Volume 1
Capítulo 5.1: Antes que desapareça
Uma brisa gelada tomava a atmosfera atual. Ao fundo, escutava-se o som dos pássaros e do vendo abafados. O ambiente estava escuro com apenas poucos feixes de luz frios que escapavam das frestas nas paredes.
Foi quando ele impulsionou seu corpo para frente, se sentando sobre a cama — um beliche em não na atualidade não se encontrava ninguém na parte de baixo e muito provavelmente nunca mais iria. Neste quarto com diversas coisas que se mantiveram inalteradas por longos seis anos, exceto por uma mala que fora jogada no chão na qual era a única coisa que ele se atrevia a mexer. Sequer tinha a coragem de pôr suas coisas de volta nesse local. Tinha medo de apagar o que uma vez existiu nesse lar.
Ele solta um suspiro e seu cabelo, na altura do queixo, cai por cima dos olhos. Pega o controle no lado do travesseiro e aperta um botão que faz a camada escura e fosca cobrindo a parede se se torne transparente, assim revelando o mundo exterior. Ao centro de tudo, uma torre com uma espiral circular a rodeando e um anel flutuando na ponta, com uma cidade banhada a ouro na volta rodeada por uma muralha de mármore branco, separando uma outra completamente tomada por uma vegetação que ninguém se prestava tirar.
O garoto, então inclina sua cabeça para o lado fazendo com que as mechas vermelhas caiam e revelem sua íris, azuis com um interior acinzentado — a falta de brilho no instante era tanto que chamar de prateado seria uma mentira. E assim, observa toda essa imensidão com um céu coberto por um domo que só deixava a silhueta do outro lado cruzar.
— Como será que é lá fora? Eu, realmente, queria muito atravessar... — murmurou para si mesmo, aliás, não havia ninguém além dele neste apartamento para escutá-lo.
Na sua cabeça, talvez devido a uma lógica infantil na qual persiste até a atualidade, acreditava que se isso não estivesse mais ali, seria livre. Não precisaria mais lutar e poderia viver como bem entender. E essa não é a realidade, obviamente.
A razão dessa barreira existir é simples: servir para detectar o que entra e sai, somente. Sendo assim, nada seria diferente se aquilo desaparece.
Mas deixando essa mentalidade de lado, ele se alevantou de vez e foi até o banheiro para lavar o rosto. E assim viu seu reflexo. Na sua face havia uma expressão vazia, porém que estava longe de refletir o que realmente seu interior expressava.
Ele queria estender sua mão e levá-las até o pescoço daquela figura e a esgoelar. Desejava com todas as suas forças que essa pessoa na sua frente parecesse de respirar, de ver e sentir qualquer coisa. Devia agonizar até perder cada para dessa essência interior que chama de “vida”. Uma vez que sumisse, então acreditaria que tudo se tornaria melhor, ninguém mais teria que sofrer por sua causa e muito menos morrer.
Eu odeio… Eu te odeio!
Suas mão tocaram os espelho, porém foram paradas pelo vidro deixando a água escorrer. Ele se inclina para frente e seu cabelo cai por cima do rosto enquanto gotas pingam entre as mechas. Jun era, sem sobrar de dúvidas, lamentável.
Tudo nele lutava para fazer com que se enxergasse dessa forma, a vontade era de desprezar cada parte dessa figura que via a imagem. Para o normal desse mundo ele não se encaixava de nem uma forma e não tinha lugar onde pertencer. As vezes até se pergunta se sua família ainda o protegia apenas por obrigação, ou se realmente se importavam com ele, aliás, só a sua existência já trouxe inúmeras tragédias.
Entretanto, existia um fator crucial para que ele verdadeiramente não conseguisse se odiar — na verdade, estava mais para uma maldição. Essa era a razão para que ele até não então não tenha deixado que a culpa o consumisse por completo. Foram aquelas palavras, aquelas últimas palavras dela antes de desaparecer para sempre.
Isso lhe dava forças para conseguir seguir adiante, mesmo que uma maldita voz interior fale a todo o momento para ir pelo caminho oposto. Ao mesmo tempo, o motivo dele saber que conseguiria ser forte (que ele precisava). Ficar parado e aceitar esses pensamentos negativos é o maior tipo de desrespeito possível, pois significa o mesmo que tratar as perdas nas quais ocorreram por sua causa não tiveram valor algum.
Depois o ocorrido a um ano atrás em que sucedeu em um efeito cascata ocasionando na morte de Hiro e eventualmente de Aimi, ele começou a notar essa sua perda de emoção toda a manhã. Jun começo a trancar as suas reais emoções, pois não queria demonstrar fraqueza para ninguém. Por um momento apenas queria ser uma das armas da humanidade, uma ferramenta como aquele major os denominou desde o primeiro dia. Aliás, já era um absurdo para que monstro como ele estivesse vivendo entre os Zeros e Ones; era uma forma de tentar compensar em algo.
