Volume 2

Capítulo 77: Retrospecção

Manhã, 30 de dezembro de 1590 – Libryans, Castelo Winfrey.

 

– Quando fui chamado para falar com Úrsula na sala do trono eu fiquei muito nervoso, fiquei surpreso por ser designado para uma missão tão perigosa, apesar de que, no momento não parecia tão perigosa assim, inicialmente a companhia de Maxmilliam me deu ânimo e me senti mais seguro, conheci alguns músicos talentosos no barco para Coniuro, revi os lutadores, você deve lembrar deles, os onze Monk, animados e brincalhões como sempre. Coniuro sempre agitada e cheia de surpresas, já falei antes, foi lá que conheci Baltazar, Onurb e Anirak, a situação não era muito amigável, mas senti que eles eram legais e confiáveis, e essa sensação se provou certa, nos tornamos amigos de verdade e ótimos companheiros na missão, fico com receio de dizer adeus a eles já que minha missão chegou ao fim, passamos por muitas coisas juntas em pouco tempo, no Forte de Coniuro tivemos complicações, mas conseguimos sair ilesos, consegui ver eles em ação e foi muito excitante, lá encontramos Alexia, ela também é muito legal e animada, uma ótima companhia devo dizer... Caelum! Nossa, que lugar maravilhoso, muito mais bonito e reconfortante do que diz nos livros e viajantes que iam pra Pronuntio, um ótimo lugar para descansar, queria que nosso grupo ficasse lá por um dia para desfrutar de tudo em um único lugar, comida boa, massagem, banhos quentes, lugares para descansar corpo e mente, enfim... Estranho um lugar tão paradisíaco ter iniciado todo o perigo, Ian Nai, um homem poderoso, inteligente e aparentemente bom, mas não entendo o porquê dele estar liderando um império tão corrupto e sem coração, ele não deve ter bom senso, apresentei-me com meus novos amigos como um grupo de mercenários, os Koètuz, já imaginou? Eu como líder de mercenários? Nós ajudamos Baron a lutar contra uma mulher poderosa que liderava um grupo de felinos ferozes, em Milite uma mulher forte e imbatível foi derrotada com muito esforço, infelizmente não conseguimos ajudar Ducem, essa cidade foi totalmente destruída, muito triste as perdas de inocentes... Lembra que estudamos sobre uma criatura que pode assumir a forma e as características, além das vantagens de qualquer animal? Em Citizen essa criatura apareceu, espero que esteja viva ainda, tem uma história triste por trás desse ser, ele merecia um acolhimento adequado... Bem, em Regem foi muito complicado, fui preso, me envolvi em uma batalha interna, lutei contra inimigos poderosos, o bom é que tudo terminou bem, Regem foi desafiador, mas não se compara a Prince, o exército de fantoches foi de dar medo, mas eu me mantive concentrado e firme para não abalar a moral, tanto minha como a do grupo, já imaginou? Corpos sem vida, mortos sendo usados como armas? Vi a morte de frente, e quase sucumbi a ela... Verdade! Maxmilliam conseguiu fugir do Castelo de Cristal, sempre o imaginei assim, destemido e poderoso, enfrentando, sem medo, vários inimigos nesse percurso, tenho orgulho de ser afilhado e pupilo dele, pena você não ter tido muito contato com ele, mas Onilda também é uma grande mestra, queria ter me despedido dela quando iniciei essa missão, mas ela tinha viajado mais cedo naquele dia... É, muita coisa eu vi e vivi no território do Império de Cristal, até que enfim cheguei aqui em Libryans, nem tenho como descrever esse lugar, sei que nada é perfeito, mas esse país está bem próximo disso. Já ia esquecendo, a cidade dentro da Floresta de Pando também é um lugar perfeito, próspera e com pessoas de mente aberta, um pouco específicas nos pensamentos, mas a cidade é muito útil e agradável, aparentemente o lugar mais pacífico do mundo, foi lá que soube mais notícias sobre vocês, e a certeza de que vocês dois estavam juntos, eu como amigo queria saber disso mais cedo, espero nunca ter ofendido ou ter reprimido esse “segredo”, amo vocês como irmãos não importando como vocês são ou como se amam... Finalizando essa história, eu conheci o templo de um Electi, foi lá que encontrei você Doug... Quero muito que você acorde e me diga onde estão os outros, por favor...

