Volume 1

Capítulo 75: Relíquia de um Sangue Espirituoso

Noite, 29 de novembro de 1590. Grande Continente, Torre de Outubro.

A noite está fresca, um vento vem do oceano, mostrando ao longe uma tempestade com raios e trovões. Lili cuida de Doug, que ainda está desacordado. Kyran ajuda os outros, que vão chegando um a um, até a chegada de Ray. Ao chegar, o jovem se ajoelha chorando. Baltazar, Onurb, Anirak e Alexia o olham e correm para abraçá-lo. Nada é dito. Eles sentem o corpo de Ray tremer e ficam assim por alguns segundos. Lili e Kyran ficam de cabeça baixa. Ray questiona:

— Vocês sabiam?

Anirak responde:

— A expressão dele mostrou o que ele estava fazendo… E como ele estava sem o cajado…

— Sim… Eu acho que vi isso também, mas não queria acreditar…

Ray se distrai ao ver Jhon ainda envolvido em luz.

— Jhon? O que está fazendo?

— Não sei, não consigo finalizar a conexão…

Todos acham estranho. Ray questiona:

— E o que isso significa?

 

Maxmilliam ouve um raio e um estrondo à sua frente, abre os olhos e vê que está envolvido em um campo de força extremamente poderoso que impede que a água do oceano o esmague. À sua frente, um grande tridente dourado envolvido com uma aura verde-clara, mesma cor que está fazendo o campo de energia que o protege. Seus olhos veem esperança e ele ouve uma voz que está atravessando todos os mares.

— Max… não conseguia protegê-lo em terra, mas consigo protegê-lo no mar.

— Úrsula?

Em Pronuntio, no Castelo Divine, no ponto mais alto, está Úrsula de braços abertos, olhando para o horizonte e envolvida em pura energia.

— Viagem longa, meu amigo… Pegue, seu grupo e Ray precisam do “Babar” deles.

Maxmilliam, ainda emocionado, pega no tridente. Ele não é enviado como os outros, mas é teleportado até Jhon, surpreendendo a todos.

— Mestre?

Ray corre e o abraça.

— Padrinho? Como?

— Úrsula me salvou.

Baltazar se aproxima alegre e abraça os dois.

— Estamos todos de volta.

Anirak esconde sua emoção e corre para abraçar os três.

— Deu um grande susto em nós, mestre…

Alexia chora de alegria e alívio e abraça os quatro.

— Estamos juntos de novo, obrigada, Deus.

Lili e Jhon se emocionam em ver a alegria e a união do grupo. Onurb abraça os cinco.

— Úrsula? Ela não poderia ter nos salvado antes?

Baltazar bate na cabeça de Onurb.

— Certo, Max, você sabe que faz uma grande falta…

Todos se soltam, e Onurb continua:

— Quem iria nos levar para o perigo dizendo que “não tem nada de mais” e chegando ao local criaturas poderosas estão prontas para nos matar?

Todos fazem cara de bravos, mas Maxmilliam abraça Onurb rindo.

— Como eu sentiria falta disso, Onurb, obrigado.

Onurb ri e comenta:

— Por um momento pensei que todos iriam morrer, eu sentiria falta de qualquer um de vocês, obrigado…

Todos olham surpresos, e Onurb finaliza:

— Chega, não verão isso com frequência… Jhon? Consertou o balão voador?

Jhon responde, rindo:

— Mas balão é voador.

— Isso é um “sim”?

— Sim!

— Então ótimo!

Todos vão até o Montgolfier, que está remendado, mas aparentemente bom para seguir viagem. Admiram Kyran e Lili, que, além de cuidarem de Jhon, conseguiram, através de matéria-prima que a natureza disponibiliza, comida, bebida, material para consertar e remendar Montgolfier e medicamentos para auxiliar o grupo agora que estão todos feridos e cansados. Maxmilliam olha para o horizonte.

— Obrigado de novo… minha rainha.

Um trovão vem depois de sua fala como uma resposta ao agradecimento. Todos entram no barco, e Lili cuida dos feridos com medicamento, curativos e lugares para descansarem. Kyran dá comida e bebida a todos, e Jhon vai ao leme e inicia a viagem de volta.

