Volume 10
Capítulo 197: Fuh, quem sou eu, você pergunta? Eu sou...
Os arredores de Londres estavam envoltos em uma névoa fina. Em uma esquina de uma rua retrô, onde parecia que um velho conto de fadas ou folclore poderia estar escondido, havia uma esplêndida residência onde a história podia ser sentida de maneira visível.
Parecia ser prudentemente preservada, pois não parecia desgastada. O jardim que se espalhava na frente, o pequeno caminho feito de cascalho branco espalhado, o canteiro de flores onde as flores da estação estavam florescendo e uma pequena fonte onde uma linda deusa estava sentada, todos eram trabalhos de primeira classe que davam uma impressão elegante. De tudo isso, podia-se entender que uma boa quantidade de trabalho, despesa e tempo era gasta na aparência da casa.
E era assim que devia ser, já que o dono desta residência, Jefferson Allgrey, era uma pessoa famosa e rica, até para os padrões da Grã-Bretanha. Ele era de uma linhagem familiar que foi intitulada como os "Reis do Mercado Imobiliário" e que, por gerações, possuía inúmeros lotes de terra e edifícios, comprando e vendendo-os.
Jefferson, que era o atual mestre desta geração da família Allgrey, também herdou o talento comercial de seus ancestrais. Ele não apenas parecia possuir talento político, mas era um ser humano capaz que gerava resultados definidos enquanto se envolvia em dois negócios, o mundo político e o magnata imobiliário, ao mesmo tempo.
A residência de Jefferson era normalmente visitada por muitas pessoas. O tipo de pessoa variava. Se havia pessoas do mesmo mundo político visitando, também havia pessoas de empresas imobiliárias, também havia muitas pessoas visitando como amigos pessoais.
Enfim, era uma casa onde o fluxo de pessoas que a visitava nunca cessava, e isso era um fato bem conhecido das pessoas na área circundante.
Hoje também já havia se passado algumas horas desde o pôr do sol, e havia também a névoa que indicava que era uma época em que a escuridão havia descido por completo. A residência principal de Allgrey era iluminada com luzes brilhantes. Vários carros de alta classe estavam estacionados perto do portão principal; mostrando como havia muitos convidados visitando.
Embora cada um dos visitantes de hoje fosse definitivamente personalidades conhecidas, parecia que não eram amigos convidados para um jantar simples. Eles também não pareciam ser convidados que vieram para assuntos relacionados ao trabalho para falar sobre política ou negócios.
— Muito bem, chefe. Você não acha que deveríamos seguir logo para o assunto principal? Para você reunir mais da metade dos escalões superiores da sociedade... deve ser algo muito grande, não é? Meu palpite é que deve ser uma questão sobre eles.
Um homem de meia-idade, cujo corpo estava envolto em um terno de alta qualidade, com um esplêndido bigode e costeletas, se referiu a Jefferson como "chefe".
Embora Jefferson tenha sido chamado com essa designação que não era usada com tanta frequência em geral, ele ainda se comportava de forma natural. Ao olhar para essa atitude, podia-se entender que era apenas natural que ele fosse chamado assim pelas pessoas chamadas para esse lugar hoje.
Jefferson olhou lentamente ao redor. Parecia que ele havia terminado a refeição, já que havia apenas vinho à sua frente. Além deles, havia vários funcionários da família Allgrey e os respectivos guarda-costas que foram trazidos por cada hóspede.
Esta noite, nove convidados se reuniram. Todos eles eram figuras proeminentes que possuíam resultados fenomenais em seus respectivos campos, mas os campos em que participavam estavam completamente dispersos. Visto de longe, era uma reunião que não podia ser vista como normal. A maior possibilidade era que essas pessoas eram amigos pessoais de Jefferson. Mesmo que houvesse alguém de fora que soubesse dessa reunião, sem dúvidas eles só seriam capazes de pensar nisso como uma reunião de colegas.
Mas, pela forma como Jefferson estava sentado no assento de honra, enquanto os outros estavam sentados ao redor de uma mesa comprida, parecia que havia uma hierarquia clara aqui. E isso ficou ainda mais claro com a atmosfera que estavam os cercando.
