Astrea Brasileira

Autor(a): Samuel Nohzi


Volume 1

Capítulo 13: "Eu deveria ter escutado"

Aquele silêncio durou segundos, mas eram como horas dentro de sua mente.

Ao ver aquele que sorria de forma distorcida, curvou a cabeça e franziu a testa. Seus olhos estagnaram no sangue derramado, ele queimava os pelos de seu nariz.

O odor asqueroso que fez seu estômago se revirar, era do corpo há alguns metros dele — o homem que perdeu sua cabeça com um corte limpo.

Quando ergueu a cabeça se deparou com os mesmos lábios, deslizando em um sorriso ainda mais ordinário, torcendo a cabeça apoiando-a no pulso.

— Que cara é essa?

— Você, foi você né.

— Ah, esse padre? — Ele cruzou as pernas. — É só um fiel idiota.

Engoliu seco aquelas palavras, arregalando os olhos mesmos sabendo a resposta para aquilo. Mas ainda sim, elas o fizeram ter vontade de socar a cara daquele sujeito.

Ellen resfolegou com a mão sobre a boca, tentou segurar o refluxo que veio após um breve momento inalando aquele odor.

— Quem... É você. — A voz dela escapou, sem perceber, estava trocando palavras com aquele homem assustador.

— É verdade Kaleek, você não me apresentou para ela. Isso é uma falta de educação danada.

Ken espiou entre os dedos de Ellen, que ainda não lhe permitiu ver onde estavam até o momento.

Ele se arrepiou por completo. Aquela voz e capuz negro, fez sua mente voltar para aquela manhã desastrosa.

O garoto fez uma expressão desgostosa, enquanto o suor descia por todos os poros do seu corpo, tentou afastar as mãos de Ellen, que tremia fracamente.

— Mas você é mesmo um pervertido né, uma elfa. — Ele soltou uma gargalhada. — Muito pervertido!

— Cala... Boca...

— Ela deve ser uma safada na cama...

— CALA BOCA!

Ele urrou em fúria cega, o rosto tomado pelo vermelho da raiva, como se o próprio grito fosse capaz de destruir tudo ao redor.

Sacudiu toda igreja, similar a um terremoto. Vidros quebraram, mas não pelo grito e sim pelo gelo que os congelava.

O solo em seus pés começou a congelar, dos bancos até as paredes. Tomados pelo zero absoluto, sendo capazes de arrancar a pele de quem fosse burro para tocar com as mãos nuas.

Ele soltou um suspiro longo e condensado, seus olhos congelaram a alma daquele homem que cerrou os olhos.

— Cala a porra da boca...

Ellen arregalou os olhos com aquela sensação inesperada na espinha, mesmo hesitando, deslizou as mãos no cabo do machado em suas costas.

Se soltando das mão geladas de Ellen, Ken pôde ver o ódio que emanava do corpo de seu irmão. O calor, o frio, escorrendo pelos olhos selvagens de Kaleek, uma fúria assassina.

— Está com raiva de mim? — Ele se levantou e começou a caminhar.

— O que eu fiz?

A cada som, a cada puxada de seus lábios, seu corpo se contorcia Irá. Cada passo era como se seu peito queimasse de dentro para fora.

Seu coração bateu forte ao ponto de estufar o peito, os olhos arregalaram, e suas pupilas amarelas quase não eram vistas.

Cala boca...

Sua voz lhe causava enjoo, repulsa. Ódio. Queria arrancar seus tímpanos só para não ouvir, os pés que se arrastavam, e a voz tagarelando.

Aqueles passos se aproximaram, e seus companheiros atrás de Kaleek se afastaram alguns passos, menos o jovem de cabelos azuis.

Encarando o manto preto, subir o olhar para o par de joias diabólicas, que pulsavam em vermelho acima do sorriso vil.

— Se resistir vai ser mais doloroso, para você, e para eles.

Ao encarar aquele que prometeu sua morte, sentiu uma brisa gelada nas costas. Uma brisa diferente, um frio diferente.

Era algo que só tinha sentido uma vez, uma brisa quase mágica, e ele se lembrava de onde a sentiu anteriormente.

