Ascensão Estelar Brasileira

Autor(a): Lótus


Volume 1

Capitulo 12: Monstro da montanha

[Alguns dias antes da liberação de Etheryn.]

Em uma pequena vila no Japão, isolada de qualquer zona movimentada e próxima a uma montanha, o som metálico de uma katana sendo embainhada ecoou pelo quarto de madeira.
Sora, um jovem de cabelos longos e negros, encarava a lâmina com uma expressão séria.

A espada não era comum. Pertencera ao seu pai, Hiroshi, um dos guerreiros mais respeitados da vila, encontrado morto anos antes durante uma expedição na montanha.

Desde pequeno, Sora ouvia os anciãos contarem a lenda de um monstro que vivia no topo da montanha. Diziam que, muitas gerações atrás, a criatura amaldiçoara a vila após um conflito com os ancestrais. Desde então, guerreiros eram enviados para lá… e quase nenhum retornava.

Depois da morte do pai, Sora jurou que se vingaria. E esse dia estava cada vez mais perto.

Ele ajustou o hakama negro, conferiu as proteções de couro nos pulsos e respirou fundo. Hoje, começaria a expedição.

— Sora! Anda logo ou vai se atrasar, meu filho! — gritou sua mãe da cozinha.

— Já vou, mãe! — respondeu ele, saindo do quarto.

Na sala, sua mãe, Emi, o esperava diante da porta com um pequeno embrulho de tecido entre as mãos. Os dedos dela tremiam, e ela evitava olhar diretamente para o filho.

Sora percebeu e colocou a mão sobre as mãos dela.

— Eu vou ficar bem. Eu prometo que volto.

— Tem certeza, filho? — ela conseguiu perguntar, finalmente encarando ele.

— Sim. Eu treinei muito pra isso.

Emi desviou o olhar, tentando conter as lágrimas. Seus dedos apertaram o embrulho com mais força.

— Desculpa… eu só tenho medo que você acabe como ele…

Sora apertou a mão dela com firmeza.

— Não vou. Eu vou vingar o pai e voltar vivo. Me espera.

Emi assentiu lentamente. Sabia que não adiantava tentar impedir. Então, estendeu o embrulho.

— Pegue. Esse amuleto pertenceu ao seu avô… depois ao seu pai… agora é seu.

Sora abriu o embrulho com cuidado. Dentro, um pingente de jade com símbolos antigos. Ele o colocou no pescoço, sentindo o peso da responsabilidade mais do que o peso do objeto.

— Vá. Os outros devem estar esperando — disse Emi, ajeitando a gola do kimono do filho. — E lembra que prometeu voltar.

Sora não respondeu, apenas saiu.

Ao chegar aos portões da vila, viu uma multidão reunida. Quase todos os moradores estavam lá para ver o grupo partir. Alguns rezavam, outros sussurravam encorajamentos. A tensão era palpável.

Do lado de fora, quatro homens esperavam. Entre eles, Kenji, alto, cabelos grisalhos presos em rabo de cavalo, barba rala e olhar afiado. Mentor de Sora desde a morte de Hiroshi.

Sora correu até ele.

— Perdão pelo atraso, senhor Kenji.

— Tudo bem. Mas tem certeza? Depois que subirmos a montanha… não tem volta.

— Tenho. Aquele monstro tirou meu pai de mim e da minha mãe. Eu preciso fazer isso.

A expressão de Kenji suavizou. A lembrança de Hiroshi ainda doía.

“Ele é mesmo igual a você, meu velho amigo.”

— Seu pai era um grande homem… mas não teme deixar sua mãe sozinha?

— Eu prometi voltar.

Kenji assentiu e olhou para os demais.

Ren, baixo e robusto, carregava um machado pesado nas costas.
Takeshi, alto e magro, tremia segurando seu arco.
Shiro, de estatura média, sorriso arrogante, cicatriz na sobrancelha e uma katana.
Takuma, o mais velho depois de Kenji, tinha olhos azul-claros quase sobrenaturais e talismãs pendurados na cintura.