— ... eles são reais.
Uma frase curta. Para as pessoas que não conheciam a circunstância, eles inclinaram as cabeças imaginando do que ele estava falando. Mas todas as pessoas na mesa de jantar estavam se afastando daquela frase dita por Jefferson com um tom opressivo.
— Isso... isso é, mesmo verdade?
— Não foi um mero sequestro de grupo...
— Com certeza foi um caso inexplicável, mas…
— Um caso desse nível não é tão raro. Chefe, você tem alguma base para dizer isso?
Enquanto suas bocas estavam falando palavras onde confusão e expectativa se misturavam, seus olhares estavam concentrados em Jefferson.
— Ainda há apenas evidências circunstanciais. Mas, não tenho dúvida disso. Confirmei que todas as pessoas que foram enviadas para investigar retornaram ao seu dia a dia sem obter nenhuma informação. Longe de investigar, eles esqueceram até da sociedade.
— Sem chances…
— No entanto, apenas com isso… não é como se o método para induzir tal situação não existisse, sabia?
— É, eu sei. Claro, eu não formulei minha conclusão apenas com isso. Esta é a situação que pode ser confirmada no momento. Eu julguei que já está no nível em que não haveria problema em chamar isso de sobrenatural.
Dizendo isso, Jefferson instou um servo com seu olhar a distribuir um relatório por escrito; os figurões colocaram os olhos nos documentos. Depois que eles fizeram isso, começaram a ficar agitados mais uma vez.
O conteúdo que foi escrito nesse relatório escrito foi o seguinte:
"A casa do grupo-alvo que havia sido confirmada antes, por algum motivo, não pôde ser abordada uma segunda vez. Mesmo quando caminhavam seguindo um mapa, quando perceberam, algo estava errado, eles estavam andando em círculos em um lugar completamente diferente."
"O observador estava vigiando a uma distância de 800 metros, mas, independentemente disso, o olhar deles se encontrava sem falhas."
"O registro familiar do alvo, que não deveria existir até alguns dias atrás, foi registrado antes que eles percebessem."
"Esta anormalidade não foi notada por ninguém do lado da administração. Eles nem sentiram que algo estava fora do lugar."
"Todos os dias, seus parceiros desapareciam um por um."
E então...
"As pessoas encarregadas de investigar, sem exceção, todas teriam um período em branco em sua memória depois de um tempo."
Até o assunto que estava sendo relatado agora, se era verdade ou não... era desconhecido.
Sem dúvidas todos estavam examinando o relatório até a última frase. O silêncio desceu sobre a mesa de jantar. Todos estavam fixados no conteúdo do relatório.
Mas, depois de um tempo…
— Fu, fuha, fuhahahahahaha!
Uma pessoa levantou uma voz rindo, parecendo que não conseguia se segurar. Era uma risada horrivelmente distorcida, composta de alegria e loucura. No entanto, esse riso, que traria desconforto a qualquer um que o ouvisse, foi aos poucos se espalhando para as outras figuras importantes.
— Até que enfim, encontramos a coisa real! Magnífico! Eu me pergunto que tipo de habilidade sobrenatural eles têm!
— No mínimo, parece que eles têm a habilidade de interferir no cérebro humano. Isso é algo além da posição de meros estudantes.
— Não podemos continuar assim. Chefe! Temos que enviar imediatamente uma força de assalto e garantir uma ou duas amostras!
Excitação dominou o lugar. Era uma excitação louca, assim como quando alguém que estava perdido no deserto enfim encontrava um oásis, aquele sentimento de excitação insana antes que seu desejo pudesse ser realizado.
Talvez isso fosse natural para eles, porque essas pessoas estavam secretamente manobrando e procurando "aquilo" por tantos anos e meses que não conseguiam mais contar.
