Arena Coreana

Tradução: Filipe

Revisão: Luz


Volume 2

Capítulo 61: O Quarto Exame (1)

A combinação rápida de Choi Hyuk continuou e eu movia minhas mãos como flashes de luz para bloquear todos os socos dele. Por fim, ele atacou com um gancho de direita que eu desviei agachando e revidei com gancho direcionado ao queixo dele.

O gancho roçou o queixo do Choi Hyuk, se eu tivesse mirado de verdade, acredito que teria nocauteado ele, que balançou a cabeça pra lá e pra cá.

— Você é incrível, não tem mais nada que eu possa te ensinar.

— Você é muito gentil.

Este era o último dia dos 20 dias de descanso que eu havia recebido.

Mesmo sem ter acertado nele, eu havia dominado o Choi Hyuk. Ele usou as técnicas que havia aprendido, com boa velocidade e rápidas combinações, ele foi capaz de desviar ou bloquear todos meus golpes.

Minhas habilidades haviam melhorado durante esse tempo? Sim.

Contudo, falar que minha técnica no boxe havia superado a do Choi Hyuk? Isso seria incorreto.

Minha técnica era como a de um bebê que mal começou a andar, incapaz de seguir Choi Hyuk. Porém, durante este tempo, com ajuda da “capacidade física” nível inicial 2, um punhado de movimentos de boxe foram cravados no meu corpo e mais do que qualquer coisa, o “fortalecimento corporal” nível inicial 5 e os novos reflexos começaram a ser brilhantes.

O tempo de reação e reflexos eram incríveis. Com a “capacidade física” os movimentos precisos eram gravados pelo meu corpo e com isso, eu podia reagir melhor.

Com tantas vantagens a meu favor, não importava o quão talentoso Choi Hyuk fosse, não havia nada que ele pudesse fazer.

— Ainda tem muitas coisas para você aprender, mas como eu estou perdendo de forma tão unilateral, é vergonhoso eu te ensinar.

— Não mesmo, isso é graças aos seus bons ensinamentos, por favor continue.

— Certo, seria bom ver você aqui amanhã de novo.

— … eu voltarei.

Havia acabado de passar o almoço e decidi ir para casa mais cedo. Enquanto dirigia para casa no meu Porsche Cayenne, fiz uma ligação para Min-jeong,

Talvez fossem apenas os desejos egoístas de um homem, conforme eu pensava que aquele poderia ser meu último dia, queria ver ela. Queria passar um tempo com ela, não, eu queria abraçar ela.

— Alô?

— Oi, Min-jeong.

— Oii!

— Tenho que ir para casa cedo hoje, você quer sair jantar?

— Ah, não! Eu marquei de me encontrar com umas amigas.

— Hyun-ji?

— Não, elas são do curso de culinária.

— Sério?

— Elas são habilidosas de verdade, me ajudaram muito. Eu disse para elas que pagaria um jantar como agradecimento.

— … bem, que pena então.

— Aw, me desculpe. Eu te vejo amanhã e teremos um ótimo dia.

Sorrio meio melancólico.

— Certo, vamos sim.

— Desculpe.

— Tudo bem.

Terminei a ligação e senti um vazio.

“Como posso me sentir tão sozinho”

Sem dúvidas que não era porque Min-jeong não podia sair neste dia. Não era fim de semana, e era bom que ela levasse a vida à sua maneira. Eu não podia simplesmente ver ela sempre que quisesse.

Quando chegasse em casa, como sempre, minha família estaria fora. Além de ter que fazer o exame, este era um dia como qualquer outro.

Eu não era mais o cara desempregado de meio período que voltava para o minúsculo porão. E ainda, assim, me sentia tão sozinho.

As três pessoas que haviam morrido antes de mim, seus rostos voavam pela minha mente.

“Então, é isso.”

Era porque eu não tinha pessoas na vida e morte. Como participantes, sentíamos a ansiedade e medo juntos, superando aquilo como companheiros, eu não tinha mais isso.

Ninguém podia compartilhar meu medo.

Eu tinha que lutar sozinho.

E assim, sem ninguém ao meu lado, tinha que ir de novo para aquele lugar.

Cheguei em casa e como sempre mamãe e minha irmã mais velha estavam fora trabalhando e chegariam tarde, até mesmo Hyun-ji que só tinha aulas de manhã, não havia chegado em casa ainda, ela devia estar vadiando fazendo alguma coisa.

“Devo me preparar mais cedo?”

