Ascensão Estelar Brasileira

Autor(a): Lótus


Volume 1

Capitulo 10: Pressão

O caminho até a casa de Seth foi tranquilo, mas não desconfortável. A tensão dos primeiros dias já tinha ido embora; agora só dava pra ouvir o som das folhas, o vento e os passos dos dois na trilha.

Seth andava com as mãos nos bolsos, sentindo o Etheryn correndo pelo corpo, ainda estranho, mas já começando a se acostumar. Mirror ia ao lado, com a postura firme de sempre e o olhar no horizonte. Mesmo assim, tinha um sorriso quase invisível no canto da boca.

— Você foi bem até — disse ela, quebrando o silêncio. — Pra um idiota que nunca tinha usado o Etheryn antes.

Seth riu.
— Isso foi um elogio? Valeu… acho.

— Não se acostuma. — respondeu ela, cruzando os braços e olhando pro lado pra esconder o sorriso.

A trilha acabou e os dois saíram da floresta. Então seguiram à estrada e foram direto para casa, e o sol alto deixava tudo dourado. Quando pararam em frente a porta, Seth respirou fundo.

— Bom... é aqui.

Mirror observou a fachada simples, o som da TV vindo lá de dentro.
— Parece tranquila.

— Isso foi um “chata” disfarçado, né? — brincou Seth.

Ela soltou um risinho curto, sem confirmar nem negar.

Antes que ele pudesse bater, a porta se abriu. Green apareceu com uma toalha jogada no ombro e uma xícara de café na mão.

Olhou primeiro pro irmão, depois pra Mirror, avaliando-a de cima a baixo sem julgamento.

— Finalmente. — disse ele, arqueando uma sobrancelha. — Achei que ia te encontrar desmaiado em algum lugar.

— Quase isso — respondeu Seth, rindo sem graça.

— Aham. — Green deu um gole no café e olhou pra Mirror de novo. — Então... suponho que você seja a Mirror?

— Sou. — respondeu ela, direta.

— Entendi. Bom, entrem. A Laly tá aqui dentro, e se eu conheço ela, já deve estar surtando depois que falei que saiu pra treinar com ela, ficou achando que aconteceu alguma coisa.

Seth trocou um olhar rápido com Mirror e entrou. A sala cheirava a café recém-passado, o sofá estava coberto por almofadas coloridas e o som da TV enchia o ambiente.

Mirror entrou atrás de Seth, os olhos vasculhando o interior da casa com certa curiosidade. Tudo ali parecia humano demais pra ela. Móveis simples, cheiro de café, uma cortina que balançava com o vento, nada lembrava a natureza que ela conhecia dos Aeternis.

Green fechou a porta e se apoiou na porta.
— Laly! — chamou, alto o bastante pra ecoar pelo corredor. — O Seth chegou!

Uma resposta veio logo em seguida, irritada e rápida:
— Finalmente! Já tava ficando preocupada

— Enfim, já volto. — disse Green, saindo da casa.

Os passos dela soaram firmes, e em segundos Laly surgiu na sala, segurando uma caneca de chá. O olhar dela parou primeiro em Seth, e a expressão se suavizou.

Mas quando notou a presença de Mirror, sua expressão mudou, com um olhar vazio ela encarou à encarou por segundos, que pareceram horas.

Mirror arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços.

— Algum problema?

— O problema é que todas as vezes que você ficou perto dele, tentou matar ele. — respondeu Laly, sem hesitar. — E agora entra aqui como se nada tivesse acontecido?

Seth respirou fundo.

— Laly, calma. Eu já não expliquei? Ela tá ajudando, não…

— Eu tô calma. — cortou ela, o tom de voz já pesado. — Só quero entender por que uma draconiana que quase matou meu irmão tá aqui dentro.

O olhar de Mirror se estreitou.
— Eu já pedi desculpa pra ele e, aparentemente, ele te falou. Ou você tem memória curta? Além disso ele tá vivo por minha causa, lembra!?

— Por pouco. — retrucou Laly, encarando-a de volta. — Você podia ter matado ele, e tá aí se gabando disso.

— Mas eu não queria ter feito isso, tanto que agora eu mesma vou ajudar ele a ficar mais forte.

— Não é como se isso fosse apagar o que fez, você é só um monstro em um rostinho bonito!

Seth tentou intervir, mas o ar mudou. Mirror deu um passo à frente, e seu Etheryn, se manifestou, ondas vermelhas saiam de Mirror, gerando uma pressão quase invisível, densa, que fez as paredes vibrarem levemente. O instinto de Laly reagiu na hora o corpo dela ficou tenso, o coração acelerou.

Ela não recuou, mas os seus dedos tremiam.
— Tá me ameaçando agora? — forçou um tom firme, mesmo com a respiração trêmula.

— Não, mas gostaria de te deixar claro pra não me irritar, mais do que já tá.

