Shelter Blue Brasileira

Autor(a): rren


Volume 1

Capítulo 2.5: Estrela de um céu limitado

A energia se dissipou e a dor interminável que retalhava seu corpo de todas as direções desapareceu. O que ele havia acabado de fazer? Como ele havia conseguido fazer isso? De fato, ele não fazia a menor ideia, porém tinha certeza de que foi além do que ele sequer conseguia aguentar. Apenas aconteceu e foi mais forte do que ele. Algo ocasionado pelo emaranhado de emoções que ele sentiu desde antes de pular daquele prédio era a resposta, mas ele não se recordava de qual foi o gatilho, pois aconteceu involuntariamente, sem pensar.

De todo modo, independente daquele monstro estar se reconstruindo no momento, e ele não ser mais capaz de usar o mesmo poder, isso não significava que seu ataque não teve efeito. Quanto mais ele tiver que fazer, cada vez será mais difícil para aquilo conseguir se recuperar sem que deixe seu ponto fraco exposto de modo que seja impossível de se defender. Por enquanto, só será possível encontrar o núcleo sólido que dava vida àquilo quando voltar à sua forma completa, pois então estará no seu peito. No momento, era quase impossível encontrar isso no meio de toda aquela carne despedaçada.

Mas antes que a ameaça retorne por completo, ele vai até a garota de cabelos brancos. Ele estende sua mão e então a ajuda a se levantar. Rie o observava com uma expressão surpresa em relação a ele, algo que já estava assim por alguns instantes.

— Você tem uma poção consigo, certo? — Jun perguntou para ela, que assentiu com a cabeça em sequência. — Então tome isso, por favor…

O garoto respirou fundo e cravou sua espada no chão, ficou de joelhos e se apoiou nela. Uma tontura avassaladora o atingiu nesse momento, e ele mal conseguia se equilibrar. Jun tapou a boca com a mão e então tossiu. Gotas de líquido vermelho puderam ser vistas jorrando, com sua palma ficando ensanguentada no final. Ele limpa a sujeira que ficou no seu rosto e tenta se recuperar do atordoamento.

— Jun!? Está tudo bem com você!? — exclamou Rie, espantada com o que acabara de ver. — Não me diga que você ficou aguentando isso para que eu tomasse a poção e não precisasse dar para você!? — No seu tom de voz havia uma mistura de indignação e preocupação.

— Não. Não é nada disso… — Ele tenta se reerguer, ainda sem soltar o cabo. — Eu só devo ter passado do meu tempo limite. Se eu fico acelerando por mais de uns cinco segundos seguidos, essa habilidade começa a me machucar por dentro.

A aura não era uma energia que possuía uma certa quantidade que alguém poderia usar durante o dia, mas algo ilimitado. Se o usuário tiver o controle perfeito de sua técnica e habilidades, jamais ficará sem poder para usá-la. No entanto, caso não tenha, seu corpo ficará cansado aos poucos até ficar exausto o bastante para deixar de usar a magia ou fazer qualquer outra ação. Depois daquele determinado intervalo de tempo, Jun não conseguia mais manter seu corpo reforçado fisicamente, o que, além de desgastá-lo, chega a causar danos em si, pois acelerar causa um fluxo intenso demais.

— Então, por que você fica insistindo em usar isso toda hora? Você vai se matar desse jeito!

— A razão não é por causa da técnica em si... — O garoto suspira. — Bem, como eu posso dizer? Eu me desesperei no passado e fui imprudente, ultrapassando uma linha que não deveria ter passado e, por causa disso, agora tenho essa limitação.

— Mas o que aconteceu para você chegar nesse ponto?

— Eu tive que matar uma besta como essa, sozinho.

Quanto mais ele olhava para a figura daquela, um tremor em suas mãos se intensificava cada vez mais. Gotas de suor gélido escorriam pelo seu rosto, e o garoto com seus dedos trêmulos conseguia sentir seus batimentos pulsando apressados. Qualquer deslize, por menor que seja, pode custar a sua vida nessa situação.

E, no que ele interpretou como uma tentativa de acalmá-lo, viu Rie segurar seus dedos. Era claro que não se tratava somente de Jun correndo risco de morte agora, mas ela também. O mesmo medo e a angústia que o atormentava também a ameaçava junto, mas de sua própria forma. Entretanto, não parecia ser somente isso que a atormentava:

— Um motivo... De todo modo, me diz um motivo. Caso contrário, vou acabar achando que você está usando o fato de ter sido imprudente no passado para justificar ter sido imprudente agora e vindo até aqui.