— Estamos todos aqui — disse Kenji. — É hora de partir.

O grupo adentrou a floresta sob olhares silenciosos. Emi permaneceu no portão por muito tempo, encarando o ponto onde seu filho sumiu entre as árvores.

O avanço era lento. Trilhas cobertas de neve, árvores densas, galhos retorcidos. O silêncio da montanha era pesado.

— Dizem que quem volta de lá nem consegue falar o que viu… — murmurou Ren.

— Meu tio voltou mudo, chorou por uma semana inteira… e depois morreu — completou Takeshi, inquieto.

— Eu não acredito nessas histórias — disse Shiro, rindo. — Deve ser só uma fera grande. Um urso, um lobo enorme… nada demais.

Takuma balançou a cabeça.
— Ou uma bruxa.

— Seja o que for — disse Sora — vai pagar pelo que fez ao meu pai.

Kenji lançou um olhar sério por cima do ombro.

— O importante não é matar o monstro, e sim garantir que todos voltem vivos.

Shiro bufou.

— Fale por você, velho. Eu vim aqui pra matar e ser pago.

Kenji não respondeu, mas o desagrado ficou claro.

Os dias seguintes passaram em tensão constante. Nada além de rastros comuns de animais e o silêncio da montanha.

[Dia da liberação de Etheryn]

A neve estava mais densa naquela manhã. A visibilidade, quase nula.

— O ar está estranho… carregado — murmurou Takuma.

Kenji parou.
— Fiquem atentos. Estamos perto.

A névoa finalmente começou a se dissipar. Eles chegavam ao topo.

E então viram.

Isolada entre a neve branca, uma pequena casa de madeira. Simples. Solitária. Quase… deslocada dali.

— Uma casa? — Kenji murmurou.

— Será que alguém mora aqui? — perguntou Takuma. — Um eremita? Um xamã?

— Ou o monstro é mais humano do que pensávamos — disse Ren.

A porta abriu devagar, rangendo. Então, uma mulher saiu.

Alta. Pele branca como a neve. Cabelos longos e negros como sombras líquidas. Olhos igualmente negros, vazios, profundos. A roupa azul, com detalhes brancos, parecia limpa demais para alguém isolado naquele lugar. E, na cintura, uma katana em uma bainha ornamentada.

Junto de um sorriso — um sorriso simpático e doce, completamente deslocado da atmosfera opressiva que cercava seu corpo — o ar ao seu redor estava mais denso.

— Oh… só cinco? Mandam menos a cada ano… querem me matar de fome, é? — disse Aella, com uma voz melodiosa e doce. — Bom, mas já é melhor do que nada. Prazer em conhecê-los. Me chamo Aella e, desde já… agradeço pela refeição.

Shiro foi o primeiro a romper o silêncio. Com uma risada alta e forçada, caminhou até ela, exalando uma confiança que beirava a arrogância.

— O “monstro” é só uma garota? Tá brincando comigo! — ele riu, olhando para os outros. — Viemos até aqui por causa disso? Vai, cadê o bicho de verdade, hein!?

Ele tocou o ombro dela com força. Aella inclinou a cabeça, sorrindo, e murmurou:

— Você está com a mão nele.

A frase pareceu sem sentido. Então, um som úmido ecoou, e algo pesado caiu na neve. Uma poça vermelha se espalhou aos pés dela, sangue pingando de seus dedos.

— Quando que ela…? — murmurou Sora.

Shiro permaneceu de pé por um instante, olhos arregalados em puro choque. Seu pescoço estava profundamente cortado; ele tentou falar algo, mas apenas sangue saiu de sua boca. Depois de poucos segundos, tombou morto.

