As Castas de Kodekalain Brasileira

Autor(a): Andre Ludwing


Volume 1

Capítulo 3: Irmandade do Fogo

— Então o lendário mercenário Eroan realmente vive nessa praia escondida — disse o loiro, seus olhos azuis afiados.

— Ex-mercenário — corrigiu Eroan. — O que as novas concubinas de Buttfed querem aqui? Acho que é evidente que não tenho interesse em voltar a companhia.

O jovem loiro levantou as sobrancelhas. O de cabelo castanho se mantinha afastado, com o rosto tensionado, como se estivesse preparado para correr se precisasse.

— Felizmente o mundo não gira ao seu redor, grande Eroan.

O ex-mercenário cerrou os olhos.

O jovem medroso deu um sobressalto ao ouvir a ousadia do colega. 

— E essa adaga? — Continuou ele, percebendo que Eroan segurava uma. 

— São para visitas inconvenientes. Espero que vocês não se enquadrem nessa categoria.

O loiro sorriu para seu colega, seu amigo não achava nada daquilo engraçado. 

— Estamos procurando uma demônio azul fugitiva — começou —, algumas testemunhas disseram ter visto ela descer a praia.

— Não sei nada sobre nenhuma demônio azul.

— Ah é? — O garoto tentou olhar para dentro da cabana sobre o ombro de Eroan, que tampou sua visão. — Ela tem pernas inconfundíveis. Não viu nenhum par correndo por sua praia não?

Eroan bufou.

— Acabou o passeio. — Disse, então fechou a porta.

Mas o moleque a segurou antes que fechasse totalmente. Seu colega ficou branco como giz.

— Ei, ei… — disse o castanho segurando o ombro do colega — eu não acho que tem ninguém aí, vamos embora.

Eroan abriu a porta lentamente com o olhar de dois mil diabos. Esse moleque pensava ser muito mais do que realmente era, um recruta. O garoto de cabelos castanho tremia as pernas como um proto recém-nascido.

— Você não está acima da lei, seu velho.

Agora o pobre garoto castanho hiperventilava como se tivesse asma.

— Vamos embora — dizia ele, com seus olhos lacrimejando em meio aos pingos de chuva — não há nada o que fazer aqui.

A adrenalina de Eroan rugia. Memórias… memórias… sangue, membros dilacerados… traições. No fim, lembrou-se do porque queria ser deixado em paz. Encarou os dois moleques com seu olhar perturbado, eles se contiveram. Até o mais corajoso engoliu em seco.

— Sejam rápidos se não quiserem ser o motivo de eu ir parar na forca. 

O mais dedicado ao trabalho ajeitou sua postura e entrou. O medroso o seguiu sempre vigiando Eroan com os olhos. 

O ex-mercenário pegou o balde de peixes, que havia deixado ao lado da porta, e o colocou sobre a mesa, então seguiu os rapazes.

— Sua casa é bem pequena — disse o loiro — apenas dois cômodos. Onde você caga?

O seu colega dava risada nervosas sempre que o amigo falava e checava a reação de Eroan.

Eles olharam o cômodo de entrada, onde havia a lareira. Por onde eles andavam, criava-se uma poça. Eroan pensou que podia fazê-los enxugar tudo, mas agora apenas queria se livrar deles.

Eles seguiram para o quarto e viram como o lugar estava cheio de pegadas molhadas.

— São suas pegadas?

— Não consegui fugir da chuva — disse Eroan com um sorriso de ódio, exibindo seu visual encharcado. — Mas alguma coisa?

O loiro se abaixou em frente ao baú, que ficava aos pés da cama. Quando tocou a fechadura, Eroan, logo atrás, sussurrou em seu ouvido:

— Você realmente acha que tem alguém escondido aí?

O garoto tomou um susto e se afastou. Se colocou de pé e pigarreou. 

Tendo se recomposto, bateu o pé no chão. Não havia porão e nem um fundo oco que desse para esconder alguém. Sacou sua espada e cutucou o teto. Se tivesse alguém no teto, teria dado para ver do lado de fora. Ele se aproximou do armário e puxou a porta sem pensar duas vezes. Eroan bloqueou e ela voltou a se fechar com um baque.

— O que eu disse sobre demorar demais? 

O garoto levantou os olhos para Eroan.

— O que foi, não quer que vejam suas calcinhas? 

Eroan impôs o seu tamanho sobre o garoto, que apenas ia até seu ombro. Seu punho direito girando a adaga. O de cabelos castanhos puxou o braço do colega e falou com a voz fina, assustada:

— Va-va-vamos, não há nada para se ver aqui…

Ele se livrou do aperto do colega e não parou de encarar Eroan.

— Agora estou curioso para ver o que você esconde aí.

— Por quê!? Por quê!? Pelos deuses! — Dizia seu colega.

Eroan chegou a um impasse. Não teria como escondê-la. Rangeu os dentes. Se os impedisse de olhar, poderia estar cometendo um crime. Se eles a achassem ali dentro, seria outro crime. Seria o jeito ele mesmo entregá-la e exigir uma recompensa por isso. Ele suspirou.

— Tudo bem, eu vou mostrar a vocês quem… o que está aqui dentro. Se afastem.

Os garotos se afastaram. 

O loiro com um olhar suspeito, a mão sobre a espada.

Que se dane, eu queria conversar com ela sobre um assunto em particular mas... que se dane.

Ele abriu a porta.

Os rostos deles assumiram um ar de confusão, inclusive o de Eroan, mas conseguiu disfarçar rapidamente. Não havia ninguém ali. Apenas suas roupas, e alguns objetos pessoais. 

— Quanto suspense para nada! — Falou o garoto loiro.

— Vamos, agora vamos! — Puxava seu colega.

— Aí, que seja… vamos.

Eroan acompanhou eles até a porta, pensativo. 

O garoto loiro ainda falou, no lado de fora:

— Você deveria voltar a companhia…

Mas Eroan fechou a porta na sua cara.

Ele foi até o quarto e abriu a porta do fundo. Havia um rochedo a poucos metros. Ela poderia ter facilmente contornado a casa enquanto eles conversavam e então ter subido a praia para fugir. Ele olhou ao redor… e lá estava ela. Sentada numa poça d’água, abraçando os joelhos, sendo banhada pela chuva, sua respiração fora de ritmo. 

Não fugiu.

Eroan disse:

— Entre, vamos conversar.



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