Volume 2

Capitulo 52: Boa Caçada

[Sábado 17 de setembro de 2412, 00:40 da noite]

Marcelo Merial Dias.

 

Sendo levado pelos canais de energia, minha mente girou enquanto sustentava a concentração para manter a rota e velocidade, pensei em tudo que achei que poderia ter acontecido antes de emergir. Eu sinceramente já cheguei aqui mentalmente pronto para ser derrotado, entretanto, as coisas tomaram um rumo inusitado, nunca passou pela minha cabeça um cenário favorável e por isso preparei o meu… ainda assim, eu me pergunto: será que fiquei mais forte? Como? Quando? Quando deixei de buscar o que precisava no exterior e passei a focar no legado dentro de mim ou quando percebi o que realmente era importante? Ao meu ver, foi as duas coisas, eu consegui chegar nesse momento por uma junção de conquistas, acho que isso torna esse momento tão único.

 

Talvez… ou talvez esses pensamentos sejam apenas delírios causados pelo estresse. 

 

O nada se tornou algo quando fui regurgitado pelo canal, as partículas de energia me seguindo junto ao som abafado da realidade sendo distorcida para criar minha saída, metros a frente, vi Hana e Armando sendo expelidos pelos canais com as partículas escuras os envolvendo também. Tentei dar um passo à frente, porém, meu corpo protestou instantaneamente, uma tremedeira surgiu em minhas pernas e meus joelhos cederam, logo encontrei o chão úmido e lamacento, minha visão estava turva, a chuva que caia sobre mim era a única coisa que mantinha minha consciência parcialmente acordada, usei toda força que me restava para virar de barriga para cima. Milho, nuvens, chuva e estrelas foi o que vi, o milharal que cercava o shopping era o ponto mais seguro para se esconder e confesso que tracei a rota por instinto. 

 

As estrelas nunca foram tão lindas. 

 

As folhas do milharal balançavam com a força do vento, a água que caia nas poças ao meu redor eram como uma orquestra guiadas pela própria chuva, os trovões eram ocasionais e sabiam a hora certa para agravar o som da natureza. Entre as gotas da chuva fria que caia sobre mim, meus olhos estavam aquecidos, esse calor escorreu pelas pálpebras antes de descer pela têmpora e finalmente alcançar o chão, as lágrimas desceram e a cada uma, meu corpo cansado ficava mais leve, minha mente parecia estar depositando todo medo, confusão e dúvidas nessas lágrimas com meus olhos observando as nuvens se movendo para as estrelas brilharem em suas brechas. As risadas subiram pela minha garganta, mesmo que fosse doloroso, eu as deixei sair, esse mero momento era único demais para apenas chorar e agradecer em silêncio.

 

Marcelo ganhou essa, seu maldito. 

 

A cada riso que saía, minhas costelas fraturadas e músculos exauridos choravam de dor, mas era lindo demais, era belo demais, eu consegui superar aquele filho da puta! Um espírito com um milênio de experiencia e conhecimento e eu venci porra! Eu consegui… eu consegui Vincent. Passei cada detalhe por minha cabeça, cada ação antes de realmente entrar na luta e tudo que podia fazer era aceitar que eu realmente havia conseguido, eu tinha dúvidas se o sprinklers seriam o suficiente enfraquecer o fogo de Ciro, deixar a atmosfera úmida reduziu muito o poder total de suas chamas e o limitou a um combate a curta distância. Deixei a concentração para fortalecer a barreira que criei se desfazer, a energia que a formava estava retornando para mim aos poucos.

 

Foi exaustivo mantê-la ativa.

 

Eu tive que reduzir muito o potencial da minha obra primária, enquanto eu podia utilizar 20% do poder dela, foquei os outros 80% na barreira para enfraquecer a energia de Ciro, reduzindo o potencial do seu poder. A energia que retornava para mim causava uma sensação de alívio, dividir meu cérebro em setores era uma tarefa complicada, com ajuda de alguns totens que Armando e Hana colocaram para dividir a carga neural, eu consegui manter a barreira ativa, além disso, o braço que arranquei de Ciro no encontro do prédio de ensino também foi útil já que a barreira afetava ele de forma majoritária e o impediria de fugir até que Goro chegasse caso eu falhasse. Aquela mulher e seus capangas quase estragaram o plano, por sorte, ela emanava uma energia semelhante a que Ciro também emanava em sua aura, então a barreira também a afetou. 