— Que peninha… a mocinha te matou, né? — comentou Aella, com um sorriso leve, puxando a katana de Shiro presa à cintura dele e deixando a sua própria embainhada.

Ela se virou para o grupo, abrindo os olhos um pouco mais.

— Próximo?

O pânico explodiu. Takeshi disparou uma flecha direto no olho dela. Aella virou apenas um pouco o rosto, e a flecha passou raspando pela bochecha.

— Muito lento… quando foi que vocês humanos ficaram tão fracos?

Ren avançou rugindo, o machado erguido. O golpe tinha força suficiente para partir um boi ao meio, mas, quando o machado caiu, Aella simplesmente não estava mais lá.

A voz dela surgiu atrás dele:

— Quem ataca gritando assim… sempre é um dos primeiros a morrer.

Uma dor aguda atravessou o peito de Ren. Ele olhou para a lâmina, incrédulo, enquanto Aella a girava dentro dele, fazendo o sangue espirrar quente.

— Argh… — ele engasgou, caindo de joelhos, o sangue borbulhando nos lábios até seus olhos vidrarem.

Takuma começou a recitar encantamentos antigos, as mãos formando símbolos complexos no ar. Talismãs com inscrições sagradas voaram de suas mangas, rodopiando ao seu redor.

— Espírito maligno, eu te exorcizo! — gritou, lançando os talismãs em direção a ela.

Por um instante, pareceu funcionar. Os papéis aderiram à pele pálida de Aella, e, por um breve momento, ela parou, surpresa.

— Ha… hahaha… um humano que sabe usar magia? Há quanto tempo eu não vejo isso?

Os talismãs começaram a queimar em sua pele. Kenji avançava por trás dela, mas, num piscar de olhos, Aella já não estava mais ali.

Takuma continuou o cântico desesperadamente, até ela reaparecer na frente dele, tão perto que seus narizes quase se tocaram.

— Boo.

Takuma congelou. A lâmina atravessou seu coração antes que pudesse reagir. Ele caiu de joelhos, o rosto travado entre terror e surpresa.

— Obrigada pelo entretenimento, jovem mago — disse Aella, puxando a katana ensanguentada de seu peito.

Takeshi, vendo todos caírem um após o outro, entrou em pânico total. Largou o arco e correu tropeçando na neve.

— SOCORRO! ME AJUDEM!

Aella suspirou, decepcionada.

— Covarde… vai abandonar seus companheiros mesmo?

Ela dobrou as pernas, respirou fundo e lançou a katana com toda força. O ar vibrou como um trovão. A lâmina cruzou a neve, girando, cortando o vento.

Takeshi virou o rosto, e sua cabeça foi separada do corpo instantaneamente. E, como se fosse um ímã, Aella abriu sua mão, fazendo a espada voltar até ela.

— Sua maldita! — gritou Kenji, avançando com sua espada. A raiva dominava temporariamente o medo.

Aella parou a lâmina dele com a palma da mão, segurando o aço como se fosse um galho de árvore. Os olhos negros dela encontraram os dele, e, por um instante, Kenji viu algo ali: algo selvagem.

— É… como uma fera faminta… — murmurou.

— Você é bom — reconheceu ela, com respeito genuíno. — Melhor que os outros. Mas…

Com a katana na outra mão, fez um movimento rápido demais para ser compreendido. Kenji caiu no chão sem sentir dor, apenas com a consciência se esvaindo.

Sora só percebeu quando viu Kenji dividido ao meio. Aella deixou as metades caírem pesadamente na neve ensanguentada.

— Não é bom o suficiente.

Sora queria correr, queria vomitar, queria desaparecer. Mas pensou no pai. Pensou na mãe. Pensou na promessa.

Ele sacou a katana do pai e se firmou.

Aella arqueou uma sobrancelha, surpresa.

— Hm? Não vai fugir? Que gracinha.

— Isso é pelo meu pai — disse Sora, a voz tremendo, mas firme. — Eu me pareço com ele… lembra?