O garoto olha apreensivo para o rastro de destruição causado nos vários prédios adiante. Ele demonstra hesitar por um instante e então fala:

— Eu te achei bonita, só isso.

— Oh! — O rosto de Rie corou por um breve momento, porém ela rapidamente sacudiu a cabeça e se recompôs. — Não vou negar que gostei do elogio, mesmo assim, ainda quero um motivo de verdade e não uma desculpa!

— Rie, você já parou para pensar que, quando uma pessoa morre, ela deixa de existir? Quando alguém se vai, aqueles que eram próximos dessa pessoa jamais poderão vê-la de novo, escutá-la falar ou simplesmente estar perto dela. Tudo que vai restar é uma memória; uma memória que não é diferente de um sonho, mas que jamais pode ser alcançado.

— Onde você quer chegar com esse discurso?

— Quando eu percebi que podia ser esse tipo de monstro, não tinha como eu ficar parado. Eu não iria suportar ver mais alguém morrer por algo além do seu controle. E a morte não é o destino que você merece, Rie. Você tem que viver! Caso contrário, você apenas deixará de existir, como uma piada a ser esquecida rapidamente, antes mesmo que consiga mostrar ao mundo que pode ser uma cantora.

O olhar da garota estremeceu, e ela abaixou a cabeça. Mordeu os lábios e cerrou os punhos apertando a saia.

— Tudo bem, você me deu um bom motivo... — Ela respira fundo e fala enquanto coleta sua adaga caída no chão. — Sendo assim, você acha que conseguimos derrotar aquilo?

— Bem, não existe uma segunda opção além dessa. Nós temos que eliminar isso de um jeito ou de outro.

A besta, lentamente, começa a se mover e a sair de dentro dos escombros do prédio. Ela crava seus dois membros em formato de lâmina no chão e continua, repetindo esse movimento, saltando e indo em direção a eles, fazendo o mundo tremer a cada impacto.

— Sendo assim, precisamos fazer isso juntos!

— Certo! — Ao som dessa exclamação da garota, os dois começam a correr lado a lado, em simultâneo.

 

* * *

 

Cacos de energias prateadas e azuis jorram. Um arco horizontal safira rasga a pele da criatura, que expele sangue, e na sequência, outra cor faz o mesmo. Assim, os dois ficam revezando, trocando de posição, quebrando a guarda do inimigo sem parar, que não consegue reagir.

Por um momento, foi como se todo o medo que ainda estava presente dentro do peito dele tivesse se propagado para fora. Mesmo que essa fosse uma luta extremamente estressante, agora ele se sentia mais aliviado. Até então, ele só fez suas missões sozinho. Sentia que podia muito mais do que já fez antes.

No primeiro instante, Rie havia ficado muito irritada por Jun ter vindo até ela. Ele não tinha noção da irresponsabilidade que estava cometendo? Se achassem que aquela arma ainda estava com ele, todo o plano arquitetado teria ido por água abaixo. Entretanto, ainda assim, ela estava contente com a presença dele de alguma forma.

Pela primeira vez, Rie não lutava sozinha. Estava mais do que confiante de que ela e seu parceiro conseguiriam matar aquilo. Portanto, iria até que todo seu poder se esvaziasse, e o garoto mostrava estar disposto ao mesmo.

As linhas rodeiam Jun em espiral. Jorram ao ponto de arranhar sua pele. Ele dá um dash com a aura, num movimento linear, perfura com a ponta o braço de cristal, que se parte ao meio. Contudo, continua a avançar, acaba caindo e tenta se levantar com tosses que o fazem perder o equilíbrio.

— Jun!? — Rie grita em preocupação. Estava com muito medo de que algo ruim pudesse ter ocorrido com ele. É inacreditável que ele seja dependente de uma habilidade que o machuque tanto.

— Não foi nada... — respondeu ao recuperar a postura. — Ainda não abaixe sua guarda. Vamos dar um fim nisso, agora!

Rie concentra a energia na lâmina, que brilha intensamente, rotaciona seu corpo e rasga a barriga da besta. Estava perto do limite, no entanto, não pararia até que isso chegasse ao fim. Portanto, brandiu freneticamente sua espada de um lado para o outro e, com toda a sua força, com o sabre transbordando energia, ela lança um impacto que faz o monstro voar e se rebater contra o chão.

E a garota corre o mais rápido que pode. O contorno da lâmina da cor do luar é preenchido por um brilho fosforescente azul. A energia transborda e rasga o mundo deixando um rastro por onde passa.

