Volume 1
Capítulo 15: Amor, verdadeiro e mútuo
Seus olhos relaxados observavam a garota revirar um caixote, velho e soltando pó para todos os lados. Seus cabelos balançavam ligeiramente ao mover os cotovelos e corpo, castanhos e belos assim como os olhos claros.
Plena de corpo e alma, pensou o quão confortável e estava Mabel, que mesmo em um lugar fechado e pouco iluminado, cantarolava sem parar. Estava dentro de uma casa velha, mas não abandonada.
Mabel procurava por algo em caixas perto da entrada, e Ellen a observava encostada na porta. Os olhos aéreos da garota se estreitaram quando sua amiga a chamou.
— Caramba, onde será q eu deixei essa coisa...
— Vê se tá aqui, oh.
Ellen percebeu a dificuldade de Mabel de achar o que procurava, apontou para uma outra caixa bem ao lado — parecia ainda mais velha que anterior, além de ser maior.
Iluminada fracamente pela única luz do cômodo, a caixa rangeu ao ser puxada. Quebrando.
Mabel reagiu arregalando os olhos ao tentar retirar a madeira que a cobria com as próprias mãos e conseguir.
— Isso tá bem velho.
— Sim, era da minha irmã mais velha. Espero que aquela escrota não tenha me dado algo enferrujado!
Reclamou pela falta de cuidado da sua irmã e consideração, por deixar algo que presentearia alguém em um local tão velho. Quase a xingou por isso.
Acreditou ter encontrado quando suas mãos encostaram em algo, similar a um sapato. Arrastou ao apanhar este objeto do fundo da caixa, abaixo de outras tralhas de sua irmã.
— Precisa de ajuda?
— Tá de boa...
Ao puxar com as duas mãos, uma veia saltou em sua testa. O objeto se soltou e ele caiu para trás, quase colidindo com Ellen.
Sapatos com uma placa plana de plástico era segurado pelos dedos pálidos, colocados no chão para que Mabel se levantasse com a ajuda de Ellen.
— Obrigada.
— Era isso? Será que tá bom?
O objeto não parecia tão ruim, a placa em baixo das solas estava meio suja, mas não pareceu ser um grande problema — o restante estava com um aspecto bem normal.
— Assim, se eu usar isso eu não vou morrer não né?
— Relaxa, tem seu príncipe encantado com você. — Mabel fez bico enquanto imitava um beijo.
Mabel fez bico simulando um beijo, Ellen com expressão avermelhada empurrou sua testa fazendo a garota cair de bunda no chão novamente.
Com os dedos escondendo o rosto corado, ela se virou de costas para a garota de cabelos encaracolados, na esperança de disfarçar a vergonha. Mas era inútil — até as orelhas pontudas denunciavam seu embaraço.
— Isso doeu...
— D-desculpe...
Arrependida ela estendeu a mão, ainda cobrindo o rosto com a outra parecendo esquentar. Mabel tocando suas mãos que se abaixaram, percebeu o calor e continuou:
— Você tá mesmo nervosa... Tá até suando.
— Não é pra tanto...
Acontece que aquele dia era esperado por muito tempo, porém a garota não havia se preparado o suficiente para aquilo. A carga dos sentimentos ansioso era tão quente e pesada quanto seu corpo naquele momento.
Seu coração palpitava, de forma rápida e constantemente como se corresse uma maratona. Normalmente se mantinha calma mesmo em situações de perigo, mas isso não acontecia quando ficava a sós com uma certa pessoa.
Deslizando a sua palma sobre as dela, Ellen soltou as mãos de sua amigas. Suadas, ela balançou para que o fluido corporal se dispersasse, como não funcionou, as limpou na roupa.
— Melhor você ir.
— T-ta...
Os passos silenciosos até a porta pareceram durar dias. Esmagada por esse silêncio, se deparou com o clarão da floresta, logo a longe um decline perfeito para Snowboard.
Aquela sensação inquietante atingiu seus olhos que iam de cá a lá. Como se esperasse encontrar aquela pessoa até mesmo atrás das árvores.
Quando a tocou fez o corpo rígido da garota saltar de espanto, quem tocava com tanta casualidade era Mabel que entregava uma mochila, parte da prancha escapava do zíper semiaberto.
Naquele breve momento em que Ellen ficou a deriva, passou um pano molhado na placa e tirou a poeira da bota que agora parecia bem mais aceitável, mas nem tanto.
— Obrigada...
— Ele deve estar te esperando.
— É...
— Você quer mesmo ir?
— Que, não... lógico que quero!!
Mabel riu com a afirmação desengonçada, enquanto sua amiga se moviam fazendo caras e bocas e gesticulando para se explicar.
Com isso veio o franzir de testa, a garota ao ver que sua amiga continuava a rir desenfreadamente, inflou as bochechas. Seus olhos estagnaram lateralmente em Mabel apoiando-se em seu ombro, com as mãos no estômago.
— Você é uma figura!
— Calada, megera. — Ellen torceu o rosto.
— Tá ai a minha garota!
