Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 3.2: Músicas de um lírio sem nome

Um barco cruzava suavemente deixando um rastro na água e soltando vapor. Os rios da cidade estão muito cristalinos, e as plantas aquáticas neles, em conjunto com a sombra das folhas das árvores ao redor, faz tudo soar com harmonia.

Jun caminhava sobre uma ponte de mármore branco em arco, com cercas feitas de ferro forjado negro na borda. Os polígonos do domo que cobria o mundo a volta, mudava seu tom de azul sutilmente. As trepadeiras que crescem nos prédios de vidros, alto e pontiagudos dão a impressão de estarem mais verdes nesse dia.

Postes, também feitos de metal escuro, possuíam mais de uma lamparina nas pontas, e os fios que cruzavam entre as estradas dessa cidade, na maior parte flutuante, também estavam abundantemente preenchidos pela vegetação. Embora passe um ar de devastação nessa área onde os Zeros viviam, no exterior das muralhas ao centro, sem sombra de dúvidas ainda possuí drasticamente mais vida que o lar dos Ones.

Pássaros que passam a impressão de estar em combustão, pois seus corpos são cobertos por energia, lhe dão uma coloração translucida, repulsam entre as construções de rochas claras com a decoração em pinturas azuis. Quanto outros, ciscavam em minúsculas ilhas, ou pedaços de solo que flutuam gentilmente na atmosfera.

E no meio do ar voava algo lembrava a um cardume de peixes, tanto na aparência e no modo de flutuar pela atmosfera fora d’água, mas se tratava de uma espécie que surgiu após o planeta ser completamente tomado pela aura outra vez, na qual ficou conhecida com fadas. Havia outros tipos, mas esse em específico lembrava a esses seres aquáticos, embora tivesse a aparência mágica no mesmo estilo daquelas aves.

— E então, onde que fica o tal do ferreiro que falou? — Após se encontrarem, Seiji lhe fez essa pergunta.

Como resposta, Jun apenas apontou com o seu dedo para o chão.

— O que você quer dizer com isso?

— Então, por mais doido que seja, realmente é nessa direção que fica.

— Hm… — Seiji mostrou um misto de dúvida e confusão por alguns instantes enquanto pensava — Ah, quer dizer que é naquele lugar?

— Você já sabia disso? Eu só fui descobrir ontem à noite. É uma loucura imaginar que tenha algo assim, bem abaixo de nós.

— Só ouvi falar, mas nunca fui.

— Nós dois vamos conhecer agora, de todo o modo.

Com o objetivo em mente, os dois garotos foram em direção a uma área da cidade que ficava logo abaixo deles. Por mais enigmático e inacreditável que isso possa soar, era verdade. E a resposta para compreender essa questão estava prestes a ser dada até eles andarem e ficarem caras as caras com a muralha, numa localização entre a academia deles e uma das outras.

Estavam diante de uma escadaria, semelhante a que levava a um metrô no subsolo, mas esse não era o caso. Ao descer, eles se depararam com um elevador, onde adentraram e começaram a ir cada vez mais fundo. Gradualmente eram tomados por uma iluminação azulada.

Ficavam diante de um mundo submerso em que o céu de rochas era sustentado por diversas imensas pilastras de pedra. Ao redor dessas várias, dava para se observar também outras pessoas descendo, no caminho em espiral que fazia esse meio de transporte em que estavam.

Um som gracioso de cristais, então começam a chegar em seus ouvidos e a ressoar harmonicamente. Essas pedra luminosas, repletas de energia nos seus interiores, estavam por todas as partes dessa área. E ao centro de tudo, na mesma posição onde se encontra a torre que gera o domo no exterior, estava uma gigantesca rocha roxa de tom celeste que servia com um sol para a cidade subterrânea que iam de encontro.

Quanto Jun observava, sobrevoando pelo ar, há diversas fadas que voam com seus corpos luminosos e batendo suas asas semelhantes às de borboletas, com essa espécie lembrando mais daquele tipo contado em história, ele começou a imaginar coisas. Antes que pudesse se tocar, ela já havia adentrado num mundo dentro do seu próprio interior.

