Volume 1
Capitulo 11: Impacto
Dois meses se passaram desde o dia em que Mirror começou a treinar Seth com frequência.
No começo, os encontros eram tensos quando ela passava em casa após algum treino, Laly ainda desconfiava um pouco dela, e Green ficava por perto só pra garantir que ninguém se machucasse.
Mas o tempo passou, e a rotina se ajeitou. Mirror ia até a casa quase todos os dias, buscava Seth, e os dois seguiam para a floresta onde tudo tinha começado. Lá, entre árvores marcadas por explosões e pedras rachadas, ela o fazia repetir o mesmo movimento dezenas de vezes até sair perfeito.
A relação deles também mudou. Mirror já não parecia tão distante, e Seth, cada vez mais, entendia como lidar com o jeito dela direto, impaciente, mas no fundo, mais protetor do que admitia.
Naquela tarde, o treino terminou. O ar da floresta estava pesado, vibrando com o Etheryn dos dois. As folhas flutuavam no vento, e o chão trazia marcas do combate.
Seth respirava fundo, o corpo coberto por uma leve aura azulada que se misturava a pequenas faíscas e fragmentos de pedra suspensos no ar. Frente a ele, Mirror observava com os braços cruzados, o olhar atento, como quem analisava cada respiração.
— Nada mal — disse ela, após um longo silêncio. — Dois meses atrás você mal conseguia manter o equilíbrio depois de um golpe.
Seth riu, girando o pulso e fazendo uma esfera de vento se formar acima da mão.
— E você mal acreditava que eu ia conseguir alguma coisa.
Mirror deu um meio sorriso.
— Ainda acho que você precisa de muito pra me alcançar.
— Então é melhor não piscar. — respondeu ele, ampliando a esfera que explodiu em várias rajadas que cercaram o espaço ao redor dela.
Mirror desviou com facilidade das três primeiras, mas não viu o solo sob seus pés congelando em segundos. Seth se impulsionou para frente, o corpo coberto por luz, e apareceu atrás dela num clarão rápido.
O golpe quase acertou uma lâmina de vento, cortou o ar a centímetros do ombro dela, parando quando ela virou o corpo e o bloqueou com uma barreira vermelha, feita com seu próprio sangue. O impacto fez o chão rachar.
Mirror recuou, o olhar surpreso por um instante.
Seth caiu ajoelhado, ofegante, mas com um sorriso satisfeito.
— Quase.
Ela respirou fundo e relaxou os ombros.
— Quase mesmo. — admitiu, e um pequeno sorriso surgiu no canto da boca. — Acho que valeu a pena continuar te treinando.
— Que incentivo bonito. — brincou Seth, limpando o suor da testa.
— Não se acostuma. — sussurrou ela, virando o rosto para esconder o sorriso.
Seth e Mirror finalmente pararam, encostando em uma árvore para recuperar o fôlego. O treino tinha sido intenso, mas cada movimento agora fluía melhor, mais natural. O corpo de Seth ainda tremia de energia, mas ele sorria satisfeito.
— Você trouxe alguma coisa pra comer? — perguntou ele, tentando recuperar o ar.
Mirror tirou uma pequena mochila de costas e abriu com cuidado. Dentro, estavam alguns lanches embalados, feitos por ela na própria casa.
— Trouxe algumas coisas. Fiz ontem à noite. — disse, entregando uma barra de proteína para ele. — Não vá esperando que seja gourmet.
Seth riu, aceitando o lanche.
— Cara, você pensa em tudo mesmo…
— Não se acostuma. — respondeu ela, virando o rosto para o lado, mas havia um leve sorriso nos olhos.
Enquanto comiam, conversavam sobre o treino, analisando cada golpe, cada movimento, cada reação. Seth mostrava como tinha conseguido integrar os quatro elementos, manipulando vento, água, fogo e terra ao mesmo tempo, e Mirror observava atentamente, ocasionalmente apontando pequenas falhas ou ajustes que poderiam ser feitos.
Em um momento, enquanto Seth explicava como tinha sentido o fluxo do vento e da água ao mesmo tempo, Mirror recostou-se na árvore, observando-o com atenção. Um pensamento passou por sua mente, silencioso e sincero:
"Ele é realmente um gênio em combate... Ele é puro dom, não tem padrão mesmo... Só... talento."
Seth percebeu o olhar dela e arqueou a sobrancelha, divertido.
— Ei, tá me analisando de novo?
Mirror desviou o olhar rapidamente.
