Volume 2

Capítulo 159: Relíquia de um Sangue Espirituoso

Algumas pessoas tem a visão de uma conversa entre Leafar e Erèm na sala do trono em Libryans.

 

– Eu queria ser mais ativa, ir à linha de frente, lutar cara a cara.

– Você já faz isso, mas você não pode se arriscar muito, você sabe da “profecia”.

– Eu não acredito nisso.

– Mas muitos acreditam, lembre-se que através disso você representa um símbolo de esperança, essa profecia pode até ser falsa, mas muitos necessitam acreditar em coisas assim. É importante a sua posição e a sua liderança nessa guerra que se aproxima.

– Eu queria contar mais detalhes para os outros, compartilhar informações importantes, assim não ficaríamos com todo esse peso em cima de nós.

– Você quer dizer seu afilhado “Ray”?

– Sim, quanto mais souberem, mais poderão ajudar.

– Não, você sabe que muitos quando sabem da verdade ficam confusos e abalados, a batalha em Sodorra será muito perigosa, você não vai querer arriscar a vida dele ou a de outros que você queria proteger, você viu o que houve com os amigos dele.

– Sim...

– Então para protegê-lo, dê outra missão que ajude a causa, não precisa afastá-lo completamente, eu entendo que ele quer ser um herói como os pais dele, na verdade muitos querem ser heróis.

– Ele é especial como os pais.

– Sei disso, já tive a oportunidade de conversar com ele.

– E ele se deu bem.

– Sim, mas voltando ao caso, eu lhe peço, se mantenha viva o máximo que puder.

– Você fala como se eu quisesse me matar à toa.

– Você me entendeu... Ou não, você nunca segue meus conselhos.

– Eu segui o que você falou de não ter uma família, pois atrapalharia meus julgamentos e meu comprometimento com o reino e a unificação.

– Sim, família pode ser corrompida, pode te mudar, pode ser usado pelo inimigo entre outras coisas, mas no fim, você acabou fazendo uma enorme família.

– Então você acha ruim a relação que eu tenho com os meus súditos?

– Não, na verdade eu até aprecio, é inevitável não criar laços familiares com aqueles que nos importamos e cuidamos.

– Acho que você já passou por isso também.

– Sim, em Pando eu tive muitas experiências assim, sempre quis criar uma relação só com o objetivo de ser um “professor”, “mestre”, ou até um “cuidador”.

– Mas com o afeto e dedicação o amor é criado, assim surgem filhos, irmãos, até romances... Você que sempre foi frio é bom ceder a esses sentimentos lindos.

– Não vamos entrar nessa conversa melancólica.

– Voltou a ser frio.

– Isso será uma despedia, se prepare, pois Furcifer deverá agir antes ou depois que Sodorra cair.

– Tem certeza de que Sodorra irá cair? Sem mais ajuda.

– Sim, tenho alguns planos em mente e consegui ajuda de alguns dos prisioneiros dele.

– Não concordo em você usá-los assim.

– Não estou forçando ninguém a nada, todos que irão estarão cientes de tudo.

– Entendi, então só o que me resta é aguardar e sobreviver.

– Sim, em último caso você como uma “Imortal” conseguirá neutralizar o poder de Furcifer usando a relíquia, mas cuidado, porque ela tem poderes que podem te prejudicar.

– Como quiser Magnus Leafar Musou, algo mais que o senhor queria?

– Não, obrigado.

– Nem um Nom Yen?

Os dois riem e Leafar desaparece.

 

A luz que possibilitou e abençoou várias pessoas com as visões deixou todos cansados e pensativos por alguns dias, aos poucos tudo foi se normalizando no Grande Continente, mas mesmo com a vitória houve muitos dias de luto pelos os que morreram ajudando com a vitória da guerra contra o inimigo. Koètuz fez uma grande homenagem em Libryans para os que morreram em Sodorra e para Anirak, Lili e Kyran que lutaram até o fim do lado deles.

 

Manhã, 30 de dezembro de 1591 – Mujer Femme Frau

Depois do fim da guerra, da vitória das forças aliadas e da destruição de Sodorra, a cidade central do poder do antigo Império de Cristal se tornou Mujer Femme Frau, uma cidade nova criada para representar o nascimento de uma nova era de paz, prosperidade, tolerância e amor para todos os seres vivos.