Ainda tinha dez horas sobrando. Portanto, como não havia nada em particular para fazer, decidi me preparar para o exame.

Peguei o traje de batalha do CCPA e tênis de trilha, assim como outras roupas boas para a selva.

Peguei as caixas com balas de 7,62 mm que havia escondido no canto do meu armário. Apanhei minha mochila e coloquei os cartuchos, também coloquei uma garrafa com água fresca e uma faca, então.

O celular vibrou, era Min-jeong.

“O que será?”

Eu, ensopado na minha solidão, recebi a ligação alegre de Min-jeong.

— Alô?

— Oii!

— Oi, Min-jeong.

— Cancelei meus planos.

— O quê?

— Quero te ver hoje.

— Por quê? Nós podemos nos ver amanhã… 

Perguntei em uma voz trêmula, Min-jeong respondeu.

— Oppa, sua voz meio que parecia solitária, tem alguma coisa errada? Eu me preocupei, então quero te ver hoje.

Boom, um sentimento caloroso atingiu meu peito. Essa era a Min-jeong, a qual eu decidi sair sem muito caso.

Se eu não sobreviver ao quarto exame, este dia seria o fim para mim. Contudo, ignorando este fato, meu coração se sentia iluminado… 

E naquele exato momento, eu estava tão agradecido a Min-jeong. Senti um sentimento ardente, pelo simples fato de ela ter enxergado minha solidão, onde eu logo teria que lutar até a morte.

— E amanhã?

— Vou te ver amanhã também, hehehe.

Abri um sorriso.

— Certo, vamos nos ver hoje e amanhã também. Onde você está?

— Estou na escola de culinária.

Eu havia estado lá alguns dias antes.

— Vou passar aí.

— Sério?

— Sim, espere por mim.

De forma atrapalhada, joguei os itens que havia arrumado para baixo da cama e saí de casa. Devido ao tanto que queria ver ela, minha velocidade correspondia a minha pressa.

Cheguei em frente à escola de culinária e mandei uma mensagem para ela sair.

Oppa!

Ela correu para mim com uma expressão animada, sai do assento do motorista, segurei e abracei ela bem forte.

Woah, opaa! Elas vão nos ver.

— Quem vai ver?

— As amigas que eu falei antes.

Hm?

Só então eu vi as amigas que vieram correndo atrás da Min-jeong.

As duas garotas com mais ou menos a mesma idade de Min-jeong, pareciam surpresas.

Eh, olá.

— Oi.

Meio sem jeito eu troquei cumprimentos com as amigas dela.

— Me desculpem, estou roubando a Min-jeong hoje.

— Não, não.

— Você deve estar mesmo sentindo a falta dela. Não tem o que se fazer quanto a isso, hahaha.

Elas riram e nos provocaram.

Eu fiquei envergonhado, mas a resiliente Min-jeong acenou as mãos com bravura.

— Bem, eu irei primeiro. Meu oppa, parece estar com bastante pressa hoje.

As amigas dela riram ainda mais, eu suportei minha cara vermelha e acompanhei Min-jeong até o assento do passageiro.

Saímos com o carro e claro, fomos para o apartamento de Min-jeong.

— Você está apressado?

Ah, desculpe.

Hmph, homens sempre ficam tão solitários quando querem fazer isso.

— Eu só quero estar com você. Não vamos fazer nada, só fique aqui comigo, isso é tudo.

Yup yup, você acha mesmo que não vamos fazer nada?

Eh?

— Um cara deveria saber como ser mais atrevido.

Fiquei sem palavras e Min-jeong saiu do carro.

— Vamos, suba comigo, vou preparar alguma coisa para você comer.

Ah, uh, certo.

Min-jeong já estava brincando comigo como se eu fosse um cãozinho. Subimos para o apartamento dela e eu comi a comida que ela preparou.

Um pote de arroz quente e melado, ensopado de soja com tofu, kimchi, algas secas e um ovo frito como acompanhamento.

Não podia dizer se era porque ela tinha aprendido direito ou se já era talentosa desde o começo, já que cada um dos pratos estava delicioso. Terminei a refeição e fomos para a cama.

Tira a roupa, abraça, lábios se tocam… 

Como se estivesse tentando preencher um buraco no meu peito, eu a desejei infinitamente. E para mim, ela combinava comigo de forma manhosa, continuando a acariciar meu cabelo.

Era um sentimento estranho.

Eu, de forma grosseira me entreguei a ela, e ainda assim me senti acolhido sob a proteção dela.

