Ataque as Torres! Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 17: Previsão

A espada arrastava pelo chão.

O líder da torre era uma criatura com quase três metros. Diferente do vassalo gordo, seu corpo era magro e estava coberto por um manto preto com pontas rasgadas. Suas pernas e braços eram longos e acinzentados, mórbidos. 

Os dedos avantajados dele tinham unhas grandes, as duas mãos serviam ao propósito de segurar firme o cabo da arma e — a arma — a espada de dois gumes era pesada ao ponto dos seus músculos ficarem constantemente enrijecidos. Era demais para uma pessoa usar. O revestimento até a ponta da lâmina era de um metal avermelhado enferrujado, tipo de metal que era compartilhado pelo seu elmo espartano que ocultava o olhar insano nas sombras.

Karlos reparou no lugar: era um salão com o piso coberto pelo tapete vermelho encardido. As paredes eram arredondadas e formavam uma cúpula de concreto com os pilares. Pela falta de alguns tijolos, holofotes do sol eram o que iluminavam a ruína.

“Estou estranhamente calmo”, pensou. “Posso fazer isso.”

Tendo uma visão clara do invasor, os passos do monstro ficavam pesados — em preparo para correr. Ele inclinou-se à frente e — por baixo do elmo — sua boca enlargeceu-se, rugindo, anunciando o início da luta.

Com as chamas verdes transbordando da katana apontada para o oponente, Karlos o esperava.

Na outra sala, os homens ouviram o rugido.

Os quatro selando a porta, empurravam as caixas com todas suas forças e impediam a chegada de novos inimigos. Colocavam tanto esforço que não tinham tempo sequer para pegar novas caixas, ouvindo com desespero o som excruciante da madeira da porta sendo rompida e os berros das criaturas. Sem opções, lhes restavam assistir — dessas posturas desconfortáveis — e torcer pelos aliados adiante prestes a enfrentarem as aberrações da sala darem um jeito na situação.

— Parece que começaram — disse Diego, que mantinha um sorriso nervoso. Os cinco soldados aproximavam-se, cautelosos. — Também temos que fazer algo aqui.

— Não deixem que cheguem nas nossas costas! — Otávio estava com o grande escudo à frente, segurando-o como os que usou há tempos na polícia.

— Priorizem a proteção dos quatro e não o ataque! — falou Dante.

— Certo!

Os monstros avançaram e os homens prepararam-se para resistir ao embate com a mortal desvantagem.

De volta ao salão, Karlos pulou para o lado e desviou da espada, que explodiu o chão. Ao rolar para o lado e parar, via o gigante recuperar sua postura do poderoso balanço, o encarando continuamente com as duas esferas dentro do elmo.

Tendo estendido a perna e, com isso, abaixado o centro de gravidade, o monstro girou com a espada; o ar espalhou-se intensamente enquanto Karlos recuava às pressas com um salto. Seus pés descalços deslizaram pelo tapete, freando-o numa nuvem de poeira que rodeava o local. A enorme lâmina foi apoiada no ombro, o gigante simplesmente o esperava.

Caindo ou não na provocação, recusar o convite estava fora de questão.

O rapaz disparou com a postura abaixada ao limite — seu rosto estava próximo de raspar no chão — e correu com a katana atrás. Enquanto unido ao vento, via o monstro pelo olhar levantado. O vassalo levantou e segurou firme no cabo, virando o torço como se fosse arremessar um arpão. Ele parou assim, com a calma de pescador.

Quando a presa se aproximou o suficiente, o gigante atacou com uma estocada repentina; a lâmina estourou o piso e, Karlos, que deveria ter sido empalado, havia passado e cortado-o junto do espalhar intenso das chamas verdes. Ele parou à frente numa postura pós golpe e, por fim, sangue escuro esguichou do monstro.

“Foi fundo!”, pensou o espadachim ao se lembrar a parte do torço que feriu, virando-se em preparação ao próximo combate. “Com esse ferimento, é só uma questão de tempo até que…”

Para sua surpresa, os fios do manto negro interligavam-se por cima do ferimento e continham a saída de sangue ou tripas. O monstro tirou sua espada dos destroços, uma figura sombria para o rapaz, que em seu interior aceitava que, com a dificuldade crescente, o fim estava distante.

“É o poder das chamas dele?” Ele notou os traços de partículas vermelhas espalhadas pelo ar. “Fazê-lo sangrar será inútil? Esse corpo… Que piada de mau gosto. Precisa ser um golpe fatal ou ele não vai cair.”

Vapor saiu aos montes quando o vassalo expirou.

Assim que parou de sangrar, ele balançou a espada contra o invasor, que só pôde abrir mais os olhos em surpresa a velocidade do ataque.

Karlos se esquivou ao abaixar por reflexo, espantado. Ao levantar, sua visão encontrou-se com a do monstro olhando-o de cima — onde vai?

“Posso fazer isso.”

