Ataque as Torres! Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 14: Ouro

— Nada está acontecendo… — comentou um dos vigias na torre, vendo Dante e o gigante parados no deserto.

— A coisa não o atacou — disse outro. — E eu achando que era loucura esse plano.

— Então… o que vai acontecer agora?

— Sério, não me pergunte… 

Após alguns minutos, Dante retornou — não simplesmente. Era companhado pelo desconhecido. Como o esperado, os passos pesados, tamanho e aspecto da criatura impressionaram os vigias, que capotaram para trás pelo medo. Próximo, o policial pediu para a criatura esperar e foi falar com os homens acima:

— Está tudo bem! Ele não é um inimigo!

— Só pode estar brincando, Sr. Dante! — Alguns se abraçaram ao serem encarado pelo abismo, tremendo como animais medroso. — Tem certeza?!

— Sim! Se ele fosse uma ameaça, eu já estaria aos pedaços, não acham?! Se apressem e digam para abrirem os portões!

— Mas…!

— Me escutem! Quem está diante de vocês — estendeu as mãos na direção do monstro — é um comerciante!

Os portões foram abertos. Tempo havia passado. Em contraste a maioria dos homens recuados no fundo do saguão, quem saiu foi Otávio, desconcertado com a vista surreal, mas conseguia força para se aproximar.

— Fez bem em convencê-los — disse Dante.

— Levou algum tempo… Um comerciante, huh? Ele realmente consegue nos entender?

Sim. Dominar sua língua não foi um desafio. O gigante abaixou para conversar. Seu tom poderoso transmitiu calafrios por quem ouviu. Vim hoje para conhecer os visitantes desta terra e, quem sabe, começar um proveitoso relacionamento com a nova clientela. Mas que tal continuarmos essa conversa lá dentro?

— Dentro?!... — falou Dante. — Ah… Peço desculpas, só que com o seu tamanho, passar pelos portões é… 

Ah! claro! Que indelicado da minha parte! Ha ha ha!

Ao chacoalhar com o vento, o manto apertava-se em proporções menores assim como o comerciante dentro, cada vez menor. Os braços pequenos com mangas folgadas ergueram-se, o tamanho da cabeça destacava-se por ter o tamanho de uma bola de basquete. Após pouco tempo, ele havia se reduzido ao tamanho de uma criança.

— Impossível! — exclamou Otávio, recuando em passos.

Esta aparência deve ser confortável para vocês. Estendeu os pequenos braços. Podemos entrar agora?

— Sim… — responderam os policiais, incrédulos, ainda sim o acompanharam. “Ter essa voz com esse tamanho ficou ainda mais estranho.”

Dentro do lugar, os três usaram caixas como assentos e a multidão se amontoou atrás dos policiais. Haviam dado uma vasilha com água para o comerciante, que precisava usar as duas mãos para conseguir levantá-la a boca. Os homens entortavam-se, tentando — em vão — ver o que acontecia debaixo dessa escuridão do manto.

Pela qualidade dessa água, imagino que estão passando dificuldades nada pequenas. Imagino que a comida também se tornou um recurso escasso, assim como a falta de armas, não é, Sr. Dante?

—  Exatamente. Se não se importar, gostaria de ouvir nossa história, senhor…?

Comerciante. Prefiro que me chame apenas disso.

— Tudo bem. Então, vamos começar… 

Muitos minutos se passaram desde a conversa. 

Entendo. A situação de vocês é realmente preocupante.

Condescendente, o monstro balançou a cabeça.

Jogados neste deserto sem saber o motivo com poucos recursos e expostos aos ataques de fora… Devem sentir-se nervosos.

— Sim — disse Dante, que seguiu indo ao que mais queria alcançar com essa conversa: — Nos diga, o que é esse lu-

Sou apenas um vendedor ambulante. Nada mais, nada menos.

Todos fecharam a cara com a intervenção, pegos de surpresa pelo ego do desconhecido.

A única coisa que posso fazer por vocês é vender. Querem comida? Água? Armas? Armaduras? Ferramentas? Ou objetos? O que puderem pagar, lhes darei. Então… o que será, Sr. Dante?

— Arg!… Entendi. — Dante fechou os olhos e segurou a testa, pensativo. Determinado, logo deu sua resposta: — Informações. Me venda elas.

Ha ha ha! Como desejar.

Os murmúrios espalhavam-se. 

Antes de entregar o produto, preciso receber o pagamento. Creio que consiga imaginar qual é.

— Dante? — disse Otávio.

— É. Vamos ter que pega aquela caixa.

— Entendido.

Os à volta ficaram confusos com os últimos comentários.

O tempo passava.

Do lado de fora da torre, o policial desenterrou a caixa. Ao colocá-la à frente do comerciante, barulhos metálicos soaram. Os homens tinham olhares curiosos, soltando comentários como “aquilo não é comida?” ou “o que fez esse som?”.

