Volume 1
Capítulo 12: Um a menos
Os flocos de neve caíam sobre a pele pálida, suas orelhas pontudas sentiam uma sensação congelante em um tom avermelhado.
Os olhos estavam trêmulos, quase cedeu á sensação que o puxava para baixo, junto a visão turva.
As penas de Cosmo estavam totalmente destruídas. Não conseguia se mover sem sentir uma dor excruciante, desmaiou logo depois.
Passou-se alguns minutos, horas, nem mesmo ele sabia. Perdeu totalmente a noção de tempo, se permitindo resistir até que suas forças se esgotassem.
O som súbito de aplausos fez com que ele abrisse os olhos, que antes ameaçaram a se fechar.
A pressão vinda de suas costas, o fez querer torcer o pescoço. Mas a dor de ser devorado não lhe permitiu.
— Você é incrível mesmo, moço.
As mãos firmes que o tocaram nas costas, impediriam-no de se virar — ou tentar.
Ela havia se abaixado até que conseguisse tocá-lo, sustentada acima dos joelhos observando Cosmo com olhos escarlates.
Era estranhamente familiar, um som semelhante a arranhar uma lousa, saiu dos lábios de garotinha com cabelos rosa.
— Qual é seu nome, você conhece o sacerdote?
Os cabelos trancados se moveram quando ela torceu o rosto decepcionada, sem receber sua resposta, pareceu entristecer.
Cosmo estava apavorado. Acompanhou o suor gelado que descia por suas costas até as mãos daquela coisa, que nem poderia ser chamada de criança.
Por trás do manto negro ela revelava suas intenções como um livro aberto, apenas seu olhar já dizia isso. Como se a névoa negra vazasse por todos os esporos do seu corpo.
— Não tem graça quando só eu que falo...
Era uma sensação horrível, seus ossos tremeram, sua carne se contorceu como se milhões de vermes o consumissem.
A sensação de algo invadindo sua carne o fez revirar os olhos, percorrendo sua espinha até alcançar os ombros e pulmões.
Suas mãos contorciam em um tom roxo, cada vez mais escuro. Caminhando pelo seu pescoço até o cérebro.
Seu corpo cedeu quando a garotinha se levantou. E antes mesmo de sua visão ficar turva e se apagar, ele a viu olhando fixamente.
— O que você...
Mesmo tentando fugir na morte, ela parecia bater na porta. Inevitavelmente ele sentiria aquela sensação, mas ainda que sentisse muita dor, não pareceu que morreria.
Mas certamente era algo bem mais assustador.
— Você vai ser meu novo brinquedo.
Seus olhos se fecharam ao contemplar o brilho escarlate por trás capuz. Totalmente impotente, só pode ouvir o som da sua carne se rasgando e a risada divertida da garotinha.
Sua risada cessou ao sentir uma presença divina. Uma aura colossal cobria a área próxima, como se o céu se partisse dali.
Era uma espécie de tempestade de gelo, mas a aura azul era tão bela que não poderia chamar aquilo de desastre natural.
Sem olhar muito para a neve, que mais parecia uma pintura renascentista com sangue. Arranhou a garganta enquanto olhava para aquela aurora nos céus.
— Encontramos você.
Algo que não pôde ser reconhecido, se levantou ao seu lado. Era maligno, sem nenhum resquício do que já foi.
Enquanto caminhava, a garota dava pequenos pulinhos de alegria. Quando disparou em direção a igreja, com os braços atrás do corpo.
Aquela tempestade interminável de mortes ainda não havia acabado. Contudo, aquele caos se desviou para aquela catedral em ruínas.
***
Após aquela tempestade que lhes tirou toda sanidade e foi um divisor de águas no grupo de caçadores, a única possível vítima se arrastava pela neve.
A única que não voltou para a casa naquela noite. A ovelha perdida que caminhava mesmo sangrando sobre a neve.
Mabel depois de ser levada pela tempestade, atingiu algumas arvores e se feriu muito.
Usava roupas maltrapilhas, rasgadas por conta do impacto e atrito do vento. Um capuz ainda a protegia naquele clima congelante.
A garota de cabelos cacheados e pele pálida continuou, mesmo que o sangue pingasse do seu braço esquerdo que a mesma segurou durante todo percurso.
A neblina era densa demais, assim como oxigênio, era impossível de superar. Ela sentou resistir por horas, nem mesmo sabia onde estava.
Apenas soube que não receberia nenhuma ajuda, nem mesmo do homem que estendeu a mão no último segundo.
Até que se sentiu leve, na verdade seu corpo se perdeu onde pisava. Se perdeu na neve que engoliu seu corpo, até bater as costas em um local cheio de galhos, pedras e outras coisas levadas pela tempestade.
