Volume 2

Capitulo 51: Até o Final

[Sábado 17 de setembro de 2412, 00:35 da noite]

Ciro Khan Al-Abadi. 

 

Estava totalmente escuro, meus sentidos encobertos pela mais profunda escuridão, tudo que senti foi uma total leveza enquanto boiava à deriva pelo mar de sombras, tão leve que parecia estar flutuando em direção ao nada. O primeiro estímulo surgiu de dentro, uma batida do meu coração fez o sangue correr e com isso pude sentir meu corpo, a segunda batida veio logo em seguida fazendo minha mente funcionar novamente, a escuridão ondulante ao meu redor mudando constantemente de forma como líquido, com a terceira batida, minha imaginação começou a fluir dando forma as sombras amorfas. Com a quarta batida, meus olhos se abrirão, onde quer que meu espírito estivesse, era muito longe de onde meu corpo estava. 

 

Água, um córrego de água que seguia em linha reta, a água tinha uma cor esverdeada própria que era realçada pelo reflexo do céu sobre ela. Observei atentamente onde estava, um barco de madeira escura com adornos entalhados pelas bordas e formando uma ponta a frente, espirais que se completavam estavam enfeitando a madeira com a cor opaca dos entalhes contrastando com a mesma, eu estava sentado em um dos assentos do barco de tamanho médio, toquei meu próprio rosto notando algo de diferente em meu corpo. Minha pele estava bronzeada, um tom vivo de bronze da mesma forma que eu era a muito tempo, minhas mãos com calos que apenas meu corpo original possuía. 

 

Sou… eu? 

 

A brisa que vinha contra a correnteza carregava uma névoa incolor consigo, ela abraçava meu corpo como um cobertor, me mantendo confortável e acordado ao mesmo tempo. Olhei para além do bico intrínseco do barco, a mesma névoa turvava o caminho a frente cobrindo as margens do córrego de ambos os lados, porém, era possível ver árvores que se arquearam por cima do canal, seus galhos refletidos na água e com algumas folhas de cor escura caindo na mesma criando ondulações enquanto o barco passava, o som das folhas balançando a distância pela brisa criava um silêncio confortável. Voltei minha atenção para mim, tentando sentir o corpo que agora habitava, onde quer que fosse. 

 

Me inclinei na beira do barco vendo o reflexo do meu antigo rosto, meu cabelo escuro com ondulações nas pontas, meus olhos castanhos vivo e as duas marcas em forma de ganchos abaixo deles. Notei que minhas roupas também eram da época que eu ainda era um aprendiz no vale das Montanhas de Arenito, o tecido branco imaculado com faixas cor de areia em minha cintura e um poncho da mesma cor com padrões triangulares bordado nas bordas, voltei ao meu assento, tentando digerir tudo, minha aparência e leveza mental, a forma como esse ambiente era tão… confortável. Olhei para cima, entre as brechas das nuvens do céu muito além das árvores arqueadas sobre o córrego, uma aurora com constelações brilhantes logo em seu encalço era ainda mais linda do que seu reflexo sobre as águas. 

 

— Essa é a travessia, aproveite a paz enquanto ainda pode. 

 

Um som úmido chegou aos meus ouvidos quebrando o silêncio, algo era mergulhado e retirado da água, após esse som se repetir algumas vezes atrás de mim, tudo voltou ao silêncio. Olhei sobre o ombro incapaz de reconhecer a presença que me acompanhava, uma bela mulher estava sentada sobre um assento no final do barco, seu cabelo preto descia até a cintura com a parte esquerda presa atrás da orelha e a direita caindo sobre a parte direita do rosto a escondendo um pouco, seus olhos eram caramelo com uma marca dourada ao redor da pupila e se espalhando pela íris como raízes. Um remo estava repousando em seu colo, seu sobretudo preto tinha costura dourada com aberturas na área dos ombros que estavam cobertos por um suéter marinho. 