A cidade ainda está em construção tendo metade já construída e pronta para moradia, o projeto da cidade prevê várias casas para os cidadãos, campos para plantação, campos para a criação de animais, uma nova universidade e no lugar de um grande castelo terá um campo para realização de festas e comemorações.

Uma grande torre foi construída, ela é simples e lembra uma torre de vigia, em cada parte da torre tem gravado os nomes de todos que morreram na guerra.

Como um gesto de paz e benevolência em uma das salas dento da torre há uma escrita na porta “Amai seus inimigos”, nessa sala foi gravado os nomes dos inimigos pedindo compreensão e que eles tenham a redenção o quanto antes para voltarem para Deus.

Obeliscos foram feitos em outras cidades seguindo o mesmo gesto, com nomes gravados indicando que a guerra acabou e que a vida continua, pedindo paz aos que sobreviveram e para os que nascerão, pois muitos já morreram, e o sentido da vida é amar e viver, não odiar e morrer.

No início dos preparos da festa que haverá na noite que conclui o ano e que dá as boas-vindas para um ano que se inicia, Ray está reunido com algumas pessoas em uma mesa simples com muita comida e bebida.

– Queria agradecer novamente a todos, chegamos aqui graças a vocês e aos esforços de muitos.

Ray levanta seu copo com suco pedindo um brinde, todos o seguem e brindam junto, pensando em todos que ajudaram para a conclusão positiva da guerra.

– Eu Giliberta, falo em nome dos antigos líderes do Império, que foi uma honra ter lutado para essa união e paz... Queria fazer um brinde também para comemorar a nova Thuany, que liderará e nos ajuntará nessa nova era.

– Obrigada, honrarei esse nome e essa nova tarefa, a cidade Barbara sempre foi intolerante devido às circunstâncias e a visão negativa que os outros tinham com os meus iguais, mas agora com essa pacificação a agressividade não será mais necessária.

Erèm se levanta e diz, olhando para cada um que está na mesa:

– Teremos mais visitantes e eu terei o prazer de agradecer cada um, então agradeço vocês que já estão aqui... Alexia Azzahar, obrigada por ter ido à missão, em ajudar Ray e depois ter seguido o grupo ajudando com tudo que você podia.

– Foi um prazer, eu agradeço por ter sido bem acolhida e sempre respeitada.

– Baltazar Thur, obrigada por ter aceitado a responsabilidade de ajudar no treino e na melhoria dos barcos e na navegação de Libryans.

– É uma honra fazer o que eu gosto ainda mais para um reino que eu amo.

– Giliberta Johannes, obrigada, por ser a ponte para os antigos líderes do Império, ajudando muito nessa unificação.

– É uma obrigação que eu faço com todo prazer.

– Jhon Ryan Hantler, um grande nome para um grande homem. Obrigada por ter mudado um pouco o seu caminho para ajudar Ray e por na guerra final ter se sacrificado tanto para a conclusão positiva.

– Falo em nome de Lili e Kyran que é um sonho realizado ver a paz reinando em nosso continente e peço que priorizem o combate contra o preconceito pelos grupos considerados menores ou inferiores.

– Considere isto feito, é o mínimo que eu posso fazer, pois essa “minoria” foi a maioria que nos apoiaram e nos ajudaram nessa guerra, não só a nós como também ajudaram os que sempre os julgaram como inimigos. Continuando, a você, Maxmilliam de Galfik, não tenho palavras para descrever a importância e a dedicação de um antigo amigo como você, que sempre esteve lá por mim, seja como e onde fosse.

– Obrigado, mas divido essa honra com todos que estão nessa mesa, vi desde o início da guerra até o fim dela, a importância e a dedicação de cada um, fico orgulhoso de todos que estão aqui e dos que morreram lutando também, muito foi feito e muito está acontecendo graças a todos.

– Falando em dedicação eu quero homenagear Onurb Gaster...

– Obrigado, minha rainha.

– Tudo bem Onurb, pode dizer o que você realmente quer dizer, você não será repreendido dessa vez.

– Estou tentando me conter também, sei que exagero às vezes, mas queria lembrá-los que eu sempre falei que Ray iria nos levar para o “fim do mundo” e foi isso o que realmente aconteceu.

