo, chegou finalmente o dia em que Jun não está sozinho em seu apartamento. Na cozinha ele vê um homem que ao descascar uma batata, deixa acidentalmente a faca escapar e corta o seu dedo. Uma linha de sangue escorre e, numa questão de instante, observa aquela ferida se fechar gradualmente, passando a impressão de que aquilo nunca tivesse ocorrido.

— O que foi isso? Como você curou esse machucado? — perguntou para o pai, vestindo uma regata preta enquanto preparava um guisado para o jantar.

— Eu usei a aceleração para o machucado no dedo se curar.

— Nossa, isso é muito legal. Não sabia que algo assim era possível.

Se fosse pensar no funcionamento de uma poção de cura, onde um feitiço é lançado num líquido qualquer, esse mesmo cria um fator de cura a parte do corpo que elimina os danos ao entrar em contato, mas nesse caso que observou é o contrário. Não é de se surpreender que possa usar a aura para criar um fator semelhante em si, porém dando um ampliada no processo, dessa forma fazendo algo quase instantâneo.

— Você pode me ensinar a fazer isso?

— Tem algum motivo?

— Imagino que com isso possa superar meu limite de cinco segundos, para que consiga usar de novo sem o risco da aura começar a me machucar,

— E com isso, que sabe… talvez também seja possível de realizar uma aceleração dupla, eu imagino?

Isamu, então, tampa a panela e anda até a mesa, senta-se perto do filho e abre uma lata de cerveja. O que ele acabara de dizer, tirou realmente as palavras da boca de Jun. É claro que essa foi uma das possibilidades que cruzou pela sua mente, pois se conseguir fazer isso sem problemas terá suas capacidades dobradas todas às vezes.

Algo que o ajudaria perfeitamente a tirar o máximo proveito daquela espada que foi de sua mãe, uma vez que tem seu movimento e tipo de luta prejudicado por não saber usar aquele tipo de modelo. Com isso ele pode compensar a falta de técnica e habilidade com a arma usando de força bruta.

— Você realmente não terá mais limites de tempo. Acelerar duas vezes, também não será mais nada fatal, porém ainda é algo impossível de se dominar sem que haja desgaste até chegar ao ponto de não usar mais aura… — Ele dá um gole longo na lata, dando uma pausa para anunciar algo que causa ansiedade só de olhar. — E você sabe muito bem o que acontece quando alguém fica sem energia, pode acabar em coma como sua mãe, ou até mesmo morrer.

Quando pequeno, foram atrás da sua mãe devido à cor de sua aura. Naquele incidente, por motivos que até o presente desconheciam, o núcleo de aura dela foi danificado durante a batalha de tal modo que a fez ficar sem consciência até então. O mais certo é que ela foi levada ao extremo e sua energia se esvaiu durante uma batalha sem chances de vencer para proteger sua família e até si mesma — esse último ela não conseguiu.

E a falta de conhecimento sobre esse tópico, ainda não permitiu que fosse possível de curá-la, pois ainda não foi descoberto como consertar um núcleo danificado por exaustão.  Diferente das bestas, isso não se trata de algo físico para humanos, mas algo mágico de certa forma. É um ponto no centro do peito de onde todo o poder surge no qual ninguém sabe com alcançar.

— Mas se me prometer que só irá usar isso como sua última escolha, em casos de vida ou morte eu te ensino. Ainda assim, o ideal é que consiga alcançar uma maior velocidade de modo gradual, ao invés de forçar a um limite além com atalhos desses.

— Eu realmente não quero ser dependente desse tipo de meio.

— Então por que você realmente quer apreender isso?

— Como eu disse antes, é pra superar essa limitação. Recentemente eu experimentei combinar a aura junto da aceleração, o que me fez perceber todo o potencial que estava desperdiçando, mesmo que ainda não domine isso direito.

— Bem, sua insistência por aprimorar um meio básico de alcançar esse fator, pois é instantâneo e se torna mais prático num cenário onde não pode mostrar a aura.

— Agora não tenho mais essa necessidade, então posso ir além. Por isso, pra falar a verdade… Eu gostaria que você me treinasse no geral…

Jun mostra uma postura tímida e contraída. O homem de cabelos vermelhos deixa escapar uma risada e apoia a lada na mesa antes de continuar a falar:

— Mesmo assim, ainda é melhor que continue tomando cuidado para que sua energia não chame a atenção dos Ones mais uma vez. Você não deve querer que o mesmo que ocorreu na cidade da sua avó se repita, certo?

 — É claro que não, eu vou tomar cuidado. — Jun mostra uma postura motivada e uma face decidida.