 

— Quem é você? — perguntei. 

 

Sua calça escura terminava em botas que iam até a canela, ela se mexeu ajeitando sua postura relaxada sem parecer nenhum pouco incomodada com minha presença, as suas olheiras de alguma forma deixava sua aparência mais elegante. Ela olhou para mim, me analisando com uma feição desprovida de qualquer emoção notável, parecia estar ponderando mentalmente o que fazer e nesse momento, a marca dourada em seus olhos pulsou, seu rosto era de alguma forma familiar, mas ela parecia ser muito madura para ser a mesma pessoa… ou talvez seja a mesma pessoa? O esclarecimento chegou até através da lembrança do dia que matei Vincent, seu rosto se encaixando perfeitamente na imagem mental da mulher que saiu com a criança nos braços, apenas mais madura. 

 

Devo ter me esquecido que o envelhecimento é algo comum e realça a beleza das pessoas… Por que estou pensando nisso?   

 

— Parece que se lembrou, estranho, criei uma imagem de você ser apenas um espírito estupido, mas olhando de perto, você parece ter algum tipo de individualidade… ou voltou a ter, tanto faz, tô aqui para cumprir sua punição e… te perguntar algo. — Sua voz composta delineava sua presença, sua feição endureceu me dando calafrios. 

 

Girei no assento para sentar de frente para mulher, a encarando cara a cara esperando em silêncio sua pergunta. 

 

— O que sentiu enquanto destruía minha vida? Eu refleti muito sobre isso por todo o tempo que passei te odiando, desejando que nossos caminhos nunca tivessem se cruzado ou que pelo menos, o resultado do nosso encontro fosse mais favorável a meu favor, eu aceitei o que aconteceu, aceitei que perdi, cansei de ficar com raiva e me desgastar por uma criatura como você… mas nesse momento, eu só quero saber essa unica coisa: por que acha que teve de ser assim? — A marca em seus olhos pulsou, mas ao invés de se apagar como antes, se manteve parcialmente acesa brilhando em dourado opaco e fazendo com que partículas de energia na atmosfera se destacassem flutuando entre nós. 

 

A intensidade do seu olhar era demais para encarar, desviei minha atenção para o chão do barco vendo mais dos entalhes de espirais pelo assoalho, pensei em sua pergunta com mais memórias retornando para mim. Aquele dia me marcou de muitas formas, eu via isso como fraqueza, uma derrota humilhante, agora eu vejo a real importância daquele dia para mim, foi quando fui liberto do ciclo de decaimento e preguiça que construí, antes disso eu tinha feito muito mais vítimas, inúmeras, eu as via como meros insetos esmagados, porém, para evoluir, eu preciso entender o que senti e a resposta é simples: nada. Contemplei com desdém minha conclusão, minhas ações passadas eram movidas pelo mero desejo de provar que minha escolha foi a certa. 

 

Eu estava confortável com o enorme poder que tinha, poucos dos que enfrentei eram habilidosos o bastante para me fazer refletir sobre essa minha força e como melhorá-la. Aquele dia foi algo ao acaso, uma daquelas situações que te obrigam a evoluir ou morrer, naquele dia eu morri, meu corpo original destruído pelo feitiço de Marcelo e meu espírito enviado para o outro lado, minha antiga conexão com Pólios facilitou meu retorno e ele criou este novo corpo para mim, mas a princípio, foi essa minha morte que me deu o que precisava para evoluir. Era tão fácil me agarrar a um poder e pensamentos que sempre me mantinham na bolha de poder que criei, quando ela estourou, o mundo me atingiu e isso me tornou mais forte do que posso imaginar, acho que... 

 

Força sem fraquezas são as mais fáceis de superar.

