Arcanum Brasileira

Autor(a): Gabriel Barrenha


Volume 1

Capítulo 7.1: Novos Hofirman's (II)

Ponto de vista de Gustav Hofirman — naquele mesmo dia, algumas horas mais tarde, no grande continente de Arcanum.

 

Havíamos voltado para o evento social em que estávamos anteriormente, na mansão da família Garbam. Nossa volta foi tranquila, tal como a ida. A torção espacial que separa Arcanum do restante do mundo não pôde impedir a nossa passagem.

Estava na varanda, desfrutando da minha própria companhia, refletindo sobre o meu breve encontro com os Hofirman's do Sul. Ouvia com clareza o som dos instrumentos de cordas e sopro. As risadas e burburinhos das pessoas lá dentro me enjoavam; ainda mais por saber que não passavam de miseráveis bajuladores.

Se eu pedisse para qualquer um lá dentro matar a pessoa mais próxima de si, certamente o faria sem pestanejar; apenas esperando um agrado da minha parte.

Embora tenha tantas pessoas aos meus pés, sinto falta de alguns, como o Alex, que desafiam a minha autoridade. Como pôde abandonar os ideais e tradições da família Hofirman pela pobre Lily?!

Senti um frenesi ao lembrar do passado. A nossa luta, tendo como prêmio a cabeça do perdedor! Faz 25 anos, mas lembro nitidamente da humilhação que me fez passar ao poupar a minha vida!

Esmaguei a mureta em que me apoiava com as mãos e cerrei os dentes. Cada célula do meu ser ansiava por uma revanche! Por que eu parei naquele momento?! Seria tão fácil esmagar a esposa dele, a sua fúria explodiria! Rafael estava comigo, poderia esmagá-lo como um inseto!

— Se continuar assim, vai amedrontar os convidados dos Garbam. Sua aura está emanando de forma deveras agressiva.

A voz do meu filho soou detrás de mim. Estava tão focado em meu momento de fúria que não o percebi se aproximando.

— Deixe-os ir embora! São apenas ratos imprestáveis! Não há nada que possam me oferecer que seja útil.

— O que lhe perturba, pai? Desde que nos retiramos do território dos Hofirman's do Sul, do segundo grupo, o senhor tem estado com o espírito inquieto e aflito. Foi a maneira como o senhor Alex agiu contigo?

— O quê?! Não! Já estou acostumado a lidar com aquele cara, não passa de um insubordinado. Apenas não entendo o motivo de terem escondido aquelas duas crianças de nós.

— Está é a causa da sua fúria?

— Não, apenas memórias passadas. Assuntos não resolvidos, eu diria. Porém, isso não anula a minha dúvida quanto àquelas duas crianças.

— Guerreamos há muitos séculos, pai. Sobrenaturais nascem e morrem sem conhecer outra vida. Não me recordo de um único dia em que não tenha sido treinado com o intuito de ser um soldado. Aparentemente, estão cansados disso tudo.

— Tem algo a mais nisso, Rafael. Nossos informantes disseram que Alex e Jack Snow têm mantido contato recentemente.

— Creio eu que os filhos sejam a causa disso. Ambos parecem ter a mesma idade. Claro que deixo de fora o fato de Elizabeth ser amaldiçoada.

— A maldição da princesa de gelo… — balbuciei. — Fox realmente mandou bem com essa coisa da maldição, não é mesmo?! Do jeito que as coisas andam, ela não deve ter muito mais tempo de vida.

Gargalhei, recordando do sofrimento estampado no rosto do Jack, quando ele veio até mim, quinze anos atrás, buscando uma solução para as palavras da Feiticeira.

— Não, não é por causa disso. Estão tramando algo… mas o que seria? — Tapei a boca com uma das mãos enquanto me perdia em meus pensamentos, refletindo sobre tudo o que sabia. — A garota é um Snow perfeito, seria uma desonra para o Jack caso não se tornasse uma guerreira formidável como é o irmão. Algo grande o fez engolir o orgulho e escondê-la de nós.

— Talvez desconfiem de uma possível ligação entre nós e o último nifom.

A fala do Rafael trouxe luz para a dúvida que consumia a minha mente. Foi como um sino tinindo em meio ao silêncio da meia-noite.

— É por isso…

Agora tudo fazia sentido. Alex nunca aceitou os princípios da nossa família. Dizia que não fazia sentido o poder permanecer na mão de um único grupo, e levou Jack Snow a pensar da mesma maneira! Agora acreditam que temos uma possível ligação com o ser responsável pela morte de milhões de sobrenaturais há mais de cinco milênios! Bom, eles não estão errados, afinal.

— O assunto é a junção de duas famílias altamente poderosas e influentes, pai. Os filhos deles serão direcionados para WallBright, um território fora do nosso alcance. Não conseguiremos tocá-los ou persuadi-los.

— Você realmente está me explicando o óbvio, Rafael? — O olhei de cima a baixo. — O problema maior não é eles irem para uma escola como WallBright. O real problema é o garoto… Embora o Alex não queira revelar o poder da criança, temos que ficar vigilantes! Ele pode ser uma ameaça futura.

Não podia deixar de ficar receoso quanto à visão que tive com aquele menino.

— Usou o seu poder nele? Essa é a razão de sua aflição?

Engoli em seco. Como poderia revelar ao meu filho a existência de outro Hofirman que poderá superá-lo?! E não só isso; mas massacrar todos os que ficarem em seu caminho como pequenos insetos?!

Mudei o semblante instantaneamente, não poderia evitar. Voltei para o horizonte que se estendia infinito à nossa frente, com a Lua e estrelas iluminando tudo que os olhos conseguem alcançar.

— Volte para a festa, Rafael. 

— Pai?

Me virei para ele, esperava não ter que repetir a minha ordenança. Suspirou e, por fim, cedeu ao que eu disse.

O meu ser estremeceu. Como eu poderia esquecer a sensação que tive ao olhar nos olhos daquela criança e contemplar o futuro guardado para alguém como ele?!

Estava inquieto, não sei se dormiria à noite com tal perturbação. Ao ter aquela visão, tudo o que pude dizer era que esperava ver o garoto em breve, na tentativa de transmitir segurança; mas o meu corpo tremia só de pensar em tal possibilidade.

— Neri Hofirman…

Grunhi de dor quando meus sentidos foram arrebatados, levando-me a contemplar aquilo novamente.

O garoto estava no topo de uma pilha de corpos, em pé, como um guerreiro vitorioso. Parecia ter sacrificado tudo e todos por um poder que vai além da compreensão! A espada do Caos em sua mão direita, resplandecendo, como se o Sol estivesse preso dentro daquela lâmina — nem mesmo Jefrey conseguiu tal coisa! — Da cintura para baixo, eu estava submerso em um lago de sangue denso e escuro; o cheiro de metal embrulhava o meu estômago. Uma chuva vermelha encharcava o garoto, que parecia indiferente diante de tudo aquilo. Trovões e mais trovões se fundiam aos gritos que eu ouvia, não dos vivos… mas dos mortos. Dois objetos rolaram do topo da pilha, afundando no lago de sangue. Ambos boiaram e vieram em minha direção; eram cabeças. Uma delas tinha cabelos brancos, impossível de confundir! Era a filha de Jack Snow! A outra… — Como aquilo seria possível?! Ninguém no mundo tem poder para tal! Que pacto ele faria para conseguir tamanha façanha?! — A cabeça do último nifom…

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