Talvez eu tenha feito algo ruim… Ter tratado Mikio daquele jeito, pode resultar e mais um ataque como o anterior. Pessoas inocentes estão sendo machadas por minha causa e, com certeza, se soubessem que o motivo disso é a minha aura, se voltariam contra mim… Se não fosse pelo meu pai, alguém jamais tentaria me proteger. É um privilégio e tanto, porém que fere outros… Eu sou egoísta.

Na janela do elevador, então, repousou uma pequena fada. Com seus olhos completamente pretos e reflexivos, ela olhos para Jun e bateu suas assas. O garoto ficou encarando a pequena criatura até alevantar voo.

Mesmo assim, é bom que os Ones estejam sendo humilhados ao serem vencidos e ludibriados por Zeros, realmente. Não há nada mais prazeroso do que isso.

Uma parte dele demonstrava uma satisfação e contentamento com a desgraça alheia desse povo, entretanto:

De todo o modo, ainda não muda que mais pessoas foram feridas… bem, tanto faz, para eles é mais do que justo. A realidade é que ele atacaram e mataram vários daqueles que protegem a vida deles, só por medo. O meu poder é algo que tem o potencial de ameaçar acabar com nação, tão superior e igualitária, deles.

Jun, procurava um motivo que justificasse todos os acontecimentos e consequências que ocorreram devido a ele.

Não bastava surgir alguém com uma aura de mesmo brilho que a dos Ones e de outra cor, refalando que eles não são realmente únicos, mas que também consegue usar a mesma arma que eles e até mesmo uma mais forte… deve ser amedrontador.

E enfim terminaram de descer todo o caminho, contudo, Jun ainda permaneceu no mesmo lugar, estático. Seiji andou até ele e pelo visto fez algum gesto para chamar a sua atenção, mas que ignorou completamente.

Se quer fazer algo, então faça… No entanto, do que adianta ir atrás do que quero fazer, se isso vai ferir tantas pessoas? Eu realmente não tenho lugar nesse mundo…

— Acorda pra vida, cara! — Exclamou Seiji ao mesmo tempo que dava um golpe com a lateral da mão na cabeça do amigo.

— Ai! Por que você me bateu!?

— Tá dormindo acordado, poxa!

Usando do seu celular para se guiar até a residência do ferreiro, os garotos começaram a caminhar. O visual dessa parte da cidade era um pouco diferente da que ficava acima do solo. Ainda dá para dizer que é flutuante, mas não havia barcos navegando pelas águas, que nesse lugar brilhavam como se fossem magia líquida. Aliás, ficavam entre centenas de ilhas flutuantes entre as pilastras, que tem cascatas que correm em dois sentidos diferentes.

Os edifícios, embora fossem grandes, não chegavam a ser do tamanho de prédios. A característica mais marcante de seus visuais, eram que todos tinham telhados azuis, com uma arquitetura que lembrava a da Grécia, sendo feitos de rochas brancas e também com a decoração com ferro forjado prateado. Inúmeras pontes e escadas no mesmo visual interligavam as variadas partes de solo voadores. Sem falar que a vegetação continuava sendo bastante abundante, mas estava longe de ter a aparência de devastação da superfície.

— Que lugar confuso de andar.

— Não se preocupa, a gente já tá quase chegando — comentou Jun enquanto comparava as placas na rua com o mapa digital com endereço que possuía.

Quando descobriu sobre, ouviu falar que essa era uma região mineradora, porém presencialmente não parecia. A impressão e de apenas ser mais uma área onde os cidadãos vivem normalmente. As pessoas que observavam aí redor, trabalhando e fazendo outras coisas cotidianas, lhe transmitiam esse sentimento. Todavia, um detalhe a se ressaltar era que a grande maioria já haviam chegado na idade em que não poderiam mais fazer parte do cambo de batalha, quando o resto jovens que deviam estar sob a guarda deles.

Por um lado, os garotos pareciam bebês perto da maioria. Chega até mesmo a ser um pouco desconfortável caminha nesse lugar devido à atenção que chamavam.

— É aqui, chegamos.

— Bem, tem uma placa escrita ferreiro.

Tratava-se de uma residência de dois andares, na mesma aparência que remetia ao restante. O que se destacava, era que essa residência dava a entender de ser uma casa em cima de uma loja, pois ao lado tinha alguns degraus que levavam a uma segunda por. De qualquer, Seiji empurra a maçaneta da parte que fica ao solo e um som de sino toca.

