Volume 1
Capítulo 14.1: A cerimônia dos clãs (II)
A celebração foi interrompida de forma instantânea ao ouvirem o nome do Alex. Um burburinho tomou conta dos alunos, o garoto saiu do seu lugar em silêncio; olhares de desprezo eram lançados sobre ele.
Subiu no palanque e pôs a mão dentro do vaso. Aconteceu semelhantemente à anterior, mas o fogo brilhou numa coloração azul; um azul profundo e frio. Alex seria do clã de Infirt.
A respectiva mesa não comemorou, com exceção de uma salva de palmas desanimada. Alunos baixaram a cabeça, outros balançavam em sinal de reprovação; sua roupa mudou, dirigiu-se à mesa e sentou ao lado de outro estudante, que o olhou de cima a baixo antes de pular para o lado. Alex estava claramente constrangido com tudo aquilo.
O ritual repetiu-se cerca de cinco vezes antes de chegar a vez da Elizabeth.
— Elizabeth Snow! — o Sr. Fera anunciou.
A multidão virou em direção aos novatos, com expectativa em vê-la. Ela olhou para mim, seu rosto estava vermelho; mostrei um sorriso e dei-lhe um empurrão, respirou fundo e foi em direção ao pedestal.
Burburinhos e mais burburinhos soavam dos alunos assentados, elogios, suspiros e afirmações de descrença. Ninguém estava indiferente a ela ali, todos queriam Elizabeth Snow em seu clã; até mesmo os professores pareciam apreensivos com o resultado que viria.
Ela subiu degrau por degrau, parou em frente ao Fogo da Fênix Nêmesis e suspirou. Preparou-se e colocou a mão dentro do vaso; de repente, o fogo explodiu num tom azulado que brilhava como um céu ensolarado.
A mesa de Infirt comemorou com gritos, pulos, assovios e ovações. Ela havia paralisado.
— Finalmente temos um Snow — um rapaz urrou.
— A taça da Batalha dos Clãs é nossa no próximo ano — berrou outro.
A roupa da Elizabeth foi envolta pelo mesmo brilho que os demais e seu uniforme apareceu. Saltitou até a mesa de Infirt e acomodou-se ao lado do Alex, sorrindo para ele. O garoto parecia desconfortável, mas aliviado por ter alguém que não o reprovasse.
— Ela… é amiga de um Wastly? — Arthur Excalibur questionou enojado.
— Tem algum problema nisso? — perguntei.
— Os Wastly são a escória do mundo! Alguém da família Snow ficar ao lado de um deles é, no mínimo, desonroso!
Ele estava realmente incomodado com aquilo. Observei-o, sua feição distorceu-se numa expressão de nojo e agonia.
— Acredito que quem deva dizer se isso é desonroso, é a Elizabeth, não acha?
— Não, não acho — retrucou. — Somos a elite! Não podemos nos sujeitar a tal coisa!
— A elite? — Me segurei para não dar uma gargalhada sincera. Aquilo claramente não agradou o Oliver, que deu um passo em minha direção, mas logo percebeu a situação em que estávamos e retrocedeu. Uma veia saltava em sua testa, a pele antes branca, agora estava vermelha como um tomate.
— Eu vou fazer da sua vida um inferno, garoto… — sussurrou em meu ouvido, antes de voltar a atenção para a cerimônia novamente.
Eu teria ficado receoso com a situação; afinal, fui ameaçado por um estranho, mas após ver e ouvir algumas coisas a respeito da minha família, percebi que não faria sentido temer. Por mais que usar e abusar do meu sobrenome não fosse parte do plano, qual aluno estaria a cima de mim naquela escola? Então apenas dei de ombro e ignorei a sua ameaça.
A chamada dos alunos parecia ser em ordem alfabética, então logo chegaria a minha vez. Boa parte dos novatos foram direcionados para Whitorn e Ghollfried; apenas três participariam de Infirt, um deles sendo a Mical, o que claramente não deixou os seus membros muito contentes.
Porém, mesmo com os olhares e murmúrios, a garota Wastly não desanimou, foi saltitante até a mesa de Infirt e sentou-se ao lado de seu irmão e da Elizabeth, recebida com um abraço pela mesma, o que, novamente, gerou reações de surpresa nos demais.
Mesmo que a Mical fizesse parte de Infirt, eles não deixaram de comemorar quando um rapaz chamado Halef Tesla foi selecionado para o clã. Ele usava um macacão sujo de graxa, botas que pareciam ter o dobro do tamanho necessário, um óculos grande e fundo de metal sobre a sua cabeça impedia que os cachos de seus cabelos cobrissem os olhos.
— Droga… — Um aluno de Ghollfried bateu com a testa na mesa, desanimado. — O time de suporte de Infirt já era bom sem alguém da família Tesla, imagina agora…
— Nem me fale — outro retrucou.
Oliver foi chamado. Como assim? Se estava seguindo uma ordem alfabética, não deveria ser eu? Ele passou por mim, empurrando-me com um cutucão no ombro e subiu o palanque. Ele deveria tomar cuidado, caso contrário, o seu nariz iria bater no teto.