Quando Otávio tirou a tampa, os olhos deles se arregalaram. O que havia dentro eram moedas de ouro — muitas! E o reflexo do sol nos metais os tornavam brilhantes, provando-as como verdadeiros.

— Me escutem — disse Dante para o grupo. — Durante a exploração dos depósitos, eu e Otávio achamos esse ouro. O motivo para o escondermos era por ser uma ameaça a união do grupo. Eu realmente omiti a descoberta, e creditar no bom intuito disso é algo que devem pensar por si mesmos. Agora, como surgiu uma necessidade de usá-lo aqui, pelo bem de vocês o usarei sem receio.

Antes que os comentários surgissem, emendou:

— Esse indivíduo em nossa frente é nossa esperança para sobrevivermos! Querem continuar perdidos? Querem novamente ser atacados enquanto indefesos e sem saber de nada? Temos que agarrar essa oportunidade!

Apesar da repentinidade da situação, foi rápido para os homens confiarem em suas palavras. Claro, haviam descontentes entre eles, como Gregório, mas o peso da gigante maioria conteve seus ânimos sobre o assunto.

Isso vai dar. É adequado. De frente para a pilha de ouro, o comerciante pegou uma porção por capricho. Escutem-me com atenção. Irei-lhes contar como funciona a realidade nestas terras, essas que são conhecidas como o Pais da Degradação.

Um deserto imenso que ninguém nunca encontrou o fim, banhado por tempestades cruéis de vento e um sol vigoroso.Esse é o tabuleiro em que se encontram.

— Um tabuleiro?... — Dante levantou-se em surpresa.

Sim. Até onde seus olhos alcançam e não alcançam no horizonte faz parte dos domínios de uma entidade. Se vocês estão aqui, significa que foram escolhidos como os “novos brinquedos”, presumo. A mensagem que citaram estar cravadas em suas mentes é a prova disso.

— Não pode ser! Por um motivo desse fomos…! — disse um entre os homens, confusão que representava a todos.

Os seres que chamam como “monstros”, são os servos do dono dessas terras. Afetados pela influência da entidade, são criaturas com falta de sabedoria para qualquer coisa além da guerra violentas com estranhos, como já sentiram na pele. Ou seja, comunicação com eles é impossível para seu grupo. 

— Mas por você não seria possível? — perguntou Otávio.

Não… Tentar outra coisa além de negociar recursos com eles não traria nenhum resultado que seria proveitoso para mim. São loucos corroídos, coloquem isso em suas cabeças. Apenas desistam por completo de qualquer pensamento ligado a essa possibilidade.

Os homens decepcionaram-se enquanto Dante subiu uma sobrancelha em estranheza a reposta. O discurso continuou:

As torres são onde os servos da entidade vivem. Existem em grande variedade e, essa em que estão, se trata de uma abandonada recentemente como última em um extremo do território. Qualquer ato dos servos por aqui, provavelmente se tratava de algum capricho que resultou na descoberta do seu grupo.

Isso é tudo.

— O que temos que fazer para voltar ao nosso mundo?! — disse Dante.

Minha pessoa poderia terminar de falar aqui, pois era tudo que o pagamento que tinham cobria, mas como o nosso primeiro negócio, ao menos direi o que devem fazer para sobreviver. Sim, não direi como retornar ao seu mundo e se isso é ao menos possível. Consigam mais ouro.

Para que seu grupo possa viver, vocês não têm escolha fora a de matar e roubar como uma milícia ou bandidos. Vocês devem conquistar as torres. Aqui é a sobrevivência do mais apto, apenas.

Invadam as torres com o uso das suas inteligências. Destronem o “líder” e serão suas para viver, mesmo que por um curto tempo.

Mais nenhuma palavra sairá da minha boca sobre o assunto se não puderem pagar. Entendam que é o meu ganha-pão.

— Por favor, nos conte mais! — pediu um da multidão. Estavam perplexos, afetados pelo desespero crescentes em seus interiores.

Não.

Os calou.

Lembrem-se de que também sou um “monstro”, falta-me certos sentimentos que possuem. Sou neutro e apenas o dinheiro mexe nessa balança, ha ha ha! Naturalmente, mesmo com essa abordagem, gostaria que mantivéssemos uma relação amistosa, posso aprender muito com as visitas ao seu povo estrangeiro. Talvez até “isso” que me falta.

Enfim, sobrou pagamento, se não quiserem usá-lo hoje, que essa visita acabe por aqui. 

A decisão foi feita. Após poucos minutos, o comerciante derrubou o ouro sobre sua face, escuridão que os recebeu como um bolso infinito.

Da próxima vez, pergunte-me sobre os objetos que carregam consigo. Tenho certeza que possuem curiosidade com o motivo de os carregarem desde o seu mundo. Agora, Sr. Dante, pode acompanhar-me até a saída?