— Acalme-se... bem, dizendo a todos vocês que é impossível, eu acho. Eu entendo bem os sentimentos de todos. Então, todos concordam com o plano de avançar com o objetivo de obter uma amostra? Haverá muitas coisas problemáticas se raptarmos todas eles…
— O que, são pessoas que passaram pelo desaparecimento em grupo, você sabe, chefe. Mesmo que aconteça uma segunda vez, com certeza não haverá ninguém que ache isso estranho. Sem mencionar que também existem aqueles que não retornaram.
— A capacidade das amostras é preocupante, mas… elas são apenas crianças. Isso mostra como eles se contentam em ser estudantes enquanto possuem esse poder. Podemos fazer o que quisermos se envolvermos as famílias deles. Começarei a preparar o local do experimento agora mesmo.
— Os repatriados, eles obtiveram habilidades sobrenaturais quando desapareceram… estou incomodado com o paradeiro daqueles que não voltaram. Talvez eles ainda estejam no lugar que tem relação com o sobrenatural? Se nós colocarmos as mãos nisso, até nós…
Os figurões compartilharam suas opiniões após as palavras de Jefferson. A reunião desta noite estava cheia de uma paixão nunca vista antes.
Quando eles terminaram de decidir a maior parte de seu plano, Jefferson abriu a boca:
— Então, todos vocês, procedam com o assunto em questão, prestando atenção meticulosa aos detalhes, a fim de realizar nosso mais profundo desejo. O alvo prioritário será a garota chamada "Yue", pois é a primeira da lista...
— Sobre isso, acho melhor você descartar essa ideia.
"E aliás, as garotas que não são japonesas que estão em torno dos repatriados...", Jefferson estava prestes a dizer isso, mas suas palavras foram interrompidas.
Por um momento, Jefferson pensou que era alguém do escalão superior que o interrompeu, mas ele logo descartou essa ideia como impossível. Os repatriados do grupo desapareceram no meio de um dia que agitou a sociedade, se perguntassem qual era o aspecto diferente deles em comparação com o passado, a primeira coisa que chamaria a atenção seria a existência das meninas não japonesas que apareceram de repente.
Pensando em como o registro da família foi criado antes que alguém percebesse, seria válido pensar nelas como "visitantes do lado sobrenatural". Então era natural priorizá-las como amostras.
Esse era o entendimento comum entre Jefferson e os outros figurões que foi obtido ao investigar de forma contínua a série de turbulências dos repatriados que começaram com o desaparecimento do grupo. Por esse motivo, era impossível alguém se opor a isso. E, acima de tudo, a voz do jovem que o interrompeu era uma voz que ele não conhecia!
Jefferson sentiu algo frio percorrer sua espinha enquanto levantava uma voz furiosa que questionava a identidade da pessoa:
— Quem!? Onde está você!?
— Sabe, estou bem na sua frente já há algum tempo. Eu estava comendo uma refeição normal aqui.
Uma voz que continha resignação ressoou. Naquele momento, não apenas Jefferson, mas os figurões, os criados e os guarda-costas também, todos estavam finalmente conscientes.
— E aí.
Com um humor muito leve, na cadeira que estava posicionada no lado oposto de Jefferson, com a boca cheia com a mesma comida que todos estavam comendo agora, era um jovem japonês cumprimentando com a mão um pouco levantada!
— Seu desgraçado… como você entrou? O que o guarda na entrada está fazendo?
Os escalões superiores e os servos ficaram bastante abalados, os guarda-costas estavam no meio de pegar suas armas para se recuperarem de sua desgraça, enquanto Jefferson os impedia de disparar antes de abrir a boca com calma. Parecia que ele também estava abalado, mas a velocidade de recuperar sua mente deveria ser dita como esperado de uma autoridade do mundo político-imobiliário que administrava essa reunião.
Logo após recuperar a calma, uma aura dominante transbordou de Jefferson. Essa aura era algo tão intenso que, se uma pessoa comum a sentisse, não apenas encolheria sem poder dizer nada, como suor frio escorreria enquanto ficava confusa.
Mas, aquele jovem repeliu uma aura tão dominadora como um salgueiro oscilante... ou melhor, em primeiro lugar, o jovem nem sequer prestou atenção a essa aura, continuou comendo a cozinha da residência Allgrey com gosto enquanto conversava:
— Nguh. Você me perguntou como, eu entrei normalmente, pela porta da frente, entendeu? Nhoc, nhoc, eu até falei: "Com licença". Embora eu tenha sido ignorado.
