Arena Coreana

Tradução: Filipe, Themis

Revisão: John


Volume 2

Capítulo 81: Voltando para a Arena (1)

Os 60 dias de descanso passaram de forma tranquila. Morar com a Min-jeong não foi problema algum. Mesmo estando ocupada com o trabalho, ela ainda fez comidas deliciosas para mim e, nos dias em que estávamos muito cansados, saíamos para comer fora.

Eu, claro, fiquei em casa e usei Sylph para deixá-la impecável, de modo que não tivemos nenhuma discussão por isso. Na verdade, fiz com que Sylph memorizasse o lugar de cada item da casa. Com isso, a organização ficou bem mais fácil. Mesmo que eu fizesse uma bagunça na casa toda, Sylph podia usar o vento e limpar e arrumar tudo em um instante.

A família estava indo muito bem também. Minha irmã mais velha, que trabalhava para um grande escritório de advocacia, nem precisaria de comentários, e a minha mãe ainda estava vendendo frango frito. Nesses dias ela estava pensando em se aposentar e queria que a Hyun-ji assumisse o lugar, e queria isso rápido.

Mesmo com muito dinheiro, não havia motivo para colocá-lo na família. Se nós fôssemos pobres, eu poderia ter distribuído o dinheiro e salvado a todos.

O único problema da nossa família era a Hyun-ji.

— Meu filho, converse com a Hyun-ji.

— O quê aconteceu?

— Ela disse que quer se mudar.

— Se mudar?

— Ela disse que tem várias empresas em Seul e que quer se mudar para lá.

Não era uma desculpa infundada.

Talvez ela esteja sentindo a pressão de ter se formado e agora ser uma desempregada oficial.

— Por que eu deveria tratar ela como rainha, se ela é uma desempregada?

— Então, o que você disse para ela?

— Eu disse para ela se mudar com o dinheiro dela e a sua noona também disse que não iria ajudar.

Mesmo não estando lá, eu tinha certeza que Hyun-ji devia ter ficado irritada e insistido bastante. Porém, o “combo” mãe-filha sem coração não deve ter se comovido nenhum pouco com ela.

— Isso não foi muito duro com a Hyun-ji? Pelo menos ela está pensando em arrumar um emprego.

Ela pensa que quer, você também conhece ela muito bem. É como uma criança que não gosta de estudar falando que vai estudar. Ela não vai fazer isso de verdade.

Eu sabia disso muito bem. O anjinho desgraçado havia dito que eu também era assim por nunca ter passado necessidade.

— De qualquer forma, Hyun-ji pode te incomodar sobre isso, então tome cuidado.

— Entendido.

Assim que a ligação terminou, uma mensagem chegou.

Era da Hyun-ji.

[Hyun-ji: Oppa, tá em casa?]

[Me: tô sim]

[Hyun-ji: Ok]

“Ok, o que?”

Fiquei meio preocupado com o que viria.

Depois de alguns instantes, recebi uma videochamada da caçula da casa.

— Alô?

Oppa~!

— Conheço esse tom… O que você quer?

Hing, oppa! — soou como a Min-jeong, o que me incomodou ainda mais.

— O que você quer?

Oppa, dá uma volta com o teu celular aí.

— Do que você tá falando?

Quero ver onde você tá morando.

Ouvindo isso, vacilei.

Garota esperta.

Foi por isso que perguntou se eu estava em casa.

Só Min-jeong sabia que morava em uma cobertura luxuosa.

Vai logo e me mostra. Hehe, oppa, você tá cheio da grana, então duvido que esteja morando num apartamentinho. E você morou naqueles apartamentos-porão enquanto tava estudando pra concurso, então deve tremer só de pensar neles.

Para uma idiota até que ela era esperta nessa área. Que discernimento inútil.

Vai logo e me mostra.

— Não quero.

Por que não?

— Sô tímidu. — respondi com voz fofa.

Vem com essa pra cima de mim não. — A expressão de Hyun-ji ficou fria ao ouvir o meu tom meloso. — Oppa, eu sei que você está morando com a Min-jeong.

— E daí?

Ela me contou tudo.

Yoo Min-joeng!...

Hyun-ji deu um sorriso doce.

Toda vez que eu perguntava onde ela tava, me falava que tava fazendo compras. Ela compraria tanto se tivesse morando sozinha? Tá parecendo uma esposa recém-casada. Você não pode me enganar.

— Para uma idiota, até que…

Ei, não me chama de idiota! De qualquer forma, você vai mesmo dizer que mora com a Min-joeng em um estúdio? Senti isso quando fomos para a Europa, mas, oppa, eu acho que você tem mais dinheiro do que eu imaginava.

Não pude deixar de estremecer com a astúcia incrível de Hyun-ji.