— Não quero eventos com aqueles ocorram de novo, ainda mais com você no meio. Pois daquela vez, a mesmo tipo de incidente também o correr aqui, logo após o incidente envolvendo a sua mãe.

Uma gota de suor escorre pelo corpo da latinha e caí sobre a mesa, sinalizando uma tensão séria que estava por vir.

— A razão de terem ido atrás dela foi porque queriam usar o poder em um tipo de projeto, o mesmo que você presenciou no dia que foi capturado. A ideia era de criarem armas humanas com um potencial maior que os próprios Ones, mas completamente submissas ao mesmo tempo. E acreditavam que isso seria possível se conseguissem controlar o núcleo de aura dos outros…

Jun sente um arrepio, ansiando com medo as próximas palavras do seu pai:

— No entanto, ao acessarem o núcleo conseguiram fazer com que os corpos passassem a rejeitar a energia. Isso fez com que se tornasse bestas e houvesse um surto nessa cidade.

Ele se recordou de suas experiências passadas no seu antigo lar. Se lembra do major comentar sobre algum tipo de projeto antes de toda aquela merda ocorrer. E também, houve uma vez que, claramente ouviu Aimi comentar sobre algo assim ter ocorrido nesse lugar, contudo, ele tratou aquilo como bobagem. No fim, foi exatamente o que ocorreu com ela.

— De todo o modo, mudando de assunto. O que você está achando da Rie?

— Isso foi meio repentino, mesmo assim tudo bem. Isso serve como oportunidade pra te perguntar uma certa coisa que quero saber.

— E o que seria? — Ele fala retornando a tomar a sua bebida.

— Como foi que você conquistou a minha mãe?

— Espera… — Isamu quase se engasga com a pergunta inesperada. — Por que você quer saber isso, justo agora?

— A Rie fica de provocação comigo toda hora, mas quando faço o mesmo ela recua. Outro dia quis deixar claro que tenho o mesmo tipo de intensão e a gente até se beijou, só que no fim ela arranjou um jeito de fugir de novo. — Ele fala como quem foi abalado drasticamente.

— Parece que meu filho finalmente está se tornando um adulto…

Jun apenas franze os olhos em reação a piada. O homem, por sua vez, apenas continua a tomar goles de sua bebida.

— Então você quer saber para conseguir ficar com a garota?

— Exatamente! Se continuar desse jeito a gente vai ficar dessa forma pra sempre, sem que nada saia do lugar.

— Bem, em comparação com a sua mãe parece um pouco diferente, pois ela se dava de difícil não deixando chegar até ela do que fugir em si. — A impressão era de que ele estava se recordando de eventos traumáticos.

— E o que você fez?

— Eu fui ganhando a confiança dela aos poucos até que aconteceu. Como no seu caso é algo em específico, eu sugiro que se tentar por ações não está sendo o suficiente, então tente através das palavras. Seja direto e diga exatamente o que sente pra ela.

Os dois até então ficaram somente atiçando um ao outro em conversa, sem saírem da parte das insinuações. Faz meio ano desde que eles se conheceram e no começo a impressão era de Rie apenas estava curiosa por ele ter um poder do mesmo tipo que o dela, contudo eles continuaram se falando desde então até que a presença passou a se tornar algo muito recorrente.

Para Jun já era óbvio a esse ponto que a garota estava interessada nele. Ficou claro para ele quando passou a mudar sua postura mais agressiva e ficar mais retraída, mesmo assim ambos insistiram em continuar apenas fletes disfarçados de brincadeiras. Portanto, se ele realmente quer mudar e seguir adiante, então esse novo tipo de abordagem é algo que vale a penas tentar.

— De qualquer forma, percebo que você tem usado sua influência para fazer que sejamos uma equipe pra festa, foi por esse motivo que falou dela, certo?

— Bem, pela situação envolvendo vocês, já me deu a resposta que queria. Está muito melhor do que eu imaginava.

No fundo, Jun espera que seu pai não fique pegando no seu pé devido a estar interessado nessa garota e ainda ter pedido sugestões.

— Tem a ver com a gente ter o mesmo tipo de aura, não é mesmo? É porque conseguimos usar as armas de One?

— Obviamente, esse detalhe das armas é algo que influencia bastante e vai fazer com que ser tornem uma dupla extremamente forte, mas o principal é por finalmente serem usuários desse tipo aptos para uma união.

— Qual é a lógica disso? — Jun fica confuso por Isamu tocar nesse assunto — Não é aquela coisa de dividir as aptidões e também… também que só casais fazem?