— … isso parece ser um prato da minha residência, correto?
— É muito delicioso, como esperado da casa de um político importante e rei do setor imobiliário. Havia sobras na cozinha, então eu a coloquei em um prato eu mesmo. Eu-eu até pedi autorização, tá? Considerei o silêncio como concordância, mas perguntei de forma apropriada, tá legal? Não estou roubando, entendeu?
Por alguma razão, o jovem continuou lembrando-os disso dizendo: — É a verdade, vocês entenderam? — Jefferson franziu as sobrancelhas para o jovem. Quanto mais ele olhava, mais esse jovem parecia um garoto normal. Não, de certa forma, ele era normal demais na presença e na aparência, de forma que, se não se concentrasse, parecia que você o esqueceria, talvez devêssemos dizer que esse jovem não era normal nesse sentido...
— Quem é você... ou talvez seja pouco sofisticado para eu perguntar isso? Esse seu comentário agora há pouco nesta situação. E então essa habilidade para conseguir se infiltrar aqui sem que ninguém pudesse perceber. Você é... um repatriado, não é?
Jefferson falou sua conjectura com convicção, mas, por alguma razão, o jovem que ouviu suas palavras franziu o cenho e seu rosto parecia um pouco triste. Enquanto Jefferson estava perplexo com essa reação inexplicável, o jovem perguntou com uma voz que também parecia triste:
— "Um repatriado, não é?", é essa sua pergunta? Se você investigou sobre nós, também não deveria saber sobre mim? Eu esperava uma reação como: "Seu maldito, você é um repatriado, não é!?", mas...
— O quê? Um relatório seu não está…
Jefferson ficou perplexo. Ele examinara todos os relatórios dos repatriados, ele havia memorizado todas as informações dos perfis dos repatriados, desde a família até seus parentes. Se o jovem diante de seus olhos era um repatriado que havia sido denunciado, então não havia como ele não se lembrar dele.
Mas, quando um de seus servos mostrou entusiasticamente o relatório escrito dos repatriados que foi convertido em dados digitais em um tablet...
— … … … lista de repatriados nº 28: Endo Kosuke? … … … ah.
— É, você esqueceu, não esqueceu? Isso não é verdade? Tudo bem, eu entendo. Hehe, estou acostumado com isso. Embora minha sombra seja fina mesmo nos dados digitais, não estou nem um pouco preocupado, entendeu? Eu sou um riajuu, sabia? É por isso que, eu realmente não estou preocupado, tá?
Um estranho silêncio desceu naquele lugar. O jovem Kosuke, que parecia ter uma sombra fina, mesmo quando estava dentro de dados digitais, estava fazendo sons com a colher e o garfo. Apenas aquele som ressoava com clareza dentro daquela sala. A palavra "Delicioso" que ele estava sussurrando até agora estava mudando para: — Isso está salgado, hein.
— En-então essa é a habilidade sobrenatural que você possui.
— ... eu tenho isso desde o nascimento. Até minha mãe, ela muitas vezes esquecia de fazer coisas como me buscar no jardim de infância…
— … en-entendo. Isso, você sabe, deve ter sido difícil para você, não?
Por alguma razão, Kosuke recebeu palavras gentis e simpatia do homem que estava tramando contra ele e seus amigos. O teor de sal da culinária de alta classe estava aumentando! Uma criada estava limpando os olhos com um lenço. Os olhos dos guarda-costas que estavam preparando suas armas há pouco estavam ficando calorosos!
Enquanto soltava uma queixa: "Se você simpatiza comigo, então me dê alguma presença!" dentro de seu coração, Kosuke pigarreou, ele parou de comer e abriu a boca:
— Então, sobre a razão de eu ter vindo aqui.
— Mu, isso mesmo. Sem dúvidas, nunca pensei que um repatriado marchasse diretamente para cá. Parece que seu lado também nos investigou até certo ponto. Você, não me diga, você veio aqui sozinho?