O rapaz pisou forte à frente, girando a espada carregada de chamas enquanto rangia os dentes numa expressão raivosa; o gigante desviou para o lado numa velocidade que ignorava suas proporções.

De cima ele atacou com a grande espada, explodindo os tijolos. Um corte surgiu no braço que a empunhava no erro — Karlos, ileso, avançava para outro patamar de velocidade. 

O rapaz pulou e tentou cortar o pescoço do oponente por trás, mas o inimigo se abaixou e deixou o borrão de luz verde passar pelo nada.

Depois, o gigante revidou lateralmente, mas abaixado o adversário era como uma barata.

A situação se repetia e não parava. Cortes iam surgindo pela pele de ambos; no caso da aberração, logo eram fechados pelo manto.

A situação se repetia.

A situação se repetia.

E a situação se repetia.

Dos membros do gigante saia vapor, sua pele era tomada por um tom avermelhado e tatuagens tribais surgiam em suas palmas. Cada fibra do corpo do Karlos estremeceu com a visão, lembrando-se do acontecimento na luta contra o vassalo gordo e, acima disso, havia essas tatuagens desconhecidas chamando sua atenção. 

Era ali que começava.

Notando que o perigo escalava para outros patamares, o espadachim fez a bainha da katana liberar o máximo de chamas, uma tempestade de poder que se espalhava.

O monstro baforou, vendo-o com os olhos vermelhos; Karlos irou-se ao ponto das íris sumirem. E assim começou.

Com as duas mãos o gigante balançou a espada para baixo; Karlos deslizou debaixo e cortou a coxa dele.

No segundo ataque lateral, o espadachim avançou novamente para cortá-lo, interceptado por um soco nas costelas que o torceu. Seus ossos trincaram. E ele foi repelido para longe; perseguido: o vassalo golpeou com a arma, que deslizou pela katana no arrumar da postura do adversário.

Karlos cortou-o no peitoral, em resposta o oponente o acertou com o cabo da espada, jogando-o outra vez para longe.

A poeira movia-se quase nada, afetada pelo tempo lento.

Ao recuperar a postura, o espadachim deparou-se com a ponta da espada prestes a perfurá-lo; ele virou o pescoço e a lâmina passou cortando seu ombro antes de explodir a parede. 

“Arremessou?! Por quê?!”

Apesar do ferimento, Karlos agarrou a oportunidade e correu na direção do oponente. Próximo, desviou da tentativa de agarrá-lo e, com a katana, espalhou um corte largo pelo tronco, ferida da qual as chamas saíram fortes. 

O rapaz respirou fundo e continuou: esquivou de um soco, então o cortou, cortou e cortou, mas antes do quarto golpe, levou um chute na lateral que o jogou para longe. Como um boneco.

Enquanto rodava, ele se certificou de pegar a katana que caia perto e apressou-se em levantar.

De pé, tossiu sangue. O manto por seu ombro estava todo vermelho, por baixo, restava a dor ardente. 

O gigante mexia os braços e mãos com movimentos ágeis e leves, que Karlos observou com estranheza sem entender, afinal estavam longe, então qual o propósito?

Um calafrio percorreu-o ao ouvir um ruído metálico. Era a grande espada que o emitiu e ela estava acima da cabeça do espadachim, flutuando, pronta para cair. Longe, o monstro mostrava a palma com tatuagem intimidadora, por fim, abaixou a mão.

O chão foi estourado. 

Karlos saia dali com as costas cortadas, revirando a face pela dor e preocupação.

“Três habilidades de chamas?!” Se distanciava o máximo que podia da espada que se erguia sozinha do solo. “O gordo tinha só duas…! O ‘grito de pavor’; e o ‘fortalecimento de físico’ que esse aí também usa. Mas além de se curar com o manto e se fortalecer, o cara também consegue manipular sua arma pelo ar?!”

“Foi idiotice igualá-los por serem vassalos, o que tá na minha frente é definitivamente mais perigoso!”

Antes que pudesse ter um descanso apropriado, a espada veio em sua direção, forçando-o a desviar e deixá-la seguir raspando no concreto. Com a conclusão da falha, ela subir para entrar em preparo para o próximo uso. A velocidade da arma era espantosa; o monstro movia rápido os braços e ela acompanhava.

O espadachim ia de um lado a outro, causando enorme destruição pelo salão. A cada descer da palma do gigante, ele tinha que desviar desesperadamente, saindo das nuvens de poeira com novos cortes que, se um pouco mais fundos, teriam encerrado sua vida. O seu manto se tornou em trapos e, com os pedaços que pegava, amarrava-os nas feridas mais urgentes.

“Esse monstro…!” Com a última esquiva, ganhou uma chance para respirar e pensar. “Não pode viver! O que foi o esforço de todos se eu falhar? Sou ingrato assim?!” Abaixava-se com o humor perto de explodir em estresse. “Vou dar um jeito. A qualquer custo.” 

