Volume 2
Capítulo 62: O Quarto Exame (2)
Cheguei ao local onde havia terminado o terceiro exame. A floresta terminava ali e uma imponente montanha marrom bloqueava minha visão do terreno à frente.
Era o lugar por onde eu havia escapado do pesadelo na floresta, onde senti desespero, alegria e tristeza. Os sentimentos desses momentos voltaram e fizeram meu sangue ferver. Carregando ira nos meus olhos, encarei a floresta ao Leste.
Os malditos estavam lá.
“Vou ter minha vingança não importa como.”
Prometi isso para mim mesmo, me virei e segui para o outro lado em direção a montanha marrom. Intuí a direção para o centro da montanha usando a habilidade “guia”.
“Elfos…”
Eu tinha lido algo sobre eles nos arquivos do CCPA.
Pesquisei sobre eles, pois eram uma espécie não-humana inteligente. Isso me deixou curioso.
Elfos são parecidos com humanos, porém possuem orelhas largas e pele mais branca. Não branquelos, mas brancos como em “sem cores”.
Floresta, montanha, rio, mar… sem dúvidas eles amam a natureza. Por isso, odeiam os humanos que vivem causando danos à natureza.
Normalmente, vivem em áreas remotas, onde as mãos do homem não chegaram, e têm reações mais sensíveis quando humanos ou bestas invadem seus territórios. Atiram flechas muito bem e invocam espíritos livremente. A minha habilidade de invocar espíritos era derivada da invocação dos elfos.
Raras vezes, um humano que nutria amor pela natureza como os elfos poderia se tornar amigo deles e aprender a invocar espíritos, mas esse número era pequeno dentre todos da Arena.
“Quando falaram que eu era o único participante com a habilidade de invocar espíritos pude entender isso.”
O exame em questão era ajudar esses elfos.
E, para fazer isso, primeiro eu teria que me aproximar de algum elfo e ganhar a confiança dele. Porém, estava preocupado se eu seria capaz de me aproximar, já que eles não eram amigáveis com humanos.
O reconfortante é que eu também era um invocador de espíritos.
Esses elfos amam a natureza, então iriam amar espíritos que eram encarnações da Mãe Natureza.
“Se eu conduzir com Sylph e Kasa, talvez sinalize que eu não sou um inimigo.”
Continuei subindo a montanha marrom. Era bem íngreme. Com isso, vez e outra precisei subir com ajuda das mãos; mas, graças ao “fortalecimento corporal”, estava mais forte e não tive problemas para escalar. Mesmo que eu caísse, tinha Sylph para me pegar.
A luva de aracne era de grande ajuda também. Segurei entre as rochas pontiagudas com a minha mão e não me machuquei.
— Sylph.
— Miau?
Escalei para o topo de uma superfície rochosa e invoquei Sylph.
— Verifique se existem bestas ou monstros perigosos por perto.
— Miau!
Sylph saiu voando. Deixei ela fazer a verificação e continuei a andar. Pouco depois, ela retornou e balançou a cabeça.
— Não havia fezes ou pegadas?
Sylph negou outra vez.
Terreno acidentado e sem humanos. O fato de não ter bestas ou monstros significava…
“Ainda bem, isso deve significar que os elfos estão próximos.”
Sabendo disso, a primeira coisa que deveria me preocupar era evitar causar danos ao meu entorno. Enquanto estivesse cortando árvores para uma fogueira, eu poderia ser atingido pela flecha de algum elfo.
Continuei em frente. Fui pegando alguns gravetos caídos pelo caminho e colocando nos meus bolsos, estava com uma caça com vários bolsos, com isso juntei uma boa quantia de gravetos.
A cada 10 minutos eu invocava Sylph e Kasa. Não para patrulhar a área, mas por estar cansado de caminhar sozinho.
— Miau!
— Au-au!
Nesse tempo, cada um deles sentava em um ombro meu. Enquanto eu andava, lutavam pelo melhor lugar: minha cabeça.
Em determinado momento, Sylph pulou delicadamente sobre mim. Usando suas patas dianteiras, atingiu Kasa sem piedade. Kasa, por sua vez, forçou a carinha contra a rival, fazendo a gata sair do lugar. Sylph, então, usou sua cauda para derrubar Kasa, voltando com confiança para minha cabeça. Contudo, o cãozinho saltou logo em seguida e ficou por cima dela.