— Bem, sim. Na verdade, eu estava no meio de algumas viagens pessoais. Mas, de repente, vocês começaram a fazer uma conspiração, então me disseram para vir aqui para esmagar todos vocês.
Kosuke estava olhando para o smartphone enquanto dizia: — Diante de Lana, não posso recusar o pedido daquele cara. —, com os ombros encolhidos. Vendo isso, Jefferson trocou olhares com os figurões e os guarda-costas, enquanto sua expressão se tornava ridicularizante:
— Nos esmagar, é isso? Parece que você está ficando insolente depois de obter uma habilidade sobrenatural, hein? Seria muito mais rápido atirar nos seus quatro membros com balas de chumbo agora mesmo. Parece que você tem a técnica para interferir na consciência do seu oponente, mas neste espaço limitado, você pode nos esmagar mais rápido do que uma bala?
Gacha! Sons ameaçadores ressoavam incontáveis vezes. Os guarda-costas estavam apontando os canos de suas armas em direção a Kosuke. Eles contavam com pouco menos de vinte pessoas. O lugar era uma grande sala de jantar onde sessenta pessoas podiam entrar com espaço de sobra, mas, com certeza, nesse espaço limitado, era equivalente a não ter como escapar de vinte armas.
Jefferson, que pensava que esse jovem estava demonstrando compostura por ser uma criança embriagada por seu próprio poder, mostrou uma atitude composta. Ele cruzou os braços acima da mesa e, enquanto escondia a boca atrás das mãos unidas, seu olhar afiado estava voltado para Kosuke:
— Jovem. Você não virá para o nosso lado? Segundo o relatório, parece que o modo de vida de todos vocês não mudou muito antes e depois de obter habilidades sobrenaturais. É digno de elogios que nenhum de vocês esteja fora de controle, mas isso deve ser apenas porque vocês não entendem a maneira de usar o poder que obtiveram. Então, ensinaremos qual é a maneira correta de usar esse poder. Este Jefferson Allgrey pode prometer a você uma vida cheia de riquezas e fama que está além da sua imaginação.
— … você pode mesmo dizer isso com uma cara séria depois de chamar humanos de amostras, hein? Dizem que políticos são casca grossa, mas não imaginei que chegaria a esse ponto. Assustadoooor.
Kosuke não parecia particularmente emocionado com as palavras persuasivas de Jefferson, ao invés disso, ele mostrou um olhar assustado. Enquanto levantava uma das sobrancelhas pelo fato de que dinheiro e fama não atraíram no coração de Kosuke, Jefferson continuou a falar:
— E quanto a mulheres? Você quer...
— Eu tenho uma namorada, eu estou bem nesse sentido. Aliás, minha namorada já é uma superbeldade. Ela já é a melhor, é sim.
Ter suas palavras cortadas e ouvir Kosuke falando de forma afetuosa de sua namorada na frente dele fez com que o olhar do homem se tornasse mais grave.
— … é natural que você se sinta todo-poderoso se tiver um poder especial. Mas, o que é chamado de realidade é algo que é mais insensível do que o que vocês estão pensando. Talvez se for apenas você, ou talvez se todos vocês repatriados se juntarem, talvez poderão escapar disso. Mas, e as pessoas ao seu redor? Sua família, seus amigos que não são repatriados, seus parentes. Você pode proteger todos eles? Nossa sociedade não se resume a apenas violência, sabia?
Jefferson olhou ao redor. À frente de seu olhar estavam os figurões da sociedade, todos eram pessoas de sucesso que possuíam poder social. E então, o olhar de Jefferson falou de forma mais eloquente do que qualquer coisa.
Que isso não era tudo o que a sociedade deles possuía.
Em outras palavras, mesmo na chance de todas as pessoas morrerem aqui, a própria sociedade não estaria terminada. Ainda havia outros com poder reunido nessa sociedade secreta.