De praxe, colocou a mão no fogo e a chama explodiu numa coloração roxa. A mesa de Ghollfried exultou em alegria e rugidos, pareciam confiantes com a chegada de seu novo colega. O próximo aluno chamado continuou na ordem alfabética; olhei confuso para o diretor assentado na mesa dos professores. Ele me fitava com o olhar, acenando para mim. Queria dizer para eu não me preocupar?
Aguardei pacientemente o chamar do meu nome, enquanto os demais alunos eram encaminhados para os seus lugares, dezenas e dezenas de alunos passaram por aquele momento. Muitos para Infirt, mais ainda para Ghollfried e incontáveis para Whitorn, restando apenas a mim, o último novato a ser inserido em uma das três mesas.
Conforme os primeiranistas foram direcionados para os clãs, os demais alunos pareciam cada vez menos interessados no restante da cerimônia. Conversas e mais conversas, burburinhos e mais burburinhos; estava barulhento naquele momento.
— Neri Hofirman — exclamou o Sr. Fera e um silêncio mortal se fez.
Todos se viraram para mim, o último aluno restante. As expressões em seus rostos estavam misturadas entre surpresa, medo, admiração, dúvida e, como a do Oliver, arrependimento. O meu coração disparou, as minhas pernas tremiam, um suor frio escorria pelas minhas costas, causando calafrios em minha espinha. Respirei fundo e olhei para a Elizabeth; ela apontou para o espaço que havia em seu lado e sorrindo.
Não pude deixar de sorrir também. Dei o primeiro passo em direção ao palanque, tentando ignorar os olhares; subi os degraus e passei em frente ao professor, só havia percebido naquele instante… ele realmente era enorme, tão grande quanto o Afonso! Parei em frente ao pedestal e olhei para dentro do vaso; o fogo ardia num vermelho incandescente.
Levantei minha mão e a aproximei da chama, que oscilou, mas nada aconteceu. Olhei para o professor, ele também parecia surpreso. Num instante, a labareda cresceu de tal maneira que teria me consumido por completo em outra ocasião; brilhando num branco tão intenso que mal conseguia olhar diretamente. A mesa de Whitorn gritou de uma forma incomum, mas logo calaram-se quando a chama transmutou para uma coloração roxa; os alunos Ghollfried teriam comemorado, caso entendessem o que estava acontecendo.
Mudou repentinamente para um azul forte, tornando ao branco em seguida. Oscilou entre as três cores por alguns segundos e logo apagou. Os professores assentados levantaram-se, boquiabertos com o ocorrido, Merlin foi o único que permaneceu como estava.
— Eu sou o último aluno… Era para acontecer assim mesmo? — perguntei ao Sr. Fera.
Ele apenas balançou a cabeça negativamente.
— Uau… — disse o diretor.
— Tirem esse garoto daqui! — Um dos professores bateu com a mão na mesa enquanto salivava de raiva. Ele era gordo, vestia-se como um burguês e tinha um pequeno projeto de barba no rosto. — Não importa se ele é um Hofirman! Aceitar alguém que apagou o Fogo da Fênix Nêmesis seria uma desgraça para WallBright!
— Acalme-se, Duque Everst — o Sr. Fera interviu. — Isso apenas foi inesperado, não precisamos nos alterar por algo assim.
— Como não?! Já não basta ele ser um Hofirman…
— Deixe os seus problemas pessoas fora disso, professor Everst — o Sr. Fera interrompeu. As presas a mostra me fizeram estremecer; tenho certeza de tê-lo ouvi rosnar. — Se você tem algo a resolver com os Hofirman’s, posso lhe garantir que este jovem não tem nada a ver com isso.
O grandioso Duque Everst lançou um olhar fulminante para companheiro, que nem mesmo estremeceu diante da fúria daquele homem.
— Acho que podemos nos acalmar, não é mesmo? — O diretor colocou-se em pé, todos paralisaram diante da sua fala. — Mais tarde, discutiremos sobre o que será feito com o Fogo da Fênix Nêmesis; no momento, ainda estamos na cerimônia dos clãs… então seria adequado mantermos a nossa postura de docentes — seu olhar passou brevemente pelo Duque Everst —, o que acham?
O professor assentiu e sentou-se em silêncio, enquanto o diretor caminhava lentamente em minha direção. Ele parou ao lado do pedestal e me olhou fixamente por alguns segundos antes de começar a falar.
— Aparentemente não temos muita escolha diante de tal situação… A chama nos revela o íntimo e profundo do coração, e Neri Hofirman foi considerado digno de participar dos três clãs que abrigam os alunos de WallBright! — Virou-se em direção aos professores. — Acredito que não temos objeções quanto a essa afirmação, correto? — Um silêncio se fez diante das suas palavras. — Diga-nos, jovem Hofirman, o que você escolhe?
Toda a atenção estava voltada para mim, o meu coração batia forte no peito. Eu realmente poderia escolher qualquer um dos três clãs? Por que essa situação ocorreu comigo? Olhei para a Elizabeth, que me observava tranquila, com seu sorriso meigo de sempre. A minha escolha estava bem clara.
— Eu escolho…