Todos riem, se olham felizes e Onurb continua:

– Fico feliz por ter ajudado, ter ganhado vários itens valiosos, não que sejam mais importantes que uma honra dessas, mas eles melhoram a gratificação, entendem?

– Entendemos Onurb, obrigada por sua sinceridade... E você Peter Melquer, meu braço direito, fico triste por você ter perdido o seu para me salvar.

– Eu perderia os dois pela senhora minha rainha, eu sempre soube que esse dia chegaria, o dia em que a senhora governaria a paz no Grande Continente.

– Sim, mas para ganhar credibilidade eu não quero ser chamada de tirana ou oportunista, nem envolver e obrigar todos a seguirem o que eu acho correto, será um longo caminho de “educação”, nesse processo nós também aprenderemos pontos de vistas diferentes e teremos que arrumar meios termos para que ninguém seja prejudicado, mas sim, já estamos em uma era de paz... Quero parabenizar também minha grande amiga e fiel conselheira, Rosanne do Líbano, obrigada por confiar em mim cegamente.

– E a seguirei assim sempre, pois sei que além de ser uma heroína, você é símbolo da capacidade e do poder da mulher, sendo a nossa “grande mãe”.

– Obrigada amiga... Fico feliz por ter uma Thuany no dia de comemoração, as suas antecessoras não gostavam muito de socializar com os outros reinos, obrigada pela confiança e por nos apoiar nessa nova era.

– Eu que agradeço, sei que todo apoio é importante e meus “irmãos”, descendentes de Ivo e Adéa entraram nessa era para ajudarem no que for.

– Eu agradeço muito por isso e por tudo o que vocês já fizeram, irei lutar para dar a devida credibilidade e respeito que vocês merecem...

Erèm dá um grande sorriso olhando para Ray, que fica corado ao ver sua madrinha admirada olhando para ele.

– Ray... Ray Blok W, o que dizer do meu lindo afilhado...

Onurb interrompe:

– Que ele é um aziago.

Todos riem e Erèm continua:

– Lembro que depois da guerra você não se considerou um herói importante, mas eu lhe digo que você fez muito sim, você foi fundamental como todos os seus amigos que também deram suas vidas para que tudo isso acontecesse.

Erèm energiza suas mãos e abrindo os braços lança um feitiço:

Eterno Rei!

A luz passa por todos e brilha forte em Alexia chamando a atenção de todos, Erèm olha para ela e pergunta:

– Alexia, você tem linhagem real?

– Não que eu sabia.

– Estranho...

Erèm pega na mão de Alexia e ri alto, depois de sentir a aura dela e ver uma parte de sua memória ela pergunta:

– Foi você quem matou Xarles?

Todos se espantam, Alexia puxa a mão envergonhada e diz agitada se explicando:

– Eu não queria. Eu achei que estava na Magia Electi, ele me irritou e acabei fazendo. Juro. Eu queria prendê-lo, mas com toda a guerra eu não comentei para ninguém o que houve, afinal Sodorra foi destruída, isso não importaria mais.

Onurb comenta achando tudo estranho:

– Não importaria? Você matou a “cabeça prêmio”, a que vale mais no mercado.

Erèm puxa Alexia para se levantar e diz animada:

– Não se preocupe Alexia, podemos dizer que foi um ato de autodefesa, mas o mais engraçado nisso tudo é a lei que tinha no Império.

– Lei? Que lei?

– Sim, quem matasse o rei herdaria o seu Império.

– Como assim?

– Alexia, você é rainha de Sodorra, ou melhor, de Mujer Femme Frau.

– Não, não pode ser.

– Pode sim Alexia, hoje à noite com a chegada dos outros líderes iremos oficializar isso junto com a nossa comemoração anual.

– Não, mas eu não sei, outra pessoa tem que assumir isso.

Erèm abraça Alexia e diz feliz:

– Não se preocupe, você terá muita ajuda, será uma honra ter uma Rainha no Grande Continente assim como você.

Alexia olha sem saber o que fazer e faz sinal para seus amigos na mesa, indicando que precisa de ajuda, todos riem e felizes reverenciam Alexia, dizendo alto em tom de comemoração:

– Vida longa à Alexia Azzahar, Rainha de Mujer Femme Frau, “Salve a Rainha”!



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