— Ótimo, Koètuz, vamos para Libryans.

O retorno é tranquilo e sem imprevistos, tendo no máximo chuva forte e ventania. Todos conseguem se recuperar, descansar e se alimentar bem, e contam o que houve desde a última vez que viram Kyran, Lili e Jhon.

Maxmilliam e Jhon usam seus poderes para ver o que houve com Doug, mas não conseguem um resultado, identificando que ele está em um coma mágico do qual eles não conseguem libertá-lo. Ray fica preocupado e pede escondido em um dos dias:

— Jhon, você não consegue usar magia para ver a memória de Doug? Gostaria de ver o que houve.

— Desculpe, Ray, esse coma mágico me impossibilita de fazer isso, mas acho que Erèm pode ajudar.

— Erèm?

— Sim, ela é uma Praeteritum e tem conhecimento geral de todas as artes mágicas, ela deve saber como ajudá-lo.

— Entendi, obrigado.

Onurb fica chateado por não ter conseguido roubar nada nas últimas semanas. Anirak fica aliviada por sentir que tudo acabou e que agora uma nova vida começará. Alexia fica animada com suas habilidades que possibilitaram lutar contra um homem poderoso como Leafar. Baltazar agradece aos céus, pois fazia muito tempo que não comia uma comida boa.

Ray relata tudo no diário e fica feliz por não perder seu padrinho. Maxmilliam, depois de recuperado, fica junto com Ray a viagem toda lembrando de quando iniciaram a missão, comendo juntos, conversando sobre o diário e lembrando do passado, os treinamentos de magia e estudos em Pronuntio.

Lili e Kyran ficam felizes por estar ajudando o grupo e se tornando parte dele. Jhon fica feliz por ter participado de uma aventura como essa, mesmo que brevemente. Dias passam, e eles chegam a Libryans. São todos bem recebidos pelos guardas, e em pouco tempo Rosanne chega.

— Finalmente vocês chegaram… Erèm quer vê-los imediatamente, por favor, me sigam.

Todos a seguem pelo castelo até a sala da rainha. Ao entrar, Erèm demonstra alegria e abraça um a um.

— Que maravilha, todos estão bem! Fiquei preocupada, eu mandei um grupo para ajudá-los, mas eles foram abordados por soldados do Império de Cristal e não conseguiram encontrá-los depois disso… Esse é seu amigo, Ray?

— Sim, Doug, gostaria de saber se você consegue ajudá-lo.

— Sim, coloque-o na mesa… A propósito, vocês foram na Torre de Outubro? É um lugar distante e possivelmente hostil, o que encontraram lá?

— Fomos lá e achamos rastros de Doug indo para o templo esquecido.

— Templo de Libra?

— Sim…

— Não, tem um motivo para ter sido esquecido… Vocês foram até lá?

— Sim.

Erèm demonstra preocupação e, sem examinar Doug, ela diz:

— Ele está no sono da morte.

— Como a senhora sabe, sem nem mesmo tocá-lo?

— Digam-me! O que vocês encontraram lá?

— Aquele inimigo de novo, Leafar… Demônios, uma pedra redonda, itens e armas velhas…

— Pedra redonda? Esse “inimigo” a levou?

— Não…

— Desculpem, eu estou nervosa, me digam a sequência exata dos fatos.

— Chegamos lá, enfrentamos as Erráticas…

Onurb interrompe:

— E as monstruosidades na água!

— Isso não é relevante.

— Como não? Aquilo quase me matou…

— Onurb! … Voltando…

— Vocês derrotaram as Erráticas?

— Sim, usei o treinamento que os Imortais usaram para expulsar demônios da Guerra-D.

Erèm passa a mão no rosto de Ray.

— Não esperava menos de você, sobrinho. Continue.

— Achamos Doug no salão principal com essa pedra redonda e Leafar. Nós o enfrenamos, meu padrinho sacrificou seu cajado para matá-lo.

Erèm demonstra preocupação.