 

Ray debruça sobre o corpo de Doug, que ainda está em uma espécie de coma, ele está deitado em uma cama confortável, em uma sala com outras camas e com alguns outros feridos, dentro do Castelo Winfrey.

O lugar parece ser uma enfermaria com divisórias entre as camas, no corredor várias pessoas agitadas passando de um lado para o outro, levando e trazendo coisas, preparando a festa da virada do ano, Alexia está na porta observando Ray e é abordada por Onurb que se aproxima silenciosamente.

– Alexia? O que faz aqui?

Ela suspira e responde:

– Ray...

– Ele ainda está contando histórias para o amigo?

– Sim, nos últimos dias ele leu alguns livros da biblioteca e hoje ele está contando sobre a aventura dele, o que houve nessas últimas semanas, e ele também falou sobre nós.

Onurb fala com ironia:

– Sobre nós? Que emocionante...

– E é... Legal Ray ficar ao lado do amigo assim.

– Você não acha que é uma esperança tola?

Alexia empurra Onurb para o corredor longe da porta com medo do Ray ouvir.

– Onurb! Não diga algo assim, nesse estado de coma o amigo dele pode ouvir o que acontece em volta, já houve relatos comprovando isso.

– Mesmo assim, desde que voltamos com aquela relíquia e com Doug, Ray não sai daqui.

– Ele está esperando uma resposta de algum Electi para ajudar Doug e assim achar os outros amigos, temos que estar ao lado dele.

– Lado? Nossa missão já acabou e eu tenho outras prioridades agora.

– Claro que não, Ray é nosso amigo e vamos apoiá-lo em tudo o que ele precisar.

– Eu estou apoiando, mas vou apoiá-lo da minha casa.

Alexia olha brava para Onurb e diz encarando-o:

– Vamos chamar o grupo e fazer uma votação.

Onurb resmunga, balbucia e diz:

– Certo, você ganhou! Eu sou o único ciente do abismo que você e Ray sempre nos leva, você vai ver, vamos encontrar criaturas gigantes e outros demônios no caminho.

– Demônios não existem mais... Pense positivo, será mais uma experiência para todos... Pare de ser pessimista Onurb...

Anirak se aproxima.

– Onurb pessimista? Então ele está bem, pessimismo é o estado normal dele.

– Ótimo, agora estou na desvantagem.

– Por que diz isso?

– Ani, o grupo todo vai junto com Ray até o Electi para ajudar o amigo Doug, não vamos?

– Sim claro, por que a pergunta? Onurb não quer ir?

– Não, não vejo necessidade.

– Concordo!

Onurb e Alexia estranham Anirak concordar com Onurb.

– Mas Ani...

– Essa ida até o Electi não precisará de todos e sabemos que Onurb vai reclamar o caminho todo.

– Concordo plenamente, eu irei fortemente infernizar vocês e deixar a viagem desagradável.

– Viu só? Eu voto por descanso.

Alexia demonstra desânimo e volta a olhar Ray de longe sentado na cama do amigo.

– Mas eu queria mais apoio para Ray, acho que se todos nós fôssemos ele iria sentir-se mais acolhido e seguro de que o amigo ficará bem.

Anirak e Onurb se olham e aproximam-se de Alexia, os três observam Ray animado contando suas aventuras para Doug. Onurb cruza os braços e concorda com Alexia:

– Certo, vamos todos então, mas já sabe onde será? Existem dez desses Electos.

– Electi! E ainda não sabemos, Rosanne disse que amanhã teremos a resposta, pois hoje à noite teremos a celebração do ano novo.

Alexia se anima.

– Verdade, essa celebração aqui em Libryans deve ser ótima, doze meses, trinta dias cada, e enfim, o final de um ano que para mim foi muito aventureiro.

– Eu diria perturbador.

Anirak empurra Onurb e diz:

– Para você nada é diferente disso.

– Está enganado, em casa, rodeado de ouro, comida e paz eu me sinto muito bem e bem tranquilo, como em um bom sonho.

– Deve ser uma cena monótona de se ver.

Anirak sai a caminho do refeitório e Alexia comenta com Onurb.

– Fiquei sabendo que teremos roupas especiais para a comemoração.

– Legal...

– Demostre mais ânimo... E Baltazar, você o viu?

