Astrea Brasileira

Autor(a): Samuel Nohzi


Volume 1

Capítulo 18: Insanidade

Quando Ken se desvencilhou da pele quente e grossa do javali, deixando o animal para trás, suspirou ao correr. Passos largos demais para as pernas curtas do garoto, ansioso com a chegada ao local.

O gorro que a tempos havia voado com o vento, não pode segurar os cabelos negros de serem atingidos pela geada fria. Surpreso, o garoto arregalou os olhos com o estado do que deveria ser uma igreja.

Ken tinha pouco conhecimento do que acontecia naquele campo de batalha, só sabia que aquele homem que tanto o atormentava fora derrotado. E agora enfrentava uma dor enorme.

Sem ver nenhum dos companheiros que antes viajavam juntos, franziu a testa já pensando o pior. Temia estar certo, a cada passo sua voz escapava com suspiros de exaustão.

Finalmente alcançando as ruínas, se pôs a olhar para dentro do local maculado. Os pilares nem sequer mais existiam, o pedestal que antes era o centro das atenções, agora parecia uma pedra de sacrifício.

Com um cheiro desagradável que lembrava ferrugem, Ken tapou o nariz ao resmungar. O sangue sobre seus pés era mais seco que o resto, manchado, como se alguém tivesse se arrastado nele.

— Cof, cof!

Assim tendo uma reação alérgica, Ken torceu o rosto desgostoso. Com olhares indo e vindo na construção, que agora tinha pedaços faltando por toda parte, além de uma pilha de destroços na esquerda.

Naquele mesmo lugar que estagnou, o sentimento de felicidade se foi em segundos. Ao ver seu irmão, pisou forte na poça de sangue que outrora fora pisada por ambos.

O vento sussurrou para que ele se apressasse, era uma sensação de aflição súbita soou. Essa sensação era similar a quando encarou aquele homem, o mesmo que a minutos foi derrotado.

De qualquer forma, não deveriam ficar ali mais tempo. Deveriam fugir, já que a missão claramente foi uma falha.

— Irmão, graças a deus... Temos que sair, encontrar Ellen, e...

“E...”

O que estava errado, por que seu irmão não se virava? Nem mesmo sentia a sua aproximação, muito menos ouviu sua voz. Seu toque era gelado e cruel, era como se seu irmão tivesse simplesmente se tornado uma estátua gélida.

Quando olhou melhor para a pessoa que ele segurava nos braços com tanto carinho, se deparou com os cabelos loiros manchados. As pontas e couro cabeludo manchados com sangue, o cheiro forte era pútrido, ainda pior que o cheiro que sentiu ao chegar naquele local.

— Ei... Ela, ela tá bem irmão?...

Me diga, me diga que ela tá bem!...

Quando assim tocou as roupas de seu irmão, que parecia ainda mais gelado que o de costume. Remexeu e balançou. Os ombros sem qualquer resistência foram jogados para frente e para trás, sem resistência.

Tampou o nariz novamente ao pisar em algo mole, já tinha visto muito disso em livros de anatomia humana. Os órgãos eram nojentos de se olhar a olho nu, ainda mais para alguém tão novo.

Com os despencando ao chão, encontrou o que estava emitindo tal odor de morte. Se afastou depressa, ao pisar no intestino da garota que derramava e se esparramava no chão, tapou a boca.

O suco que remexeu seu estômago e percorreu até a garganta, tinha um gosto forte de ferro. Aquele cheiro que queimava os pelos nasais, agora provocavam um turbilhão em seu estômago, explodindo como um vulcão em erupção.

Após assim regurgitar no chão, esticou o braço novamente por cima dos resto do cadáver de Ellen, tocando o ombro de seu irmão novamente.

— Vamos sair, agora!... — Ainda tapando a boca, ele sacudiu novamente os ombros.

De novo, sem resposta.

Com a pouca força que tinha, ele agarrou os braços que envolviam a garota e puxou para si. Nem mesmo olhou para o rosto que foi revelado ao cair de costas junto de Kaleek.

Franziu a testa e fechou os olhos negando aquela visão, mesmo que as lágrimas rolassem de forma espontânea voltou a segurar os braços do irmão. Que nem mesmo piscou.