— Seu cajado… Max?

— Foi necessário…

Ray continua:

— Ele, Jhon e com a ajuda de Úrsula conseguimos fugir do templo. O mar destruiu tudo depois, o templo não existe mais…

— Entendi… E essa pedra, onde ela está?

— No balão.

— Tragam para mim, por favor.

Eles trazem a pedra, e Erèm fica maravilhada ao vê-la.

— Incrível…

Todos ficam sem entender, e ela explica:

— Sem querer vocês salvaram o Grande Continente. Com isto, posso fazer todos os líderes não temerem mais Xarles e trazer paz para todos.

Todos se olham, e Maxmilliam questiona:

— Minha senhora, mas o que é isto? Não consigo sentir nada, só uma pedra.

— E não é para sentir mesmo, Max… É um ótimo disfarce, não? Até para os mais habilidosos em magia.

— Vocês estão diante da “Relíquia de um Sangue Espirituoso”!

Todos se espantam, e Ray diz:

— Sério? Como? A relíquia com o sangue dos três primeiros Electi que salvaram o mundo?

— Sim…

— Mas como?

Todos começam a fazer perguntas, e Erèm interrompe:

— Acalmem-se! Esta Relíquia estava escondida para que ninguém a usasse para o mal, pois até hoje não se sabe o verdadeiro poder dela. Mas só sua fama já dá poder, ela está nessa forma para protegê-la. Doug fez errado ao pegá-la, ele foi pego por uma magia poderosa. Felizmente ele está bem, porém ficará assim por um tempo. Vou pedir ajuda de um Electi, só o poder deles vai libertá-lo dessa maldição.

Ray demonstra alívio, e ela continua:

— Mas entendo o porquê de ele ir atrás dela… Ela foi protegida com uma magia que só um descendente de Ivo ou Adéa pode achá-la, muito engenhoso… Entre vocês tem alguém assim?

Onurb ri olhando para Ray e Jhon, e Anirak o cutuca, comentando baixo:

— Não começa…

Kyran se levanta.

— Eu, senhora.

Com exceção de Lili e Jhon, todos ficam surpresos. Kyran se aproxima de Erèm.

— Eu sou um descendente de Ivo.

— Ótimo, sou uma grande fã de vocês. Por favor, pode me chamar de “você” …

— Certo…

— Ótimo que temos um no grupo, diversidade é importante, principalmente nesses casos de necessidade… Por favor, agora pegue na pedra.

Jhon e Lili demonstram preocupação, mas Erèm os acalma:

— Não se preocupem, a maldição que pegou Doug está no templo, no pedestal onde ela estava para protegê-la, e não na relíquia. Kyran, pegue.

— Sim.

— Isso…

Todos sentem uma brisa entrar no salão, e uma aura envolve a pedra. Erèm demonstra ânimo.

— Isso, agora esfregue ela como se estivesse limpando, polindo-a.

Kyran esfrega a pedra, e ela começa a descascar, revelando uma esfera transparente por baixo da camada de pedra. Essa esfera tem em seu interior três líquidos diferentes girando em sentidos diversos, três tons de vermelho que não se misturam.

Ao fundo, no centro da relíquia, dá para ver uma pequena pedra negra com um brilho fraco. A relíquia emana uma aura que envolve todo o salão.

Todos sentem uma grande paz interior, a mente fica clara, eles sentem como se flutuassem com seus corpos e mente em um bem-estar sobrenatural. Erèm agradece novamente.

— Koètuz? Vocês salvaram o Grande Continente… Vamos comemorar, o Ano-Novo está chegando e está tudo propenso para que todos se alegrem… Como falei anteriormente, todos podem ficar e achar novas motivações e afazeres para ajudar os outros, muitos de vocês querem isso… Ray, vou marcar uma viagem para o Electi mais próximo para ajudar Doug o mais rápido possível, e com isso saberemos o que de fato aconteceu com ele e com seus outros amigos. Fico feliz em dizer que a guerra será evitada e uma era de paz se iniciará no ano novo. Obrigada a todos, pois finalmente teremos paz.



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