— Reconhecerei sua capacidade de reunir informações até aqui e sua coragem de se infiltrar aqui sozinho. Mas, para você ter a impressão de que a situação diante de seus olhos é tudo o que existe, você ainda é apenas uma criança. Buscamos o sobrenatural há muito tempo, desde que a sociedade foi estabelecida pela primeira vez, agora ela se estende por todas as partes do mundo, nós somos...
— Hidra, correto?
Jefferson, que implicitamente pressionou por obediência sob o pretexto de cooperação a Kosuke com uma atitude condescendente, estava prestes a divulgar o nome de sua sociedade com muita emoção, mas logo antes que ele pudesse fazer isso, o jovem revelou esse nome.
Jefferson estremeceu em reação e estava prestes a abrir ainda mais a boca, mas ignorando-o, Kosuke comeu o resto da comida e operou o smartphone com uma mão, depois falou o conteúdo exibido lá:
— Rapto, assassinato, roubo, experimentos humanos e, além disso, até guerras induzidas, um grupo de fanáticos pelo sobrenatural que farão qualquer coisa, Hidra. Com certeza, parece que vocês têm uma longa história. A origem do nome é que, não importa quantos escalões e partes superiores da organização sejam esmagados, o sobrevivente da organização que está escondido em algum lugar a restaurará. A organização que existe desde antes do período colonial1. Historicamente, a organização foi esmagada várias vezes, mas antes que se percebesse, ela era revivida. O chefe atual é você…
Depois disso, Kosuke leu em voz alta as condições internas da sociedade secreta Hidra. E então as informações dos grupos do escalão superior que estavam presentes, como nome, informações básicas, família, amigos, parentes de trabalho e, além disso, até o nome de filhos ilegítimos ou relacionamentos com outras organizações que eles mantinham em segredo até mesmo dentro dessa organização. Ele não parou com isso, os figurões ocultos que não estavam aqui e a localização das bases, e ainda mais e mais coisas como os pensamentos mais íntimos dos superiores em relação um ao outro e assim por diante, Kosuke divulgou tudo.
Ficou claro que o que foi divulgado não era absurdo, porque os superiores arregalaram tanto as bocas que parecia que suas mandíbulas poderiam cair e suas expressões estavam pálidas.
Tudo o que eles haviam feito era impossível de ser conhecido pela rede de informações de crianças ou até de adultos comuns. A cor do rosto de Jefferson, que teve esse fato empurrado contra ele, mostrava como a capacidade de sua mente treinada tinha superado seus limites.
— Quando você olha para o abismo, o abismo também olha para você2... que expressão famosa, se são vocês que amam o sobrenatural, então com certeza já ouviram isso antes. "Estamos em posição superior". Como vocês são capazes de acreditar cegamente em algo assim sem qualquer base?
— Seu- seu desgraçado…
— Bem, vocês são todos veteranos em muitas adversidades no mundo da superfície, não são? Vocês nunca devem ter sonhado que as crianças que estão passando pela vida escolar sem se importarem com o mundo depois de colocarem as mãos na magia seriam capazes de superá-los, mesmo no volume de informações…
— Por que… mas como, você sabe de tudo isso…
— Bom, se sabemos que existem alguns caras de olho em nós, não há como nosso rei demônio-sama ficar em silêncio. Porque apesar daquele cara parecer um maldito selvagem, cruel e sem coração, ele mima as pessoas importantes ao seu redor.
— Rei demônio, é isso?
— É. Um rei demônio matador de deus. Aquele cara até matou um deus para salvar uma mulher, e agora vocês tentam colocar as mãos nessa mesma mulher.
O olhar de Kosuke estava se enchendo de uma simpatia ilimitada. A expressão de Jefferson estava convulsionando. Não havia mais aura dominante de um figurão que pudesse dominar uma pessoa comum vindo dele. Por ser um gerente veterano e um político que havia acumulado muitas experiências com adversidades, ele foi capaz de entender a experiência de Kosuke e sentiu uma sensação de perigo brotando dentro dele.
Ou seja... eles haviam tocado em algo que não deveria ser tocado.
No entanto, as pessoas que ainda eram relativamente jovens entre os escalões superiores não tinham o suficiente dessa intuição.