— Para os Ones que organizam as festas, formas pares adequados é um fator importante na hora de escolherem as duplas, pois também é uma forma de garantir que mais armas nasçam no futuro. — O homem explica com tom de deboche.

Só de saber desse tipo de coisa existe, Jun já se irrita automaticamente. Não basta obrigarem os Zeros a serem treinados a lutar desde a infância para sacrificarem suas vidas para eles sem ao menos dar um mínimo valor. Agora também querem decidir com quem eles devem ficar para criar armas mais fortes? Isso é inaceitável e revoltante.

— Não tinha a noção de estavam se dando tão bem, pois no começo minha intenção para serem uma dupla era porque teriam mais chance de se protegerem devido o poder de vocês.

— Acho que eu já sei onde você quer chegar. Não precisa dizer mais nada, eu já entendi o assunto. — Jun está começando a ficar envergonhado.

— Só quero dizer que, se ficar com essa garota é algo realmente você quer, fique sabendo que tem todo o meu apoio. Pra mim é uma felicidade ver que novos frutos estão começando a surgir em minha família.

— Também não é para ver isso de forma tão apresada! Você só pode ter ficado bêbado depois de beber uma única latinha!

Escutar isso de seu pai fez Jun querer cobrir o rosto e tapar os ouvidos para não ter que encarar. Por que era se sentia com tanta vergonha ao ouvir isso? Talvez, essa é uma dúvida que eu seu eu jovem ainda não tem a capacidade de obter a resposta.

— Bem, voltando ao assunto da união, esse é maior motivo da aura de vocês serem tão especiais. Diferente de um One, vocês não vão perder um fator que impedirá de continuarem usando aquelas armas passando a serem como Zeros.

Enfim, ele dá um último gole na sua cerveja. A esse ponto o garoto já não consegue ter certeza se o que Isamu está falando é sério, ou é um pai botando para fora seu amino por ver um filho prestes a conseguir uma namorada.

— Como consequência, ainda terá que repreender tudo que sabe desde o começo, pois é como se trocasse de poder para um renovado.

— Fique sabendo que isso está me assustando, na realidade.

— Mas ao longo prazo é algo muito positivo, uma vez que não terá mais seus limitadores e poderá apreender acelerar de forma decente com menos dificuldade, sem ter que recorrer àquilo.

— Ok. Agora virou um sermão. — Jun começa a reclamar para esconder sua vergonha interior.

— Deixa eu terminar, ainda não cheguei na parte mais importante. — Isamu demonstra uma face séria. — Usuários do tipo de vocês ao fazer a união não compartilham apenas a possibilidade de apreender a aptidão do outro, mas despertam uma aura mais intensa do que todas as outras. Bem, como estamos há quase um século sem que alguém tenha conseguido viver para chegar até esse ponto, não sei te dizer o que isso é capaz de fazer. Só sei que era um poder que sua mãe quis conseguir alcançar.

E o pai do garoto apenas dá de ombros e se levanta em direção ao fogão para pegar a panela sinalizando que não tem mais o que falar. Ainda assim, Jun entente o desejo do seu pai, pois alcançar um tipo de potencial que dê a possibilidade de se protegerem com mais segurança, — relevando o evidente desejo do homem de ter uma nora, no caso.

É claro, no presente ainda não possuem o conhecimento quando a capacidade de Rie utilizar uma arma de aura única, algo que só é possível se utilizarem a mesma que ela, uma vez que na aparência são indistinguíveis. Também tem que considerar que ela consegue disfarçar sua energia fazendo com que ela brilhe mais fraco, caso contrário perceberiam facilmente o aspecto reflexivo semelhante a cristais.

Aliás, Jun não faz a ideia de como ela consegue esse feito. Caso ele consiga apreender a realizar a mesma coisa com a sua será um facilitador imenso para se livrar de Ones que venham encher o seu saco.

— Mas essa perda dos poderes por despertar uma energia diferente não é algo ruim? Tipo, tanto eu quanto ela vamos ficar sem ter como nos defender até descobrir como usar nossas habilidades nessa nova aura.

— Na verdade, isso vai acontecer apenas com você.

— Como assim? Então é só eu que saio no prejuízo!?

— Pelo visto, quer dizer que ela ainda não te contou sobre aquele assunto? Bem, é de se imaginar… — O homem diz enquanto coloca a panela com guisado na mesa. — Se for assim, vamos começar pelo começo.

O pai de Jun abre a tampa e vai servindo a comida, enquanto continua a falar com a maior calma do mundo:

— A Rie é uma das cobaias que sobreviveu àquele incidente.