 

 

* * *

 

Curioso, o garoto de cabelos azuis observa o interior do local. Havia uma bigorna e martelo característicos, diversas ferramentas presas em ganchos na parede, dentre várias outras coisas nas quais fazia a menor ideia do que eram e algumas máquinas. Mas o mais lhe chamou a atenção foram os equipamentos que estava a mostra.

Em prateleiras, tipos variados de espada podiam ser vistas, inda das mais simples até as mais complexas e elaboradas, de uma qualidade tão impecável que tinha receio de se atrever ao ver o preço disso. Outras espécies de armas e equipamentos também estavam, como lanças, facas e armaduras que passavam uma certa imponência.

E o mesmo podia ser dito pra o homem que deu as caras para eles.

— Sejam bem-vindos! — ecoou uma voz grossa vinda do fundo da sala, atrás de um balcão.

A figura era de um homem muito robusto. Possuía um cabelo grisalho penteado para trás, uma barba bem-feita e usava uma camisa preta com colarinho por baixo de um avental de couro que devia contar história pelo uso. Se fosse chutar uma idade, devia estar por volta da casa dos sessenta anos.

— Boa tarde, você seria o ferreiro Nobu, certo? — Jun fez a pergunta, caminhando eu direção ao homem.

— Isso mesmo.

— Bem, eu recebi a recomendação desse lugar, pois gostaria de fazer o pedido para duas espadas personalizadas, uma para mim e outra para o meu amigo.

No primeiro momento, Seiji ficou confuso ao escutar sobre Jun querer dois objetos, pois imaginava que intenção dele era só se redimir pela quebra da sua posse que fez no dia anterior. Ele ficou pensando por alguns segundo até que se tocou se um motivo muito convincente para isso:

É claro, ontem ele ameaçou o tal do irmão dele que disse estar segurando que não venham fazer outro ataque para roubar aquela arma. Ele percebeu que fez besteira e agora está com o rabo entre as pernas, que idiota…

— Como o capitão me avisou essa manhã, eu já estava a sua espera.

— Ele tinha me falado que você devia me reconhecer.

— É claro, até agora eu só conheci o seu pai com um cabelo vermelho desse tom, só isso já me diz muito bem que é filho dele. Se bem que, tirando isso, você lembra bem mais a sua mãe.

— Ah, é mesmo…?

Um claro desconforto pode ser avistada na feição de Jun. Do ponto de vista de Seiji, isso já chegava a ser um fato curioso a respeito do amigo, pois ele obviamente não gosta de tocar em assuntos que tem a ver com a sua própria mãe.

Bom, depois daquilo que aconteceu com ele, é justificável que evite isso, pois o faz se recordar de coisas desagradáveis.

— Mas eu sinto lhe informar que, infelizmente, o meu estoque de pedras de auras atuais não é o suficiente para esse trabalho. Apenas consigo realizar reparos em equipamentos no momento.

— E conseguir reparar uma katana em que a lâmina foi partida ao meio não seria uma delas, certo?

— Infelizmente, algo desse nível não é possível de ser feito.

— Imaginei.

Foi quando uma porta foi repentinamente aberta na sala, dando lugar uma que desceu lentamente alguns pequenos degraus e disse:

— Têm uma caverna que está com um enxame de bestas extratores, mas que se encontra muito abundante com esse tipo de minério. Já existem planos para limpar esse lugar futuramente, mesmo assim, caso queriam fazer isso por conta própria, ninguém vai reclamar.

Era uma garota de cabelos rosas, na altura do queixo, e olhos da mesma cor em que usava uma boina. No momento ela vestia um colete preto, com uma camiseta roxa combinado com sua saia.

— Vocês já se conhecem? — perguntou o ferreiro, levando em conta a naturalidade das falas da garota em relação a Jun.

— Infelizmente, vovô. Esse é o garoto que fez o showzinho no prédio das forças de ataque no outro dia, que mencionei, e também a figura que essa daí não para de falar. Sério, isso já tá me enchendo o saco.

— Ei! Cala a boca!

Escondida atrás da outra, uma segunda garota se revelou. Essa daí possuía um cabelo branco, nesse instante preso num coque. Usava um suéter azul folgado com gola larga e shorts escuros, também com uma gargantilha com uma joia no pescoço. Era a pessoa que tinha chamado Jun pra sair naquele outro dia e também, pelo que tem notado, tem flertado com desde então. Se não estava enganado, o nome dela é Rie.