Aella observou seu rosto por alguns segundos, realmente tentando encontrar uma memória perdida. Então, sorriu, lenta e cruelmente.

— Desculpa… é difícil lembrar das almas que comi há alguns anos.

A frase acertou Sora como um soco. A raiva limpou o medo.

Ele avançou. Aella bloqueou com facilidade, mas não o matou de imediato. Sora atacou de novo, agora na diagonal, e ela desviou com um recuo.

Cada golpe dele era mais rápido e forte, e Aella percebeu.

— Interessante… — murmurou, enquanto se curvava para trás, desviando de mais um golpe em direção ao pescoço. — Você tem técnica. Alguém te treinou bem.

Sora não respondeu. Colocou toda sua energia em cada movimento. Lutava pela vida, pela memória, pela promessa.

O combate durou minutos. Aella brincava, mas a determinação dele despertava nela algo antigo… respeito.

— Hmmm… cansei de brincar — anunciou, finalmente.

Ela tentou decapitá-lo; ele desviou. Tentou partir sua cintura; ele bloqueou. Tentou perfurar seu coração; Sora rebateu e contra-atacou. A lâmina passou a centímetros do rosto dela.

Por um momento, os olhos de Aella brilharam com vida.

— Olha só… parece que te subestimei — disse ela, recuando um passo. — Me diga seu nome. Quero guardar.

— Sora! — gritou ele. — O nome do homem que vai te matar!

— Vamos ver do que é capaz, Sora.

Ele avançou com tudo, mirando no coração de Aella. No último instante, Aella sacou sua própria katana em uma velocidade impossível. O choque rachou o chão. A lâmina de Sora se quebrou, restando apenas o cabo.

— E agora, pequeno Sora? — perguntou ela, gentil como veneno.

Sora jogou o cabo e avançou com os punhos. Aella sorriu, admirada e com pena.

— Me atacar com as mãos nuas? Que desrespeito…

No único momento em que Sora piscou, enquanto tentava erguer o braço para tentar socá-la, viu seu braço esquerdo caído na neve.

Ele caiu de joelhos, o sangue jorrando.

Eles estavam diante da casa dela quando ele murmurou:

— Antes de eu desmaiar… quero saber… por quê? Por que atormenta nossa vila?

Aella limpou a lâmina na neve.

— Primeiro: eu nunca amaldiçoei vila nenhuma. E vocês… poupam meu trabalho. Mas, no fim, vocês sobem por escolha própria… acreditam em lendas inventadas pelos seus anciãos. Segundo: seria mentira dizer que não me divirto.

As palavras atingiram Sora como outro golpe. Toda sua vida, sua preparação, sua vingança… baseada em quê?

— Vocês, humanos, sempre precisam de um inimigo — continuou ela. — Alguém para culpar quando a vida mostra sua crueldade. É mais fácil assim.

A visão de Sora escurecia.

— Perdão, pai… perdão, mãe… eu falhei…

Ele pensou em Emi. A promessa quebrada lhe doeu mais que o braço perdido.

Aella ergueu a espada.

— Ao menos vou te dar uma morte digna.

Mas o ar vibrou, ficou elétrico, e o chão tremeu. O céu escureceu num segundo. Então, um raio colossal caiu atrás dela, destruindo sua casa. O calor atingiu ambos.

Uma voz masculina ecoou:

— Então é só uma Nulificadora? Hora de exterminar uma praga.

Aella virou-se, irritada.

— Quem é você que ousa destruir minha casa?

Entre os destroços, flutuava um homem loiro, alto, cercado por eletricidade, com um sorriso arrogante.

— Eu não costumo falar meu nome pra lixo como você — disse ele, indiferente. — Mas faz tempo que não mato uma Nulificadora. Pode me chamar de… Luke.

A última coisa que Sora viu antes de apagar foi o céu se abrindo em uma tempestade de raios.

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