A grande espada caiu sobre sua cabeça — da imagem residual —, o verdadeiro Karlos avançava como um míssil mirado no inimigo.

O vassalo girou as mãos e o rapaz viu. Alertado de como a arma vinha, ele parou e a deixou bater adiante, mas diferente do que previu, sua posição não era segura, pois do chão a lâmina voou em sua direção. Sair com apenas um corte no braço foi um milagre.

No ar, as gotas de sangue tremiam com a dificuldade de manter suas formas. Com os laços vermelhos saindo do seu corpo, Karlos corria pelo lado.

Outra vez a lâmina veio em sua busca; ele pulou e a evitou. De baixo a lâmina veio; ele rolou. Os pedaços de concreto voaram. De cima a lâmina veio; ele aumentou sua velocidade; o chão foi amassado.

Explosões e explosões, e de todas Karlos saia vivo, rugindo com cada vez mais sangue abandonando seu corpo arrebentado. Forçar ao limite lhe deu o queria: o gigante a curto alcance.

Prestes a ser destroçado pela volta da espada, ele saltou à frente da postura excessivamente inclinada; o vassalo reagiu com um soco reto, então o espadachim caiu rodando por baixo das pernas dele e cortou a virilha numa única passada da katana.

Ofegante, Karlos levantou desapontado. Apesar do sucesso, era apenas um “sucesso”. O melhor dano que pôde causar estava longe de ser o suficiente. E como imaginava, a carne que rasgou já era tampada pelo manto. 

A grande espada voou de volta para as mãos do dono. Pesado, porém o monstro não se afetou. Pronto, ele a balançou adiante com toda a força que tinha; o rapaz recebeu o impacto com sua katana e mesmo desviando o golpe para o lado, a força da pancada o distorceu como se esquecesse da forma do seu corpo.

O chão estourou e o espadachim foi arremessado como um vulto para a parede, que cedeu em pedaços na colisão.

Não acabava.

Lá, pelo solo, ele estava sentado com o corpo fraco. As mãos tremiam e mal conseguiam se firmarem no cabo. Com ele nesse estado, o monstro lançou a espada enquanto investia, forçando o espadachim a sair do caminho. Tendo transpassado a parede, a ponta da arma mostrou-se do lado de fora da torre, fincada entre os tijolos.

Não acabava.

De pé, Karlos atacou o monstro, surpreendo-se com ele parando seu golpe com o braço. Após, o vassalo socou-o na face, a primeira pancada das muitas que daria.

Sangue manchava o piso.

Não acabava.

Pelo contorno do salão, o rapaz era espancado e empurrado. Nas vezes que tentava revidar com a katana, suas ações saiam fracas e eram lidas pelo oponente, que ao sair do caminho dos cortes, era recompensado com as aberturas que o permitiam esmurrá-lo à vontade. Ele tomava para si a liderança absoluta, afinal lhe era cedido de bandeja.

Não acabava.

O rosto do espadachim estava deformado, mal conseguia manter os olhos aberto e estava sujo de sangue. As bandagens que usava foram rasgadas e a parte sem carne da sua mandíbula estava exposta, banhada de vermelho.

Numa súbita concentração de ímpeto, Karlos jogou uma perna à frente e, usando todo o corpo, atacou. Formava um intenso arco no ar com o balanço alto da espada, disso a forma do seu corpo espelhava-se em duas: uma atacava de cima e outra de baixo.

Sua mente vazia seguia o que lembrava.

“Técnica Secreta: Lua Ru…!” Ele foi chutado na barriga — interrompido. Com o sangue transbordando da boca, suas costas bateram no muro, um rachando em pedaços.

Derrota.

O restante depois disso, para ele, eram lapsos confusos do monstro socando-lhe sem nenhuma piedade; os punhos sujos de vermelho; imagens distorcidas do salão atrás; as pedras caindo cada vez em maiores quantidades. Era soterrado? Apenas o que…?

“Isso é diferente…” Lembrava-se ele do vassalo gordo e de como conseguia se livrarde todos os ataques mortais e da liberdade que tinha para golpear. “Ele era do tipo ‘força’, então tive sorte de ter sido logo esse tipo? Mas esse é diferente, é técnico, rápido. Agora entendo. Desde o início era um jogo de combinação que eu não daria conta, porque na minha frente há alguém superior em tudo.”

A parede cedia e Karlos era afundado. No desfecho, ele foi jogado para fora, não da torre, mas para o corredor espaçoso. Estirado com a frente para o alto, sua situação era terrível — não para seus olhos, que ao invés do teto velho, enxergavam apenas um brilho forte, como se estivessem na presença do sol.

“Eu perderia sozinho… Realmente queria fazer tudo sem envolver os outros…”

Seu surgir repentino surpreendeu Dante, Otávio e Diego, recentemente envolvidos nas lutas contra os soldados. Pelo buraco criado, o vassalo se abaixou e entrou no local para dar um ponto final à caça dos ratos.

“Só que com vocês… posso matá-lo.”



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