— Só… prestando atenção. — disse, com a voz firme, mas sem conseguir esconder a ponta de embaraço.
O sol começava a descer, filtrando raios dourados através das folhas, e o ar da floresta ficava mais fresco. Seth respirou fundo, o corpo leve, o espírito mais tranquilo.
— Eu nunca imaginei que poderia chegar tão longe em dois meses. — comentou, meio surpreso consigo mesmo
— E ainda tem muito a evoluir. — respondeu Mirror, cruzando os braços, o olhar sério, mas com um traço de aprovação. — Mas hoje, você quase me venceu.
Seth soltou uma risada, encostando-se na árvore.
— Quase. — repetiu, satisfeito.
— Não se acostuma. — murmurou Mirror, ainda virando o rosto para disfarçar, mas o sorriso era inevitável.
O vento sussurrava entre as árvores, carregando a sensação de que aquele dia tinha sido mais um passo importante.
Enquanto Seth olhava para a floresta, observando a luz do sol filtrando entre as folhas e os pequenos movimentos das criaturas escondidas, Mirror tirou o celular do bolso da jaqueta. A tela se acendeu com uma notificação. Ela franziu a testa, os dedos hesitando por um instante antes de desbloquear a tela.
Seth continuava distraído, apreciando o silêncio da floresta, até que percebeu que Mirror estava diferente. Ela olhava fixamente para o celular, a respiração um pouco mais rápida, o corpo ligeiramente tenso.
— Ei… tá tudo bem? — perguntou ele, virando o rosto na direção dela.
Mirror rapidamente guardou o celular, tentando recompor a postura, mas Seth percebeu que algo a deixava nervosa.
— Sim… só… uma mensagem. Nada demais. — respondeu, tentando soar natural, mas a mão que segurava o aparelho tremia levemente.
Seth franziu a testa, desconfiado, mas não pressionou. Ele voltou a olhar para a floresta, sentindo a tranquilidade do lugar misturada a uma leve tensão que agora pairava no ar.
Mirror se afastou um pouco, encostando-se na árvore próxima, mas não conseguiu deixar de jogar olhares rápidos para Seth, como se estivesse ponderando se deveria ou não contar sobre a mensagem. O silêncio entre eles agora carregava uma expectativa diferente, um prenúncio de que algo estava prestes a mudar no ritmo da rotina que haviam construído.
O vento continuava a mover as folhas, e a floresta parecia segurar a respiração junto com eles, como se percebesse que algo estava prestes a acontecer.
— Seth… Tudo bem se a gente for pra sua casa?
— Hm…? Claro, certeza que tá tudo bem?
— Sim. — disse Mirror, tentando de tudo agir naturalmente.
Então, seguiram o caminho para a casa de Seth. O percurso até que era curto, mas parecia interminável. A respiração de Mirror estava pesada, irregular, como se ela estivesse tentando engolir o próprio ar. Seth percebeu quando ela começou a roer a unha do polega
— um hábito que ele nunca tinha visto nela.
— Ei… o que aconteceu, Mirror?
Ela não respondeu. Nem sequer pareceu ouvi-lo. Apenas continuou andando, mais rápido do que o normal, como se o mundo estivesse pressionando suas costas.
Quando chegaram, Laly abriu a porta antes mesmo que Seth tocasse a maçaneta.
Seu olhar passou rapidamente pelos dois, mas parou em Mirror por um segundo a mais que o normal.
Lá dentro, a inquietação dela ficou impossível de ignorar. Mirror começou a andar de um lado para o outro na sala, passos curtos e rápidos, murmúrios baixos escapando entre os dentes, nenhum deles compreensível. A cauda dela tremia num ritmo nervoso, e o Etheryn ao redor parecia denso, instável.
Laly franziu o cenho, e foi até Seth, então ao seu lado sussurrou:
— Então… Eu não gosto muito dela, mas ela não tá estranha demais?
— Sim, mas não quis dizer o que aconteceu.
— Não é melhor então, hmm… falar com ela de novo?
Seth sem conseguir conter sua preocupação, somada a fala da irmã. Foi até ela, com cuidado, e segurou seu braço, não com força, mas o suficiente para pará-la.
Mirror finalmente levantou o rosto.
O olhar dela o atingiu como um impacto no peito.
Os olhos, sempre firmes, sempre afiados, agora estavam arregalados, vibrando com um terror que ela claramente tentava esconder. As pupilas estavam contraídas, os cantos vermelhos como se ela tivesse segurado lágrimas por tempo demais. Havia um desespero cru ali, algo que não combinava em nada com a Mirror que enfrentava monstros e o derrubava em todos os treinos.