 

Meu riso cessou comigo analisando o planejamento por trás de tudo, desde recuperar o braço que ele perdeu em nosso encontro anterior até a preparação do sistema de incêndio, troca de informações e totens, quanto mais penso nisso, mais me pergunto se foi o suficiente. Me lembrei do ferimento que vi em Armando antes de escaparmos, eu poderia ter planejado por meses ao invés de apenas uma semana e acredito que ainda poderia ter acabado de formas piores, nós ganhamos por mérito nosso e preciso aceitar isso. Sempre é uma luta injusta. Escutei um grunhido vindo de onde Hana e Armando estavam, comecei a me preparar espremendo a lama entre meus dedos como se isso me desse forças para me levantar, meu corpo protestava a cada mínimo movimento, usei Ukri como uma bengala quando consegui me colocar em pé. 

 

Hana e Armando estavam a menos de cinco metros, só que nas minhas condições, esses cinco metros pareciam quilômetros, comecei com um passo de cada vez apoiando meu peso em Ukri seguindo em direção a ambos. Hana estava ao lado de Armando tirando o casaco dele com cuidado, eu podia ver o sangue escorrendo na terra abaixo dele e suas expressões de dor, os dois estavam no pequeno barranco vertical dividido em duas seções como uma escada natural ao lado da estrada, dava pra ver o topo do shopping e suas luzes falhando, no pé do barranco, consegui ver a gravidade do ferimento do Garoto, seu osso estava saindo por seu antebraço direito com uma ponta afiada, o sangue fluia devagar por outros ferimentos na forma de perfurações no mesmo braço. Subi para a seção no meio do barranco onde estavam me ajoelhando ao seu lado, puxei meu cinto o entregando a Hana que foi rápida em fazer um torniquete. 

 

— Ela era muito rápida — Armando disse antes de soltar outro grunhido quando Hana apertou o torniquete improvisado. 

 

Movi minha atenção para Hana, ela apenas tinha alguns cortes que marcavam sua roupa com sangue na perna direita, tirando isso, os outros ferimentos eram cortes menores que mancharam seu terno. Coloquei meu dedo a frente do rosto de Armando, movendo-o para cima e depois pra baixo para lembra-lo de respirar devagar, mesmo que seja difícil de se lembrar numa situação dessa, eu o ensinei como coagular seu sangue com energia para controlar hemorragias, ele precisa aplicar o que ensinei mesmo que isso seja uma situação tão difícil que nem essa. Sua respiração se estabilizou aos poucos e sua face se fechou em concentração, o sangue em suas feridas deixou de fluir com constância após segundos, porém, a ferida exposta exigiria uma ajuda externa. 

 

— Coloca o osso para dentro e o alinhe, enquanto ele controlar o fluxo de sangue com Sine, vai da para salvar o braço sem tanta urgência… — falei colocando minha mão no ombro do garoto.

 

Hana segurou o braço de Armando com cuidado enquanto o mesmo se preparava com respirações mais longas. 

 

— Pensa comigo, se você chegar em casa machucado, vai receber atenção extra da Emma, talvez consiga dar mais beijos nela que o habitual, pelo que eu sei ela é bem difícil — Hana comentou sorrindo. 

 

Armando soltou um riso e parecia prestes a responder, mas Hana empurrou o osso para dentro usando os dedos com precisão e puxou seu braço pelo pulso antes de colocar os dedos dentro da ferida para alinhar o osso. Armando jogou a cabeça para trás repetidas vezes tentando manter o resto corpo imovel, sujando o cabelo louro pálido na grama, o processo durou menos de um minuto antes que Hana retirasse seus dedos da ferida, ela tirou o excesso de sangue que pingava da mão antes de pegar uma gaze do bolso interno do sobretudo e começar a enrolar sobre a ferida do garoto enquanto o mesmo deixava lágrimas descerem. Hana se sentou no barranco ao lado de Armando, ela deu um olhar para mim, cansado e carregado de carinho, eu o devolvi o olhar tentando achar uma forma de ajudar Armando a se levantar. 

 

Parei, incapaz de conter minha desconfiança, o jeito como o ar estava vibrando e calor sendo emitido casa com o que eles me falaram de uma obra de explosão em área que Ciro usou contra eles no hotel. Tentei sentir Moll, tudo estava silencioso demais em nossa conexão e também no próprio prédio, eu podia ver as luzes da fachada e do restante do prédio piscar antes que tudo se apagasse de vez no exato momento, isso fazia a parte paranoica em mim crescer de forma lasciva, tentei sentir a área através da enfraquecida barreira que se mantinha ativa por causa dos totens, porém, meu cérebro exausto enviou um pulso de dor como resposta ao invés de informações. Estava prestes a ajudar Armando a se levantar quando um presságio cresceu em minha nuca, os olhos de Hana se arregalaram no mesmo momento com meu corpo agindo sozinho a puxando para ficar sobre Armando e me coloquei acima de ambos. 

 

O barulho da chuva desapareceu momentaneamente, como se o tempo parasse antes do que estava prestes a acontecer acontecesse de fato, eu podia sentir a ameaça que estava por vir através do presságio e… era grande. Cada pelo do meu corpo se levantou, mesmo exausto, meus músculos se flexionaram como acontece todas as vezes que flui energia por eles, minhas feridas pararam de sangrar com minha concentração entrando em uma zona de concentração total, o foco que fluia pelo meu sangue agiu como eu instintivamente sempre faço, fazendo o penetrar em cada parte do meu corpo e massagear a força e resistência cultivados com o aspecto do Esmero ao longo dos anos em cada músculo, osso… em todo o corpo. Comprimi todo foco que tinha e expeli uma pequena quantidade por meus poros para formar uma película de aura sobre minha pele. 

 

A primeira coisa a chegar foi um vento quente, graças ao terreno baixo, ele passou principalmente por cima de nós com o pouco que me atingiu sendo o suficiente para aquecer meu corpo encharcado e causar algumas outras queimaduras. A terra sobre minhas roupas e a lama abaixo dos meus pés secou, a segunda coisa foi um som sem forma estridente, parecia que o próprio ar estava gritando de dor pelo calor e esse grito ficava mais ensurdecedor a cada segundo, a terceira coisa veio depois de um único segundo de calmaria, uma onda de choque que carregava um grito bestial consigo e outra rajada de vento quente que teve sua intensidade reduzida quando Hana armou seu território sobre nós. Depois de 15 segundos, o vento quente cessou, mas o grito bestial permaneceu se reduzindo gradualmente com um outro som intenso o seguindo.

 

Meus ouvidos estavam tinindo com um ruído constante, consegui evitar danos coagulando mais foco no meu canal auditivo e também graças ao território da Hana, ainda assim, o som foi forte o suficiente para afetar o equilíbrio quando tentei me mover. Ainda me mantive em cima de Hana e Armando com pancadas de ventos uivantes chegando com pequenos intervalos de tempo até nós antes que tudo se acalmasse de fato, cinzas começaram a cair do céu e todas contendo resquícios da energia de Ciro, na verdade, sua energia parecia estar impregnada no próprio ar, com o cheiro de enxofre arranhando as paredes do meu nariz a cada respiração. O clima também mudou com a onda de calor, o ar quente me fazendo suar mesmo que a poucos segundos eu estivesse tendo tremeliques por causa do frio, momentaneamente ficou difícil respirar.

 

Quando senti que as coisas estavam melhores, saí de cima de Hana e Armando esquecendo parcialmente minha condição para ver a enorme fonte de luz que vinha do shopping, meus olhos se arregalaram com a imagem do fogo de Ciro tendo transformado a construção em um literal inferno. Aonde deveria ser o teto dos quatro andares acima do térreo, uma forma humanoide esquelética feita de fogo vermelho como sangue se projetava para cima, a construção de fogo só se formava da caixa torácica para cima, os braços esquelético de fogo com veios de labaredas negras se estendia para cima como se quisesse agarrar o próprio céu, seus olhos cuspindo labaredas de fogo laranja enquanto seus dedos flamejantes se fechavam sobre o nada. Hana e Armando também se viraram para observar, todos nós olhando para o ser de fogo puro enquanto o mesmo rugia para o céu. 

 

O calor chegava até nós carregado pelos ventos, a chuva que parecia ter acabado voltou a cair, só que muito mais intensa, como se o próprio mundo estivesse desafiando o Espírito a manter sua demonstração de poder. Observei em silêncio enquanto a formação esquelética se desmanchava deixando um rastro de cinzas que mantinha sua forma esquelética, o fogo caia como chuva no shopping já chamas intensificando o incêndio que o engoliu por completo sendo possível apenas ver a sombra da construção, nem mesmo as cinzas se mantiveram quando a chuva escalonou novamente e reduziu a construção esquelética a nada. As rajadas de vento traziam consigo o cheiro de enxofre do fogo, o desespero e ódio gravados na energia que se extinguia vagarosamente junto ao próprio fogo, a vontade se apagando perante a tempestade que nos abraçava.    

  

Respirei fundo sentindo a presença de Ciro ser levada pelos ventos e a energia que vagava na atmosfera ser lavada pela chuva, havia algo ali, algo mais, eu sei o que é… mas nunca achei que teria coragem de admitir. Eu queria tanto explodir e morrer de uma forma parecida com isso… sendo levado por forças e cobiçando um final que me levasse até meu irmão, mesmo que fosse apenas para me desculpar, apenas para dizer cara a cara o quanto sua morte me desolou e o quanto eu queria ter ido no lugar dele, eu nunca havia me esforçado de verdade porque… eu não queria viver em um mundo sem ele, foi isso que mudou, eu quero viver nesse mundo onde a sempre uma coisa que tenta roubar minha felicidade, pra ficar perto de vocês. A imagem de Samuel e Glória em minha mente fazia meus joelhos fraquejarem, Hana apareceu ao meu lado, seu rosto ferido lindo de qualquer forma. 

 

— Eu te amo… pode dizer que me ama? 

 

Ela pareceu surpresa antes de levar minha cabeça ao seu ombro, o cheiro dela roubando o restante das minhas forças, sentir seu coração batendo era a melhor sensação do mundo, com a sensação dele próximo ao meu sendo a segunda melhor. 

 

— Eu te amo, meu Idiota.

 

Ficamos abraçados, não sei por quanto tempo e nem mesmo me importo, cada segundo sentindo sua respiração fazia minha vida fazer sentido, cada momento de dor e desespero parecia apenas uma lembrança ruim tão distante. Eu sei que vão haver momentos ruins, mas porque deveria teme-los quando sei o que preciso fazer? Enquanto eu tiver eles, enquanto puder amá-los, enquanto eu puder lutar por eles… minha vida faz sentido, eu cansei de ser sozinho, eu cansei de chorar sozinho, eu só quero ser amado, eu mereço isso, eu me esforcei tanto, eu só quero sentir que pertenço a algum lugar, a alguém, a alguma coisa, eu preciso disso ou apenas me restara o vazio da minha existência e todas a dores que sou incapaz de esquecer. A chuva se acalmou, o vento se tornou gentil, as gotas nos atingiam com mais leveza enquanto ainda abraçados. 

 

Apenas a soltei quando meus braços cansados ficaram dormentes, Armando parecia deslocado olhando a construção em chamas, coloquei minha mão sobre seu ombro, seus olhos doloridos carregados de muitas emoções, mas o cansaço se destacava. O pátio do estacionamento a frente do shopping tinha grandes pedaços de entulho fumegantes que foram arremessados pela explosão, busquei o carro de Hana e Belinda até encontrar ambos um pouco distante de onde haviamos os deixado, Belinda estava capotada do outro lado da estrada na beira do milharal enquanto o carro de Hana estava capotado com fogo queimando seu interior e escapando pelas janelas. Hana suspirou, um suspiro afiado que me deu calafrio até na alma, Armando parecia querer dizer algo, mas o som de um motor o impediu junto a luz de um farol que vinha de trás de nós pela estrada.

 

O som era inconfundível, me virei para ver o esportivo antigo parando a poucos metros de nós, o farol amarelo se projetava sobre mim como se estivesse me julgando, o som do motor como uma risada de provocação antes que fosse desligado. Eu conseguia ver as duas silhuetas no banco da frente através do parabrisa antes que os mesmos saíssem do carro, as portas se abriram com um ranger metálico, do lado do motorista saiu Goro, seu cabelo escuro com poucos veios grisalhos penteado para trás, a barba perfeitamente aparada com fios escuros com apenas seu cavanhaque feito de fio grisalhos e costeletas que eram propositalmente “arrepiadas” davam ao seu rosto sério um aspecto feroz. O sobretudo de couro marrom cobria o suéter marinho e descia até as coxas, o jeans escuro terminava em botas, a corrente de um colar dourado balançava em sua mão direita.

 

A outra pessoa foi uma aparição inusitada, a Odessa, Rosaria, sua máscara que tinha traços que lembram vagamente uma feição feminina, os olhos da sua máscara sendo um disco com três lentes ópticas se projetando para fora como se fosse uma câmera de três lentes vintage colocadas na forma de um triângulo. Ela vestia um sobretudo escuro padrão da ordem que descia até os joelhos, o sobretudo aberto me permitia ver o terno cinza grafite com quatro botões marcados com o símbolo da ordem, o cabelo curto ficava preso atrás da orelha na parte esquerda enquanto caia ao lado da máscara na parte direita emoldurando o face da mesma, as luvas que cobriam suas mãos eram do mesmo tecido que cobria o pescoço e orelhas. Ela olhou ao redor, primeiro o shopping engolido pelo fogo, antes de fixar seus “olho” em mim, o disco girou colocando outra lente no topo da pirâmide de três lentes, quase podia sentir ela me dissecando.

 

— Glória estava certa… você tinha que conseguir, parabéns, Marcelo — Goro disse se aproximando de nós indo em direção a Armando.

 

Odessa Rosaria andou até estar em frente ao carro, os olhos de sua máscara fixos em mim antes de virar a cabeça para o shopping com o fogo refletindo em suas lentes, havia algo no ar além da presença residual de Ciro, algo que me revitalizou o suficiente para continuar em pé. Minha mente estava silenciosa e eu receoso em quebrar esse silêncio, pensar traria o senso de dever para explicar o que e como as coisas aconteceram, haviam muitos detalhes para serem discutidos, desde o Estrangeiro que estava com Moll até a chegada dos reforços de Ciro e os detalhes sensoriais que notei em meio a nossa luta, apenas pensar em um resumo de tudo isso me deixava cansado fora os detalhes a parte que inclui a limpeza do perímetro e procurar possíveis sobreviventes fugitivos dos reforços do Ciro. Hana colocou seu braço ao meu redor, seu toque confortando os pensamentos selvagens que ameaçaram iniciar uma análise cansativa para repassar aos recém chegados.

 

— Vamos a catedral, podemos explicar tudo depois… — Hana disse encarando a Odessa enquanto me ajudava a ficar de pé. 

 

Rosaria parecia entretida assistindo a destruição, Goro guiou Armando até a traseira do carro onde faria um curativo melhor do que o nosso, Hana me ajudou a chegar até a porta do passageiro antes de ir ver Armando. Me recostei no carro, levei minha mão ao bolso interno do sobretudo alcançando um cigarro, colocando o cigarro na boca, peguei meu isqueiro tentando risca-lo, mas meus dedos falharam pela tremedeira e o isqueiro caiu no chão, antes que eu pudesse fazer o esforço para pegá-lo, a Odessa havia saído de seu torpor e se dobrou pegando e o riscando, ela aproximou o fogo do cigarro o acendendo e depois me entrando o isqueiro, sua máscara possuia sulcos nas bordas que me lembravam vinhas, a aura de superioridade era discreta ao mesmo tempo que esmagadora. Ela se virou novamente para a destruição, o silêncio sendo mais uma benção do qualquer outra coisa, o cigarro distraindo meus pensamentos da tensão e cansaço em meus ombros. 

 

– É bom tê-lo novamente, Criança. — Ela quebrou o silêncio, sua voz abafada pela máscara carregando leveza ao chegar até mim como uma surpresa agradável. 

 

É bom estar de volta.    



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