As duas crianças discutindo e brigando entre si me deixaram feliz. Conforme prossegui, encontrei as fezes de um coelho. Pedi para Sylph caçar ele e em cinco minutos ela trouxe o bichinho.
“Devo descansar por aqui?”
Fiz uma fogueira com os gravetos que havia reunido, preparei o coelho e estava pronto para grelhá-lo, porém como a fonte do fogo não era muito coisa, não era muito forte.
— Kasa, grelhe para mim.
— Au-au!
Kasa fez expressão de cachorro fazendo cocô e chamas luminosas assaram o coelho em um instante. Em seguida, pedi para Sylph cortar o coelho em pequenos pedaços. Então eu comi. A carne estava muito bem grelhada, um talento muito benéfico do espírito do fogo.
Para poupar o tempo de invocação, enviei os dois de volta e continuei minha refeição.
“Tem uma coisa que trouxe especialmente para esta ocasião.”
— Invocar item, mochila.
A mochila apareceu pendurada nos meus ombros. De dentro dela, peguei um pequeno saco plástico. Dentro dele estavam um pouco de sal, pimenta e outros condimentos. Salpiquei um pouco dos temperos e a carne ficou ainda mais saborosa.
Kasa acertou em cheio quando grelhou o coelho, que ainda estava suculento de uma forma incrível. Esta, com certeza, foi a melhor refeição que fiz dentro da Arena.
Mas era claro que a comida não era tão boa quanto a feita pela Min-jeong.
“Já estou sentindo falta dela.”
Quando saíamos para algum lugar e depois voltávamos para o apartamento dela, antes de irmos para a cama, ela sempre me preparava algo.
O que quer que ela preparasse, foi ficando cada vez mais impressionante conforme o seu repertório de receitas aumentava. Em especial quando ela pegava peixe Juliana, ovos, cenouras, cogumelos e outros vegetais e cozinhava tudo junto... era surpreendente.
Suspiro.
“Acho que não vou poder ver ela por 30 dias.”
Estar saindo com Min-jeong parecia um erro, já que, quando eu estava sozinho, não sentia esse tipo de solidão. E agora sem companheiros de time, eu devia me acostumar com a solidão.
A neblina começa a se assentar sobre o céu. Ponderei se deveria continuar andando ou ficar por ali, mas então: — Não se mova, humano.
Bem atrás de mim, escutei a voz de um homem. Surpreso, gritei de forma automática: — Arma!
O Mosin-Nagant apareceu nas minhas mãos.
— Eu disse para não se mover.
Escutei outro aviso do homem.
“Devo invocar Sylph e atacar?”
Eu não era um fã de situações de ameaça à vida, mas decidi não atacar. Coloquei o Mosin-Nagant no chão e levantei as mãos.
— Não tenho intenção de lutar.
— Eu vou decidir isso.
“Oh, você vai?”
Fiquei um pouco puto, mas me segurei. Isso porque eu sabia quem era o inimigo. Não tinha dúvidas de que era um elfo. Podia afirmar isso pelo simples fato dele me chamar de humano.
— Fique parado onde está.
Ouvi a voz que vinha diretamente das minhas costas e me surpreendi.
“Como ele se aproximou tanto sem eu escutar qualquer passo?”
O elfo havia se aproximado como uma sombra, pensei que ele estava averiguando alguma coisa, pois não havia movimento.
Estava frustrado, pois não podia me virar para ver.
— Você não causou dano a nenhuma árvore. — disse o elfo em uma voz segura.
— Eu peguei os gravetos que estavam caídos no chão.
— Você é um humano com boas maneiras. Com base no seu comportamento, você veio para esta área sabendo que é nosso território?
— Sim.
— O que você quer? Não desejamos visitas de humanos.
— Quero ser amigo de vocês.
O elfo riu.
— Independentemente de um humano ser ímpio ou honesto, sempre se aproximam de nós com o pretexto de amizade. Os últimos invasores sem vergonha falaram o mesmo.
— Que desgraçados sem vergonha?
— Eles tentaram sequestrar uma criança da nossa família.
