As Castas de Kodekalain Brasileira

Autor(a): Andre Ludwing


Volume 1

Capítulo 6: A Companhia de Escravos

Priya ficou aterrorizada quando descobriu que estava nua ao acordar. 

De reflexo, se encolheu e recuou até o canto da parede, se cobrindo o máximo que pôde. Tremia.

Onde estou?

Olhou em volta e notou que só podia estar em uma espécie de masmorra ou algo parecido. A única iluminação vinha lá de fora, tochas penduradas além das grades, num corredor escuro e úmido.

Memórias de eventos recentes vieram a mente.

Seu corpo retorceu por dentro.

Isso não pode ser real… isso só pode ser um sonho… não, não, não, não, não, não… 

Lágrimas escorreram de seus olhos.

Tentou usar seus poderes, mas era inútil. Sentia apenas a energia pulsar, mas depois ser completamente sugada pela pedra no meio de seu peito. Um pequeno diamante.

Era impossível tirá-la, não importando quanta força colocasse.

Ficou ali pelo que pareceu horas. O fato de que estava sem roupa alguma levantou uma paranoia em sua cabeça. Haviam abusado dela? O pensamento era assustador. No entanto, era uma possibilidade.

Felizmente, ela não sentiu nenhuma dor específica. Exceto por dor de cabeça e cansaço extremo. Ela se auto examinou, mas não conseguiu achar nenhuma lesão ou sinal de abuso. 

Ela deixou escapar um suspirou.

Depois de algumas horas, escutou alguns murmúrios. 

Engatinhou até as barras, e colocando sua cabeça entre um par delas viu outras celas lotadas de… demonianos. 

Não pode ser…

Conseguia ver até duas celas para cada lado, no lado oposto do corredor. E todas elas estavam abarrotadas de demonianos da casta rubi e obsidiana. 

Eram criança, adultos, velhos, mulheres, homens… Todos estavam nus. Em uma cela, deveria haver facilmente mais de vinte pessoas. Nenhum deles parecia ter no semblante qualquer tipo de emoção.

Ela recuou.

Era a única da casta safira ali.

Até então, nunca teve nenhum pensamento em particular sobre escravidão. Pensou ser algo muito distante de sua realidade. Apenas os obsidianos e rubis eram escravizados. Os safiras e ametistas eram as castas da elite demoniana. As vezes sentia um pouco de dó de como seu pai tratava as empregadas e mordomos obsidianos, mas isso foi o máximo de pensamento que já deu sobre a causa.

Meu pai irá vir me resgatar… eu sei disso.

Passos ecoaram do corredor, um som de pancada contra uma grade.

— Tá olhando o quê?! Ha ha ha! — Gritou uma voz engasgada.

Um guarda? 

Ding, ding, ding, ding, ding!

Soava o tilintar do que parecia ser uma haste de aço batendo contra as grades de celas. 

Priya tentou se tornar uma com a escuridão, se espremendo contra a parede.

O som ficava mais e mais alto.

Ding, ding, ding...

A luz do corredor bruxuleou assim que uma sombra no chão apareceu em frente a cela de Priya. Essa sombra cresceu, por fim revelando a figura de um demoniano rubi.

— Ora…, aí está ela! Eu não acreditei quando me falaram sobre um do seu tipo aqui.

O pavor já havia tomado conta completamente de Priya.

Não chorava mais, pois agora isso não parecia fazer sentido.

O demoniando usava um diamante por debaixo da camisa assim como ela, dava para ver a saliência. O que só podia significar que era um escravo também. Na verdade, todos os demonianos rubis e obsidianos eram escravos. Então, ele deveria estar do lado dela… certo?

Que estupidez, claro que não…

Os demonianos que a sequestraram também possuíam diamantes no peito. O que estava acontecendo? Eles escravizavam uns aos outros, ou estavam sendo ordenados a isso?

Outro demoniano rubi surgiu detrás dele rindo.

— Oh! Eu não posso acreditar nos meus próprios olhos.

— V-vocês sabem qu-quem eu sou? — Perguntou ela, a voz trêmula. E arriscou: — Se sabem, já de-devem estar ciente de seus destinos!

Mas isso apenas os fez se deleitarem em gargalhadas.

— Ha ha ha ha ha! 

O mais baixo deles se aproximou e abriu a porta da cela.

— De pé!

Priya embranqueceu, não obedeceu a ordem dele.

— Agora! — Ele gritou.

Não, não, não, não…

O demoniano baixo sacou uma adaga.

— Se você não quiser que eu corte dedo a dedo, depois dente a dente, você irá ficar de pé, agora!