Dessa forma, eu só estou desperdiçando a minha vida…
Quando ele escutou depois de tanto tempo aquela canção feita por sua mãe, mas cantada por Rie no outro dia, ele se tocou disso. Embora almejasse o contrário, ele nunca saiu do lugar desde que sua espada atravessou o pescoço de sua irmã de consideração. No entanto ele jamais soube para onde ir, ainda mais num mundo onde não era aceito (onde ele não se aceitava). Sempre esteve perdido.
No entanto, ele já estava mais do que com o saco cheio disso.
— Eu não aceito…
No fundo queria muito dizer: “que se dane”, para tudo que ocorreu para ir para outra cidade e eventualmente o fazer ter que voltar ao arruinar completamente as coisas. Já estava na hora de verdadeiramente deixar de ficar parado. É claro, não iria esquecer o que aconteceu, contudo o passado já é passado.
Para o ele que finge não ser quem realmente é, ao ponto de permitir que quem é importante para si morra, mesmo tento o poder para ser capaz de salvá-lo. Que por medo da solidão insistiu em tentar se camuflar quando já era tarde demais e assim a vida de outro fora tirada por sua causa. Esse era o “eu” que ele mais odiava.
E para o ele que foi contra todas as barreiras que lutavam para fazê-lo ficar parado, quebrando-as e indo onde nunca ousou. Mesmo que isso custasse a segurança de terceiros, mesmo que ele tenha sido a razão centrar para o início de toda a destruição naquele dia, ele sentiu-se vivo como nunca. O ele que escolheu ir lutar contra aquela besta colocando tantas coisas, pois não tolerava vez uma garota que mal conhecia na época perder sua vida contra a vontade, sendo que podia mudar esse destino é o verdadeiro Jun que se esconde entre aquela criança que se mantem perdida desde o momento que foi separada dois pais.
Já tinha dado disso tudo. Agora ele deviria viver o presente e voar como nunca. Queria ser como um estrela-cadente, riscando tudo e sumindo logo em seguida para surgir o mais longe do que uma vez já foi. Queria ser como a própria luz sempre correndo numa velocidade sem fim, nunca mais escondendo quem realmente é e assim destruindo o falso céu e mudando esse mundo por completo.
E assim ele faria tudo que gosta sem ninguém o impedir e viveria sua vida ao máximo. Se para garantir que nada do que fez até chegar lá será em vão, ele estava disposto a sofrer quaisquer consequências quer precisará receber pelos meios necessário para alcançar esse fim, pois só isso já justificava tudo.
— Então, vamos dar início a esse destino — murmurou enquanto amarrava o cabelo, olhando para o exterior através das janelas do prédio. Entre as pequenas ilhas flutuantes em que a água caia sem terminar, os passos de energia e as fadas como cardumes no ar, existia uma certa beleza nesse lugar.
Após escutar Rie cantar a música de Lily, foi como se algo que estivesse o bloqueando fosse finalmente quebrado. Toda aquela energia e vontade de continuar fazendo aquilo que ama, mesmo recebendo a desaprovação e o desprezo dos outros, era algo que o fascinava nela. Ela estava seguindo mesmo com algo a atormentando intensamente, diferente dele em comparação. Por esse motivo, era muito motivador e agradável, sem falar que até mesmo divertido de ficar perto dela.
Enfim, Jun acha que conseguiu entender aquelas palavras de sua mãe. Ao mesmo tempo a vontade de acompanhar esse novo lírio desabrochar era inevitável. Queria sentir-se tão vivo, se não mais como foi dessa última vez que ouvira.
Portanto, após amarrar o cabelo — algo que já está cansado de fazer todo o dia, pois perde muito tempo só tentando fazer isso —, ele saiu de casa e começou a andar pela cidade submersa entre vários rios, quando avista algo que lhe chama atenção. Entre as trepadeiras que cresciam no seu prédio avistou uma pequena fada, essa em que se agitava na tentativa de se soltar entre a vegetação em que ficou presa. O garoto, então ajudou a pequena criatura a se soltar.
Ela voou e deu giros no que interpretava como felicidade ao redor dele, pousando em sua mão na sequência. O ser pequenino pisca olhos para ele e descansa suas assas em uma postura de confiança. Jun acha adorável esse simples gesto e assim estende sua braço para que essa fofura parta em direção ao céu e vá até limites que ele sequer consegue imaginar de como é chegar.
Desse modo, olha para o domo mais uma vez, porém sem se incomodar. Esse mesmo que servia para nomear esse modelo cidade, logo seguido de uma cor para diferenciar das demais. Essa em que ao mesmo tempo era considerada a capital dessa nação, possuía o azul como seu denominador — em outra palavras um grande abrigo que cobria o mundo ao redor, mas que não era dourado e sim do mundo que o cercava fazendo ser conhecido como Shelter Blue.