Parecia que, por um segundo, ela estava prestes a implorar por ajuda, mas não conseguia achar a voz para isso.
— Mirror! — Seth inclinou o rosto na direção dela, desesperado. — O que tá acontecendo!?
— Eu… eu… — murmurou ela, mas as palavras morriam antes de sair. A respiração estava trêmula, quase um soluço preso.
— Vem. — disse Seth, firme, mas gentil.
Ainda segurando o braço dela, ele a guiou até o sofá, tentando fazer com que ela se sentasse. Mirror obedeceu, mas o corpo dela tremia, como se estivesse pronta para levantar e correr a qualquer momento.
Foi nesse instante que a porta se abriu novamente.
Green entrou na casa, ainda tirando os fones do pescoço, mas parou imediatamente ao ver a cena: Mirror ofegante, Seth ajoelhado ao lado dela, e Laly observando tudo, tentando conter sua preocupação, mas sem conseguir tirar os olhos de Mirror.
Ele não hesitou, caminhou rápido até eles.
— O que aconteceu? — perguntou Green, a voz baixa e séria.
— É isso que a gente quer descobrir. — respondeu Seth, ainda segurando a mão de Mirror.
Green se aproximou devagar e se agachou diante dela, mantendo a distância certa para não deixá-la ainda mais acuada. Ele respirou fundo e usou aquele tom gentil — o mesmo que só aparecia quando precisava confortar seus irmãos, um tom raro, quase escondido.
— Mirror… — chamou ele, suave. — Lembra do que fez você se juntar a gente, né? Pode falar qualquer coisa.
Mas ela só tremia. Seth apertou a mão dela para tentar estabilizá-la, e ela respondeu apertando de volta, com força.
— O meu… o meu… ele me achou… eu… — engasgou ela.
— Assim não dá pra entender o que você tá tentando falar. — disse Laly, preocupada.
E antes que Mirror pudesse tentar de novo
A onda de Etheryn despencou.
Um impacto brutal, denso, pesado, violento como um trovão invisível que atravessou paredes, ar e ossos.
Não era algo se aproximando, não era um aviso, apenas caiu sobre eles.
A madeira da casa rangeu. O ar ficou mais espesso. A pressão aumentou como se o próprio ambiente estivesse sendo empurrado para baixo.
Green precisou firmar os pés para não tropeçar.
Mirror, embora surpresa, não caiu, seu Etheryn reagiu instintivamente, criando resistência.
Laly caiu de joelhos primeiro, uma mão no chão, a outra no peito, lutando por ar.
Seth desabou logo depois, os dedos cravando no chão, tentando puxar qualquer respiração que o corpo permitisse.
— S-seth!? — Laly arfou.
Mirror congelou, os olhos arregalaram, o peito subia e descia em respirações trêmulas.
Ela virou o rosto para a porta, enquanto pensava o que havia feito aquilo.
E então, num fio de voz:
— Dois…?
Mirror apertou a mão de Seth, com seu desespero sumindo, dando lugar a preocupação, Laly conseguiu erguer o rosto.
— O que… que é isso…?
Ninguém respondeu.
A casa vibrou mais uma vez — um tremor mais suave, mas ainda forte demais para ser ignorado.
Green inspirou fundo, observando a reação dos três — Laly no chão, Seth sem ar, Mirror paralisada, pálida, ouvindo algo que ninguém mais ouvia.
— Isso veio de longe. — disse ele, sério. — Bem longe. Mas forte o bastante pra causar tudo isso daqui.
Outra onda percorreu o ambiente, mais fraca, mas persistente.
Mirror manteve o olhar fixo na porta, como se o mundo lá fora gritasse para ela.
Green se levantou.
— Eu vou confirmar a direção. — afirmou. — Ver o que gerou isso.
Seth tentou se levantar, ainda ofegante.
— Green… espera…
Green fez um gesto com a mão.
— Relaxa. Não subestimem seu irmão.
Ele caminhou até a porta e a abriu devagar.
A luz lá fora oscilou num brilho estranho — como se o próprio ar ainda vibrasse com o impacto distante.
Green olhou uma última vez para eles.
E então inclinou o corpo para frente e desapareceu numa arrancada súbita, cortando o ar e sumindo em direção ao horizonte.
A porta ficou aberta atrás dele, balançando levemente com a vibração que ainda tomava a casa.
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