Volume 1
Capítulo 15: Os Imperiais
O salão tremeu ante os alunos de Infirt e sua celebração. Gritavam tanto que cheguei a questionar-me se as suas gargantas não haviam sido rasgadas diante do alvoroço.
Enquanto os membros de Infirt dançavam, distribuíam abraços e beijos, derramavam lágrimas e agradeciam ajoelhados; os demais lamentavam a situação. Tenho certeza que vi o Sr. Fera tapar o sorriso em seu rosto com a mão, já Duque Everst levantou e saiu do salão, batendo os pés de nervoso.
Um brilho envolveu minhas roupas e transformou-as no uniforme do meu clã. O diretor fez um sinal em direção à mesa correspondente e logo fui me sentar ao lado da Elizabeth e dos irmãos Wastly. Uma multidão me cercou assim que desci do palanque.
— Seremos invictos por cinco anos seguidos! — um rapaz comentou!
— Um Snow e um Hofirman no mesmo dia!
Eles estavam realmente animados; mas logo o diretor interferiu.
— Sei que estão felizes com o seu novo companheiro, porém devemos dar andamento a nossa cerimônia, queridos alunos.
Não houve uma única pessoa que permaneceu em pé após suas palavras, todos sentaram em silêncio, embora ainda vibrassem.
Ante a quietude, ouvimos o ranger das grandes portas de madeira ecoarem pelo salão. Abriram-se por completo e vi entrar, de maneira sublime e pacifica, um ser angelical de armadura prateada e seis esplêndidas asas que, de tão grandes, arrastavam pelo chão. Seus cabelos loiros eram curtos e os olhos… brancos passeavam perdidos pelo local, sem um ponto fixo. Ela era… cega?
Caminhava até o palanque lentamente, tateando o chão com sua bengala de metal.
— Seja bem-vinda, professora Lux!
— Perdi algo durante minha inconveniente ausência, diretor? — A sua voz era tão suave, não parecia vir diretamente daquela mulher de armadura brilhante.
— Lamento ao dizer que sim. Estamos para encerrar a cerimônia dos clãs!
— Oh, sério? — Subiu no palanque. — E qual o resultado para Whitorn? Um futuro promissor nos aguarda?
— Claramente, disso pode ter certeza! Creio que não somente aqueles de famílias poderosas lhe trarão grandes vitórias, mas todos que foram achados dignos de participar de Whitorn.
— Vocês ganharam grandes nomes este ano, professora — Sr. Fera interviu —, mas o destaque vai para Infirt!
— Sei… Percebi quando adentrei o salão. — O seu olhar fixou-se em nós. — Um Snow e um Hofirman, certo?
— Ela… está nos vendo? — Elizabeth murmurou.
— É impossível não contemplar a aura que os cerca… Elizabeth Snow e Neri Hofirman, certo? A última vez que os… senti eram praticamente recém nascidos. — Um sorriso formou-se em seu rosto, antes de virar em direção à mesa dos professores para sentar.
— Muito bem — o diretor continuou —, agora que a professora Lux juntou-se a nós, podemos dar continuidade a nossa cerimônia! Gostaria, primeiranistas, de lhes apresentar o nosso trunfo; aqueles que estão no topo, os melhores dentre os melhores. Seriam eles melhores até mesmo que os nossos professores? Apresento-lhes os aclamados… Imperiais!
Os olhares voltaram-se para os portais de madeira novamente, por onde passaram quatro pessoas que caminhavam em direção ao palanque dos professores, dois homens e duas mulheres.
Uma moça negra, de cabelos cacheados e curtos que fluíam até os ombros, parecidíssima com a Mary. As suas roupas eram estranhas, aparentavam ser feitas de um tecido vivo que revelava o reflexo do universo com galáxias e estrelas fluindo solitárias numa escuridão sem fim. A parte superior ajustava-se perfeitamente ao seu tronco, com mangas longas presas em dois braceletes dourados. A parte inferior descia em camadas pelo quadril, em sua cintura estava um cinturão — também dourado — com a insígnia de um relógio numa coloração verde, ela calçava botas feitas do mesmo tecido da roupa, que subiam até a canela onde uma calça branca parecia se fundir com elas.