Mabel pulou em comemoração ao ver a expressão de sempre da garota, que suavizou com seu comentário. Ao soltar a mão que descansava sobre o ombro da elfa, acenou para ela.
— Bom, melhor você ir.
— Verdade, tô morrendo com sua idiotice aqui.
— Me sinto lisonjeada. Se cuida, não quero você desmaiando de vergonha na frente do Kaleek, ouviu?
Ignorando esse último comentário, que foi respondido com resmungos e troca de olhares sérios. Se desvencilhou da velha casa em direção a floresta, deixando sua amiga que acenava para ela.
Deslizando um sorriso leve ao se despedir de sua amiga, que continuo a acenar mesmo ao virar as costas e sumir de vista. Pisou firme na neve. Passos seguiram o silêncio daquela floresta enquanto carregava uma mochila com os tais “patins de neve“.
Os olhos da garota encaravam a neve enquanto sua mente se perdia em pensamentos, já pensando em como agradecer sua amiga no final daquele dia.
Por serem amigas de longa data, não se incomodou de pedir emprestado os equipamentos. Só não esperava receber um sorriso largo ao mencionar Kaleek.
Aquele sorrisos de quem já sabia que se tratava de um encontro, na verdade era bem mais que isso para a elfa. Seu estômago se revirou só de pensar nisso.
No fim, só queria se distrair para que não explodisse em vergonha antes de alcançar o topo. Foi esses pensamentos que afastaram sua mente do mundo, a fazendo perder a noção de quanto tempo estava andando.
Parou de andar ao sentir uma brisa um pouco mais fria, o céu azul e congelante foi refletido no seu olhar ao erguer a cabeça.
Um local como todos o outros, cercado pela neve, caindo das folhas das árvores e do céu em formato de flocos de neve. Porém, alguém ali pintava aquela paleta pálida em sem graça, com jóias amarelas cintilantes.
Junto dessa paisagem, o garoto de cabelos brancos arrepiados, e roupas de cor marrom e preta, acenou para ela com um sorriso radiante.
— Oh, bem vinda!
Suas bochechas se avermelharam ao vê-lo. Pareceu surpreso ao vê-la, então o sorriso foi ainda mais espontâneo que o dela.
— Desculpa a demora...
— Não tem problema, acabei de chegar.
Ele se levantou da pedra em que sentava, e foi em sua direção enquanto gesticulava. Os olhos amarelos fixaram-se nela, corada, apertou as mãos na frente do corpo.
Tremeu ao garoto de aproximar para abraçá-la, envergonhado pela sua reação fechada ele recuou com os braços abertos.
Uma gota de suor escorreu da testa e pelas laterais do rosto do garoto, suspirando fundo ele abaixou os braços. Ao apontar para a mochila jogada ao lado da pedra que sentava disse:
— Bora? O vento não tá tão forte hoje, e uma ótima oportunidade.
— S-sim, vamos. Eu tem um probleminha... — Ouve uma pausa nos lábios finos. — Eu nunca fiz isso...
— Jura!?
Foi praticamente um grito de espanto, que fez o rosto da elfa ficar completamente vermelho. Acenando com a cabeça em seguida, evitando olhar nos olhos surpresos de Kaleek.
Diferente dela, ele parecia muito calmo com aquele encontro, ou talvez soubesse esconder muito bem. De qualquer forma, seu rosto suavizou depois daquele surpresa que o fez recuar de forma exagerada.
— Perdão, eu só não esperava. Você parece ser tão vivida... — Kaleek riu de nervosismo enquanto passava a mão na nuca.
— Eu, não tive a oportunidade. Mas eu já assisti o Cosmo fazer isso, não parece tão difícil.
Aos poucos a voz dela normalizava, isso fez um sorriso brotar nos lábios cortados de Kaleek, que abaixou o corpo até a mochila.
Enquanto amarravam os sapatos com uma placa de fixação nas solas, os dois em tempos trocaram olhares laterais. A cada olhadela seu rosto ficava mais vermelho, ao ficar pronto, Kaleek se levantou de uma só vez.
— Pronto. Quer ajuda?
Ao estender a mão, ele tocou os dedos descobertos e gelados dela. O aroma agradável subiu a sua narinas, similar ao cheiro de flores.
Ao ficar de pé na prancha, seus olhos tremeram tanto quanto suas pernas, por um momento, atingida pela calmaria ao tocar as mãos cheias de calos.
Na ponta do decline eles mantiveram de mãos dadas, se não fosse o frio, suas mãos estariam encharcadas de suor. Trocaram olhares por um breve momento, antes de ficarem totalmente corados.
— Não solta, da pra fazermos assim?
— Acho que assim é bem mais difícil... Não vamos morrer não né?...
— Não seria tão ruim morrer ao seu lado.
Os olhos dela se apertaram ao escutar essas palavras, com expressão desgostosa ela apertou os dedos do garoto. Praticamente esmagando eles.
— Que conversa é essa? Tá maluco, vacilão!
— Calma ai!