Caído sobre as entranhas e o sangue que se espalhavam ainda mais ao arrastá-lo, Ken suportou o fedor, fazendo um esforço nunca antes exigido.

Dos escombros até a entrada, não precisou abrir a porta — ela já havia sido arremessada para longe pela explosão. Ao alcançar o limiar, um vento sutil arrepiou sua nuca.

Aquela pressão esmagadora de repente atingiu com força, os arrepios eram um aviso para a “coisa” que estava atrás dele. Com o coração acelerado, e calafrios na barriga, virou-se para quem subitamente surgiu diante dele.

Cara a cara com o perigo, teve sua alma encarada de frente. Por aquela coisa, aquele que nem poderia ser chamado de um ser humano, pingava sangue por todos os lados do corpo.

A roupa rasgada revelava sua pele de cor pouco bronzeada, os olhos que o penetravam, arregalados. Conforme suspirava, podia sentir e ouvir o sangue pingando e escorrendo pelos músculos.

Aquela cena de ser encarado por uma figura inumana, era aterrorizante. As pupilas quase insistentes, eram totalmente encolhidas pela pressão daquele homem — o sangue também pingava da barba ruiva.

Tod encarou o garoto que puxava seu irmão para fora da catedral, o mesmo não respondeu a sua chegada e aos gritos de Ken.

— Cê tá fudido, pirralho.

O chute atingiu o estômago de Ken que foi jogado pra trás, atingindo a parede que começou a tremer. Suportando a dor que foi causada, voltou s seu olhar para seu irmão que teve seu capuz agarrado.

— Você também, não vou te perdoar por abandonar nossa luta.

O homem de cabelos traçados girou o corpo e junto dele Kaleek, que foi arremessado e caiu perfeitamente de pé. Como se já esperasse essa ação, deslizou na neve ainda com a cabeça baixa.

Parecendo ter sido surpreendido, Tod sorriu de forma nojenta. Seus olhos arregalados, quase caindo para fora, fizeram Ken recuar amedrontado.

O som dos osso estalando, os buracos das cicatrizes. Tudo era bizarro. Aquele que a pouco tempo fora perfurado por estacas de madeira, agora continha ainda mais vitalidade, além de não ter ferimento algum.

Kaleek vendo ele se esticar e estalar o corpo, assumiu uma pose no mínimo estranha. Desarmado e psicologicamente perturbado pela morte de Ellen, ele apertou o punho querendo descontar todo esse sentimento infernal.

Algo que ultrapassava seu estado atual, sem nenhum treinamento apropriado, removendo as limitações e tudo que o fazia “humano”. Era obrigado a usar aquilo, dar seu corpo e alma, para que seu último pedaço não morresse ali.

Ken sentiu o frio emanado de seu irmão, de repente algo estranho saiu das mãos que se fecharam em punhos de fogo. Um fogo que não emitiu calor algum, pelo contrário. Dá sua coloração azul só sentiu frio, o frio tão absoluto que os dedos de Kaleek congelaram.

— Feuer. — Após muito tempos e dizer nada, ele finalmente moveu os lábios.

— Feuer.

Quando assim repetiram o mesmo elemento, Tod sacou as lâminas e avançou para decapitar o garoto que não se movia. Porém...

— O quê!?

Seu corpo habil direcionou a lâmina até o pescoço de Kaleek, porém, a ilusão de movimento fez ele pensar te decapitado a pessoa que não verdade golpeou sua face.

Ouve um estalo, dois, três. Aplicados no rosto e nas costelas de Tod, que foi pelos ares. A sensação de dormência logo atingiu aquele corpo semi nu, que atingiu o solo com força.

— Irmão!

Logo após aplicar os golpes que destruíram a face de seu inimigo, teve seu corpo abraçado por alguém. Instintivamente sentiu ser seu irmão, aquele calor que mesmo com a mente aos cacos, jamais confundiria.

Porém, não tinha tempo para sentimentos, momentos em família ou de respiro. Tinha de matar aquele homem, e a face daquele maldito mago empregava em si, Zae, Tod, aqueles homens, todos deveriam morrer.

Tendo as mãos incendiadas pelo fogo que congela tudo, se aproximou a passos calmos até Tod. A temperatura alta não permitiu ele de saltar a seu encontro. Sentiu seu corpo duro, doía só de desferir aqueles socos.

