Ataque as Torres! Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 8: Caos

O sol era imenso e ofuscante. 

Karlos agarrava o cabo da sua espada de madeira com muita força, parado em meios aos degraus com a necessidade de fazer uma decisão.

“Eu… Eu testei a minha força naquela sala. Posso fazer isso”, pensou, em seguida se virou e foi iluminado pela luz do saguão. “Derrubei até uma parede com um único golpe. Definitivamente posso fazer isso.”

Olhou outra vez para o monstro sentado, que seguia se lambuzando com o pedaço de carne. O seu foco nele era no pescoço inchado — um ponto vital.

“Se eu for rápido e acertar ali com toda minha força, posso matá-lo com um único golpe. O que é um osso comparado ao buraco que fiz nos tijolos daquela parede? Posso fazer isso. Realmente posso.”

Em sua mente estava um sol, uma bola imensa de luz no céu, brilhando o suficiente para cegar, mas era impossível tirar os olhos dela, pois seu resplendor era egoísta, tomava a tudo. 

“A mãe e o pai”, imaginou-os à frente do sol. “Diego.” Depois foi seu mestre, que estava acompanhado da esposa e filha. “Até mesmo aqui há um.” Dante, em seu uniforme de policial, era o último.

Karlos respirou fundo e, após engolir a seco, disparou numa corrida.

“Só que mesmo eles não poderiam evitar várias mortes ao confrontar essa aberração.”

Sua velocidade era impressionante; corria bastante inclinado. E um instante fora o suficiente para achegar-se o suficiente. 

O monstro se espantou com a investida e capotou para trás. Karlos então pulou, pretendendo acertar o pescoço inimigo dali mesmo no ar. O rapaz estava completamente determinado; seus olhos profundos se encontravam em meio a expressão escurecida.

“Então tenho que assumir a responsabilidade. Sou a peste nas sombras que pôde ver as coisas de outra perspectiva, uma quebrada, mas importante. É o dever que só o meu tipo poderia assumir. Fui aquele salvo pelos seus raios brandos e reconfortantes. Tenho que retribuir, não tenho? Sempre tive!”

Ele girou o corpo e a espada foi-se à frente rapidamente, repleta de força.

“Loucura ou não, irei protegê-los com esse golpe!”

O gigante o via pela máscara de pano ensanguentado: o inimigo; então, sem escolhas, gritou o som vindo do inferno. Todo o corpo do Karlos estremeceu e seu ataque bateu contra o concreto ao lado da cabeça, rachando-o. Pavor vazava do monstro na forma de manchas pretas que atravessavam o rapaz igual o estouro de uma névoa.

O interior do Karlos escureceu junto dos seus sentidos. Seu corpo estava dormente; pasmo, tinha dificuldades para segurar a espada e saliva escorria da sua boca.

“Isso foi…!” Ele cerrou os dentes e olhou para baixo com dificuldade, pois seu corpo estava em choque. “Esse maldito é o culpado pelo desconforto que tenho desde que acordei!”

O monstro ergueu-se e empurrou o desafiador para longe como se o fizesse com uma mosca, uma grande. Karlos caiu de costas no chão e rodou rapidamente contra sua vontade, batendo os ossos contra o piso rígido até que enfim a força se dispersasse. Rodeado de poeira, já estava estirado sem forças.

“Foi como se eu tivesse sido jogado num poço de intenção assassina…” Com os braços, levantava o torço, resistindo a dor do impacto. “Essa coisa impregnou esse lugar com essa sensação maldita. Como é possível a manipulação disso? Não, nada nesse lugar já fez sentido, é idiotice se preocupar com isso agora.”

Era devagar, forçado e sua carne gritava por descanso, mas o rapaz tinha que superar a queda, senão o monstro — que já estava de pé — iria matá-lo.

Tendo parado de gritar há tempos, o abominável respirava pesado e era barulhento como um porco. A primeira coisa que fez foi pegar do chão o pedaço de osso com carne e, dessa vez, não era para comer.

— Consigo ver a névoa nojenta…! — disse ao finalmente se pôr de pé. Via ondulações escapando naturalmente do monstro e juntando-se aos tijolos acima, uma versão menos agitada do que a ventania diabólica que o paralisou antes.

Era intenção.

Karlos começava a correr para o corredor do qual veio, porém o fato do gigante caminhar para uma direção que não era a sua conseguiu roubar a atenção dele. 

“Não vai me perseguir? Por que ele tá indo para o outro corredor? O corredor para as escadarias é muito estreito para passar com esse corpo obeso!”

Ao erguer a clava, o monstro golpeou acima da passagem, causando um desabamento de tijolos pelo corredor.

“Impossível!”

Percebendo a ameaça, o rapaz correu com todas as suas forças para a passagem restante. Ao estar perto, presenciou a passagem de um vulto para frente e, depois de um estrondo, as formas de destroços caindo sobre ele.

Os tijolos explodiram com a porrada da clava arremessada e, naturalmente, a entrada restante foi inundada pelos destroços.