Ela move o braço em velocidade máxima. E a besta salta, tentando empalá-la com seu braço restante. Usa a habilidade de dash, desliza pelo chão, deixa o fio roxo cruzar por ela, crava no solo e, usando novamente o poder, pula. Uma linha vertical, movendo-se de baixo para cima, faz um rasgo do peito até a cabeça.

Partículas preenchem seu campo de visão e somem. Rie estende a mão para frente e puxa para trás. Raios de energia começam a exalar de seu sabre. A aura flui e jorra incessantemente, cobrindo por completo a arma. E ela investe com tudo.

Rotacionando seu corpo, ela cria um ciclone de energia. Em meio a inúmeras rajadas, o monstro começa a ser retalhado. A garota iria deixar aquela aberração perfeitamente incapacitada para que jamais voltasse a mexer um membro sequer. Portanto, seu último ataque seria decisivo.

Com a última fagulha restante em seu interior, ela perfura o ser. Uma tormenta de aura emana e, então, arremessa aquilo para o alto.

— Agora! — grita a garota, lançando um frasco de poção que pegara antes de vir para cá, mas que não usara por causa dele.

Ao ouvir o som, ele pega o objeto, arranca a tampa, bebe o líquido rapidamente e assim começa. Pisando nas paredes e saltando em impulso de um prédio para outro, Jun parte em arrancada. E desenha inúmeras linhas entre o monstro nas diversas trajetórias traçadas que se propagam, destruindo o cenário à sua volta. Agarra num poste, gira e corta um braço fora.

No entanto, a criatura, em um ato súbito de fúria, faz com que seu corpo se espalhe e volte a se juntar. Dá um rugido e, mesmo toda deformada, tenta cortar Jun ao meio, agora com a lâmina costurada de volta.

Ele pula e, num movimento giratório, desvia da trajetória em arco da mesma. Dá um dash do céu e rasga a pele do monstro, que expele sangue. O ser tenta esmagá-lo, porém, usando a aura nos pés, com uma arrancada de energia, desliza pelo chão em uma trajetória circular e a ataca.

A besta tenta estocá-lo, abocanhá-lo e retalhá-lo em pedaços num ritmo frenético, mas Jun desvia de tudo com elegância. As lâminas se chocam, jorram partículas e o poder se quebra em cacos de energia. E, se locomovendo no limite daquela barreira invisível, permanece rodeando-a e desferindo rajadas prateadas desenfreadamente.

Ele corre e a arremessa de um lado para outro com impactos estridentes. Os membros são cortados em pedaços por sequências de linhas que se cruzam, se entrelaçam e continuam a se formar numa velocidade constante. As partes tentam se unir novamente, no entanto, o garoto sequer dá brecha para que aquilo possa reagir. Com uma tormenta de ondas causada pela espada envolvida pelo poder, rasgos são feitos numa velocidade que nem um ser vivo sequer conseguiria processar, retalhando o inimigo.

E assim, com uma última aceleração, ele salta para o alto, investe com tudo em meio à queda, perfura o peito e empurra a espada para baixo com ambas as mãos. Dá um grito. A energia jorra incessantemente e sobe até o céu numa rajada. E a besta explode, dissolvendo-se em milhares de partículas que nunca mais voltariam a existir.

 

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AVISO

Oi, aqui é o autor Rren. Devido à crise com enchentes abalando o estado do Rio Grande do Sul, onde moro, a internet está muito instável, há quedas de luz, o que dificulta a escrita mesmo que seja na nuvem, pois, além do salvamento não funcionar toda hora, ainda há o risco de meu computador de mesa desligar a qualquer momento. E, por diversos fatores pessoais relacionados a essa questão, vou optar por deixar a história em hiato por um tempo.

Já consigo visualizar quando a publicação deve voltar à normalidade, mas não vou dar datas, uma vez que tudo ainda é muito incerto. Para os preocupados, a região onde eu moro não foi afetada fisicamente, embora lugares ao redor e muito próximos sim, por mais que consiga sentir com diversas coisas não funcionando direito devido a isso.

Para quem quiser ter informações em tempo real sobre quando a história irá voltar, eu recomendo seguir a página do X/Twitter (@SBlue_oficial), onde costumo avisar sobre atrasos, curiosidades, artes promocionais, avisar quando o capítulo novo é publicado e, nesse caso, quando será possível voltar à normalidade. Quando tudo se resolver, esse capítulo será atualizado e essa mensagem será apagada, e vamos esquecer que esse problema aconteceu.

Dito tudo isso, peço as mais sinceras desculpas por esse hiato.



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