Volume 2

Capítulo 76: Prólogo

 

Noite, 05 de outubro de 1575 – Pronuntio, Castelo Divine.

Ray chega a uma sala aconchegante: poltronas com estofados, pequenos sofás, pequenas mesas, quadros, uma lareira grande e acesa, janela com cortinas grossas e de costas para a porta Ray avista um senhor sentado tomando vinho em uma taça grande – antes dele se aproximar o senhor aborda Ray:

– O que temos aqui? Um invasor?

Ray se assusta e dá um passo para trás, o homem parece ser amigável e calmo, ele levanta e fala para Ray:

– Não se assuste pequeno.

– Desculpe, achei que fosse mestre Max...

– Tudo bem, não se preocupe...

– Quem é você?

– Eu sou Onirdnaxela.

– O senhor é o mentor do meu pai?

– Sim, já nos vimos antes, mas você era mais jovem, não se recorda?

– Não muito...

– Certo... E o que você está fazendo, andando pelo castelo sozinho?

– Meu pai está em uma reunião e eu vim atrás dele, mas não me deixam entrar na sala porque sou pequeno, mas eu falei que eu ficaria quieto, mas, mesmo assim eles não me deixaram entrar, então eu ouvi...

Onirdnaxela ri e interrompe Ray dizendo:

– Calma garoto, está eufórico! Venha e sente-se, você gosta de bebida doce?

– Gosto.

– Ótimo, aqui tem algo que eu experimentei recentemente, chama-se “Nom Yen”.

– Não conheço...

– É feito com leite e outros ingredientes que esqueci agora, vou servi-lo.

Onirdnaxela pega uma jarra cheia de Nom Yen, serve em um pequeno copo e entrega para Ray, que analisa e toma em seguida.

– É rosa...

– Sim, gostou?

– É bom!

Ray continua bebendo e senta em uma poltrona perto da poltrona de Onirdnaxela.

– O senhor sabe sobre magia né?

– Posso dizer que sei o básico.

– O senhor pode me ensinar?

– Você quer usar magia?

– Sim, mas Max disse que não é a hora ainda, eu queria saber já, me ajudaria muito.

– O que você gostaria de fazer?

– Ganhar dos meus amigos nos jogos, voar, caçar...

– Entendi, mas você precisa ter controle de si mesmo antes de controlar o poder da magia, você acha que todos podem usar magia?

– Sim! Não?

– Não! Sim?

Onirdnaxela ri e explica ao ver Ray confuso:

– Quando Deus, nosso criador, fez o nosso mundo, ele deu um poder magnífico aos seres vivos, cada um consegue usar esse poder de alguma forma, alguns através de orações e conversas com a natureza, outros através de item canalizadores de energia e poder, entre outras formas, mas o item principal é o treino, é preciso treinar a mente, corpo e alma para executar a magia corretamente, quanto mais disciplina e controle, melhor será a execução.

– Eu posso fazer isso!

– Sim, claro que pode, mas tem que treinar mais do que treina hoje em dia. Você pode usar esse poder de várias formas, sendo mais resistente, forte, ágil, veloz, inteligente...

– Achei que magia fosse apenas criar coisas ou fazer as coisas mexerem.

– Não, o poder que Deus nos deu vai além de fazer truques ou conjurar elementos da natureza, como eu disse anteriormente, cada um tem um dom para algo diferente, raros são os casos de ter o dom para todos os tipos de poder.

– O senhor já encontrou seres raros assim?

– Sim, já tive o prazer de conhecer alguns casos raros desses.

– Incrível!

– Sim, todos eles são incríveis... Já que você quer usar magia, precisa treinar pontos que mencionei, como Max disse para você, é necessário muito estudo para a mente e treino físico para o corpo, antes de começar a treinar o uso da magia.

– O senhor sabe fazer magia?

– Sim, conheço alguns truques, mas estou velho para isso.

Onirdnaxela vê o brilho no olhar de Ray esperando que ele faça algo mágico:

– Certo...