Os olhos do Karlos afundaram-se em espanto. O osso estava firmado dentro da parede, triunfante pelo arremesso perfeito; sua existência ali era uma prova do perigo do abominável, do quão grande era. Um lembrete do desespero. 

“Minha garantia…” olhou para as duas rotas de fugas tampadas, depois virou-se para o monstro, que caminhava em sua direção. “Ele me negou minha garantia de sobrevivência! Essa coisa… é inteligente!”

Preparado, o abominável correu — e como era rápido. O rapaz fugiu para o lado oposto da sala e teve a sorte de não ser visado, pois o que o monstro queria — antes de tudo — era sua arma. O osso saia rasgando os últimos pedaços de carne pelas pedras pontudas e o que saiu foi um porrete limpo, pronto para esmagar.

Enquanto corria, Karlos viu acima algumas janelas do andar superior. Longe de ser um raio de esperança, era uma facada em seu coração. Estavam há muitos metros do chão e as frestas entre os tijolos eram pequenas, também não havia tempo para quebrá-las — o lugar perfeito para matar o monstro.

Se houvessem pessoas por lá, poderiam esmagar a cabeça do monstro com pedradas; ao menos era o cenário que o jovem imaginava para o palco.

Desperdício. Não do cenário, mas do rapaz. Desperdício.

A respiração do Karlos piorava à medida que a fadiga crescia em seu coração. Uma situação desgraçada e sua burrice unidas juntos foram para um desastre. Queria morrer. E não queria morrer.

Sol.

Lembrou-se dos dias de treino. Seu suor misturava-se a areia em seu corpo durante os avanços que fazia com sua espada.

De volta a si, ajeitou sua postura para a única coisa que sabia fazer direito: empunhar a maldita espada. A sua respiração e semblante aliviaram-se como uma mágica, de volta à determinação entre o mar de apatia.  

Apenas não queria morrer. Só o que restava.

Karlos correu com todas suas forças. Da perspectiva do monstro era uma barata, uma rápida demais.

Apesar de estar avançando, o rapaz fazia mudanças repentinas na direção que seguia. Não importava onde, queria encaixar uma pancada.

Finalmente próximo, foi engolido pela sombra da clava; o chão cedeu ao impacto e levantou uma nuvem de poeira.

Ao tirar a arma do chão, o monstro viu a falta de sangue e entendeu que tinha errado, então virou-se e deparou-se com o desafiante.

Karlos firmou seus pés e balançou o golpe, que ficou a um palmo das costelas; foi quando o punho desceu sobre sua cabeça e a esmagou.

 A forma do rapaz desfez-se na poeira enquanto o verdadeiro recuava, recuperando-se de quase ter morrido.

Salvo pela velocidade.

“Ah… Não adianta.” Suas mãos tremiam no cabo da espada, dessa vez não era por causa de uma habilidade. “É como naquela noite.”

 Lembrou-se de uma noite na cidade. Era escuro e ele — o jovem Karlos — estava em um beco. Sujo do próprio sangue, talvez dos de outros também. Estava sentado, derretendo no próprio cansaço e amargura.

O sol brilhou sobre seus olhos secos; a polícia havia chegado.

De volta ao presente, Karlos inclinou-se à frente com o rosto transbordando escuridão em um laço. Com uma mão, apertava forte o cabo ao ponto do braço se enrijecer todo.

“A mesma sensação. Exatamente a mesma. Como se eu estivesse destinado a cair no mesmo poço. No final das contas isso realmente é um sonho ruim.” As chamas verdes espalharam-se.

Ele correu.

“Mas desse jogo da morte… eu entendo.”

O monstro sacudiu a clava para afugentá-lo — em vão. Próximo de ser destroçado, Karlos parou e rodou o corpo para trás e, após evitar o impacto por poucos centímetros, continuou a investir até ser estourado por um chute.

Foi um impacto direto no seu tronco, que deformava sua imagem residual enquanto o verdadeiro na verdade se aproximava pelo lado, preparado e ileso.

Karlos liberou uma estocada visando a clavícula do oponente; foi o momento em que o monstro gritou novamente. 

Desconcertado pelo mar de hostilidade lançado contra sua mente, o rapaz perdeu parte do equilíbrio mesmo que resistisse, o que fez sua espada perder o caminho.

“Dro… ga!” Em meio as suas gotas de suor e partículas de poeira — preso ao tempo — enxergava a espada ao lado do pescoço outra vez.

Tendo falhado, Karlos iniciou seu recuo o mais rápido que pôde, porém a clava voltava e voltava mais rápido ainda. Sem chances de evitar a pancada pelo lateral, ele se jogou ao chão e dobrou os braços para a recepcionar.

No toque de raspão na sua defesa de carne, imediatamente suas costas foram repelidas para o piso, que estourou em várias pedras enquanto o jovem voltava ao alto por ter quicado.

O sangue misturava-se ao suor; o corpo girava lentamente; o rosto desorientado demonstrava a perda de consciência.

Karlos caiu de cara. Rígido, derrotado.



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