* * *
A ansiedade fez com que ela saísse mais cedo de casa para ir até a academia. E enquanto observava a cidade no subterrâneo, com arquitetura semelhante à da Grécia, sub ilhas flutuantes em cima de lagos luminosos pela energia mágica, Rie pensou no que faria para enrolar até chegar no seu destino.
Então caminhando pelas calçadas da superfície, ou pelo menos o que dava para se chamar disso, pois na maior parte só se avistava longos rios entre os prédios tomados por vegetação e seus reflexos neles. Entre as cercas de ferro forjado preto haviam pequenos portões onde levavam a pequenos cais com barcos, nos quais soltavam uma fumaça graciosa enquanto preparavam seus motores para receber seu embaçantes, porém em que os pilos recém estava se preparando para iniciar seus trabalhos de transporte.
De fato, ela chegou cedo demais. No parque por onde passou, havia um relógio eletrônico mostrando a data: 25/05/2098. Eram 07:15, e a tela também exibia a temperatura e a previsão do tempo para o dia. Rie ainda tinha um bom tempo até as 08:00 para chegar ao campus. Por ora, ela decidiu ir até uma máquina de vendas automática, comprou um suco e se sentou em um canto tranquilo para ouvir música com seus fones de ouvido, aproveitando o tempo disponível.
Enquanto ouvia as melodias nesse local mais isolado certos pensamentos cruzaram pela cabeça da garota de cabelos brancos: havia momentos em que ela queria se tornar invisível. Levando em conta os outros estudantes que sem a olham torno ou com uma cara de deboche, aliás, todas às vezes só a enxergavam com a garota que desonrava a imagem da lendária cantora Lily. E o motivo disso era mais do que óbvio. Enquanto ela colocava tudo a que a atormentava para fora com uma forma de desabafo em suas canções, a outra fala sobre coisa positiva e esperançosas que iluminavam os outros.
Ela não pode continuar desse jeito. Desse modo, para sempre todos apena a verão como aquela que zomba o legado de alguém tanto os motivos e assim, logo a esquecendo no processo. E Rie tem que mudar isso de uma vez. Estava jogando seu tempo que já era limitado fora.
— Eu realmente não presto… — murmurou para si mesma em uma voz quase inaudível. No fundo nem mesmo ela quer escutar isso.
E quando sentido que já ficou tempo demais parada entre seu monólogos internos ela levantou, ainda sem parar de escutar. Durante o caminho para a academia nas calçadas de mármore ao lado de rios que agora cruzavam barcos em meios aos raios solares mais intensos, ela viu algo que fisgou a sua atenção. Era uma mãe andando de mãos dadas com sua filha, ainda pequena. E nesse mesmo instante as palavras daquele murmuro anterior voltaram a sua cabeça.
Aliás, já perdeu as contas de quantas vezes sem ouviu isso saindo da boca da sua, que no fim a jogou fora pelo mesmo motivo.
Uma situação daquelas em família era uma das coisas que ela mais invejava com todas as suas forças, por mais que não quisesse admitir. E mesmo que na teoria possa considerar Chie e o senhor Nobu como uma, pois a adotaram quando mais nova e a receberam na casa deles nesse últimos anos, algo a impedia de conseguir. Talvez fosse porque ainda carregava o sobrenome daqueles na qual a descartaram. O dia em que aquela mulher empunhou um sabre e foi na direção dela é um que ainda lembra vividamente em sua memória.
Aliás, não passava de um ser defeituoso. Um erro que nunca teve um lugar ou foi merecedor de ter, pois nunca prestou de todo o modo.
— Eu tenho que fazer algo e logo…
Parando sob a borda da ponte que dava até a entrada do seu colégio, ela colocou a mão na certa e olhou para a correnteza. As águas refletiam o domo no céu e os polígonos mudavam de tom a cada instante. E nesse instante, apenas nesse, Rie precisava para um pouco e respirar para conseguir focar em todos esses pensamentos negativos e assim, jogá-los de uma vez como uma pedra que iria afundar no fundo do rio.
Então foi quando um pequeno pássaro com um corpo translúcido composto de uma energia vermelha posou ao lado de sua mão e a encarou. Seus olhos se fixaram na inocente criatura que, logo em seguida, abriu as asas e voou para um mundo sem limites na qual ela sonha um dia alcançar. Isso lhe deu o sinal que estava na hora de seguir adiante.
Aquela cor fez com que ela se lembre daquele garoto e também, justamente a pessoa que estava indo se encontrar. Os dois estavam prestes a se apresentar com uma dupla para a festa de matança que estava por vir no começo do próximo ano. E mesmo que o motivo fosse por algo que ela não que ter que fazer parte, ainda assim estava muito ansiosa e animada.
Queria muito vê-lo por alguma razão que não conseguia entender a causa, mas que só de pensar nele sentia suas mãos soar. No fundo acredita que se ficar junto dele como naquele outro dia, teria mais uma vez toda aquela motivação e vontade de não ficar parada em hipótese alguma. Por causa dele, agora ela acredita que pode voar e nem mesmo o tempo pode lhe parar.
* * *