Volume 1
Capítulo 18: Efeito
Tempo após o início do treino, o grupo de invasão estava reunido do lado de fora da torre. Eles observavam o cenário que teriam que desbravar em breve.
— Vamos ir e voltar na linha reta por esse sentido — explicou Dante. — Como sabem, na noite é tudo escuro e o frio predomina. Se recuarmos separados, tenham certeza de pegarem a direção certa. Nossa torre não tem muita luz, então teremos que nos guiar pelo território inimigo.
— Entendi. Posso ir agora? — disse Gregório, já partindo para os portões sem esperar alguma resposta.
— Mas você é…! — Armstrong ia reclamar, Dante o impediu com o braço no caminho, fazendo um sinal de “não” com a cabeça.
— Deixa ele, é só seu jeito — falou Otávio. — É alguém mais determinado do que parece, afinal topou ir nessa missão arriscada.
— Por outro lado — começou Dante — houve outros que despertaram as chamas, mas foi impossível convencê-los de participar, então os deixei encarregados de defender esse lugar.
— Só nós, huh? — Diego olhava sua palma, vendo brasas azuis surgirem. — Diga, Karlos, percebeu algo novo sobre esse poder?
O rapaz segurou o cabo da espada de madeira, que queimou no fogo verde e transformou-se na katana. Ao retirar a lâmina, levou a bainha na altura dos olhos para ver de perto a geração das chamas.
— Não posso dizer com certeza, mas, as dos monstros que vi, pareciam diferentes das nossas. Nos dois que matei, elas eram vermelhas. Nenhum de nós despertou com essa cor.
— Isso quer dizer que o poder deles não é do mesmo tipo que o nosso?
— Talvez, só que as diferenças acabam aí. Até porque, assim como aquele gordo que matei, vocês ganharam habilidades derivadas das chamas.
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No corredor, os homens encaravam pasmos o gigante que surgiu ao destruir a parede. Karlos estava caído a sua frente, completamente derrotado. Não era sequer possível saber se estava vivo.
Ignorando a entrada, os soldados andavam pelo lugar na espera de uma oportunidade para atacar. Dois deles estavam mortos no chão com a poça do próprio sangue formando-se, golpeados pelas espadas do policial e mestre espadachim. Atrás deles, os quatro segurando as caixas para a tropa de monstros não entrar, só podiam manter suas posições com o medo em seus interiores crescendo devido ao novo patamar de periculosidade que a situação tomava.
— Não me diga… que aquela coisa é o líder deles? — disse Armstrong. — E Karlos caiu ali…! Se ele, que matou aquele gordo, perdeu… então… que maldita chance nós temos?!
O vassalo movia os braços. Da nuvem de poeira, veio a grande espada para suas mãos. Motivo de susto para todos.
“Essa é a habilidade dele?”, perguntou-se Dante. “Mais importante…” Olhou para a cara feia dos soldados à frente e depois para o rapaz derrotado. “Preciso fazer algo, senão essa coisa vai terminar de matá-lo.”
Um dos três soldados avançou com sua espada, percebendo que seu alvo era o Diego, Otávio se jogou com o grande escudo no caminho e defendeu o golpe. Preso à madeira, o inimigo forçava uma passagem, mas a base do homem resistia como uma rocha pesada.
— Eu cuido desse! Vão!
Dante e o mestre espadachim correram adiante, o objetivo era claro: resgatar Karlos.
Os dois soldados restantes atacaram o policial, que teve o seu escudo arrebentado na pancada; próximo, Dante desviou da ofensiva do mais perto e agarrou o outro, selando seus movimentos.
— Agora! — disse para Diego, que ia com uma postura firme, mantendo a espada para cima com o cabo próximo e na altura do ombro.
O mestre espadachim primeiro repeliu o golpe do soldado, resultando nos dois — atacante e defensor — abalando-se pela força do choque nas lâminas. Ambas racharam, equivalentes. Depois o homem rugiu ao seguir com uma estocada no pescoço no inimigo abalado. O corpo dele desabou e, considerando os danos no equipamento, Diego não fez questão de recuperar a arma presa na carne.
Perto, Dante se responsabilizou em conter o monstro restante enquanto o mestre espadachim corria para ajudar Karlos.
Vendo que o gigante estava prestes a apunhalá-lo, Diego chutou um dos tijolos espalhados pelo chão, acertando a cabeça do vassalo.
Ainda surpreso com o próprio feito de atordoar o vassalo, o homem aumentou o passo até pegar o rapaz e voltar no mesmo ritmo desesperado. Voltava com o olhar para trás. Seu semblante estava suado pela tensão, afinal o monstro precisaria de pouco tempo para se recuperar.