— Eu não posso te mostrar a minha casa.

Hmph, mesmo? Então acho que vou ter que torturar a Min-joeng.

— Não incomode ela! Vou falar pra ela manter a boca fechada.

Puahahahaha, boca fechada? Min-jeong? — Hyun-ji riu como se tivesse visto a comédia mais engraçada da temporada. — Ela pode não parecer, mas você sabia que ela é muito mole? Se eu provocar um pouquinho só, ela vai me falar tudo o que quero saber.

Engasguei levemente depois de ouvir as palavras dela.

Deixe-me ver… quanto eu fiz ela falar mesmo… ultimamente os quadris dela andam meio doloridos…

— Ok, pode parar. Não vamos passar a barreira entre irmãos.

Ela disse que não consegue nem manter a cabeça erguida, oppa, você deve ser um gênio!

Tossi, envergonhado com as palavras dela, só para ouvir a sua risada maléfica incomodando os meus ouvidos.

“O quão longe você foi, provocando a Min-jeong pra ela te falar? Essa minha irmãzinha é uma mulher perigosa…”

— O que você quer?

Então, Hyun-ji, que estava confiante até agora, mudou o tom.

Oppa! Sério, você tem que me ajudar!

— Quer se mudar?

Sim! Quero me erguer e viver em Seoul por conta própria!

— Você? Vivendo sozinha sem ninguém de olho? Tenho medo só de pensar…

Hing, eu vou trabalhar duro de verdade. Já tô até procurando emprego, deixando currículo, aqui e ali.

— Então faça isso.

Me dá dinheiro?

— Cai fora.

Ang, oppa!

— Não enche.

Me ajude, sou a sua única irmãzinha!

— Se uma é assim, imagino como teria sido ruim ter duas.

Sério! Me ajuda aí.

O fato de ser uma chamada de vídeo deixou tudo ainda mais irritante. Tive que ver com os meus olhos Hyun-ji dando chilique e sendo chata pra caramba.

— Ouvi que a mamãe e a noona falaram não pra você. Se eu te ajudasse, com que cara olharia pra elas?

Essas duas me querem fritando frango!

— Então frita. No seu nível, não existem muitas opções para crescer profissionalmente.

Não é exagero cortar as minhas possibilidades e me fazer fazer alguma coisa até que seja a única coisa que sei? Eu preciso de uma chance!

— Esse tempo todo você não teve chances? Mesmo as suas notas do colégio entraram nessa, lembra?

Eu vou mudar a partir de agora. Por favor, me dê uma chance…

Ah, Hyun-ji é mesmo a rainha das meias-verdades…”

O estranho era que eu via onde ela queria chegar, mas não tinha o que responder.

— Vou pensar e te respondo.

Tá bom…

Terminei a chamada e soltei um suspiro de alívio. Tentar dialogar com Hyun-ji quando ela quer alguma coisa sempre foi cansativo.

Naquela noite, depois de sair do primeiro dia de trabalho, Min-jeong foi para uma festa de boas-vindas e chegou em casa tarde.

Tão logo entrou, ela correu para mim e fez uma reverência completa, como se fosse um escravo que fez algo errado diante do senhor cruel.

— Oppa, eu cometi um erro.

Ela devia ter escutado alguma coisa da Hyun-ji.

— Você reconhece o seu erro?

— Sim.

Com uma expressão tão lamentável, não podia dizer nada a ela.

— Por que você é tão fraca com a Hyun-ji?

— Não é que sou fraca…

E aí começou a história de Min-jeong.

Originalmente, ela, Hyun-ji e Ji-hyun, sempre andavam juntas, não importava o que. Eram o trio. Ela falou qualquer coisa sobre o hobby delas, que era revelar os segredos umas das outras.

Se você tivesse algo a esconder, as outras duas te fariam falar de qualquer jeito.

— É por isso que não temos segredos umas com as outras, e também porque somos tão próximas.

— É, saquei essa. Hyun-ji me chamou de gênio.

Kyak! Me desculpa! Ji-hyun começou a perguntar sobre como eram as noites… ang!

Min-jeong agarrou a cabeça em miséria.

Assim, terminou o período de desculpas e Min-jeong disse, de repente: — Mas, oppa, como você vai ajudar a Hyun-ji a ganhar independência?

— Você foi pega pela Hyun-ji de novo?

Hehe, sim.

“Essa Hyun-ji, sério…”

— Se ela vier pra Seoul e não tiver alguém pra tomar conta dela, as consequências vão ser loucas, como poderia deixar ela aprontar isso tudo?

— Ela não vai, oppa.

— Eu conheço a peça.

— Eu e você vamos trabalhar, e a Hyun-ji está tendo dificuldade em encontrar um trabalho. Com nós dois fora, você acha que ela vai sair sozinha? Mesmo se for por nós, ela vai dar o máximo.