“Tráfico de humanos”
Isso estava nos arquivos também. Apesar de raro, os humanos na Arena sequestravam elfos e os usavam como escravos.
Devido à sua beleza, eles eram usados como atrativos ou escravos sexuais.
Quase todas as nações haviam banido a escravidão legal. Contudo, era comentado que a família real Nerora mantinha e exibia seus caros elfos com forma de poder.
Por isso, o relacionamento entre elfos e humanos estava ficando azedo. E acabou que, infelizmente, não muito tempo antes, desgraçados que caçavam elfos haviam passado por essa região específica.
— Ainda bem que eles falharam.
— Nós fizemos picadinho deles de forma fina e então transformamos eles em alimento para as plantas.
Foi ainda mais assustador o fato dele falar isso como se não fosse nada demais. Não era uma ameaça, mas sim uma simples descrição do ocorrido.
— Porém, aquela pobre criança ficou bem traumatizada.
— Mesmo assim, ainda é bom que a criança esteja segura. — Continuei falando de forma amigável.
— Aquele que caçou e matou os cinco homens fui eu. Então, humano, não tente me fazer de tolo.
— Não vou.
— Me fale o que você quer.
— Quero ser amigo dos elfos.
— Tomados por preconceitos, você só pode falar isso como uma mentira. Considerando isso, vou aconselhar para que vá embora. Não queremos nenhum amigo.
— …
— Nós falamos de forma direta a você. Então vá. Vá e desapareça da minha vista.
“E agora?”
Por sorte eu não havia sido considerado um inimigo, mas o comportamento dele era muito exclusivo.
Primeiro, fiz como orientado e me levantei, mas, antes de ir, pensei em algo e invoquei Sylph.
— Sylph.
— Miau?
Sylph sentou com delicadeza na minha cabeça.
— O QUÊ?!
Escutei a voz surpresa do elfo.
— Humano, isso é um espírito?
— Sim.
— Você aprendeu a invocar espíritos?
— Como você pode ver…
— Como isso pode acontecer!
— Isso é incomum?
— Mais para um milagre!
— …?
"Não é um pouco demais chamar isso de milagre? Eu escutei que isso era apenas raro no mundo de Arena.”
As palavras do elfo continuaram.
— Um gato! M-mas que bonitinha e adorável Sylph! Isso é impossível! Sua existência por si só é um milagre!
— … O quê?
— Aqui, me dê Sylph por um momento! Rápido!
— Uh, Sylph, você escutou ele.
— Miau.
Sylph saltou da minha cabeça e se aproximou do elfo. Eu também me virei, enfim vendo a aparência do elfo.
Ele era um "gigante", de mais de 1,90 m de altura. Tinha aparência elegante e longas orelhas. Um arco e aljava com flechas estavam pendurados em suas costas.
Como esperado, era bonito…
— Miau.
— Como você pode ser tão fofa? Que milagre!
Ele segurou Sylph e a esfregou contra suas bochechas, enlouquecido.
“Onde o guerreiro perigoso de alguns momentos atrás foi parar?”
Aprendi algo novo, que não estava nos arquivos. Elfos gostam de espíritos. Mais que gostar, eles ficam idiotas com espíritos.
“Será que Sylph gosta de elfos por instinto? Ela está esfregando as bochechas com ele, mostrando afeto.”
Fiquei curioso pela reação do homem, então também invoquei Kasa.
— Kasa.
— Au-au!
Com um poof, um cachorrinho de chamas apareceu.
Engasgar.
Os olhos do elfo quase saltaram.
— Humano, o que você é?
— Hmm?
— Com Sylph, e agora Kasa! Para estar vagando com espíritos tão fofos, você foi muito abençoado pela mãe natureza!
— Ah, é mesmo?
O elfo também abraçou Kasa de forma enlouquecida. Se Cha Ji-hye viesse a se tornar um homem elfo, acho que esse seria ela.
— Hm… então, eu tenho que ir?
— Ir aonde?
O elfo teve uma mudança completa de atitude, o que me deixou nervoso.
— Você é um amigo! Você tem o direito! Vou falar com as mães e apresentar você!
Era sem sentido me preocupar com “elfobia” para com os humanos. Tive a sensação que as coisas iriam dar certo.