 

O que é ser forte? Por que ser forte? Como ser forte ? Essas perguntas vêm de todos os lados e tenho uma resposta para cada uma delas, e acredito que isso me torne mais forte. Minha força serve para meus próprios propósitos, crescer e atingir o ápice é intocável como o próprio fogo, quanto mais eu corro em direção a essa luz, mais eu posso me tornar um só com essa chama, aperfeiçoar minha alma até suprir meus conceitos de perfeição, eu preciso ser mais forte para sobreviver o que está por vir, assim como Marcelo se tornou mais forte para sobreviver contra mim. Eu escolhi ser a força que traz a mudança, faz parte da minha natureza, eu preciso que aqueles ao meu redor se adaptem ao meu crescimento ou… brilharei sozinho sem mais nada o que aprender.

 

Sem perguntas, sem desafios, preso em outra bolha incapaz de continuar avançando.    

 

— Nada… nesse momento, eu vejo as coisas de outra perspectiva, todas a vidas que tirei foi em vão porque minha existência era em vão, sem motivo ou propósito, apenas uma criatura vazia rumando ao esquecimento, por isso eu lembro deles agora, cada morte me trouxe a esse momento… destruir sua vida me libertou, por isso agradeço, agradeço por me libertarem do lampião que me prendia e me darem o motivo que precisava para querer brilhar ainda mais. 

 

A mulher abaixou a cabeça, seu corpo tremeu quando começou a rir, uma risada seca e amarga que enchia o vazio da atmosfera fria com melancolia, ainda com sua cabeça baixa, lágrimas caíram no assoalho do barco. No passado eu teria me sentido irritado com essa demonstração de fraqueza, porém eu vejo além disso, o ar e a atmosfera ao nosso redor se esfriava e o vento que balança as folhas ficou mais forte, pude ver de relance a feição da mulher se recompondo aos poucos, por um breve momento, me senti em minha luta contra Marcelo, ver outra pessoa crescendo e se adaptando de forma tão majestosa que até mesmo o mundo parece parar pra olhar. Ela parou de rir antes de inspirar pelo nariz, sua cabeça se ergueu com os olhos ainda marejados e uma lágrima descendo sua bochecha. 

 

— Nunca foi pessoal, entendo a tortura que esta por vim, nem por isso vou aceita-la tão facilmente… — Admirei a aurora no céu, a cor verde brilhando entre as ondas de luz cinzenta e marinha e atrás dela as infinitas constelações brilhantes.

 

A mulher se levantou com o barco ainda se movimentando para frente, ela olhou para cima com uma feição indecifrável, seus olhos traçando as estrelas  enquanto seguia as ondas de luz da aurora. Ela tinha anéis em cada dedo da mão direita que eram parecidos com os que Marcelo tinha, havia uma marca em espiral nas costas de sua mão com três sigilos distribuídos ao seu redor, as runas dos seus anéis começaram a brilhar fracamente com partículas escuras da atmosfera se aglomerando ao seu redor. O ar ficou frio, cada respiração fazia meu nariz arder e uma tremedeira começou a se espalhar quando esse frio se manifestou até mesmo dentro do meu peito.

 

A mulher olhou para mim, sua feição ainda indecifrável, ela ergueu a mão direita e seus anéis começaram a vibrar com os sigilos entalhados no bronze brilhando em verde musgo e as partículas escuras flutuando ao redor de sua mão. Marcas pretas subiram por seu pescoço com um símbolo aparecendo em sua testa como se fosse um terceiro olho, em sua palma, um símbolo semelhante a um sol com uma espiral no centro surgiu, a energia que ela emanava sussurrava em línguas estranhas que faziam minha cabeça latejar. Me senti completamente impotente, algo em sua aura me trazia um senso de familiaridade além da sua força, algo nela me lembrava a Mestra Bao.

 

— Você pode retribuir a ajuda que eu te dei? — Ela perguntou. 

 

A encarei, não desviando mesmo com a intensidade de seu olhar sendo palpável.

 

— Qual?