Isso fazia sentido também. Mas eu ainda tinha a sensação de que essa fala toda era coisa da Hyun-ji.

Depois de ponderar, decidi mandar uma mensagem para ela.

[Eu: Hey]

[Hyun-ji: Sim, querido irmão!]

[Eu: -_-;; Tenho um estúdio, pode usar lá]

[Hyun-ji: Sério? YES!!!]

[Hyun-ji: Mas só um estúdio?]

[Eu: Então fica aí em Cheonan mesmo]

[Hyun-ji: Não, não, obrigada pelo estúdio! Arigato!]

[Eu: Vou te dar um cartão de débito pra despesas diárias e vou conferir todos os gastos. Se você gastar com qualquer outra coisa, ou fizer um saque, você já era.]

[Hyun-ji: Hmph, tendi]

[Eu: Por agora, vamos ver como se sai por meio ano, até Junho. Se você não tiver progresso até lá, volta pra Cheonan e vai fritar frango, ok?]

[Hyun-ji: ok, ok, eu te amo]

[Eu: Cala a boca]

Então, Min-jeong recebeu uma mensagem. Depois de rir, ela me mostrou:

[Hyun-ji: good job, my girl]

“Que confusão. Meu…”

Eu não sabia se isso seria uma boa e apenas suspirei.

Amanhã, mamãe e noona teriam ouvido as notícias e diriam alguma coisa.

— Vou te falar isso, nunca convide a Hyun-ji pra cá.

— Tá bom.

— Promete?

Aww, prometo.

De novo, de novo. Sempre com voz manhosa. Certeza que ela pegou esse hábito com a Hyun-ji. Ou pode ter sido o inverso, vai saber.

 

***

 

E assim, 60 dias passaram.

A tempo do exame, consegui várias balas .357 magnum de prata e balas 7.62 e guardei tudo no Armazenamento Espacial, que tinha chegado ao nível Inicial 4 e cresceu consideravelmente. Mesmo com os projéteis ainda tinha espaço.

Para o caso de me entediar, coloquei ali o violino e alguns livros de música.

“Hora de ir.”

Mandei um texto para Min-jeong e menti, dizendo que fui em uma viagem de negócios. Então, fui para um hotel nas proximidades.

Se eu morresse durante o exame, Min-jeong acordaria ao lado do meu cadáver. Não queria que ela vivesse com esse tipo de trauma.

Pensei bem e achei melhor deixar um testamento no meu celular, para a minha família e Min-jeong.

“Feito.”

As preparações foram finalizadas.

Não queria ficar esperando ansiosamente pelo tempo até o Exame.

— Olá e seja bem-vindo.

“Tô tão cansado de ver esse anjo bebê e ele ainda me cumprimenta.”

— Ver placa de dados. — chamei com familiaridade e logo fui conferir o Exame.

Nome: Kim Hyun-ho

Classe: 16

Karma: 0

Missão: Proteja os Elfos da Montanha Marrom

Limite de tempo: 12 meses

Meu rosto se torceu.

— Um ano, de novo?

— Isso mesmo.

— Mas não é demais?

— Achei que soubesse que outros participantes têm exames ainda mais longos.

Lembrei de Neilson Aslan e calei a boca. Eu estava numa situação muito melhor que a dele.

— Um Exame mais longo não te dá mais oportunidades de crescimento?

— Não acho que dessa vez vai ser fácil.

— Você ficou de boas por duas vezes, agora é a hora de pagar o preço.

Proteger os Elfos.

De quem?

“O inimigo são os mortos-vivos.”

Bastian, do Norte, cairia sob a guerra do exército de Odin.

O Clã Prata, ao Leste, não era um perigo real para os Elfos. O líder deles, Leon Silver, até tinha inteligência e fortaleceu o clã, mas eles não reconheciam a sua inferioridade.

Então o único inimigo restante eram os Zumbis que subiam o penhasco.

“Então tudo o que foi descoberto até agora aponta para o Mago Negro que move os mortos-vivos.”

Pelo fluxo geral dos Exames, eu tive uma ideia e resolvi perguntar ao anjo bebê: — O que tenho que fazer para bloquear os mortos-vivos?

— Não tenho certeza.

— É a Árvore da Vida, né?

— Não faço ideia.

— A Árvore da Vida é o centro desse Exame, não é? É por isso que os últimos dois, 4º e 5º, eram sobre salvá-la. Estou certo?

— Sei lá.

Encarei com força o anjo bebê. Ele, como sempre, estava simplesmente alegre.

Era como sempre, impossível dizer o que esse anjo pensava só de olhar pelas suas expressões.

Se bem que ele era um anjo, não um humano.

Mas eu achava que estava certo.



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