Acenava de maneira gentil para os alunos, o sorriso em seu rosto mostrava a sua passividade.
O outro era um rapaz com a cabeça raspada, vestindo roupas que remetiam ao Egito Antigo, uma saia e colar exageradamente grande que pareciam feitos de ouro e tecidos brilhantes, um livro de capa macabra estava amarrado em sua cintura, em seus pés, uma sandália de couro marrom. Ele passou em silêncio ao nosso lado, somente sinalizando com a cabeça. Seu tórax e pernas estavam à vista, mostrando sua magreza que beirava a desnutrição.
Logo atrás deles vinha uma jovem de cabelos e olhos numa cor carmesim com um brilho sutil, dando a impressão de serem carregados de energia; suas madeixas estavam presas numa longa trança lateral amarrada com uma fita branca. Trajava algo semelhante a uma armadura leve, dividida entre partes metálicas brancas e douradas que resplandeciam ao menor contato com a luz. Um cinto de couro circundava a cintura segurando uma pequena bolsa — também de couro — na lateral de seu corpo. Um macacão marrom se destacava nos espaços livres entre as peças da armadura. A seriedade em seu olhar destoava com os beijos lançados pelo ar em direção aos rapazes das mesas, que suspiravam admirados com sua beleza.
Pude ver o último dos Imperiais. Não esperava vê-lo aqui — era impossível não o reconhecer! — passando a alguns metros de distância; carregando consigo um silêncio mortal acompanhado de um olhar frio e grosseiro.
— Meufrin… — sussurrei.
A sua roupa era semelhante a da Agnes, diferindo na coloração e tecido. Era simplesmente azul escura com poucos detalhes marrons e brancos; tal como as botas e braceletes em seus pulsos. Em seu abdômen, ao invés da insígnia de relógio enfeitando o cinturão, havia um floco de neve dourado revelando a família a qual pertencia.
Garanto que vi, por um instante, seu olhar congelante passar por nós. Um calafrio percorreu a minha espinha, Elizabeth agarrou no meu braço, abaixando a cabeça na tentativa de esconder os olhos marejados pelas lágrimas.
— Eliza…
— Uau! Eles são tão imponentes! — Mical derreteu sobre a mesa, estava realmente empolgada em vê-los.
— Parecem ser realmente poderosos… — concordou Alex. — Aliás, Elizabeth, aquele de cabelos brancos não seria…
— O meu irmão — completou ela, ao olhar para o mesmo enquanto ele subias os degraus que levavam ao palanque.
— Ele parece ser bem sério — o rapaz Wastly disse.
— Sério e extremamente chato — acrescentei, lembrando das pouquíssimas vezes em que o encontrei.
Elizabeth não deu a mínima para o que eu disse, permanecendo com o olhar fixo naqueles ao lado do diretor, que não perdeu tempo ao falar.
— Creio que inúmeros alunos primeiranistas já tenham ouvido falar dos nossos Imperiais… mas não custa nada lhes oferecer uma pequena e breve apresentação, certo? — Apontou para a jovem ruiva. — Com vocês, Ruby Ignis!
— A Fênix Renascida! — gritou a mesa de Whitorn. — A Fênix Renascida!
Ela deu um passo adiante, fazendo uma breve reverência, onde os alunos se calaram para ouvi-la.
— Me sinto honrada por estar diante dos nossos novos talentos! Como ouviram, sou Ruby, a primogênita do lorde do fogo, Robert Ignis. Fui agraciada ao ser direcionada para o clã de Whitorn! Usando o talento e a sabedoria transmitidos de geração em geração em minha família pude trazer a vitória para nós por dois anos consecutivos… E garanto que será nossa novamente este ano!
Ela ergueu o braço e os alunos de Whitorn enlouqueceram ante as suas palavras. Batiam no peito com os punhos, os pés no chão e palmas; eles estavam realmente animados e confiantes no que haviam ouvido.
