Astrea Brasileira

Autor(a): Samuel Nohzi


Volume 1

Capítulo 17: Face da loucura

Após a grande explosão que deu um fim a batalha na igreja, um deles caminhava derramando sangue quente na neve.

O mais sortudo deles, segurava o braço arrancado com afinco, aflição, em uma face repleta de ódio. Mesmo tendo vencido, perderá o mais importante numa batalha: os gritos do seu inimigo quando percebe que vai morrer.

Zae amaldiçoou Ellen por não ter dado isso a ele, assim como aquela maldita garota da caverna, na qual nem se recordava o nome. Nem mesmo as cores do seu rosto ou cabelo que carregava com sigo, somente das palavras infernais e daquela expressão neutra até no momento da morte.

Algo que fez seu coração ferver ainda mais, como se pudesse queimar uma floresta com apenas uma gota de sangue. O que não aconteceu enquanto cambaleava.

Seus olhos indo e vindo em um local desolado e sombrio. Um vazio tão imenso quanto aquela vitória que lhe custou a sanidade, além de seu braço esquerdo.

Tendo marcas de queimadura por toda parte, soltou um gemido contido de dor. Zae pressionou o local com força e cerrou os dentes, o sangue não parava de jorrar do ferimento que não parecia cicatrizar mesmo com magia de cura.

Afinal das contas ele gastou muita mana lutando contra Ellen, não era um completo inútil sem ela. Poderia dizer isso se tivesse consigo os anéis, mas esses foram arrancados junto com eu braço direito.

— Porcaria. Merda, droga. Ellen, Ellen... Sua... Morra, desgraçada.

Matar pessoas era uma coisa recorrente para os membros do culto da estrela, as vezes chamada de estrela negra. Esse nome era dado pelos próximos membros na qual não se sabia o porquê.

Mas Zae não era do alto escalão desse culto, era apenas um mero cultista que seguia ordens dos chamados “Emissários”. Mas isso não bastava para ele, ainda sim ele queria ser algo a mais.

A arrogância contida naquele garoto de quinze anos era imensa. Até o momento presente, ele só guardava os nomes daqueles que tinham uma morte gloriosa em sua visão.

Em exceções, mestres e superiores do culto, mas era só para não ser repreendido. No enquanto, aquela elfa cujos cabelos balançavam como fios dourados, e a força lembrava Tod, ela foi diferente.

Não lembrou do seu nome por ser um inimigo que lhe entregou a “morte gloriosa” pelo contrário, era um inimigo que dez do princípio foi subestimado. Alguém que Zae não imaginava poder arrancar o seu braço antes de morrer, alguém que pudesse pisar nele até mesmo perdendo da forma mais cruel que imaginou.

No instante que seu anel estourou lançando uma magia em sua direção, Zae arregalou os olhos com a garota que o puxava pela camisa. A força de manejo foi tão grande, que ela conseguiu levantar o machado com quase duas vezes o seu peso, com uma só mão.

Quando o clarão alcançou o seu rosto, o machado desceu arrancando seu braço em um só golpe. Como foi puxado para perto dela, ele não conseguiu escapar ilesos da explosão que arremessou ele contra parede.

Porém, ele reagiu rápido. Ativando um dos anéis antes de ser desmembrado, aquele que fez seu corpo tomado pela luz azul — uma barreira magica protegeu ele de acabar como ela.

Aquele formigamento constante no couro cabeludo, que não passava mesmo quando ele puxava os cabelos em puro rancor. Ao lembrar do sorriso confiante dela, que sabia que tinha o atingido e provavelmente o matado junto dela.

Mas a realidade era outra, ele foi sim atingido, mas não morreu. Seu corpo magro resistiu com a ajuda de um anel que voou em direção a seu rosto após a explosão, o que possibilitou usar uma barreira mágica em seu corpo.

Esse que não escapou das consequências da luta. Nem sabia se como ele estava correndo. Ainda mais em um lugar tão frio, tendo queimaduras horríveis pelo rosto, parte do cabelo totalmente queimada.

— Hã!?

Os passos desaceleraram, quando levantou a cabeça vira uma coisa que fez um suspiro confuso sair e sua boca. Era algo que não imaginava encontrar ali, na verdade nem em uma vida inteira.

— Tú es quem difama minha autoridade, eu me pergunto qual a sua intenção.

Aquele ser que falava com tanta imponência, uma voz que poderia ser comparada a um anjo ou algum ser divino, era apenas uma raposa de olhos azuis brilhantes.

Mas ele sabia exatamente quem era, não precisava se apresentar ou dar uma pista. Ele sabia. E por saber fechou os punhos, cortando os lábios com as presas no canto da boca.

— Yaara, a deusa dos glacinatas.

Ele não sentiu terror, pelo contrário. Sentiu ódio, repudia, queria arrancar a face daquele animal e banhar a neve com seu sangue sagrado. Era um ódio animalesco, ele brotou nas veias e coração de Zae, as presas que escondia começaram a aparecer enquanto um rosnado interior crescia.

— Não pense que vai me matar, como matou meus pais.

— Não entendo o que diz, criança. Não sou a causa da morte deles, você sim. Sabias que poderiam morrer pelo frio, mas escolherá sua própria carne.

A alguns anos quando a deusa da glaciação apareceu e transformou o extremo norte, uma família de viajantes teve de enfrentar o frio que de repente se formou.

Não tinham muito equipamento e comida, mas pó sorte estavam vivos mesmo com tudo aquilo. Conseguindo se virar com uma criança de sete anos; tinha cabelos de cor azul escuro.