 

* * *

 

Ele coloca a mão na testa e respira fundo. Após pegar uma latinha da máquina de refrigerante no caminho, Jun se escora sob a parede ao lado. Está no prédio onde fica a base das forças de ataque — esse é o lugar que passou a vir após ser liberado da escola, nessa última semana, na intensão de receber o treinamento de seu pai no pouco tempo livro que possuí e assim melhorar o uso da aceleração com o foco inicial do uso dela para ampliar o fator de cura.

No momento, recém conseguiu demonstrar um pequeno avanço nessa forma de usar a habilidade. Contudo, ainda não é o bastante para que consiga fazer exatamente o que deseja. E levar aquela sobrecarga de energia até chegar no tal fator desejado, foi realmente muito desgastante, ainda mais quando seu próprio poder começa a retalhá-lo por dentro após cinco segundo. Agora que conseguiu identificar, está na hora de fazer direito e usar a aura de modo gradual — parar de ser ansioso e querer chegar a resultados instantâneos.

E enquanto tenta recuperar suas forças desgastadas do treino excessivo, sua atenção é tomada um som repentino. Uma melodia que parou em segundos, como se fosse interrompida no meio, mas sendo o suficiente para instigar sua curiosidade, pois é de uma voz familiar. Portanto, como não tem nada melhor para fazer no momento, foi de atrás.

Então, ele anda pelos corredores com as paredes e os tetos feitos de vidro até avistar um jardim do lado de fora, onde vê algo que o deixa ainda mais interessado. Como suspeitou lá estava Rie, porém na companhia daquela garota de cabelos rosa chamada Chie. No entanto, a jovem de olhos azuis e mechas de um branco como o luar está usando uma roupa muito diferente do habitual: um vestido branco sem alças com saia curta e decote em V, em conjunto de uma gargantilha com uma joia no centro, meias-calças transparentes de tom escuro, sapato de salto e luvas de cotovelo.

— Vamos de novo! Você precisa se soltar mais. — Chie se mostra sem paciência soltando um suspiro — Joga toda essa vergonha pra fora. — E ela termina apoiando uma mão na cintura e apontando pra outra.

— Mas eu nunca apareci pessoalmente antes… será que realmente vai dar bom, mesmo? — Já Rie está com uma postura toda tímida.

— É óbvio. Sendo assim, se atraca logo! Vai, vai! — A menina de boina faz um gesto abanando a mão.

Rie, com os ombros encolhidos em uma pose contraída segura um microfone com ambas as mãos. Na frente dela a outra garota está com um notebook em que possuí uma câmera virada na sua direção. Só de observar a cena ele já consegue ligar os pontos e concluir que estão prestes a gravar um vídeo de música para aquele canal de um banda sem nome com ícone de flor. Jun toma o último gole do seu refrigerante, joga a latinha no lixo e vai até elas.

— Vocês estão fazendo algum tipo de gravação especial? — pergunta Jun ao dar as cara e chamando a atenção das garotas. Ele age de modo todo inocente, porém uma delas não parece receber sua presença muito positivamente.

— Exatamente isso — disse Chie olhando ele com o canto dos olhos. — Essa vai ser a primeira vez que ela vai mostrar o rosto.

— Hmm…

Por alguma razão, Rie estava tentando esconder o rosto virando ele para o lado. Essa atitude dela era um tanto estranha, pois, até então, nunca havia a visto demonstrar tanta insegurança ou, simplesmente, timidez.

— E como a princesa falou que dessa vez queria chamar bastante atenção, fiz questão de que ela usasse o vestido mais fofo e chamativo — Um ar um tanto sádico está presente na voz de Chie. — Mas agora está aí, toda fresca…

Realmente essa roupa dela chama bastante atenção, pois além de uma saia curta e ser justa, também tem um decote que deixa a superior dos seio bem amostra e as suas costas nuas. É bastante semelhante ao vestido preto que ela costuma usar normalmente, a diferença é que não estava por cima da camisa da escola, uma vez que agora essa é a única peça que veste, tirando o resto.

É bom eu evitar ficar olhando demais, não quero que ela tenha pensamentos errados sobre mim…

Até então tem deixado de reparar nela dessa forma, pois não quer ser esse tipo de pessoa, uma vez que não gostaria que fizessem o mesmo se estivesse no lugar. Contudo, agora é impossível dele evitar de pensar nesse tipo de coisa. Por ela estar usando essa roupa, Jun parou para reparar o tanto que Rie tem um corpo esbelto e curvilíneo com um busto volumoso, digno de uma modelo e de dar inveja a qualquer garota.