— O que é, o que é, esse rei demônio!? Que diabos, "matador de deus"!? Até o absurdo tem um limite!
— Is-isso mesmo! Como esperado, você é apenas uma criança. Parece que você nem sabe blefar. Algo como matar um deus, como esperado, você exagerou demais.
— Chefe, não são necessárias mais palavras! Vamos fazer esse pirralho pagar a compensação por menosprezar a sociedade! Vocês aí, apenas certifiquem-se de mantê-lo vivo! Façam isso!
Eles iniciaram uma ação imprudente sem esperar pela ordem do chefe, algo que normalmente seria impossível. Jefferson tentou levantar a voz para detê-los no mesmo instante, mas, mais rápido do que pôde, vários dos guarda-costas de terno preto, por causa da atmosfera estranha e da misteriosa sensação desconfortável que eles estavam sentindo, como se despertados por seu impulso, apontaram suas armas para os braços e pernas de Kosuke enquanto pulavam para frente.
— … haa. Eu meio que tentei, mesmo pensando em fazer isso e ser poupado de soltar os grilhões.
Dentro da situação que estava se movendo de uma só vez, havia apenas aquele sussurro retumbante.
— Quê!? Onde está!?
— Merda, o que está acontecendo!? Para onde aquele cara foi!?
— Sem chances, ele desapareceu!?
Os guarda-costas de terno preto rodearam uma cadeira que não tinha ninguém se sentindo estupefatos. A cadeira deveria ter Kosuke sentado nela até um momento atrás. Do começo até o fim, eles não tiraram o olhar dele nem por um instante.
Ele com certeza estava lá. Bem na frente dos olhos deles. Eles o pegariam, o tirariam da cadeira e o prenderiam. Eles estenderam as mãos sem deixar espaço para fuga enquanto imaginavam como o rapaz iria contra-atacar; eles sem dúvidas estavam cientes dele até o momento em que poderiam tocá-lo. No entanto, apesar disso, suas mãos se moveram no ar vazio e "quando perceberam", o alvo tinha desaparecido. Era como se ele não estivesse lá desde o início.
— ... nossas mentes já foram afetadas!? Tenham cuidado, nossas consciências estão sendo manipuladas!
Jefferson, pensando que não podia fazer nada agora que as coisas tinham chegado a isso, apertou o botão de emergência do outro lado da mesa para convocar os guarda-costas que estavam por toda parte dentro da residência enquanto dava um aviso. E então, ele também tirou uma pistola do bolso do peito, naquele momento, a voz de Kosuke ressoou mais uma vez. No entanto, era uma voz com um ar um pouco diferente do que tinha até agora:
— Interferência na consciência? Fuh, que exagero. Meu Teletransporte está além da capacidade de percepção de vocês, isso é tudo.
— O que, impossível, de pé no teto!?
Jefferson e os outros que estavam em guarda contra a possibilidade mais provável de Kosuke deslizar por baixo da mesa, estavam pensando no canto de suas mentes: "Não parece que o tom dele está um pouco estranho?", enquanto olhavam surpresos e depois mostravam expressões muito estúpidas de choque.
Embora, com certeza, essa reação fosse algo que não poderia ser evitada caso eles vissem um humano em pé de forma natural no teto como se dissesse: — Gravidade? O que é isso?
Além disso...
"Por que, por que ele está fazendo uma pose estranha!?"
Sim, Kosuke estava de cabeça para baixo no teto enquanto cobria o rosto com uma mão com os olhos encarando Jefferson e os outros por entre os dedos! Além disso, antes que eles percebessem, seu corpo já estava com uma roupa totalmente preta, nos olhos havia um par de óculos de sol do tipo lente única e a outra mão estava segurando uma faca preta em uma posição que estava cruzada com a mão que estava cobrindo seu rosto! Com certeza, se o grupo de assassinato com orelhas de coelho de outro mundo visse isso, sem dúvida aplaudiriam e ovacionariam, ao mesmo tempo em que elogiavam: — Que pose legal!!!
— Tolos que caíram no abismo de desejos egoístas e fanatismo. Ensinarei aos seus corpos que, neste mundo, há coisas que vocês não deveriam saber.