Onirdnaxela abre os braços energizando-se com uma aura que transmite tranquilidade a Ray, uma pequena brisa passa pela sala, cinzas da lareira voam ao redor deles formando imagens de animais, pessoas, flores, lugares e de outras raças do mundo, tudo se adequando as palavras de Onirdnaxela que conta uma pequena história.

– Veja, todo ser vivo tem o poder da vida e do amor, que é o poder mais importante que Deus nos deu. Depois vem o poder dividido, o corpo, mente e a alma, grandes guerreiros aperfeiçoam o poder do corpo, sendo mais forte que o normal ou até mais ágeis que os demais, grandes artistas e magos buscam a inteligência e a sabedoria treinando a mente e o poder que ela pode lhes proporcionar, e tem aqueles que treinam corpo e mente, tornando-se grandes e poderosos seres, mas tudo depende do seu dom interior, você pode treinar muito para ser um mestre da magia, mas o corpo e mente não chega a tanto, existe limites para cada ser vivo.

– Tem como romper esse limite?

– Existem técnicas para isso, mas elas duram um curto período. Já ouviu falar dos Zordrak?

– Não...

– São itens que ajudam na liberação desses limites, existem rituais, poções, ervas entre outras formas no mundo que nos ajudam a melhorar nossas habilidades... Você vai treinar e estudar sobre tudo isso, não se preocupe Ray.

 

Onirdnaxela encerra então a magia de ilustração, fazendo as cinzas voltarem para a lareira e observa que Ray está maravilhado com tudo, ele sorri e continua a conversa:

– Gostou jovem aprendiz?

– Sim... E como treina a alma?

– Alma? Quantos anos você tem mesmo?

– Dez anos, e... nove meses.

Onirdnaxela dá uma pausa. Ray vê Onirdnaxela com um olhar preocupado olhando para a janela, Ray olha procurando para onde o mago está olhando e logo é abordado por ele com um tom mais sério:

– Ray, eles devem estar preocupados com você, melhor você ir lá até seu pai.

– Mas...

– Ray, por favor, não quero que seu pai fique preocupado, leve o leite rosa com você.

– Certo... Até logo...

– Até mais Ray.

Ray fica confuso, ele sai da sala e antes de fechar a porta ele ouve uma voz diferente junto com Onirdnaxela, por curiosidade ele encosta a porta deixando um pequeno vão para ouvir a conversa e olhar um pouco o homem que fala com um tom extrovertido:

– O Iluminado ainda leciona?

– O que faz aqui Magnus Leafar?

– Bela recepção devo dizer... Leite rosa? Eu adoro essa bebida.

– Diga, por que veio aqui?

– Certo, vou direto ao ponto.

Leafar dá uma pausa enquanto bebe o leite rosa e Onirdnaxela diz:

– Achei que depois da sua derrota você ficaria sumido por um tempo.

Leafar termina de beber com satisfação fala:

– Que delícia... Bem, existem algumas coisas em que devo intervir, se é que você me entende, mas só vou lhe dizer tudo quando seu novo aprendiz deixar de bisbilhotar nossa conversa.

Leafar se serve novamente enchendo seu copo com mais leite rosa e Onirdnaxela olha para a porta dizendo alto:

– Ray! Vá!

Ray se assusta deixando a porta abrir um pouco, Leafar faz um gesto com a mão e a porta fecha, Ray ouve barulho da porta sendo trancada e deixa de ouvir o que se passa lá dentro. Onirdnaxela se preocupa:

– O que você fez?

– Nada de mais, só dei a privacidade para conversarmos melhor, as paredes tem ouvidos.

Onirdnaxela levanta e fica próximo da lareira, e Leafar continua:

– Você realmente está velho, um menino te espionando facilmente sem ser notado.

– Ele não é um perigo.

– Verdade, o inimigo é outro...

– Magnus Leafar... Diga de uma vez o que quer...

– Eu quero várias coisas, mas vamos nos concentrar no que é “preciso”. .

– O assunto é “morte”? Veio me matar?

– Não... Um dia... Mas não hoje, sente-se, posso lhe servir mais vinho ou Nom Yen? O assunto é extenso, mas interessante.



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