Seus olhos se achataram, por um momento percebeu o silêncio que se mantinha atrás de si, quase mortal. Uma morte com ventos silenciosos.

Aquela sensação que parecia o sugar foi quebrada pelo som estrondoso dos pilares soterrando a carne. O vento e poeira sopraram seus cabelos e poluíram o ar.

Ao fazer a menção de se virar, teve seu rosto socado com tamanha força, que foi jogado contra um pilar ao lado.

Suas costas fizeram um som estranho, o impacto o fez cuspir sangue. Ao abrir os olhos estreitos pode ver melhor o que havia acontecido.

Zae estava com uma das mãos levantadas, essa que apontava até os pilares destruídos. O outro estava segurando seu irmão que dormia profundamente — suspenso pelo colarinho da blusa.

Seu peito pulsou ainda mais forte. Palpitou, e palpitou. Acelerou de forma que esquentasse seu sangue e impedisse ele de sentir a dor nas costas.

— O que eu faço com esse aqui?

— Eu sei lá, mata ele. — Tod puxou seu machado. — Tanto faz.

Zae após arremessar Ellen até às pilastras e quebra-las em pedaços soterrando-a, fez uma expressão desgostosa para Tod.

Abanou as mãos de forma desinteressada, e se aproximou do jovem de cabelos pálidos de joelhos ao lado do pilar rachado.

Ao levantar uma das penas, Tod disparou com um chute violento em seu peito, ao chocar as costelas de Kaleek, fora jogado contra parede novamente, atravessando-a.

Ao ser jogado para fora, logo cuspiu sangue. Sua testa raspou no concreto e o hematoma logo começou a sangrar.

— Merda...

Antes mesmo de limpar o sangue que escorreu pelo seus olhos, teve que cruzar os braços na frente do peito para bloquear o outro chute.

O choque pegou ele se surpresa, algo se quebrou atrás dele, após o golpe que o fez sair voando junto dos destroços.

Ao ser isolado da igreja com um simples chute, cuspiu sangue ao aterrissar na neve fofa. Aquele que caminhou na sua direção, manteve-se sorrindo.

Algo saltou para fora logo depois dele, um homem com machado enorme em mãos. Ao arrasta-lo pela neve, observou o garoto que se levantava com certa dificuldade.

— Segundo round.

Seus olhos se firmaram ao se colocar de pé, as costas e nuca latejavam constantemente após o impacto.

Contudo, não poderia ficar reclamando da dor, não tinha tempo. Tinha de derrotar aquele homem e salvar seu irmão.

Ao brandir sua adaga, ferozmente colocando-a na frente da boca. Seus olhos amarelos brilharam, inquietos.

Uma franja caiu sobre o olho esquerdo, o vento cessou como se o mesmo ordenasse. Vendo essa expressão, Tod fez uma expressão difícil.

— Abre o jogo, por quê você parece tão calmo!? — Ele mostrou os dentes. — Isso me irrita profundamente!

— Isso se chama confiança.

— Com aquela lá? Ela não aguentou uma magia sequer!

Kaleek escorregou os lábios, e um sorriso ainda mais ordinário que o de Tod pôde ser visto ao abaixar a lâmina.

O impacto fraturou algumas costelas, nem sabia qual delas, mas sabia que aquela dor só o atrapalharia. A raspagem incomodava, sim. Mas ele ignorou tudo aquilo ao lembrar das palavras de Cosmo.

— Tá sorrindo igual bobo ai, isso tá me deixando puto cara! — Veias saltaram de seus braços e testa, ao sacudir o machado ele berrou.

— Vou te mostrar o amor, verdadeiro e mútuo.

Aquela batalha não foi vista do lado de dentro da catedral, nem mesmo quando os dois saltaram para o encontro de suas lâminas.

O chiar das lâminas era ensurdecedor, e perturbou toda aquela calmaria no cômodo escuro.

— Fala sério cara, esse dois fazem muito barulho.

Desgostoso ele cobriu os ouvidos. Zae ao reclamar do som da batalha, torceu o rosto olhando para o buraco na parede.

Dera um 360° observando o ambiente, um olhar desgosto se fez presente ao presenciar o cadáver do padre perto de si.