Será que foi por causa disso que a gente veio até esse ferreiro? Bem, não parece ser o caso, pois ele mesmo tá com uma cara de supresso com a aparição dela.

— Ah… Ah, oi Jun… O que trouxe sua vinda a esse local?

O outro apenas ficou em silêncio. Muito provavelmente estava em choque.

De todo modo, se essa menina já está agindo assim, como a outra falou, quer dizer que ele tem ido bem nisso… que orgulho do meu garoto, finalmente tá virando gente!

— Caso se achem aptos para essa tarefa, eu posso oferecer uma missão para vocês de dar as espadas como recompensa, ao coletarem pra mim o material para encher o meu estoque, o que acham?

— Eu sinto muito lhe informar, mas esse daí está impossibilitado de realizar missões — disse Seiji, pela primeira vez abrindo sua boca nessa situação — Não sei o que aconteceu, mas tem a vez com o tal showzinho no prédio das forças de ataque que, como consequência, lhe tiraram o direito de realizar isso até cumprir outra tarefa.

Em troca de dinheiro, ou de algumas recompensas, Zeros podiam realizar trabalhos além das batalhas contra as ameaças exteriores no cambo de batalha. Graças a atitude que Jun tomou na noite do primeiro dia que veio pra essa cidade, ele foi proibido de realizar isso, caso contrário, receberia outra punição. Entretanto, no caso que se aplicava a esse momento, havia uma brecha que poderia ser feita:

— Não que isso seja um problema. Eu posso fazer isso por livre e espontânea vontade, sem que seja uma tarefa oficial por si só.

— Quer dizer que você vai lutar contra esses monstros de graça?! — O ferreiro mostrou uma feição de espanto perante ao que acabara de escutar.

— Isso mesmo — Jun olha para a garota de cabelos rosas — O seu nome é Chie, certo? Você tinha dito que são bestas extratoras, ou estou encanado?

— São exatamente esse tipo.

— Então são fracas.

Seiji já havia lido sobre esse tipo de criatura antes. São monstros considerados de menor ameaça possível, nos quais vivem no subterrâneo e se alimentam de uma substância encontrada em solos ricos com energia mágica. No entanto, se virem uma presa humana, tentarão devorá-la como qualquer outra dessas aberrações. Mesmo assim, nunca se deve se subestimar esse tipo de ameaça.

— Certo, então está decido — disse ele, virando-se e começando a andar em direção saída com um novo objetivo em mente — Você pode ficar aqui Seiji, deixa que eu tomo conta já que isso foi culpa minha e eu não quero te causar mais problemas.

— Você tá louco? De forma alguma que eu vou te deixar ir sozinho!

— Eu sou mais forte do que você. E também, você está sem sua katana.

Ele imaginava que Jun iria acabar agindo assim uma hora ou outra. Ele já estava dando sinais desde o dia anterior, desde ficar muito observador com tudo a sua volta, mais quieto e ainda ter entrado no mundo da lua quando desceram o elevador.

— Eu realmente já devia ter dado maior atenção a isso antes. Desde que viu o seu irmão pela primeira vez, já tinha de mostrado um tanto alterado.

— Você não passa de um Zero comum. Só vai atrapalhar, ainda mais desarmado.

E ao som dessa fala, um clima pesado preencheu a atmosfera sala por completo e sufocou a todos. Um olhar de decepção brotou na face de Seiji, mas não era devido as últimas falas do amigo, mais devido ao modo como estava se portanto.

— Não tenho motivo para me sentir mal com isso, pois sei que esse não é você de verdade, Jun. Embora já devia ter imaginado antes que isso poderia ocorrer, uma vez que ao voltar pra essa cidade era claro que teria de parar de ignorar todos esses problemas que evitou nos últimos anos. E agora que a água bateu na bunda, está aí querendo fugir de tudo outra vez.

Em reação, o garoto apenas abaixou a cabeça. Ele mostrou querer se virar de lado, porém hesitou e continuou na mesma posição.

— É você que fala de não ficar parado. De se quer fazer algo, então fazer. Contudo, como vai fazer qualquer coisa, o sequer sair do lugar se quando é confrontado contra essas questões em aberto, sempre foge? Desse jeito, nunca vai ser capaz de mudar o mundo.

 

* * *



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