Seth se colocou entre elas.
— Mirror, para!

Então sem que eles notassem, a porta se abriu, Green havia voltado e viu aquela situação.

— Chega! — disse Green.

A pressão continuou por um segundo, depois sumiu, como se nunca tivesse existido. Mirror desviou o olhar, respirando fundo. Laly ainda parecia tensa, as mãos tremendo levemente ao redor da caneca.

— Eu deixei vocês sozinhos por alguns minutos. — disse, em tom neutro, mas firme. — Ninguém tá aqui pra brigar, Laly, ela vai ajudar o Seth e ponto, ele escolheu confiar nela, então nós vamos também. Mirror eu acho que ele te disse que se nos ajudar eu vou ajudar você seja no que for, mas se virar inimiga de um deles, significa virar minha inimiga, então cuidado.

Mirror desviou o olhar, murmurando envergonhada:
— Ela começou…

Seth suspirou, massageando as têmporas.
— Vocês duas precisam de um tempo.

Laly respirou fundo e virou as costas.
— Eu vou pro quarto. — disse, tentando esconder o tremor na voz. — Antes que eu diga algo que me arrependa.

— Eu não devia ter vindo… — disse Mirror, com o olhar fixo no chão.

— Não diz isso! Ela só tá… assustada com tudo que vem acontecendo, com o tempo vocês vão se dar bem!

Ela soltou o ar, os olhos suavizando um pouco.
— Espero que você tenha razão.

Então, Seth e Mirror se sentaram no sofá, ficando quase o resto da tarde inteira conversando.

Green, vendo a situação, se aproximou de Seth e Mirror.
— O que acha de ficar por aqui um tempo?

Mirror o olhou, ligeiramente surpresa.
— Hm? Não acho que seja uma boa ideia.

— Relaxa — disse Green, encostando-se à parede. — A Laly não vai ligar.

Mirror cruzou os braços.
— Sei lá… do jeito que ela me olhou, acho que discordo disso.

Seth riu.
— Ela só precisa se acostumar.

Mirror soltou um som breve, entre um suspiro e uma risada curta.
— Hm.

Green deu de ombros.
— Mesmo assim, se quiser vir jantar ou passar um tempo, tá convidada.

— …Valeu. — respondeu ela, após uma pausa curta. — Mas eu tenho casa.

— Eu sei. — disse Green com um meio sorriso. — Só tô dizendo que pode vir quando quiser.

Mirror hesitou por um instante, então apenas assentiu.
— Tá. Vou pensar.

Seth sorriu.
— Isso já é um começo.

Ela o olhou de canto, fingindo indiferença.

— Não se acostuma.

Green riu baixo.
— Acho que vocês dois se entendem bem demais.

Mirror deu um pequeno sorriso de canto e virou-se e foi até a porta para sair.
— A gente se vê por aí.

— Já vai? Não quer ficar pra jantar? — perguntou Seth.

— Não vai dar. Tenho algumas coisas pra fazer hoje ainda.

— Ah, certo!

Ela seguiu pela estrada, o vento levantando um pouco da poeira do caminho. O sol começava a descer, tingindo o céu de laranja. Seth ficou observando até que ela desapareceu na distância.

— Ela é… diferente. — comentou Green.

— É. — respondeu Seth, ainda olhando o horizonte.

Green cruzou os braços, pensativo.
— Quero dizer… diferente dos outros draconianos que já vi. Mais contida, mais… humana, talvez.

Seth desviou o olhar e deu um leve sorriso.
— Ela só se faz de fria, não entendo o porquê.

Green deu um tapinha no ombro dele.
— Boa sorte pra entender o que se passa na cabeça dela.

Seth riu.
— Já percebi que vai ser complicado, enfim tô cansado, vou ir pro quarto.

— Tudo bem, se precisar de qualquer coisa eu não vou sair hoje.

Então Seth foi até seu quarto e fechou a porta, ficando no celular sem nem mesmo ver a hora. 

Mais tarde, o quarto de Seth estava mergulhado na penumbra, iluminado apenas pela luz fraca do celular. Ele rolava o feed sem prestar atenção, até que o aparelho vibrou.

M: Ei, cê tá acordado?

Seth piscou algumas vezes, meio sonolento, e respondeu.

S: Tô, precisa de alguma coisa?
M: Só uma pergunta, amanhã depois do treino, posso ir ai?

Seth sorriu de leve, apoiando o celular sobre o peito.

S: Claro! Mas admite, gostou de me treinar né? XD
M: Você que precisa aprender logo.
S: Justo.
S: Mas pode vir, sim.
M: Beleza. Valeu!
M: Ah, mas amanhã tenta não morrer no treino, vou pegar pesado!

Seth riu sozinho.

S: Sem promessas.

O que Seth não esperava era que, depois daquela mensagem, mais uma pessoa passaria a fazer parte de seu dia a dia, pelos próximos meses ou até anos.

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