Ainda dormindo, Ken permanecia em suas mãos, suspenso pelas roupas que vestia. Alinhou o olhar com a criança, tocando uma faca escondida debaixo do manto.

— Isso realmente não tem graça.

Sua expressão já dizia tudo, estava entediado. De certa forma, irritado. Por ser obrigado a matar aquele garoto que nem sequer lutaria por sua vida.

Estava irritado, mas não por ter que matar e sim por ele estar desacordado. Afinal, que sons de agonia ou expressão ele tiraria daquilo? Ofendeu Tod mentalmente por obrigá-lo a isso.

A lamina quando retirada, tinha um tamanho médio sendo extremamente afiada. Seus olhos fitaram-na ao gira-la com os dedos. Ao segurá-la, e sentir a sensação que tanto amava, ele ergueu o braço. Mãos se firmaram e seu olhar sorriu para a criança sem reação, mas ao descer recebeu um choque.

O choque de algo inesperado segurando seu braço, seu aperto era forte. Pensou ser Kaleek, talvez aquele gigante idiota do Carlos tivesse tanta força assim.

Teve a impressão de que seus ossos rangeram, era assustador a força de tal aperto que fizera ele soltar a lâmina.

Suas pupilas dilataram, confusas. Pensou nunca ter tido tanto medo na sua vida, nem mesmo quando irritou Tod dias atrás.

— Aaah...

Um grunhido, foi o que fez ao largar a lâmina que bateu contra o solo. Ao mover os olhos minimamente para o lado, viu a face do seu desespero.

— Solta, solta o Kenzinho.

Seu pulso era segurado com muita força, por uma garota. Tinha cabelos loiros e orelhas longas e pontudas, suas vestimentas eram uma coisa padronizada se assemelhando aos antigos vikings.

Sua expressão indicou que aquilo não era uma brincadeira, ao franzir a testa ao limite e olha-lo dentro da alma.

Um pequeno movimento no ar foi feito, ao tentar dizer algo seu rosto foi socado com toda força. O choque o levou a colidir com a porta da catedral.

— Ae..

Suas costas bateram na madeira que por pouco, não se quebrou. Assustado, ele arregalou os olhos para a garota. Pareceu que seria ricocheteado de volta para Ellen.

De pé diante dele, estava a meia elfa de cabelos longos e loiros, quase dourados de tão bem cuidados. Seu rosto e pele do pescoço para baixo tinham machucados e cortes, em suas mãos, estava Ken.

— Eu devia... Eu devia ter acreditado nele, e não ter confiado em um lixo igual você.

Seu olhar amaldiçoou aquele ser desprezível que se levantava com as mãos nas costas. Ao segui-lo com o olhar alfinetando-o.

Zae esticou um dos braços e seus anéis brilharam, e um vento forte abriu todas as portas e moveu as cadeiras do lugar.

— Você vai pagar... — Por baixo de um rosto franzido, estava o olhar de alguém extasiado. Como se ele finalmente pudesse realizar seu desejo.

Mal podia esperar para estripar aquela mulher, que olhava para ele com tanta pena e nojo. Talvez pelo seu corpo magro e fraco, ou pela sua personalidade extremamente problemática.

— Ellen...

Foi em meio aos ventos violentos que pairavam os três, que Ken despertou. Seu olhar confuso passou por Ellen ferida, arregalados.

— Você tá, ferida!!

— Preciso que faça uma coisa.

— Seus vermes, eu ainda estou aqui!

Uma rajada de vento dividiu o ar em dois, semelhante a uma lâmina extremamente afiada cortou vários assentos onde estava Ellen, que saltou a tempo.

— Aqui, tenta encontrar meu irmão. Kaleek precisa de ajuda.

Ao entregar a ele um pingente de metal, fechou o punho ao estende-lo. Ken pegou ainda confuso, mas, assentiu.

Enquanto se escondiam atrás de alguns assentos que ainda estavam decentemente colocados, Ellen saltou para ao campo de visão de Zae.

Seus olhos se cruzaram, por um momento pôde ver o brilho no olhar do garoto de cabelos azuis, tão vil quanto o sorriso que estendeu em seu rosto.

 

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