— Certo… — Dante estava abatido. Pela responsabilidade que sentia, levantou-se.

No caminho até o lado do lado de fora, houve homens transtornados implorando por ajudar e também aqueles que xingavam o desconhecido; os mais cientes do perigo, rapidamente se preocuparam em conter os mais exaltados. Por bem ou por mal, o comerciante não se importou.

— Obrigado por sua ajuda. Espero que possamos terminar essa conversa em outra oportunidade — concluiu Dante.

Sim! Minha pessoa torcerá para que não sejam exterminados até lá. Se continuarem vivos, certamente nos veremos de novo.

No chão de areia, ainda trocaram mais palavras. Palavras importantes. Depois, foi rápido para que o anão se fosse pelo deserto, desaparecendo como algo insignificante em contraste ao seu surgir na forma colossal. E ele partiu pelo lado em que não haviam torres, para onde ia?

Restava, para a humanidade, as inúmeras dúvidas.

 

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Era noite. Diferente do dia — em que havia o sol — durante a noite estava tudo escuro, coberto no alto pelas nuvens agitadas. No horizonte, o brilho de raios estourando mostrava-se.

Dante caminhava pela escadaria. Havia falado recentemente com as pessoas, então o cansaço transparecia em seu semblante sério; quantas noites teria burlado antes? Na mão levava uma sacola de pano.

Perto da sala médica, ele fez uma pausa e conferiu os locais em que lutou contra os soldados. Ainda havia as manchas de sangue — fizeram o melhor que podiam sem sabão. Onde o homem foi apunhalado, Dante se abaixou e sujou os dedos com farelo ao passá-lo pelos degraus, imaginando claramente o corpo do morto com uma expressão desesperada.

No estalo da maçaneta, a ilusão quebrou-se.

— Oh! Era você que estava aí, Sr. Dante — disse o homem que saiu para conferir os ruídos.

— Sim… Boa noite, Sr. Diego — Levantou-se e foi para dentro da sala. — Sua filha foi para cima?

— Foi fazer companhia para uma amiga que tá muito mal.

— Entendo. E como está o rapaz? Chegou a acordar?

— Nada. Como seu corpo fica cada vez mais fraco, talvez pedir por isso seria demais.

— Não, é o mais importante agora.

— Hã? O que quer dizer com isso?

Sentado, o policial derrubou os pertences da sacola pelo chão: três rochas amarelas — brilhantes. Eram as pedras de cura, vibrantes em seus contínuos auges. Prontos para salvar.

Se permite-me recomendar, falou o comerciante em sua lembrança, acima de mais informações, deveria investir o restante do ouro em salvar o jovem que descreveu.

— Tem algo que possa ajudá-lo?!

Tenho, mostrou os três itens. São “pedras de cura”, podem resolver as piores feridas se as tiver na quantidade certa. Escute, elas só funcionam se o ferido estiver ao menos semi-acordado, afinal as chamas estariam ativas… 

— “Pedras”?...

Está em um lugar, que da sua perspectiva, é uma realidade fantasiosa. Sr. Dante, ainda existe algo que não consiga acreditar? 

Fora da lembrança, Diego comentou:

— Eu estava responsável pela guarda na sala de cima, então nem imaginei… E pensar que aquela criatura tinha isso. Isso é, se for verdade.

— Realmente há muito o que questionar no que ele nos disse, mas se queria mesmo manter uma boa relação conosco a longo prazo, então me parece seguro confiar… por mais bizarro que seja.

— Ouviu, Karlos? — Mesmo que soasse bobo, disse Diego para o desacordado. — É sua batalha, tem que acordar. Não há hospitais; não há pessoas vindo nos ajudar; não há nada para nos apoiar. Então, precisa fazê-lo, se não, como vai realizar seu sonho idiota de ajudar as pessoas?

Dante surpreendeu-se com a última frase, continuando a observar em silêncio. O tempo passava e os homens o matavam com conversas. No fim, o policial partiu deixando os objetos para trás enquanto o mestre espadachim arrumava-se em um canto para dormir.

No fundo de um buraco escuro se encontrava Karlos. Dentro do poço, seu corpo estava rodeado por um líquido gelatinoso, que o mantinha deitado da mesma forma que na realidade. Do lado de fora, ele olhava fixo para o céu sombrio — sem sol.

Satisfeito com a vista? A pergunta surgiu num quadro misto em azul e branco, um colírio para os olhos.

Era só o que podia fazer? O fim da sua jornada para clarear esse mundo? Até mesmo um sol falso precisa brilhar para ser falso. Então aqueça-se, determinado, rugindo independente se leva ao desfecho, afinal é do que “eles” precisam, é desse sol falso protegendo-os.

Diego roncava; mal sabia que eram as chamas verdes que fizeram seu nariz coçar ao passarem. A sala estava infestada delas e, na cama improvisada, Karlos as via — atento —, de volta a esse mundo.



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