 

— Você disse que iria lutar contra o que está por vir, quero que faça isso, quero que vá até o final dessa ação e transforme tudo que estiver dentro ou ao ser redor em cinzas… O resultado irá continuar o mesmo, mas quero ver se o que disse foram mais que meras palavras, quando o pássaro cantar ao seu favor, será que vai se agarrar a esses valores? — Os anéis em seus dedos vibravam em partituras como em uma música, a cor verde escurecida das inscrições sendo refletida sobre a água ao redor do barco.

 

Abaixei a cabeça fechando meus olhos, eu podia dizer o que aconteceria a seguir por suas palavras e estava curioso a respeito do final. 

 

— Veremos… 

 

Meus sentidos retornaram ao vazio escuro de antes, ao invés de flutuar a derivar em direção ao nada, me senti sendo puxado para as profundezas da escuridão que me cercava com meu corpo sendo açoitado por forças invisíveis no caminho. A leveza mental foi substituída por cansaço, o conforto por uma dor que era impossível de descrever, a sensação dos meus membros sendo arrancados pelas forças invisíveis que me açoitavam, meus pensamentos foram paralisados pela dor com apenas uma lembrança mal construída se formando em minha mente como uma forma de distração. O mergulho terminou de forma repentina com os açoites se reduzindo a dores intensas, o calor dentro de mim era a única coisa que confortava, mesmo que fosse menos que um suspiro de alívio. 

 

— E novamente, Ciro, Príncipe do Fogo, o Prodigioso e todos os demais títulos… você me fascina, devo admitir, eu esperava tudo menos o que estou vendo agora, eu nem estou bravo, só… encantado. — As palavras de Pólios chegaram até mim, sendo o único som a se manifestar após o que parecia ser horas de silêncio. 

 

Abri meus olhos, a paisagem destruída do shopping agora estava se iluminando, estava atrás do meu próprio corpo ajoelhado exatamente na mesma posição antes de minha mente apagar. O tempo parecia arrastado, quase completamente parado, me permitindo observar tudo que estava para acontecer como um telespectador, Lady estava a metros na direita correndo em minha direção com sua armadura brilhando pelo calor da atmosfera, a energia que a cobria oscilava a cada micro movimento realizado, a minha esquerda, a fera na forma de um grande cão estava a metros de mim, seus olhos passando para além do meu corpo fixados diretamente em mim. O ar estava vibrando, pulsos de calor sendo emitidos pelo meu corpo em combustão, tudo ocorrendo tão lentamente que eu podia ver cada detalhe. 

 

Onde você está? 

 

Um arrepio me subiu pela nuca, olhei para trás antes que o mesmo acontecesse novamente me fazendo virar para frente, Pólios estava lá, a um braço de distância com a única coisa entre nós sendo meu corpo físico. Seu cabelo branco descia emoldurando o rosto esbelto, seus traços faciais carregando uma emoção distinta que realçava o brilho de seus quatro olhos fixos em mim, sua manifestação da cabeça para baixo parecia estar lentamente se desfazendo em partículas de areia branca, com essas levitando e saindo das roupas de mesma e dos seus membros, flutuando para todas as direções. Ele fechou o par de olhos em suas bochechas e um sorriso curioso se formou em seus lábios, sua presença parecia ter alguma relação com a passagem temporal lenta. 

 

— Sabe, eu tenho um plano desde o inicio, as vezes eu me perguntava se tudo estava indo de acordo com ele… realmente achei que perdi algum detalhe já que só haviam os seres com as piores indoles do meu lado, mas agora eu entendi o pequeno inconveniente, os mortais são inconstantes, volúveis, falhas constantemente em busca de seu conserto, você abriu meus olhos para o que devo esperar daqueles que me seguem… 

 

Seu sorriso se delineou mais, como se estivesse realmente feliz.

 

— Você é a primeira das minhas lagartas a sair do casulo… uma que pena isso o levou para longe. 