– Não, provavelmente está comendo algo ou dormindo, ou os dois.

– Não sei por que eu ainda lhe pergunto.

A tarde passa com o Ray contando mais detalhes de sua aventura para Doug, os outros integrantes do grupo de Ray fazem seus afazeres comuns pelo castelo incluindo ajudar na preparação da cerimônia da virada de ano.

A noite chega com o clima agradável, com o céu limpo e estrelado dando para ver as luas radiantes, minutos antes de iniciar a cerimônia, todos se trocam e ficam prontos para o evento, todos vestem roupas finas, leves, com tons claros e coloridos dando ênfase na cor branca e dourada.

Ray termina de se vestir e vai para o cômodo onde Doug está, ele olha para o céu pela janela e fala:

– Amigo... Onde será que os outros estão? Quero todos nós juntos... Vocês vão amar nosso grupo, Baltazar, Onurb, Alexia e Anirak. Max vocês já conhecem...

Ray demostra felicidade por imaginar a cena de todos seus amigos juntos e é abordado por Erèm que entra.

– Ray? Já está chegando a hora.

– Minha Rainha.

– Por favor, não use esse termo, me chame de madrinha, assim eu ficarei mais feliz.

– Certo, madrinha.

– Obrigada...

Erèm senta-se na cama de Doug e acaricia seu rosto.

– Ainda nenhum sinal?

– Não...

– Não se preocupe Ray, vai dar tudo certo, amanhã teremos a confirmação de onde vocês irão e Doug ficará bem.

– Por que essa demora?

– É fim de ano Ray, os Electi usam seus poderes para abençoar suas ilhas e emanar boas energias para o resto do mundo, eles são rígidos com esses eventos.

– Entendi...

– Ray, gostaria que você ficasse ao meu lado na cerimônia de hoje.

– Sério? Seria uma honra.

– Ótimo, então vamos, você precisa comer um pouco, ficou o dia todo aqui.

Erèm beija a testa de Doug e sai da sala seguida por Ray, os dois andam até saírem do castelo, do lado de fora no grande jardim foi colocado mesas cheias de comidas e bebidas, o lugar está cheio de pessoas que vivem no castelo como guerreiros, empregados, lordes entre outras pessoas, com uma grande variedade de raças, classes e cargos.

Erèm sobe em um altar feito especialmente para a cerimônia, Ray fica ao seu lado, a alguns metros de distância Ray é admirado pelos seus amigos que estão bem arrumados, Rosanne e Peter se aproximam do altar e reverenciam Erèm.

Peter está com a espada de Erèm e a entrega para que ela possa iniciar a cerimônia, ela espera alguns segundos, admira o céu, a espada, olha para as pessoas a sua volta e levanta a espada sobre sua cabeça apontando-a para o céu.

Todos param o que estão fazendo e olham para Erèm, a espada dela emana uma energia dourada e branca, essa mesma aura se conecta as espadas dos líderes das cidades Libryans, em Ada, Curie, Hipácia, Joan, Quiteria e em Winfrey todos ouvem a voz de Erèm que inicia a cerimônia.

– Irmãos! Parceiros de vivência, lutas e conquistas... Sou a rainha... Rainha para os inimigos, pois sou grande, poderosa, destemida e invencível, mas para vocês eu sou mais uma na família, sou uma companheira, irmã, mãe e pai. Eu sou qualquer afeto que precisarem da mesma forma que precisei e preciso de vocês... Mais um ano está se iniciando e em toda Libryans, como outros reinos aliados, estamos esperançosos para um novo ano, mais próspero, agradável, com muita paz e amor, peço a colaboração de vocês para que essa vontade e desejo mútuo seja realizado, pois tudo é feito com nossos esforços e com a nossa vontade, sempre lutamos para ter um lugar bom para todos, e assim peço que continue... Este ano eu agradeço a presença de meu afilhado Ray... Blok W. Filho dos meus amigos e heróis do Grande Continente, ele veio com seus amigos e companheiros que nos trouxeram um artefato muito importante para nós e para o mundo, com este artefato teremos mais chances de conquistar a paz que tanto desejamos que se espalhe por todos os lugares... Dou início agora a nossa cerimônia de ano novo, agora devem ser sete horas e até a meia noite eu desejo uma ótima cerimônia, uma boa festa e um ano novo para todos... Obrigada!



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