“Deu certo!” Diego se focou para onde ia. Estava aliviado e parecia ter envelhecido alguns anos por causa do estresse. Sorridente, seus passos iam com toda a força. “Seja firme, Karlos. Temos que voltar para Eva, não é nossa hora de morrer!”
Adiante, o mestre espadachim via o rosto dos seus companheiros se tensionarem cada vez mais. Sem entender, a sensação de estranheza o impregnava. Apenas quando Dante fez o gesto de descer com a mão, ele entendeu que era perseguido: a forma medonha do vassalo estava atrás, encarando-o de bem perto.
Diego saltou para baixo, desviando de um balanço pesado da grande espada. Pela pressa que teve para esquivar, caiu de mau jeito e derrubou Karlos. Mas estava vivo, é o que importava.
Ao levantar o torço, ele engoliu a seco ao ver a arma emperrada na parede. Que loucura!
Do outro lado, Otávio estava ocupado com o soldado mordendo seu escudo, equipamento que rachava mais e mais. Acertá-lo com a clava iria criar uma abertura, então restava suportar. Apesar da pressão que levava, a sua preocupação principal não era nos monstros, mas em Dante, que estava com uma expressão horrível, cheia de trevas, apertada com um olhar insano cravado no gigante.
— Se controle, Dante! — falou Otávio, forçado a uma pausa longa pelo empurrão do monstro. — Eles ainda estão vivos! E aqui é pior que em um tiroteio, se mantenha com a cabeça no lugar! Tá me ouvindo?!
Com a falta de reação, teve certeza de que suas palavras foram em vão, então xingou.
Diante do homem abaixando a guarda, o monstro não hesitou e tentou perfurar seu coração com a espada, em resposta Dante virou-se todo e a lâmina apenas raspou em seu braço — o bastante para o sangue sujar boa parte do metal. Por fim ele se aproximou e furou o bucho do soldado — ao torcer o cabo, garantiu que seria fatal.
“Ele já perdeu o controle!”, pensou Otávio.
Ao tatear o solo, Diego achou uma espada — sua oportunidade. O vassalo tinha atacado com muita força, por isso, tirar a grande espada do concreto prometia levar tempo, tempo que ele precisava agarrar. O mestre espadachim levantou duma vez e foi direto para uma estocada; ele foi chutado no meio do peitoral, tendo seu interior amassado antes que fosse repelido para longe. Falha.
Sua queda foi seca, sem resistência. Enquanto a grande espada saia da parede, a situação era tingida com um tom pior. A situação era a pior.
Restava um soldado e o vassalo, assim como restava a dupla de policiais carregando o peso da humanidade. Uma piada ruim com o destino.
Atrás nas caixas, uma lâmina atravessou-as e surgiu perto da cabeça do Jorge, que, ao vê-la ser retirada e entender que ficou à beira da morte, vomitou. Para Gregório, Ritsu Armstrong, acabava de ficar ainda mais difícil empurrar as caixas.
— Dante! Mate esse! — disse Otávio, preso à persistência do inimigo. Nenhuma resposta foi dada. — Droga! Acorde e me ouça! Inconsequência contra essa coisa só vai te matar!
Como se hipnotizado pelo próprio demônio, Dante começou a caminhar à frente em busca do vassalo. E era justamente por causa dessa sua atitude que ele não matava o rapaz, pois havia a besta de sombras com as presas no seu pescoço. O mesmo valia para o policial, que nos passos ignorava a gigantesca lâmina prestes a parti-lo em dois. Abaixar a guarda era igual à morte, ainda sim, a diferença nas monstruosidades deixava claro quem tinha a vantagem.
Dante parou, forçado — jogado de volta ao cenário do corredor. Era o mestre espadachim quem puxava seu manto.
— Que tal esperar um pouco? — Caído, Diego mantinha um sorriso manchado de sangue; seus olhos mal conseguiam ficar abertos. — Valeu pela ajuda… — levantava-se o usando como sustento, mesmo com isso a intensidade continuava cravada em Dante.
“Proteger as pessoas” estava cravado na mente dele. O combustível da sua loucura era ver tal frase surgir e ser pisoteada pelas lembranças das pessoas sofrendo desde que vieram a esse mundo. E à frente, havia um grande culpado com uma vítima próxima.
Karlos continuava apagado… com a espada firmada em sua mão.