 

A cada segundo, eu me sentia mais leve, os fios de energia que me conectava ao corpo decadente em combustão se desintegrando e aos poucos a energia fervente começando a me preencher. Pólios estendeu uma de suas mãos, ele a parou a minha frente com a palma virada para cima, as partículas de energia branca que formavam seu corpo se desprenderam aos montes em seu movimento, sua mão possuía inúmeras rachaduras causadas pelo desprendimento das partículas e pareciam estar se desintegrando mais rápido a medida que o tempo também parecia acelerar. Os ventos quentes começaram a se mover milímetro a milímetro, o movimento de Lady ficou mais nítido junto a Fera com os pelos escuros que a cobriam começando a ondular. 

 

— Será que você aceitaria me servir mais uma vez? — Pólios perguntou com sua voz carregada de um tipo de diversão. 

 

Fiquei estático antes de dar um passo para trás, silenciei as vozes moribundas do meu consciente que viram nessa oferta a chance de ficar vivo, pensei sobre tudo em cada mínimo detalhe antes das palavras daquela mulher ressoarem dentro de mim. Do que adiantaria continuar vivo? Para que continuar vivo? As vozes moribundas tentavam me dissuadir, mas nem mesmo elas próprias conseguiam responder essas duas perguntas, cada vez mais desesperadas antes que fossem silenciadas de vez em quando o calor preencheu meus pensamentos. Dei mais um passo para trás me afastando mais de Pólios e o corpo que ele me fez, olhei para o teto do lugar desejando que o concreto desaparecesse para poder ver as estrelas uma última vez.

 

— Se eu aceitasse sua oferta, tudo que fiz seria anulado, tudo que aprendi e me lembrei seria esquecido e o ciclo recomeçaria, mesmo que agora eu tenha confiança de poder me sair melhor caso ocorresse, por que? Pra que jogar tudo fora por uma suposta eternidade de paz? Por que eu deveria me desgastar por você por uma promessa tão vaga e sem sentido? A paz não tem nada para me ensinar, uma eternidade de paz seria o mesmo de uma prisão, se for para me desgastar, que seja pela minha própria evolução.

 

O sorriso de Pólios aumentou enquanto deixava sua mão retornar ao lado do corpo. 

 

— Apenas me assista brilhar... 

 

Abri meus braços deixando que a energia fervente preenchesse meu espírito, o tempo se tornou palpável enquanto as ondas de calor começavam a avançar cada vez mais, fechei meus olhos com minha última visão sendo do corpo de Pólios se tornando um acúmulo de partículas brancas. Eu sirvo a mim mesmo, brilho para mim, luto por mim e cresço por mim, ser imortal é vago, tão vago quanto possível, mas se for para escolher uma forma de continuar vivo, que seja na lembrança de todos aqueles que passaram por mim, eu posso continuar vivo enquanto houver um único ser que se lembre de mim. Me senti abraçado quando o tempo retornou e as chamas cresceram em todas as direções, tudo engolido pelo fogo enquanto meu espírito era elevado junto ao fogo. 

 

Lembre-se de mim.

 

Abri meus olhos uma última vez me sentindo um só com o fogo que me abraçava, eu podia ver o céu, as gotas de chuva caindo constantemente e sendo evaporadas antes mesmo de chegarem a mim. As estrelas brilhavam entre as brechas das nuvens, desejei tão profundamente que também estivessem me vendo brilhar, estiquei meu braço para elas querendo tocá-las antes que o calor se dissipar, mas ainda faltava tanto apenas para chegar nas nuvens, no fim, eu posso aceitar que isso foi o suficiente, posso aceitar que brilhei o máximo que pude. O fogo me abraçava com algo me puxando, minha visão se escurecia com todos os sentidos se apagando, eu ainda posso brilhar, posso brilhar para sempre enquanto me lembrarem de mim. 

 

Lembre-se de mim…




    



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