Os galhos e pedaços de árvores arrancadas lhe fincaram, percebendo estar em um buraco deixada para morrer.
Os lábios tremeram, não só pelo frio e o desespero pela própria morte, mas sim por ter suas esperanças esmagadas pelo destino.
— So...corro...
Aquele suspiro não foi ouvido por ninguém, pelo menos foi o que pensou quando desmaiou.
Os flocos de neve pairavam sobre si, e aquela silhueta se moveu rápido. Parecia apressada, pela forma que jogava a corda dentro do buraco.
Os olhos dela se fecharam, finalmente dando uma pausa na dor latejante atrás dos olhos.
Pequenos flashes do que aconteceu passaram por sua mente. Alguém a resgatou naquele lugar, a ajudando a viver mais um dia.
Seu corpo foi carregado nas costas daquele que não reconheceu nem rosto nem cheiro. Mas pareceu que o mesmo também sofria com o frio.
A entrada de uma caverna foi sua última visão, antes de perder a consciência completamente.
Os gemidos do homem e o chiado em seus ouvidos tiveram um fim. Uma única fonte de calor iluminou toda caverna, sem saber quanto tempo havia se passado, abriu os olhos diante aquela luz.
— Oh, senhorita... — Um homem de cabelos escorridos e azuis, estava sentado a sua frente. — Está com frio?
Percebeu estar enrolada em vários cobertores, além das pedras de mana que queimavam junto da fogueira ao seu redor.
Os lábios tremiam e os dentes se chocavam quase fazendo faíscas. Sentiu o frio impregnado em si, como se estivesse totalmente nu.
— E-estou... — Ao dizer aquelas palavras, era como se o nó em sua garganta apertasse ainda mais. — Quem é você?...
— Pegue uma, e recite as palavras. – Ele entregou a ela uma pedra laranja envolta por um tecido grosso.
— Desculpe, meu nome é Zae kendaya.
Ela engoliu seco, rasgando sua garganta enquanto estendia o braço trêmulo.
Ao retira-las de baixo das cobertas, percebeu uma casca dura e negra nas pontas dos dedos, e arregalou os olhos atônita.
— O quê!?...
Ele encarou as próprias mãos com o puro desespero no olhar. Suspiros gelados vieram e em seguida a confusão entrou em seu ápice.
Sem poder mover os dedos, olhou perplexa para o homem que forçou uma tosse.
— Me desculpe, pega isso.
Ele ainda manteve estendido o cristal, e por pensar que ajudaria ela o pegou com as duas mãos doloridas.
— Eles congelaram totalmente, talvez não voltem a ser como eram.
— Feuer.
Essa foi uma consequência bem generosa por andar pela tempestade sozinha, mas aquele que dizia isso não aparentava ter hematomas da frente fria.
Ao redor daquela fogueira Mabel estava de frente para Zae, logo ao lado uma mochila que não pode conferir o que guardava.
Um curioso canino dormia ao fundo, atrás de Zae. Tinha pele pálida e era incrivelmente grande, ainda mais que um lobo.
— Aquele ali é o Loki.
— Um lobo tão grande, isso não é natural.
— Sabe, acho o natural sem graça.
Por mais que aquele homem fosse simpático, não pode deixar de desconfiar do sorriso largo que demonstrava o tempo todo.
Mesmo tendo a salvado, não poderia baixar totalmente sua guarda. Uma vez estando sem poder utilizar suas mãos, por consequência, sua magia.
Por ser uma maga renomada no vilarejo de Arneb, percebeu resquícios de mana nas mãos dele. Assim deduzindo que o homem a sua frente poderia ser como ela.
Piscou os olhos com marca pretas logo abaixo, lentamente querendo os fechar enquanto segurava o cristal.
— A temperatura tá melhor?
— Sim, obrigada.
Zae a interrogou por estar em silêncio, por apenas o som dos estalos da fogueira serem ouvidos dentro da caverna.
— Por que me salvou?... — Uma gota de suor desceu na lateral de seu rosto.
Aquelas íris escuras a empalaram, como se esperasse essa pergunta ele riu e respondeu apoiando o punho no rosto.
— Eu precisava de uma certa “vaga”.
Não pode deixar de notar os anéis de diferentes cores em suas mãos, o que a deixou ainda aos tensa.
Do que ele tá falando!?... Ele é do império rival, o que será que ele quer comigo?...
Ela respirou fundo, tentou ser sutil ao respondê-lo. Mesmo estando suando, queria transparecer o mínimo de tensão.
— Eu não entendi, pode me explicar?