Por alguma razão, ao girar uma vez antes de exibir mais uma pose chuuni (versão 24), Kosuke, não, o assassino da classe mais forte que foi despertado em vários significados no outro mundo, lançou uma declaração de guerra contra o grupo fanático do oculto. Junto com essa apresentação chuuni!!
— A sombra do rei demônio, a vanguarda da família negra das orelhas de coelho, Kosuke E. Portal do Abismo das Presas e Garras das Sombras. Chegou!!
O que significa "orelha de coelho"… "Portal do Abismo", portal para onde... Essas réplicas de Jefferson e dos outros não se formaram em palavras altas.
Porque logo depois disso, o inigualável, mesmo contra as apóstolas de Deus em outro mundo, aquele com a sombra mais fina do mundo, o melhor assassino de todos, mostrou suas presas.
Nota do Autor (Ryo Shirakome)
Muito obrigado por ler essa história.
Muito obrigado pelos pensamentos, opiniões e relatos sobre erros de ortografia e palavras omitidas.
A opinião de todos de que isso é como se tivesse sido planejado antecipadamente surpreendeu Shirakome.
Endo-kun, você é amado, hein? ... ele é amado, não é?
Desta vez, consegui identificar o nome dele, por isso lembrem-se corretamente.
Ele é Endo Portal do Abismo-kun, tudo bem?
PS-
Coloquei as informações sobre o especial para cada livraria-sama no meu relatório de atividades.
Por favor, confirmem se desejarem.
Notas
[1] Colonialismo é a política de exercer o controle ou a autoridade sobre um território ocupado e administrado por um grupo de indivíduos com poder militar, ou por representantes do governo de um país ao qual esse território não pertencia, contra a vontade dos seus habitantes que, muitas vezes, são desapossados de parte dos seus bens (como terra arável ou de pastagem) e de eventuais direitos políticos que detinham. O colonialismo moderno começou com a Era dos Descobrimentos. Portugal e Espanha descobriram novas terras do outro lado do oceano e construíram feitorias. Para algumas pessoas, é esta construção de colônias em outro continente que diferencia o colonialismo de outros tipos de expansionismo. Essas novas terras foram divididas entre o Império Português e o Império Espanhol, primeiro pela bula papal Inter Coetera e depois pelo Tratado de Tordesilhas e o Tratado de Saragoça (1529). Este período também é associado com a Revolução Comercial. O final da Idade Média viu reformas na contabilidade e sistema bancário na Itália e no Mediterrâneo oriental. Essas ideias foram adotadas e adaptadas na Europa Ocidental para os altos riscos e benefícios associados aos empreendimentos coloniais. No século XVII, ocorreu a criação do império colonial francês e do Império Colonial Neerlandês, bem como do Império Colonial do Reino de Inglaterra, que mais tarde tornou-se o Império Britânico. Também ocorreu a criação de algumas colônias suecas e um império colonial dinamarquês. A disseminação dos impérios coloniais foi reduzida no final do século XVIII e início do século XIX pela Guerra Revolucionária Americana e a independência da América Espanhola. No entanto, muitas novas colônias foram estabelecidas após esse tempo, inclusive para o império colonial alemão e o império belga. No final do século XIX, muitas potências europeias estavam envolvidas na partilha da África.
[2] Frase de Friedrich Wilhelm Nietzsche: "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você". Nietzsche foi um filósofo, filólogo, crítico cultural, poeta e compositor prussiano do século XIX, nascido na atual Alemanha. Escreveu vários textos criticando a religião, a moral, a cultura contemporânea, filosofia e ciência, exibindo uma predileção por metáfora, ironia e aforismo. Suas ideias-chave incluíam a crítica à dicotomia apolíneo/dionisíaca, o perspectivismo, a vontade de poder, a morte de Deus, o Übermensch e eterno retorno. Sua filosofia central é a ideia de "afirmação da vida", que envolve questionamento de qualquer doutrina que drene uma expansiva de energias, não importando o quão socialmente predominantes essas ideias poderiam ser.