Ao sentir a dor do aperto, ele tentou subitamente se libertar, mas acabou por deslizar a prancha na neve. O atrito balançou os cabelos e seu corpo começou a descer ladeira baixo, levando consigo a meia-elfa de cabelos loiros.
— Ah... AAAAAAAH!
— Porra, PORRA!
Eles quase despencaram sobre a neve, seus gritos ecoavam pelos arredores, assustando os animais que mesmo ao longe escutaram Ellen berrar ao decair.
Mesmo com o espanto eles não soltaram as mãos um do outro, pelo menos isso eles fizeram corretamente. Diferente da posição das pranchas que quase colidiam uma com as outras.
Balançou e balançou repetidas vezes, enquanto tentava se equilibrar Ellen soltava gritos agudos. Por consequência da sua agitação, os sapatos já gastos se desprenderam da prancha.
— Não, AHHHHH!
Se corpo caiu de costas, suspenso no ar enquanto fechava os olhos, sentiu algo tocando suas costas, percebeu ser segurava por algo forte o bastante para mantê-la naquele estado.
O vento bateu forte em seus cabelos, soprando-os para longe. Enquanto desciam por um tempo indeterminado, se permitiu abrir os olhos para ver o que havia acontecido.
Esperava cair na neve, e pior, sair rolando ladeira baixo até colidir com algo sólido. Provavelmente isso causaria sua morte, pois tinha uma noção boa da altura e velocidade que pegaria ao despencar.
Mas foi segurada nos braços pelo garotos é cabelos brancos, rosto pálido mas, de olhar confiante. Recepcionou ela com um grande sorriso, e uma olhadela de canto de olho.
Mantendo-se focado ele continuou a descer, ainda com Ellen no colo, teve o corpo jogado pelos ares ao passar sobre uma pedra que serviu como rampa.
— Se segura ai!
Seus olhos brilhavam como a aurora que emergiu ao chegarem no céu, mesmo suas paletas sendo mais ofuscadas, não perderam o brilho.
Kaleek preparou sua aterrissagem. Ellen encantada, nem mesmo percebeu a altura em que estavam, ao impacto que balançou o corpo.
Quando tocaram a neve novamente, a força da aterrissagem fez o corpo dela saltar, se não fosse pelos braços que a seguravam teria caído.
— Hora do Gran finale!
— Espera ai, o que você...
Após quase morder a língua, teve as palavras cortadas pela pista de gelo que se ergueu a sua frente. Deslizando de forma perfeita, Kaleek saltou junto da prancha pousando perfeitamente na pista que ele mesmo havia criado.
— Donma!
Ao recitar seu elemento, sentindo seus pés congelarem enquanto aquela pista de gelo se formava diante dos seus olhos.
O gelo puro e mágico apareceu de repente, como se o ar da atmosfera congelasse ao ponto de formar aquela estrutura gélida.
Enquanto dava voltas sobre ela, a grande estrutura feita com magia fez voltas em si mesma. Até que uma grande rampa se erguesse até o céus.
— Nem pensar!
— Não vem reclama agora, sua chatonilda!
Abaixando o corpo Kaleek cerrou o olhar para enfrentar aquela rampa de gelo. Ao ficar suspenso no ar e ser lançado sobre ele, deu um grito parecido com “Uhuu” enquanto Ellen berrava em desespero.
Porém essa euforia do garoto durou pouco, os cálculos dele estavam errados. Então ele não foi lançado, apenas despencou por falta de velocidade.
Os gritos eufóricos se tornaram berros de desespero, o mesmo que começou a se debater ao cair, foi o que primeiro atingiu uma montava de neve.
Felizmente, haviam chegado ao final do decline de gelo, caso contrário estariam rolando por ele.
Os gritos de ambos foram interrompidos ao caírem na montanha de neve, evitando ferimentos graves.
— Merda... — Kaleek colocou a cabeça para fora do amontoado de neve, com expressão cabisbaixa.
— Você é burro ou o que! Podíamos ter morrido caramba!
O peito da garota palpitava. Limpando a neve em suas roupas, ela apontou o dedo para Kaleek que não pareceu arrependido por provocar aquilo.
— Foi só um erro de cálculo, mas aí, maneiro né!?
O sorriso que escorregou nos lábios cortados do garoto a tocaram, mesmo em uma situação embaraçosa daquelas onde seu corpo era engolido pela neve. Ainda assim a fez corar com aquilo, mesmo estando irritada.
Contudo, Kaleek se desenterrou da neve e começou a bater em suas roupas, a neve caiu aos montes. E ao torcer o pescoço, se surpreendeu com a garota que vinha depressa em sua direção.
O rosto dela foi se aproximando do dele, os lábios cor de rosa soltaram um suspiro gelado. Quando a recebeu em duvida, foi calado pelo beijo que entrelaçou suas almas.
Seu rosto esquentou como se colocasse a cabeça em uma fornalha. Palpitando de forma que seu coração poderia se desprender do peito.
Aquele foi, nosso primeiro beijo, né?...
Aquelas eram lembranças queridas, na qual ambos guardaram até o dia de sua morte.
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