Seus cabelos de forma inesquecível começaram a se mexerem como uma tocha, símbolo de sua vontade. As pontas que se tingiram em uma tonalidade azulada, dançavam sobre o frio.

— Levanta.

— Moleque maldito.

Seus olhos arregalaram-se ao ver os cristais de gelo se formarem atrás de Kaleek. Com um olhar sereno, Tod sem saber o que se passava em sua mente, assistiu ele ordenar que caísse.

— Donma.

Todos aqueles cristais foram jogados encima de Tod, que não fez nada além de gritar miseravelmente. Sem pausa, Kaleek posicionando a mão cima da cabeça, criou uma grande pedra de gelo.

A grande pedra caiu sobre o vapor que se formou do ataque anterior, com objetivo de esmagar aquele sujeito. Mas, ela se pariu em dois rapidamente, algo saltou para cima, cortando e fazendo o ataque ser inefetivo.

No mesmo momento que flutuava no ar, Tod invocou uma bola de fogo com seu poder, cobrindo até mesmo a visão de Kaleek. Contudo, ao gritar o encanamento tossiu sangue.

— F-feuer!

O calor ao tocar o chão erguia vapores efêmeros. Kaleek reagiu instintivamente, erguendo do solo uma parede de gelo ao tocá-lo.

A defesa, porém, se desfez em água que escorria, refletida em olhos vidrados — apenas para se perderem logo em um chute no rosto, arremessando seu corpo frágil para longe.

Rolando pela neve, ele só conseguia se perguntar o porquê. Por que precisava sofrer tanto? Seria um castigo? Não... algo maior o esmagava.

Ele sempre teve uma boa educação, por mais que matasse animais e monstros, nunca tiraria a vida de um ser humano. Mesmo Tod que transformou sua vida em um mar de sangue.

Mas não faltava vontade, era imensa. Catrastoferica, queimava e chegava a doer tamanho ódio por um ser humano.

Talvez se ele não fosse humano, não teria problema em fincar a adaga em seu peito. Mas se perguntou, ele realmente era um? Viu com os próprios olhos, se curar de ferimentos fatais.

Por mais que diminuísse sua força física, ele se movia como animal as vezes. Esguichando veneno em formato de palavras cruéis e um senso de humor ordinário.

Seu corpo se levantou totalmente quebrado, aquela dor não parava por nada. O enjoo era hipnotizante, fazia ele suar como um porco dentro de uma sauna.

— Feuer...

Tentou esquentar o corpo, mas por algum motivo aquelas chamas não faziam nada além de congelar ainda mais.

O que manteve Kaleek vivo foi sua resistência absurda ao frio, com muito esforço resistia. Muitas vezes sua afinidade com o elemento fogo ajudava, mesmo não conseguindo manifesta-lo.

— Levanta logo, idiota... Não vai morrer...

Fora jogado na neve e deslizando sobre ela, as chamas que brotaram em seu olhos, continham uma fagulha de desespero. A dor que tornava tudo possível, pulsava como se algo estivesse vivo dentro dele, ainda que sua alma já morta resistisse.

Tod retirou de seus bolsos, uma esfera estranha, parecia um amontoado de pedras comprimidas do tamanho de uma pequena bola. Ao segurá-la, percebeu uma energia pulsando dentro dela.

Os olhos arregalados se viraram para Ken próximo a ele, foi ao rir que Tod arremessou uma de suas bombas em Ken.

Kaleek estendeu o braço, era como se o congelasse. Seu dedos tocando a rocha, que pulsava de forma fervorosa, e um vermelho pintou o mundo, expandido em uma explosão.

Quando assim agarrou, fechando a mão ao redor, seus dedos sumiram. As unhas se desprenderam do anelar e pedaços voaram. Teve toda sua mão varrida pela explosão.

A carne foi rasgada, estourada de forma cruel e crua. A queimação tomou todo seu braço direito, que foi explodido arremessando fragmentos de pedra para todos os lados.

Cerrou os dentes em um grito ensurdecedor, foi quando o impacto jogou fragmentos em seus olhos. Rasgando e destruindo qualquer resquícios de visão que o garoto tinha.

Seu corpo voou novamente, metros acima de seu irmão que gritava seu nome. Presenciando o sangue explodir no ar, cair e esparramar no chão como se fosse um saco de carne.

 

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora