Volume 2

Capítulo 34: Despreparo

[Segunda-feira, 12 de setembro de 2412, 00:20 da madrugada]

Marcelo Dias

 

Me escorei na parede atrás de mim enquanto assistia a chuva cair, acendi o cigarro na minha boca buscando uma forma de acalmar minha mente. Pontualidade… um compromisso simples que é fazer as coisas na hora que foram estipuladas para serem feitas, essa chuva, esse clima, tudo ao meu redor consegue ser mais pontual e comprometido do que eu. Engoli o fato amargo com uma tragada no cigarro, a rua vazia com alguns carros estacionados parecia o cenário perfeito pra minha depreciação. 

 

Preciso fazer isso, preciso fazer isso, agora continua repetindo isso até colar. 

 

À minha frente, do outro lado da rua, ficava um pequeno comércio e ao lado direito dele uma antiga oficina fechada e ao lado esquerdo ficava uma subida. A chuva sempre é pontual, começa a garoar por volta das seis da tarde e a chuva mais forte cai pelas dez da noite, um ritmo constante até agora na madrugada onde os trovões começam e vão às quatro da manhã e diminuindo até sete, parando por volta das oito, pontualidade, o compromisso que o clima tem com o mundo me encanta ao mesmo tempo que me causa inveja. Minha cabeça tem um turbilhão bagunçado, para falar a verdade eu acho que cheguei até aqui no piloto automático. 

 

Eu deveria ensinar as coisas pro Samuel ontem, estar lá pra ver sua cerimônia, ajudar a Glória a explicar as disciplinas, os adornos e elementos… mas aqui estou eu no começo da madrugada me preparando para ver aberrações. A nicotina do cigarro era muito pouco pra ter o efeito calmante que eu precisava, os trovões pareciam os gritos da minha consciência, me culpando por estar aqui invés de em casa com eles. As luzes amarelas dos postes que iluminavam a rua eram ofuscados pelas gotas de chuva, os ventos molhados me açoitando como um castigo.

 

Respira…

 

O cigarro caiu da minha boca à medida que se tornava difícil respirar, mesmo sob uma parte coberta pelo telhado da loja fechada onde esperava, a chuva conseguiu me alcançar. Me apoiei nos muros baixos a frente da loja, puxando desesperadamente o ar conforme o mundo parecia encolher ao meu redor, me sufocando, minha consciência ficava mais pesada e a força do meu corpo estava sendo drenada pela compressão. Tudo ficou preto como se um botão fosse apertado e o mundo se desligasse e eu junto, na ausência de tudo tive segundos de paz antes que o nada começasse a me sufocar também.

 

Uma luz brilhou forte em meu olhos ainda fechados me fazendo abri-los por curiosidade, era outro lugar, uma sala iluminada pela luz vinda das janelas. Me levantei do chão reconhecendo aos poucos o lugar, muitos armários rústicos e madeira escura nas paredes com um papel de parede com símbolos que se completavam, minha atenção foi roubada pela visão de Vincent e Glória, jovens com seus quinze ou dezesseis anos, ambos conversando antes que Glória adolescente apontasse para mim. Os cabelos vermelhos como sangue eram bagunçados, cílios longos, lábios finos e um rosto meigo afeminado, era Vincent… mais jovem.

 

O que…

 

Vincent sorriu para mim e se levantou, a versão mais jovem de Glória veio com ele de mãos dadas, seus olhos caramelos sempre com um olhar preguiçoso e cabelo negro bagunçado emoldurando seu rosto. Ambos se sentaram à minha frente com as pernas cruzadas, eles estavam me olhando com expectativa, mas após nos encaramos por algum tempo, Vincent tinha um olhar confuso e Glória e ele trocaram um olhar de desconfiança antes de apontar para algo atrás de mim. Uma caixa de som grande, minha guitarra que eu tocava e um tocador de músicas acima da caixa estavam montados e prontos.

 

— Você bebeu de novo? — A voz acusadora da Glória parecia a mesma de sempre. 

 

— Caramelinho! Ele parou, eu juro… Ele disse que ia tocar a nossa música preferida! — Vincent disse me dando um olhar esperançoso.

 

Eu lembro desse dia…

 

Eu tive um probleminha com álcool no passado, Glória e Vincent começaram a trocar, sem eu saber, a bebida das garrafas por acetona e passei a ser supervisionado pelo casal em ascensão. Vi-me querendo sorrir ao lembrar desses tempos, o Professor Arcanista que cuidava do nosso ensino se envolveu e aos poucos larguei o vício, eu queria agradecer Vincent e Glória, mas, sinceramente, conversar com pessoas nunca foi meu forte, então preparei algo especial para eles. No limiar da inconsciência desejei ver a memória em que eu cantava a música que ambos amavam.

 

Qual era mesmo…

 

Meu coração parecia ter parado, o frio em meu peito poderia matar qualquer pessoa que o sentisse, fiquei paralisado, olhando os olhos de Vincent como um cervo encara os faróis de um carro antes de ser atropelado. Além do meu peito, meu corpo inteiro esfriou e a memória começou a se desfazer como tinta na água, de volta a escuridão meus lamentos ganharam forma como um choro baixo, um ruído de tantas emoções presas que queriam sair. Eu queria apenas ficar nessa escuridão com meus lamentos e memória, mas a sensação de ser chacoalhado começou a me despertar a contra gosto.

 

A primeira coisa que vi foi um homem careca com pele um pouco bronzeada, ele estava ajoelhado ao meu lado me chacoalhando e dizendo algo. Meus olhos se moveram para quem estava atrás dele, uma mulher morena com um guarda-chuva aberto olhando para mim com pena, notei sua barriga se destacando no vestido com o claro sinal de que estava grávida, também notei que estava deitado na rua ao lado da minha moto ao invés de estar na calçada um pouco acima onde apaguei. Ele ajudou a me levantar e comecei a imitar o comportamento de um bêbado para evitar muitas perguntas.

 

— O Senhor está bem mesmo? — A voz e jeito do rapaz era como seu físico, forte. 

 

— Eu tô meu Fio, tu num viu a chave da minha motinha por aí não? Eu preciso chegar em casa logo ou a Muié arrancar meu coro, tá entendo? — A última parte é uma verdade, de certa forma.

 

Ele fez uma feição preocupada e dura antes de mostrar a chave em uma das mãos, quando tentei pegá-la, ele a guardou no bolso e tirou um cartão de comércio para me entregar.

 

— Não posso deixar o Senhor dirigir nessas condições, vai que causa um acidente e a culpa vai ser minha por permitir, esse é o cartão da minha loja, passe lá quando estiver melhor e eu te darei a chave — disse, oferecendo-me o cartão.

 

Exitei antes de pegar o cartão e concordar com a cabeça, comecei a andar fingindo cambalear a cada passo, recusei a insistência do rapaz e segui o ignorando até que ele fosse embora. Malditas pessoas com bom coração…



Quando o casal subiu o morro, eu parei meu teatro entrando na parte coberta pelo segundo andar da oficina abandonada. A entrada era duas curvas no meio da construção que dava num portão de madeira azul coberto pelo segundo andar que servia de casa para o mecânico segundo o registro público. A memória daquele sonho vivido rodeava minha mente como um tubarão.

 

E pensar que ainda existem pessoas que se importam com um bêbado largado na rua, tinha me esquecido dessa parte da sociedade. Os poucos indivíduos pelo qual eu luto… lutava quando era um mensageiro. Ser treinador por um Arcanista me fez receber um convite anônimo, eles me deram uma localização e eu fui por curiosidade para encontrar uma mulher sendo assombrada, fácil de resolver.



Era a primeira pessoa que ajudei e depois disso mais cartas chegavam até eu ir de encontro a uma audiência. Sem reconhecimento, fama e a única coisa que você recebe é um bom salário, mas se você lutar apenas por isso, vai morrer cedo. 

 

Se concentra.

 

Fechei meu olhos, comecei a expandir meus sentidos e com isso veio o Presságio, abrindo meus olhos novamente o mundo parecia ser feito de pinceladas fortes e os vestígios de energia ficavam evidentes. As pinceladas que montavam à porta tinham manchas sem cor na tinta azul, me aproximei da porta observando as manchas sugando toda vida para seu interior morto, Miasma, uma das muitas energias do obscuro e uma das preferidas de uso pelos anfitriões. Qualquer energia que vem do obscuro tem ausência de vida, uma massa transparente de energia que causa mal-estar em qualquer um. 

 

Deixei o Presságio se desfazer e minha visão aos poucos voltou ao normal, olhando o mesmo lugar onde as manchas estavam, a madeira da porta envelhecida estava mais podre nesses locais. Movendo minha mão direita acima da mancha, meus anéis de Ordália vibraram sutilmente, fiz com que a radiância fosse até meus dedos e os anéis fizeram o resto absorvendo e desfazendo o Miasma. Esses vestígios podem me dizer quem o conjurou. Após alguns minutos eu consegui sentir, parei por um momento por uma sensação estranha vindo de trás.

 

Atrás de você, Marcelo — Meyrine disse.

 

Abaixei-me e senti o vento de algo passando perto de mim, junto a isso um trovão estrondoso fez meus órgãos tremerem dentro de mim enquanto me preparava. A pessoa que tentou era magra e baixa, uma mulher com cabelo curto, ela tinha uma faca e mostrou os dentes para mim como um animal. Segurava a faca próxima ao corpo e, então, avançou contra mim, seu primeiro movimento foi um corte de cima para baixo na diagonal



Mantive-me calmo, e apenas me inclinei para o lado e segurei seu pulso quando estava para baixo. Com a mão direita segurando seu pulso, fiz seu cotovelo virar ao contrário e um osso coberto de sangue saiu por sua jaqueta.

 

Antes que seu grito de dor saísse, soltei seu pulso e golpeei sua garganta, agarrando seu queixo, eu chutei a parte de trás de seu joelho fazendo com que se ajoelhasse. Com uma mão em seu queixo e a outra na lateral contrária da sua cabeça, em um único movimento com ambos os braços o estalo do seu pescoço quebrando ressoou nas paredes antes que apenas o som da chuva ocupasse meus ouvidos novamente, tive um calafrio por causa do som e soltei um suspiro vendo o cadáver cair de cara no chão. Tanto lugar pra estar, mas aqui estou eu… que bosta. 

 

Abri a porta da oficina com cuidado e puxei o cadáver para dentro, fechando a porta, ignorei o local para procurar algo no cadáver. Verifiquei a nuca, cabeça, língua, mas no pulso esquerdo foi onde eu o que eu estava procurando.



As seitas possuem um padrão fácil de aprender e descobrir. Marcam quem faz parte com suas próprias marcas e isso torna mais fácil de se encontrar reconhecer seus membros, uma marca complexa em seu pulso me dava uma dor aguda na cabeça por encarar muito, na verdade foi uma surpresa encontrar isso aqui. Verifiquei melhor, mas era a marca dele mesmo.

 

O que os seguidores do Belial querem aqui?

 

Olhei ao redor na oficina. Para mim, nunca vai existir breu, apenas lugares mal iluminados, um dos presentes da herança. Desde carrocerias enferrujadas e carros desmontados com mato crescendo no interior, no chão havia inúmeras rachaduras e do teto caia a água por inúmeros buracos que caberia minha cabeça, após procurar nos cantos para evitar qualquer surpresa, meus olhos foram atraídos para uma única fonte de luz que oscilava em uma sala no final da oficina. Passando pelos antigos armários de metal e tomando cuidado com qualquer baralho que eu produzia, consegui captar o som de vozes vindo da sala.

 

A porta fechada com algumas rachaduras deixava o fino fiapo de luz passar, me encostei na parede ao lado da porta, tentei ouvir melhor o que as pessoas dentro da sala diziam, mas a voz deles era baixa. Em estado de omissão, a energia em nossos corpos cai para 0,01%. Isso torna quase impossível a detecção a menos que a pessoa te procurando seja a Glória.



Usar uma disciplina em estado de omissão reduz a discrição e também o aspecto da disciplina, mas em falta de coisa melhor; é o jeito. Busquei em minha coluna o adorno do Esmero, me concentrando nele, era difícil manter a energia em meu corpo em um fluxo baixo.

 

O aspecto do Esmero começou a se espalhar por meu corpo trazendo consigo um calafrio, meus músculos pareciam descansados e o frio das roupas molhadas se tornou apenas um mero incômodo. O Esmero é a melhoria e a Glória me fazia treinar meu corpo com ele ativo para aproveitar totalmente o treino, mesmo sendo que a essência seja meu ponto menor, ainda tive grandes avanços com o Esmero, músculos, ossos, tendões, tudo melhorava mais rápido com treino e esforço com Esmero ativo. Mantive o fluxo do aspecto baixo e isso me limitava, foquei essa pouca quantidade do aspecto em meus ouvidos. 

 

Bingo!

 

— Como foi o encontro? — perguntou uma voz rouca.

 

Houve silêncio por segundos antes que qualquer um dissesse algo. 

 

— Péssimo, mais que péssimo: horrível, vamos ser mortos e estamos negociando com o carrasco? Um mensageiro estúpido já matou quatro de nós semana passada, por que o Mestre Belial quer se envolver com essa gente? — A voz de uma mulher estava banhada de indignação.

 

Houve um som agudo, um tapa, mas logo depois tudo voltou ao silêncio antes que outro falasse.

 

— Perguntei como foi, não pedi sua opinião, o Senhor do Ódio odeia perguntas estúpidas, agora responda; quais foram as condições do Negociador? — A voz rouca ficou mais grave. 

 

Belial, um dos Príncipes do Inferno e provavelmente um dos mais problemáticos, sua seita nos atormenta a mais tempo que é registrado e são como malditas baratas. Mata um, aparece outro. Seus seguidores mais fanáticos recebem um presente do próprio chifrudo, eu já lidei com muitos nesses últimos oito anos, a graça de uma entidade livre de malícia me dá vantagem contra os poderes vindos de um demônio, admito que teria morrido sem a herança em muitas situações, os servos de Belial são um problema e com o auxílio de um demônio o problema cresce. O que um dos príncipes do inferno quer com a seita dos “eternos”?

 

— Mais um sequestro… Na verdade dois, um com extrema importância para eles, um pirralho em uma cidade a menos de 100 quilômetros daqui. O Negociador disse que quer ele vivo e sem nenhum arranhão, que entre ele e o outro alvo, o pirralho tem prioridade. — A voz da mulher estava mais mansa.

 

Meu coração começou a bombear mais rápido, o sangue circulando e a energia junto a ele se espalhando pelas raízes em meu corpo. 

 

— Então vamos nos divertir antes de encontrar o garoto, será difícil não cortar a língua do merdinha quando ele começar a chorar… odeio crianças. — A voz rouca disse com desgosto.

 

Meus ouvidos pararam de ouvir e meu corpo estava ficando quente com a grande quantidade de ódio tinha que reprimir apenas para continuar escutando, quando começaram a trocar palavras sem valor, senti um alívio por poder agir. Deixei de me concentrar no Esmero, os sussurros distantes se silenciaram e me movi para ficar de frente a porta, retendo minha vontade de apenas entrar, me concentrei para sentir as presenças dentro da sala, o cheiro de enxofre começou a subir quanto mais eu me concentrava. Quatro pessoas e só uma tem uma presença com uma mancha infernal bem delineada, abrir meus olhos sentindo minhas pupilas se aquecerem.

 

Vamos conversar um pouco com esses putos.

 

Foquei no adorno mais explícito para mim, os conhecimentos do Tear inundaram meu corpo conforme o aspecto me completava, os sussurros eram claros e meu corpo estava em harmonia com a presença do Tear. Usando o aspecto, comecei a moldar energias como se fossem linhas, a capacidade de construir e solidificar a energia guardada dentro de mim, coloquei minha mão sobre a porta, fazendo a energia moldada pelo tear cobrir todo diâmetro da armação. Uma placa de energia invisível a todos os olhos exceto ao meus estava sobre a porta, comecei a despejar energia dentro dessa placa até seu limite. 

 

Se lembra como te ensinei? Carregar e depois é kabom! — Mayrine comentou.

 

O aspecto do Tear permite que a energia se torne a matéria para qualquer construção, contanto que você saiba como fazer, é possível já que, com o Tear ativo: a energia se torna matéria prima. A manipulação básica da energia é o que estou fazendo. A placa é feita de energia processada pelo Tear, por isso é mais resistente e está dessa forma, porém, é apenas energia processada pelo aspecto do Tear, acessando um outro adorno em minhas costas, deixei-o preparado para a segunda parte da entrada. Manipulando a energia dentro da placa, quando sua composição estava no limite, eu dei a ordem ao núcleo. 

 

Exploda!

 

A porta se desfez em milhares de fragmentos afiados que avançaram para dentro da sala, antes mesmo que pudessem se recuperar, comecei a manipular a energia junto ao segundo adorno. Obras em si são como instruções para a energia; quando ela passa por uma receita, sairá na forma que o conhecimento contido na obra dá a ela. A obra do Metalúrgico na minha omoplata direita transforma energia em qualquer metal e, com o aspecto, posso controlar a transformação e moldagem para a formação de metal com minha energia.

 

Manipulando e dobrando Sine e Fie com a obra do Metalúrgico e a modelando com o Tear, três pregos se formaram em minha mão enquanto eu adentrava a sala onde estavam os Lunáticos. Havia um cadáver com uma lasca de madeira alojada na nuca e muitas outras pelo corpo, um grandalhão tinha muitas lascas no braço e ainda estava de pé, uma velha estava com as mãos na barriga e sangue saia entre seus dedos, o último era um rapaz à minha direita com um grande lasca na coxa gritando de dor. O grandalhão começou a andar com uma carranca em minha direção, em um movimento rápido eu arremessei um prego na barriga da idosa e outro no ombro do rapaz…

 

O Grandão me chutou contra a parede enquanto atirava o prego no rapaz, pulei para trás cambaleando para evitar um soco vindo de lado e encaixei um gancho em seu queixo, contudo, segurou meu braço.



Suspirando, usei disso para enfiar o prego no peito direto do idiota, que soltou um urro de dor ainda segurando meu braço esquerdo, soquei sua garganta e usei o peso do meu corpo pra empurrá-lo em direção a Velha no canto da sala. Me livrando do seu aperto, usei os segundos de calma para formar mais um prego e o guardei na manga, o Rapaz com a coxa perfurada pulou de onde estava para agarrar minha perna.

 

Uma dor aguda surgiu em minha coxa quando ele me apunhalou com uma espécie de chaveiro, segurei sua mão e a forcei para trás, muito além do limite do pulso. Sua cara se distorceu em agonia, o peguei pela gola e dei um soco, depois outro, outro, e muitos outros até que socar seu rosto fazia um ruído úmido percorrer a sala inteira, o Grandalhão me agarrou pelo lado e me empurrou contra parede, suas mãos apertando meu pescoço. Olhei para seu peito onde meu prego havia perfurado, uma mancha de sangue grande estava desenhada na camisa.

 

— ACHA QUE EU UM PREGO É CAPAZ DE…

 

Sua voz falhou quando enfiei o prego que guardei na manga entre suas clavículas, a carranca se tornou um olhar de desespero e seu apertou se desfez com ele dando passos para trás. Acariciei meu pescoço antes de olhar direito para o que estava enfiado na minha coxa esquerda, observando bem, era realmente uma das três chaves de um chaveiro, isso é estranhamente engraçado, esse cara realmente me apunhalou com um chaveiro? Um riso de escárnio me escapou e deixei a chave no lugar para evitar vazamentos do meu precioso sangue, minha atenção foi pro Grandão tentando desesperadamente retirar o prego da clavícula sem se matar.

 

— O prego é só uma casca, uma distração para o verdadeiro truque está dentro dele, é assim que um Cinzelador trabalha, sua Barata nojenta, vou te mandar pro colo do seu Demônio. —  Unindo meus dedos, foquei em uma das correntes de comando e enviei uma ordem junto a um estalar dos meus dedos como um aperta de gatilho. 

 

Ariete.

 

O prego preso entre as clavículas explodiu na forma de uma agulha, o som oco da energia implodindo estava úmido pela carne que rasgou no caminho e o sangue que espirrou. Um buraco sangrento me permitia ver o outro lado antes que o Grandalhão ficasse mole e caísse sem vida no chão, encarei a Velha no canto da sala que tinha um olhar de horror me observando, notei o Rapaz com a cara desfigurada e coberta de sangue arregalar os olhos para mim. Observei a sala com atenção, uma janela dava visão para a parte de fora da oficina e a luz que vi antes vinha pela única janela sem vidros da sala.

 

O som da chuva era benéfico de muitos modos, além de relaxante, também era perfeito para disfarçar o som de um disparo de arma como sendo apenas um trovão muito agudo. Pegando meu revólver do coldre de ombro, o Rapaz com a cara desfigurada começou a entoar em outra língua, meu corpo inteiro parou com uma pressão sufocante me abraçando e uma energia tentando invadir meus corpos, meus músculos começaram a doer e se contorcer, minha cabeça começou a arder quanto mais o Rapaz entoava. Radiância correu por meu sangue e músculos, o efeito do Misma com essência infernal invasora se dissipou em poucos segundos.

 

Eu adoro isso. 

 

O Rapaz olhou com horror seus cânticos infernais causando apenas uma irritação em meus ouvidos, apontei minha arma para ele e esperei pelo próximo trovão, que chegou carregando um relâmpago consigo, pressionei o gatilho no mesmo momento em que o céu brilhou além da janela, quando o som do trovão passou o cheiro de pólvora subiu, uma linha fina de fumaça estava saindo da ponteira do revólver e a cabeça do rapaz tinha um fura na lateral da testa e um rombo atrás da cabeça com miolos espalhados pelo chão. Minha atenção se voltou para velha, ela estava calada, podia ver o brilho dourado dos meus olhos refletindo nos dela.

 

— Por que está tão quieta? Eu quero ouvir sua bela voz nesse momento — falei, dando um passo após o outro até estar acima dela.

 

Dobrando meus joelhos, me abaixei para tentar nivelar nossos olhos, mas ainda assim eu conseguia olhá-la por cima sem nenhum esforço. A velha tinha um cabelo extremamento curto, seu rosto enrugado tinha quatro grandes cicatrizes em seu queixo que desciam pelo pescoço e iam para debaixo de seu suéter de tricô, mesmo que ela estivesse claramente tentando, seu medo era evidente nos seus olhos escuros e nas linhas de sua feição tentando parecer indiferente. Uma velha com um suéter de tricô com estampas de flores… Se não fedesse a enxofre, eu poderia dizer que era uma vítima. 

 

— Se ficar quieta, esperando sua morte através do sangramento da sua barriga, pode ter certeza que eu vou fazer você sofrer muito nesse meio tempo. Quem é o negociador que você estava falando? Um nome, uma descrição e também vai me dizer o que querem com esse acordo. 

 

Sua feição indiferente tentou parecer valente, mas logo se desmanchou conforme minha paciência se esvazia e com ela o meu controle, a radiância fervendo dentro de mim era visível por meus olhos. O servos do inferno e a grande família Aurora tem um passado sangrento. São pessoas que eu já odiava antes mesmo de ser aceito pelo Lar Áureo; mas, depois de ouvir todas as atrocidades que esses desgraçados fizeram em milênios, não só contra nós, mas contra tudo que tem vida… matar um deles é um prêmio de consolação até poder matar o demônio em pessoa. O silêncio da Velha tentando, bancar a durona, me dava permissão para fazer a Velha sofrer.

 

Focando na corrente de comando me conectando ao prego dentro de sua barriga, comecei a modificar a estrutura visualizando o prego, fazendo ramificações como galhos de uma árvore e tudo isso crescendo dentro da barriga dela. Seus gemidos de dor começaram, as feridas que ela tentava cobrir com as mãos sangravam cada vez mais que o prego se ramificou, inúmeras pontas de aço crescia em seus intestinos, o metal do prego estava tão espalhado em dezenas de pontas que a Velha só estava viva porque eu queria. Suas máscaras de valentia se foram, tudo que restava era uma velha moribunda com medo nos olhos.

 

— Eu… sou… inocente. — Sua voz rouca confirmava que ela era a pessoa que estava conversando com a outra mulher, isso fazia sua alegação entrar em contradição. 

 

— Como ele era? O que vocês queriam? — Meus anéis viravam conforme eu ordenava a energia se expandir dentro dela. 

 

Sangue começou a sair de sua boca, seus olhos desesperados se arregalando enquanto o resto de sua expressão estava em agonia.

 

— Eu… sou… Ino…

 

— PARE DE MENTIR. 

 

Por segundos, no mínimo três ou quatro, a minha real presença como um áureo de alta classe apareceu. A feição da velha foi lavada por medo, sua agonia desapareceu e tudo que restou foi medo.



O Semblante é algo que todos de alta classe devem esconder já que as pessoas comuns conseguem sentir. O semblante cresce conforme crescemos, ele é ligado ao que sentimos e como estamos. Para quem me importa, ele só me realça mas, para um áureo ou qualquer outro lar — até mesmo os adeptos de outras entidades ou anômalos poderosos —, se torna poderoso demais e isso pode causar reações nas pessoas comuns. Nivelei meu olhar com o da Velha, ela pareceu entender minha feição.



— Um homem estranho na casa dos trinta… pele branca como tinta… cabelos curtos e barba desgrenhada, ambos eram cinzentos… ele disse que só nosso superior saberia seu nome… — Ela parou e vomitou mais sangue. 

 

— Como era os olhos dele? 

 

Ela me encarou confusa antes de vomitar mais sangue.

 

— Laranja intenso… brilhavam e suas íris estavam em movimento… girando.

 

— Ao redor deles?! Como era?!

 

Ela tossiu se espremendo contra a parede. 

 

— Rachados… tinha rachaduras negras… por favor… me deixa viver.

 

Minha mente se iluminou, me levantei de onde estava sem olhar nenhum lugar específico, dentro de mim algo queimava com emoção e isso fez meus olhos marejaram, mas por quê? Finalmente, eu achei ele. Felicidade, mórbida e pronta para se transformar em raiva, mas eu finalmente encontrei o desgraçado, oito anos e tantos alarmes falsos, mas agora eu tenho algo concreto e meu objetivo está tão visível… mas por que agora eu me sinto vazio? Tosses intensas me chamaram para a realidade novamente, junto a essas tosses, ouvi o som distinto de um celular vibrando. 

 

Agachei-me novamente, tateei o bolso da velha para sentir algo duro, tirando esse algo do bolso dela era um celular que vibrou mais uma vez quando o tirei dela. Observei a tela, duas notificações de mensagens de um mesmo contato que estavam em latim, mas o que mais me interessava era o nome de quem havia às enviado, Bartolomeu… esse nome me era familiar, obviamente incomum então, com certeza, já vi ou ouvi alguém com esse nome, só falta lembrar quem ou onde. Colocando o celular no bolso interno do sobretudo, me levantei e tirei a arma do coldre de novo. 

 

— Responda a última pergunta direito e talvez eu te dê uma morte rápida, saberei se mentir.

 

A velha nem mesmo tinha forças pra me encarar.

 

— Onde estão os outros? Cadê sua turma? 

 

Antes de responder ela vomitou mais uma vez, o cheiro de fezes subiu para açoitar meu nariz, no vômito vermelho havia uma linha amarelada manchando completamente seu suéter florido.

 

— Fábio prédio… — ela murmurou. — Me deixe… viver... eu… mudo.

 

— Ninguém que ofenda meu sobrinho na minha frente vive muito. 

 

Observei a velha moribunda com nada mais que pé de uma pessoa tão miserável, puxei o cão do revólver e esperei novamente pelo próximo trovão. Pressionando o gatilho, a velha soltou um ruído após seu corpo começar a murchar mais ainda, sem admirar a paisagem mórbida da sala, comecei meu caminho para fora dela pegando meu telefone e discando um número, a meio caminho do portão o número para quem disquei atendeu, mas nem mesmo um ruído foi produzido do outro lado da linha até que eu falasse. Qual é a maldita senha mesmo…?

 

— Linda libélula dos jardins, uma limpeza para a rua Monique 104, oficina antiga sem número, cinco sacos de lixo e muita bagunça residual — expliquei saindo da oficina e fechando o portão atrás de mim. 

 

— Limpeza em nome de quem? — Uma voz resignada perguntou do outro lado da linha.

 

— Marcelo, Marcelo Merial Dias Aurora Áureo. 

 

Houve silêncio longo antes que respondesse.

 

— Chegaremos em cinco minutos. — A ligação foi encerrada e guardei o meu telefone.

 

Observando a chuva protegido pela cobertura da entrada da oficina, queria começar minha caminhada, mas uma dor ardida pulsou na minha coxa. Olhando o maço de chaves pendendo na minha perna, suspirei começando a mover energia pelo fluxo interno e a acumular energia ao redor da ferida, muito devagar puxei a chave enfiada na minha coxa, houve um pequeno espirro de sangue do buraco em minha coxa antes de eu começar os procedimentos de coagulação com a energia. A Glória faz parecer tão fácil, mas o ponto maior dela é a essência, que desgraça. 

 

Ampliando a essência em minha energia, meus sentidos se afiaram juntos ao pensamentos e isso para mim causava um certo desconforto, foquei na energia que acumulei ao redor da ferida. Nós usamos Sine para controlar Fie fora de nossos corpos, mas no passado muito antigo, as história dos livros da biblioteca do Goro dizia que os antigos anômalos impregnavam o próprio sangue para conseguir criar as primeiras manifestações de poder com Sine, Sine não pode sair de nossos corpos então só precisamos “estender” nossos corpos. Fie impregnada se torna parte de nós, então Sine pode passar por ela e comandá-la mesmo fora do nosso corpo. 

 

Comecei a usar obrigar que o sangue ignorasse a ferida e criar uma casca de sangue para tapar o buraco da ferida e evitar que saísse para fora, a essência me permitia fazer isso, mas a forma que eu estava fazendo é no mínimo do mínimo: arcaico. Com a essência, sondei minha coxa para descobrir que minha artéria tinha um corte, comecei a impregnar mais sangue com minha energia para força-lo a coagular nesse corte até que eu pudesse dar a atenção completa que o ferimento precisava. Mantendo uma parte da minha mente focado em manter o sangue sob controle, desfiz as outras concentrações para evitar o estresse. 

 

— Fábio Prédio… é de lá que você pertence? — perguntei olhando o chaveiro antes de guardá-lo no bolso.

 

Primeiro o seu ferimento, depois o resto — Meyrine comentou com rigidez.

 

Uma van marrom desceu o morro e parou em frente a entrada, a porta do passageiro abriu junto a do motorista e um senhor começou a caminhar em minha direção. Ele tirou o simples chapéu e em seu rosto enrugado surgiu um sorriso educado, o senhor estendeu a mão para mim e nos cumprimentamos, com isso feito ele sinalizou para o grande motorista que deu três tapas na porta de trás da van e ela se abriu, três homens e uma mulher carregando bolsas grandes caminharam em direção a oficina e o motorista foi junto com mais uma bolsa. O senhor tirou dois cigarros de seu maço e me ofereceu um. 

 

— Há algo que posso fazer pelo senhor, Senhor Merial? — O jeito cortês e educado complementava a aparência de um velho homem com classe. 

 

Peguei o celular da Velha junto a minha carteira, entreguei o celular junto a cinco notas de cem reais e guardei a carteira para acender o cigarro. 

 

— Uma gorjeta… preciso saber a localização de um número, Bartolomeu, o celular tem senha, mas duvido que isso te impeça e como você é da cidade, preciso saber se tem algum prédio aqui com Fábio no nome — falei, oferecendo o fogo do meu isqueiro para seu cigarro.  

 

Ele guardou o dinheiro junto ao celular no bolso da camisa e acendeu seu cigarro no fogo do meu isqueiro, deu uma longa dragada antes de falar de novo. 

 

— Agradeço a gorjeta… para o celular eu preciso de algumas horas, quanto aos prédios… deixe-me pensar… a um hotel simples na beira da rodovia principal que dá caminho pra Altura, Hotel do Fábio, mas também a uma loja no centro chamada de Fábio construções, a alguns outros estabelecimentos, mas já passei na maioria deles e esses dois são novos na cidade, por assim dizer. 

 

Hotel Fábio e Fábio Construções, o centro fica no caminho do posto aqui perto, posso deixar a moto lá até pegar a chave e já dar um jeito machucado no banheiro do posto. Joguei a bituca do meu cigarro no grande tambor de metal cheio de lixo no canto da entrada, limpando minha mãos com sangue na calça preta para disfarçar a cor, acenei com a cabeça para o senhor antes de caminhar em direção a chuva. O senhor chamou meu por mim, me vi curioso ao olhar para ele da chuva.

 

— Como bem deve saber, nunca fará parte da minha ou do meu empreendimento mentiras, ao menos nem sempre, hoje mais cedo recebi o telefonema de uma mulher e ela estava buscando por você, sei que você dois têm algum tipo de relação e com todo respeito, isso não é da minha conta. Apenas quero que saiba, caso essa mulher ligue de novo e pergunte pelo Senhor, eu direi onde o vi e o que lhe disse, se esse dinheiro era para manter isso em sigilo, receio que terei que te devolver. — Ele terminou soltando a fumaça do cigarro pelo nariz e boca me encarando com curiosidade.

 

— O dinheiro é uma gorjeta, Senhor, boa noite para você.

 

— Agradeço ao senhor também, Senhor Merial.

 

Vamos lá, Belinda, minha fiel companheira de viagem.

 

Pegando o guidão da moto, chutei o pezinho para trás e comecei a empurrá-la em direção a avenida do lado contrário ao morro. Passando pelos estabelecimentos pequenos fechados, sai na avenida que ia da direita a esquerda com inúmeros estabelecimentos maiores e alguns abertos, as calçadas dos do lado onde estava terminava em uma ciclovia, depois da ciclovia vinha a rua da avenida, empurrei a Moto pela calçada desviando das pessoas por ela. Hana vai me encontrar, ela sempre me encontra, que merda, pensei que ia ter mais tempo, que grandíssima merda. 

 

Eu estudei muito sobre entidades e as informações privilegiadas que os Áureos tem sobre elas me deu uma compreensão que muitos teriam inveja, existem muitas hierarquias definidas por detalhes específicos. Essa em questão é uma Entidade Residente, um espírito humano que se fortaleceu de algum modo na imensidão desconhecida da penumbra, o que define eles é a versatilidade que eles têm de sair e entrar no plano terreno por terem sido humanos. Quando eu o enviei de volta, destruí o corpo, mas era questão de tempo até ele voltar com um novo.

 

Hana e Armando não precisam se arriscar, esse é meu entendimento mínimo, eu sou o culpado dessa obsessão, eu que quero ver ele morto e apenas eu devo correr esse risco. Chegando em um cruzamento, o posto de gasolina estava do outro lado do cruzamento, esperei que os inúmeros furos das faixas de pedestres amarelas na rua brilhassem em verde, com isso eu atravessei e virei a esquina do cruzamento para ver um restaurante com varanda e um estacionamento simples, estacionei minha moto ao lado da varanda do restaurante. Eu sei que estou errado, eu sei, eu só quero entender o por quê… o porquê disso. 



Fechando os bagageiros da minha Moto, peguei um pequeno pacote, beijei minha mão e encostei no tanque antes de me unir a algumas outras pessoas esperando a luz verde das faixas para atravessar o cruzamento em direção ao posto. Caminhando e sendo abraçado pelas gotas de chuva, elas pararam de cair sobre mim quando entre abaixo do teto do posto, fazendo meu caminho entre as bombas de combustível, entrei no banheiro masculino indicado por um pequeno holograma bem no canto do posto. O banheiro estava vazio, as luzes brancas e cheiro de lavanda dos produtos de limpeza preenchiam o ar, entrei na primeira cabine e me sentei após fechar a tampa do vaso. 

 

Por um momento eu relaxei, me recostei na caixa da privada observando como a cabine era muito bem limpa e tinha um cheiro bom. Eu preciso entender o porquê sou incapaz de seguir em frente, mesmo vendo que Vincent enviar suas mensagens para Sammy e Glória, mesmo tendo encontrado uma mulher com quem eu dividi meu corpo e alma, mesmo tendo alguém que consegue me ver como um exemplo, eu preciso entender o porquê esse vazio em mim. Abri o pequeno pacote que peguei no bagageiro da moto, uma agulha curva, linha, bandagens, alguns algodões, um frasco de álcool e um esparadrapo.

 

Abaixe minhas calças até o joelho para ver o ferimento e minha coxa suja de sangue, alguns pontos secos e outros pontos molhados como todo meu corpo. Passei álcool em um dos algodões para limpar os lados da ferida e um pouco dela mesma, com outro algodão eu comecei a limpar a ferida e ardência fria do álcool contra minha carne começou, desviei minha atenção para conseguir fazer uma boa limpeza, mas dentro de mim a herança me trouxe algo que eu estava despreparado para ver. A energia da herança subiu para minha cabeça, parecia ser um embrulho de energia dourada e a presença do Samuel saia desse embrulho.

 

Afundei o algodão na ferida para sentir a dor e ardência, observei o embrulho de energia da herança, ansioso para ser aberto por mim. Parei de tentar evitar a dor e comecei a prestar atenção nela, minha punição, meus olhos se encheram de lágrimas, mas elas saiam de uma dor muito mais profunda em meu peito ao sentir a presença do Sammy na herança, eu podia sentir a preocupação dele, e mesmo assim sua presença era feliz como um raio de sol que escapa das nuvens cinzentas do céu. Me desculpa Sammy, me desculpa, eu vou… me desculpa. 

 

Me desculpa, Vincent.

 





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