No fim ele não pode negar o fato de que ainda é como qualquer outro jovem garoto que se sente atraído pelo gênero oposto — ainda mais quando aquela na qual está a fim assume um visual tão provocante. O foco principal do momento é evitar de corar toda a vez que a vê direitamente.

— Em outras palavras, quer dizer que ela está arregando? — No fundo Jun só falou desse jeito para disfarçar o quanto está gamado nela.

— Exatamente.

Ao essa conversa, a postura de Rie muda no mesmo instante.

— Ei!? Fiquem sabendo que eu não vou desistir!

E agora ela finalmente mostra uma feição em que já está habituado a ver nela na qual combina muito mais. Ultimamente a garota de cabelos brancos tem agido mais timidamente e envergonhada que o normal, algo que é estranho. Relevando esse detalhe, ainda assim no momento não teve como Jun não deixar de pensar:

Isso não era pra ter sido uma provocação.

De todo o modo, Rie agora se mostra mais motivada do que antes. Ela agarra o microfone com confiança e então anuncia:

— Eu vou entregar tudo de mim dessa vez, só observem! — Rie exclama com um olhar determinado.

Chie aperta um botão no notebook, Rie ajeita a postura, e Jun permanece nesse lugar as observando de intruso. Na atualidade já está mais tranquilo quanto ao escutar músicas, tudo graças a ter ouvido ela cantar aquela vez no orfanato. Agora consegue encarar esse tipo de coisa sem que seja um gatilho para seus traumas do passado.

A garota fecha os olhos, puxa o ar e então começa com tudo. Uma introdução de tom elevado, forte e impactante, logo dando o lugar para um verso calmo, lento e melodioso. Ele consegue sentir uma angústia entre uma súplica de um intenso desejo para se livrar disso, como se almejasse abraçar um conforto sem fim, mas que está prestes a desaparecer e fugir — esse é o sentimento que as palavras dela passam.

Rie respira mais uma vez, desse modo trazendo um silêncio por um instante e então tudo se eleva novamente em uma explosão. Na letra uma curta ponte é trazida, anunciando que está para cruzar por cima de todas aquelas aflições e superá-las, indo além. E assim chega o refrão levantando a melodia para o seu ápice, até que frases semelhantes iniciais sejam repetidas no final e assim se apague gradualmente.

 

Que caia uma gota prismática no coração

Acenda como nunca antes

E brilhe até o fim

 

Exausta estou pelos anseios do dia que estar por vir

Nessas noites onde céu ameaça me consumir

O preenchendo de pontos reluzentes

Transmitindo um reflexo de cores carentes

E assim rasado o infinito como infinitos feixes

Deixando pra trás o rastro de estrelas cadentes

 

Mas, antes que eu desapareça

Gritarei para que não se esqueça

Eu estive aqui!

 

Sentirei essas cores transbordar

Se espalhar e cobrir a parede a nossa volta

Quebrando-a em cacos

Derrubando esses desejos e anseios de viver

Acelerando como uma estrela-cadente

Banhando-se dessa chuva de emoções

 

Antes desse mundo se apagar

Para todos que não é o meu fim irei falar

 

Sentirei essas cores me iluminar

Se espalhar e preencher a realidade envolta do meu ser

E que em cacos se faça desvanecer

Resultando esses desejos e anseios ascendentes

Acelerando como uma estrela-cadente

Banhando-se dessa chuva de sonhos ardentes

 

Que caia uma gota prismática no coração

Faça transbordar de tanta emoção

E garanta que nada foi em vão

 

Por um momento todo ambiente se manteve em silêncio. Jun e Rie, então trocam olhares sem dizer uma única palavra. Aliás, ele estava simplesmente paralisado. Não consegue adivinhar quais foram as reais intenções dela ao compor essa canção, mas lhe passou uma mensagem. Como se dissesse para deixar todos os anseios para trás e seguir adiante, abraçando esse mundo com um todo e vivendo ao máximo, até o fim.

— Ei, Jun? — perguntou Rie com uma feição um pouco avermelhada — Depois de eu me trocar, eu gostaria de falar com você, tudo bem?

— Ah… — Ele está com um olhar bobo. — É claro, com certeza — E termina de modo desajeitado.

— Ótimo! — Rie exclama animada com um sorriso no rosto, logo partindo para ir trocar essa roupa que tanto destaca seus atributos e a envergonha, obviamente.

Ele realmente quer muito conversar com ela. Tem tantas perguntas para fazer a Rie e coisas para esclarecer, incluindo um certo assunto inacabado que ficou entre os dois. Portanto, precisa tomar alguma atitude quanto a isso.

 

* * *



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