Acontece que uma tempestade fora de suas previsões soprou eles com força, arremessando a mãe já sem forças em direção a um precipício. O pai pulou para salva-la, mas a força nos braços já trêmulos, não eram suficiente. Todos estavam muito cansados.

Porém Zae, olhando seu pai pedir ajuda, teve um estalo em sua mente. E acabou por agir sem pensar duas vezes, chutando seu pai e ficando com seus pertences.

— Isso é culpa dela, aquela deusa que o papai e a mamãe adoram que mataram eles. Não eu, eu precisava sobreviver para vinga-los.

Foi essa a ideia que ele mesmo colocou em sua cabeça, totalmente irreal. Mas agora nada importava, pois aquela que amaldiçoou por anos pela morte de seus pais, estava diante dele.

— Você vai pro inferno.

Garras brotaram debaixo de suas unhas, as prestas se esticaram em um focinho e pelos cresceram por todo corpo. Porém, de uma hora para outra sua transformação foi abolida, apagada ou até mesmo absorvida pelo vento forte que soprou.

Ele resistiu para não cair, a aura da raposa tirou até mesmo sua transformação de Semi-humano. Perplexo ele só pode observa-la se aproximar.

— Tolo, eu não irei matá-lo.

Aquelas palavras ecoaram por todo seu crânio, sumindo junto com o som da ventania forte. A raposa se desfez em uma neblina que não pode ser vista atrás dele.

Ao ter sua existência pisada, como se não fosse ninguém, nem mesmo uma ameaça, Zae franziu a testa. Zae desejou morrer, aquela frustração era demais para ele carregar. O ego era destruído com apenas palavras, que no fundo sabia mas negava verdade.

Um som de passos sobre as folhas que caiam, vieram da floresta, e ao torcer o pescoço para ver do que se tratava avistou um furão alado.

Aquele furão foi observado por olhos de uma alma que já não queria estar ali, como se adivinhando isso a pequena criatura se aproximou dele.

Aqueles pequenos animais eram bastante dóceis, na verdade eles eram caçadores natos, usando seus pelos pálidos para se camuflarem na neve, e os olhos vermelhos para amedrontar suas presas.

Zae observou ele sacudir as assas para retirar a neve, e dar pequenos pulinhos e planar no ar até ele. Os olhos vermelhos eram intimidadores até mesmo pro garoto.

Foi quando abaixou o corpo sustentado pelos joelhos já trêmulos, esticando a mão ele sentiu um choque, algo que puxou sua mão para baixo, mas logo soltou. Quando percebeu ao olhar melhor, seus dedos, na verdade não estavam mais lá apenas os ossos permaneceram.

Confusão, medo, choque. Zae observou ossos do seu dedos exposto em uma expressão neutra e sem reagir, mas então...

— Aaaaah... AHHHHH!

Ele berrou como um animal, o adorável furão alado mastigava sua carne enquanto direcionava suas pérolas oculares em sua direção. Seu joelhos perderam a força e ele caiu de costas na neve enquanto agonizava.

O terror tomou conta de Zae, que segurava sua mão ensanguentada. Não acreditando no que estava acontecendo, foi vítima de uma ação instintiva e cortou o animal no meio com uma magia por puro reflexo.

— Merda... Porra!

Ele se encolheu no lugar, doía muito. Mas ele já havia sentido coisas piores, o que não esperava aram os pontos vermelhos que vinham da floresta. Se amontoado, como se quisessem assistir aquele momento de perto.

Eram dezenas ou até mesmo centenas de furões igual a aquele que teve seus órgãos expostos. Zae sentiu o mais aterrorizante dos arrepios em toda história, seu corpo nem mesmo conseguia se mover, como se tivesse se tornado apenas um expectador de sua própria morte.

As dezenas e milhares pularam encima de Zae, mordendo e arrancando a pele e mastigando como se ele fosse nada. Os que começaram pelos pés, moeram as canela entraram na cocha como se fosse uma simples toca feita de carne.

Os dedos foram devorados como aperitivo, seu único braço restante virou uma espécies de espiga de milho que era mordiscada por todas as direções. Cabelos foram arrancados do couro, puxados até o sangue começar a manchar os fios azuis.

Fora comido por todas as direções de seu corpo, suas genitálias foram um aperitivo que não agradou os furões, não satisfeitos fizeram o trajeto da bexiga até os rins que serviram como pequenas maçãs.

Seu corpo começou a ignorar tanta dor, apenas gritava, nem entendia por que tanto forçava as cordas vocais mesmo não sentindo mais dor. Mas era belo, ele começou a adorar aquilo, se perguntava se aquele grito era o seu.

O grito de desespero mais lindo que ele já presenciaria, era o próprio. Se sentiu feliz, alegre de forma espontânea é natural. Enquanto era reduzido a carne moída.

Seus osso eram roídos pelos que não chegaram a tempo, deixando nem mesmo o sangue que despejou pela neve para trás. A existência de Zae era apagada tão rápido que ele nem percebeu quando começou a sorrir.

Um sorriso ordinário, nojento e ensanguentado. Metade de seu crânio já havia sido exposto, e os que entraram pelas costelas e estômago, devoraram seus pulmões.

Por último seu crânio foi apreciado e aberto por quatro furões, que dividiram seu celebro como uma taça. Seus últimos pensamentos antes de perder a consciência, olfato e sua visão, foram que tivera a morte mais grandiosa e bela que alguém poderia ter tido.

Ate mesmo o sangue foi varrido da neve, os furões se dividiram em busca de mais comida. Aquilo que um dia foi Zae, era apagado de toda a existência por animais tão dóceis como aqueles.

 

 

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