Botei para fora todas minhas ambições, e passamos o tempo assim, um abraçando o outro. O calor continuou e com o rosto corado, Min-jeong me perguntou.

Oppa, tem alguma coisa errada?

— Não.

— Então por que você está assim hoje? Está diferente do seu habitual.

Respondi brincando.

— É porque os homens ficam solitários quando querem fazer isso.

— Você quer ser atingido por um presente de R$ 5.000,00?

O presente de R$ 5.000,00, era o luxuoso jogo de facas japonesas que trouxe para ela da Dinamarca.

Gargalhei e segurei ela firme.

Geez, não consigo respirar.

Ela me deu uma bronca, enquanto se aconchegava ainda mais. Nos abraçamos como se fossemos um desde o começo.

— Esse é um problemão.

— O quê?

— Acho que está tudo indo como você tinha falado.

— …?

— Acho que estou ficando louco por você.

Ela dever ter se alegrado com as minhas palavras, já que sorriu.

— Eu não disse? É assim que é.

— Estou vendo. O que eu vou fazer?

— Começando agora, você vai me tratar muito bem. Se não, depois quando não puder viver sem mim, terei minha vingança.

Com a fofa ameaça dela, não teve como eu não rir alto.

— Vou te tratar bem. Então quando esse tempo chegar, pegue leve comigo.

Hmph, eu vou pegar você, te sacudir, te derrubar e depois te levantar. E fazer você me oferecer presentes caros.

Aw, não faça isso.

— Vou falar que vou sair e ir para algum clube, fazendo você se preocupar.

— Isso seria demais. Eu iria espionar você.

Trocamos esse tipo de brincadeiras, e rimos juntos. Nem pude ver o tempo passar, de alguma forma já eram 22:00 horas.

Havia pouco tempo sobrando, eu deveria ter voltado antes para me preparar, contudo, Min-jeong insistiu que eu ficasse até mais tarde e não fui capaz de voltar.

E para ser sincero, eu só queria ficar com ela também. Cada minuto e cada segundo eram tão importantes e tão penosos também.

— Eu tenho mesmo que voltar agora.

— Vamos ficar juntos até amanhã, por favor?

Agora a situação era a da Min-jeong se segurando em mim.

Me senti como um bastardo saindo assim, como se mudasse meu comportamento após ter meus desejos atendidos, me senti tão mal.

— Min-jeong, eu tenho algo importante hoje. Me desculpe de verdade, eu também queria mesmo ficar aqui com você.

Hmph, você vai ser desse jeito?

— Me perdoe. Amanhã depois do trabalho, eu vou vir correndo direto aqui, tudo bem?

— Que seja! Espere e veja o que vai acontecer depois. Você vai implorar para que eu “brinque” com você.

Por sorte, ela não estava brava de verdade, Min-jeong estava apenas brincando.

Eu a beijei, o que poderia ser nosso último beijo, vesti minhas roupas e saí.

Voltei para casa, terminei meus preparativos e me deitei. Quando a hora chegou, minha mente ficou nebulosa.

 

***

 

— Você teve um bom descanso?

O Anjo Bebê bateu suas asas e me recepcionou.

— Sem dúvida.

— A partir de hoje, você terá que passar pelo exame sozinho, porém sua expressão está mais vívida do que eu esperava.

— Você tem algum problema com isso?

— Sim, eu esperava uma expressão sombria, como se você estivesse carregando todos os pecados do mundo.

— Porquê? Eu deveria?

Soltei um gancho, mas o desgraçado evitou com destreza. Ele era como uma mosca de merda.

— Como você ousa chamar um anjo de uma mosca de merda? Você quer ser atingido pelo sagrado relâmpago da desobediência?

— … 

“Não leia os pensamentos dos outros sem permissão. Você só gosta de importunar outras pessoas.”

— O exame?

— Você pode ver na sua placa de dados.

Eu recuperei minha placa de dados.

Nome: Kim Hyun-ho

Classe: 7

Karma: 0

Missão: Durante o seu tempo, ajude os elfos da Montanha Marrom

Limite de Tempo: 30 dias

“Elfo?”

Era uma das espécies que eu havia visto nos arquivos que Cha Ji-hye me entregou. Ajudar um elfo, isso é bem ridículo.

— Me dê uma dica.

— Você não acabou de receber uma dica?

— O quê?

— Vamos lá, você deveria se apressar e ir.

O Anjo Bebê trouxe a porta do exame.

Respirei fundo, abri a porta e passei. Uma brilhante luz branca se expandiu e cobriu meus olhos.



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