Ele demonstrou uma certa surpresa ao desmanchar o sorriso, mas logo voltou a deslizar os lábios.
— O grupo de caçadores que popularmente protegem Arneb, na verdade gostaria de me juntar sem perdas. Mas fiquei sabendo que eles tem uma quantidade limitada de membros, é isso é proposital.
— ...!
Ela se levantou de pressa, derrubando o cristal no chão. Foi tão brusco que ela se queimou seu pulso, mas o choque era tão grande que não deu muita importância.
Os olhos fitaram aquele homem igualmente trêmulos. O reflexo parou de ser de uma boa pessoa, enquanto o mesmo continuava.
— Então, pensei que você poderia me ceder esse lugar. Bom... — Ele riu — você não pode usar magia ou ser útil para eles assim.
— Seu maldito. Se só queria me matar, me deixasse lá naquele buraco!
— Não.
— O quê!?...
— Não teria graça, se fosse assim. Onde está a adrenalina, o calor, toda a glória de conquistar um lugar!? — Ele assim levantou, gesticulando ao falar de forma exagerada.
— De onde eu venho, sem glória você não tem nada.
Ambos começaram a rodear a fogueira, enquanto ela se cobria com uma dos tecidos, fitava o homem que cada vez mais berrava para ela.
— Não tenho razão!? As coisa só tem valor se são conquistadas, e isso é... — Com as mão sobre o rosto, ele disse em tom sério — muito excitante...
Era óbvio. Por que uma pessoa salvaria outra se não fosse um desejo totalmente egoísta? Se sentiu idiota por acreditar que existia bondade dentro daquela caverna.
Você é realmente o que eu esperava que fosse...
A garota de cabelos castanhos, parou junto dele. As penas finas tremiam com o frio, o mesmo frio que estava entre os dedos de Zae.
— Então...
Não pode fazer nada, não pode dizer, nada. As palavras não passavam por aquele nó.
Foi quando ele abaixou os braços, que ela sentiu sua barriga gelada. Como se colocasse uma estaca de gelo diretamente na sua pele.
A fogueira oscilava, quase se apagando.
— Então?... — ciciou Zae.
Os mesmos olhos que acolheram-na foram o mesmos que saltaram após um momento silêncioso. Sentiu-se esmagada por aquela sensação.
Zae pulou a sem encontro, por um instante apagando a fogueira entre eles. Com as mãos quentes em seu pescoço jogou-a contra a parede.
— Ah!... Urg...
Os olhos castanhos espiaram os negros que encaravam ela profundamente.
— Você será meu sacrifício.
A faca atravessou a barriga da garota, fazendo um som ao bater pedra atrás dela.
O sangue manchou o tecido marrom, enquanto a carne era rasgada e o sangue pingava quente em suas mãos.
Os olhos dele se arregalaram, pois a única coisa que saiu dos lábios finos, foram um suspiro fraco, cansado.
Queria que ela gritasse, lutasse para que ele a deixasse viver e assim mata-la no limite da sua sanidade.
Não era fã de uma morte fácil e silênciosa, e foi justamente o que recebeu da garota de cabelos cacheados.
— Eu te vejo no inferno...
Ao morder os lábios, seu corpo caiu sobre os ombros de Zae, sem vida. Ao retirar a lâmina e observar os sangue vazar do ferimento e o corpo cair no chão, algo dentro de Zae gritou.
Nem mesmo o rosto dela pode ver, não pareceu que aquilo era justo. Assim como matar alguém por motivos egoísta, não ter suas expectativas correspondidas era quase insuportável.
As veias na sua testa saltaram, toda aquela calma e pinta de vilão elegante foi por terra junto com o corpo sem vida de Mabel.
— Sua puta, sua vagabunda de merda!
Ele chutou o rosto da garota, acordando Loki do outro lado da caverna que observou a cena.
— Sua pirada de merda, nem morrendo você tem algum valor!
Ele suava como um porco, era desprezível a expressão em seu rosto. Se olhasse pata si em um espelho, provavelmente tiraria sua própria vida baseado na visão de perfeição que tinha de si.
Apertando os punhos com toda força que conseguia, ele sentou novamente no tronco que antes estava.
Recebendo a visita de Loki, com uma expressão vil em seu rosto ele disse enquanto observava o cadáver a sua frente.
— Se você não vai me dar o que eu quero, aqueles merdas de Arneb darão.
Com a mãos sobre a lateral do rosto, fitou Mabel como e fosse queimada pela fogueira, e foi realmente que fez.
O que não foi visto até que o dia nascesse, e a luz do dia fizesse ele partir para a cidade mais próxima dando início ao seu plano.
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