Ruby deu um passo para trás e o garoto egípcio se adiantou, fazendo, novamente, com que os alunos de Whitorn ficassem calados. Os membros de Infirt colocaram-se em pé, fazendo uma saudação para ele, olhei confuso para a Elizabeth, mas logo seguimos os seus passos.
— Sou Azaarot Anúbis, herdeiro da família dos mortos e ocupante do clã de Infirt. — A sua voz me lembrava o Afonso, era lenta e sem vida. — Sinto-me decoroso por estar diante dos prodígios desta nova geração; embora a diferença de idade entre nós não seja gritante. Anseio pela oportunidade de ajudá-los a crescer e evoluir neste meu último ano em WallBright.
Os alunos de Infirt bateram palmas e sentaram-se. A diferença entre eles e os membros de Whitorn era clara.
— Muito obrigada, Ruby e Azaarot! — A jovem negra deu um passo a frente e colocou a mão sobre o ombro do colega. — Agora é a minha vez… — Foi até a frente do palanque e apresentou-se com um sorriso confiante. — Sou Agnes Cronos, aquela que tem o tempo na palma das mãos!
Uma esfera verde surgiu na palma de sua mão direita, flutuou até o meio do salão e explodiu em pequenas e brilhantes partículas. A mesa roxa — de Ghollfried — a ovacionou, gritando o seu nome com alegria e entusiasmo. Agnes fazia pequenas reverencias aos alunos; até mesmo os professores como Dona B e Lux batiam palmas para ela.
— Sou a próxima líder da família Cronos e é um prazer conhecê-los! Tenho a honra de ser parte dessa equipe chamada Imperiais, composta pelos mais fortes de WallBrigth! Mas caí entre nós — ela fez um sinal, como se fosse cochichar —, eu sou a mais poderosa aqui…
— Há! A mais poderosa de nós quatro?! — Ruby riu de braços cruzados. — Nem mesmo você acredita nas baboseiras que diz, todos sabem quem é a mais poderosa!
— Não cansa de dizer coisas sem sentido, Ruby? O máximo que você consegue fazer é acender uma vela, e olhe que estou sendo generosa!
— Escuta aqui, sua…
A ruiva partiu em direção a Agnes, mas foi rapidamente barrada por Azaarot. Ruby estava claramente irritada, seus cabelos, antes presos numa trança, flutuavam soltos como se uma ventania os soprasse.
— Saí da frente, Azaarot! — Uma fina camada de luz vermelha cobriu o corpo da jovem. — Vou mostrar para ela como ter educação!
— Deixe-a vir, Azaarot. Sei bem como lidar com ela! — A resposta veio acompanhada de um sorriso suave.
Uma veia saltou na testa da Ruby e seu rosto ficou tão vermelho quanto o cabelo. Ondas de calor emanavam de seu corpo, fazendo o ambiente ao redor dela se distorcer; o seu braço direito foi envolto por chamas.
Em contra parte uma aura verde tomou Agnes, acompanhada de um exorbitante círculo de invocação em suas costas, enfeitado com ponteiros girando de forma rápida e contínua. Um arrepio percorreu a minha espinha.
Os alunos ficaram alvoroçados nas mesas, os professores colocaram-se em pé, dispostos a intervir caso necessário. O clima não estava nada amigável no momento, o calor aumentava conforme mais chamas envolviam o corpo da Ruby. Círculos mágicos cobriram os braços da Agnes e os seus olhos brilhavam numa coloração verde.
— Até quando pretendem continuar com esse teatrinho?
Um vento forte e frio invadiu o salão, surgindo repentinamente.
— Vocês deveriam ser exemplos de autocontrole, não ficar se provocando como crianças mal-criadas — soou a mesma fria e firme voz de antes. Tinha a ouvido pouquíssimas vezes até hoje; mas foi o suficiente para nunca a confundir.
Meufrin apareceu ao lado da Ruby, formou uma espada de gelo na palma de sua mão e apontou-a a centímetros do pescoço dela, enquanto uma pedra de gelo cobria o corpo da Agnes, prendendo-a.
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