Mesmo tremendo, Priya se levantou, se certificando de cobrir o que podia. O outro fora da cela lambeu os lábios. Seus olhos vermelhos brilhante com esclera negra prescrutando seu corpo.

— Talvez devêssemos nos divertir um pouco antes de levá-la ao chefe.

Priya se amaldiçoou por sua beleza.

O mais alto, tarado, apressou o passo para dentro da cela. Mas seu companheiro o pegou pela gola e o jogou para trás.

— Está maluco?! Você enlouqueceu completamente?!

— Deixa de ser mesquinho…

— Você sabe o tanto de dinheiro que essa princesinha envolve? O suficiente para pagar nossa alforria! Quem pagou por ela não irá ficar feliz se descobrir que ela foi violada. E aí, lá se vai nossa liberdade!

Priya suspirou de alívio.

O mais alto limpou e ajeitou a camisa.

— Estraga prazeres.

— Então, de volta ao que interessa — o suposto líder se voltou para Priya, puxou uma muda de roupas de um saco e jogou para ela. — Vista-se. Seria intolerável o tanto de atenção que uma safira receberia se a levássemos assim.

Priya não viu o que podia fazer além de obedecer o comando deles. Ela se vestiu. As roupas eram apenas um trapo que usou em torno de seu corpo como um vestido e um manto podre que cobriria todo seu corpo.

O demoniano se aproximou e prendeu seus pulsos em algemas, que eram presas a uma corrente. Ele a saiu puxando pelo corredor. Priya cobriu seu rosto com o capuz do manto.

A caminhada poderia muito bem ter levado meia hora, mas era difícil dizer com certeza. Pelas várias esquinas que dobrou, tudo o que viu foi mais e mais celas abarrotadas de demonianos da casta rubi e obsidiana. Priya estava com vergonha de ser vista, os mirava por debaixo da escuridão do manto.

Eles chegaram a um elevador, que subiu vários níveis da masmorra.

No térreo, outro demoniano rubi, aparentemente de guarda, removeu o capuz de Priya e deu uma risada ao vê uma da casta safira escravizada.

— Espero que essa moda pegue.

** 

Nurbolat era um demoniano da casta ametista. O que significava que ele não usava um diamante em seu peito que bloqueava seus poderes. E que não precisava se preocupar em cumprir a cota de trabalho forçado para a elite, pois ele era parte da elite.

Os demonianos da casta amentista só estavam abaixo dos da casta safira. Então imagine a satisfação que foi para ele ver Priya, filha do rei de Kodekalain, completamente humilhada a sua frente.

Nurbolat era largo, beeem largo e alto. Pelo visto gostava de andar com suas asas invocadas, mas eram pequeninas comparadas ao seu tamanho. Não conseguiria voar usando elas, com certeza.

Ele se levantou de seu largo sofá feito sob medida. O sofá ganhou alguns centímetros de altura.

Pegou um charuto da mesa e deu uma tragada.

Priya o encarava com uma coragem que não sabe de onde veio.

— Você sabe que meu pai virá me resgatar, não sabe?

Ele sorriu com um ar gentil.

— Por quê? Até onde eu sei o rei não tem motivo nenhum para xeretar por sua filha em meus negócios.

— Espere só a notícia se espalhar!

— Ha! — Sua voz ecoou por todo o salão. — E quem vai espalhá-la, você?

Apontou para o rubi que segurava suas algemas.

— Não, senhor — ele respondeu com um sorriso submisso. 

— Você? — Apontou para o rubi alto que tentou violá-la.

— Não, jamais — disse ele com reverência, qualquer sinal de agressividade em sua voz sumira.

— E que tal vocês? — Apontou para um harém de mulheres obsidianas que estavam em volta do sofá. 

Todas elas negaram, todas com uma serenidade submissa na voz.

— Oh, minha criança — Nurbolat se aproximou dela e envolveu seu rosto entre o polegar e o indicador. Suas mãos gigantes comparadas ao rosto dela. — Você é simplesmente a maior aposta que a Companhia Nurbolat e Família fez e irá fazer na história.

— Meu pai virá.

— E o que encontrará se chegar aqui? Ha ha ha ha ha… Você não ficará aqui por muito tempo.

— Não importa para onde eu seja mandada, ele irá me buscar.

Nurbolat deu outra tragada no cigarro conforme caminhava até seu sofá. 

Reflexivo, disse:

— Veja bem. Aqui, eu e seu pai temos algum nível de poder. Mas em Tabélia… 

Priya estremeceu.

— … não somos nada além de servos. Não há nada que ele, e nem ninguém, possa fazer por você, criança.



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