— Senhor… se você morrer, quem irá proteger todas aquelas pessoas? — disse Diego em seu raro tom sério. Estava acabado e, da sua forma, a raiva do que o monstro fez com ele e alguém importante para si, queimava em seus olhos. Ao contrário do que se imaginava, seu objetivo estava longe de ser parar — Então… me deixe ajudá-lo a ganhar e voltar com vida. Eu quero me vingar também!
Casualmente, acalmadas, as cores retornavam à face do Dante.
— Certo.
Era gritante: como derrotar a aberração? Karlos falhou e, o restante, tinha sérias dificuldades para lidar até com os soldados. Seus ferimentos diziam para recuar e tamanha idiotice era ignorada, pois o andar em que estavam… Mesmo sendo uma ideia por instinto, era ridículo.
Um avanço de todos contra ele? Ridículo.
Tentar abrir caminho pela multidão de monstros? Ridículo.
Distrai-lo? Ridículo.
Era realmente impossível para os homens derrotá-lo. Um raio tinha que cair, senão a esperança seria esmagada. Ele tinha que cair.
A qualquer custo.
Cansado da limiar de tensão, o vassalo a estourou ao arremessar sua espada. Dante e o mestre espadachim desviaram se abaixando, apenas Otávio percebeu imediatamente o que aconteceria se a lâmina continuasse no trajeto: o grupo atrás seria abatido, definitivamente. O homem esbravejou e com o que tinha em mãos, lançou-se na frente.
O soldado foi transpassado no peitoral; o escudo despedaçou-se; sangue vazava do policial atingido. Ao menos, a grande espada caiu — atravessada nos três — antes de ferir o grupo nas caixas.
O gigante mexeu os braços em preparo para retornar a arma; Dante abriu bem os olhos, entorpecido demais para lamentar a morte, ao invés, foi honrá-la: avançou com todas suas forças.
Era uma flecha cortando o campo de batalha, carregando o mestre espadachim consigo. Naturalmente, a visão do gigante poderia acompanhá-lo — poderia reagir. Com esses dois braços imensos nesse lugar estreito, seu alcance era imbatível. Pensando nisso, Karlos perfurou um.
De pé, seu sangue deslizava. O monstro estava paralisado em surpresa com o ataque repentino de um praticamente defunto, seu braço havia sido atravessado inteiramente pela katana em chamas.
Para fechar, Karlos segurou a ponta da espada enquanto continuava com a demais no cabo, pronto, ele deslocou o braço num estouro súbito do seu fogo verde e o sangue negro, destruindo o membro.
Com o instante que aguardou em meio a tanto afinco se concretizando, o rapaz não conseguiu deixar de rir. Foi a distração perfeita — o sacrifício perfeito — socado no rosto após todo o êxito, com toda a fúria do monstro. O resultado era de ser jogado para longe com a face banhada em vermelho e seus dentes voando.
Dante se aproximava.
O vassalo se virou, empenhado a sobreviver, de cara para os sanguinários últimos rivais. Sem escolhas, usou o braço restante como porrete e atacou, foi quando Diego tomou a dianteira e agiu como escudo. Mantendo os braços levantados como guarda, ele levou a pancada e foi jogado contra a parede ao lado, rachando-a.
Dante se aproximava e, com o oponente arqueado pelo último ataque, nada mais poderia pará-lo.
No pouco tempo de treino que tiveram para se conhecer melhor, parte dos que despertaram as chamas descobriram suas habilidades.
“Talvez eu seja forte por causa dessas explosões”, Karlos poderia liberar grandes quantidade de aura de uma vez, então julgou como uma habilidade de melhora física e ataques externos. Diego descobriu a sua ali mesmo; ao levar o chute, ficou a um passo da morte, mas caiu em cima do corpo de um soldado e pôde se recuperar em parte roubando as chamas residuais, e foi graças a essa vitalidade que pôde assumir o papel de escudo.
E a última habilidade…
O policial agarrou a cintura do vassalo junto dos braços, com tanto aperto que os membros entre eram redundantes. As chamas amarelas transbordavam. Feito isso, ele se fez cair ao lado com o monstro e o bateu — com cabeça e tudo — contra a parede.
O poder do Dante era de aumentar o peso continuamente.
Os tijolos estouraram; o muro cedia. Envergado por lá, o gigante estava arrasado. Pela forma que tinha convulsões, o elmo não conseguiu proteger seu cérebro, mas as suas mãos — as tatuadas — seguiam com influência na espada, que começava a levitar; Dante chutou-o na cabeça e terminou de destruir a parede, abrindo caminho para a cegante luz do exterior entrar.
Seu peso das chamas foi adicionado e, por fim, o corpo caiu da torre.