Volume 2

Capítulo 158: Aquilo que Precisamos Saber

A luz da destruição da relíquia e do mal que havia nela trouxe também uma tranquilidade momentânea para todos, emanando uma reflexão profunda com bons pensamentos e boas vibrações, tudo para acalmar e consolar a população depois da guerra devastadora.

Para um grupo pequeno e específico a luz revela individualmente alguns acontecimentos do passado, como no poder do cubo rubik, entre esses, Ray e Jhon se emocionam ao verem coisas sobre pessoas importantes para eles.

 

– Rafael?

– Leafar!

Após lutar com Ian Nai, Leafar está com sua roupa rasgada, ferimentos pelo corpo e cansado, mas seus olhos demostram felicidade e ansiedade ao ver Rafael, que está em uma pequena prisão de cristal corrompido. Rafael sorri e com tranquilidade conversa com Leafar que está mais afobado:

– Eu estava lhe esperando.

– Rápido! Você precisa agir.

– Acalme-se, você está muito agitado.

– O senhor está bem?

– Estou e você?

Leafar sente algo estranho e se contém ficando mais calmo, ele coloca as duas mãos na parede de cristal e a destrói, Rafael admira o poder que Leafar alcançou e comenta:

– Esplêndido, você aprendeu tudo sobre esses cristais?

– Sim, levou um tempo e algumas viagens, mas sei mais do que eles mesmos.

– Reivax Nilked foi um grande homem.

– Com um péssimo filho.

– Sim... Infelizmente nem todos seguem o caminho certo, é um medo que todos os que criam tem...

Leafar se aproxima e pega na mão de Rafael com força.

– Aqui está! Eu andei por toda Arbidabliu para conseguir o máximo do seu poder de volta para que com ele você possa derrotar o inimigo.

Rafael bloqueia a transferência do poder e conversa com o mesmo tom tranquilo e sereno;

– Você viajou por toda Arbidabliu?

Leafar estranha as ações de Rafael, mas ele sente que o ser a frente dele é realmente o verdadeiro Electi da primeira geração e conversa querendo entender o que Rafael quer;

– Sim... Viajei.

Rafael olha para a parede como se visse além dela e diz:

– Faz muito tempo que eu não faço uma viagem... Nosso mundo é realmente lindo e abençoado.

– E para mantê-lo assim, você precisa acabar com as criaturas que controlam o rei.

– Hostium...

– Você já os viu?

– Sim, esses estão mais fortes porque Xarles lhe deu parte do poder que ele tinha.

– Sim, seu poder... Eu soube disso, lamentável.

– Mas previsível...

Rafael fica com um olhar sério e focado, e continua dizendo;

– Você estava certo... Não deveria ter deixando muitas coisas passarem, eu quis deixar o máximo do livre-arbítrio para que os mortais achassem o melhor caminho.

– Essa não é a hora para discutir sobre isso.

– Lembro que você disse que um dia você viria para me matar.

– Pelo contrário, com minha queda você terá seus poderes de volta, sei que meus erros não me permitem ascender para lhe dar, mas com a minha morte você terá muito de seu poder de volta, talvez esses Hostium estejam com a última parte, assim você terá o poder supremo novamente.

Rafael sorri e diz orgulhoso:

– Ver otimismo em você me gratifica muito... Fico feliz de você fazer tudo isso pelos mortais e pela criação...

Rafael pega no rosto de Leafar com as mãos dele ainda segurando forte seu braço.

– Você mudou muito, e está muito mais poderoso... Você chegou mais longe do que eu poderia chegar.

– Não diga isso... Com seus poderes de volta...

– Não!

Rafael inverte as mãos se soltando de Leafar e segurando os braços dele no lugar, Leafar se assusta e Rafael diz:

– Você está pronto... Me dê o descanso que eu mereço.

– Rafael, não!

Os corpos dos dois brilham uma luz intensa, Leafar sente que Rafael está ascendendo, tendo sua alma purificada e se unindo a Deus, o corpo dele desaparece aos poucos enquanto a roupa, feridas, corpo, mente e a alma de Leafar mudam, ele sente a transferência do poder que Rafael tinha com ele, junto ele também recebe parte da sabedoria e mais informações do mundo e do que Rafael já passou, Leafar se emociona com todo o processo e Rafael se despede:

– Estou orgulhoso de você Magnus Leafar Musou... Nunca houve um favorito, mas você sempre foi um forte candidato... Obrigado, e cuide bem do nosso mundo.

 

Ray tem a visão da conversa que Leafar teve com Ian Nai antes de ser teleportado pela perda da luta que teve com ele no Castelo de Cristal, no brilho intenso da luz as mentes deles se conectaram por um curto período como uma Orbis Absolute, dentro dela Ian Nai está ajoelhado na frente de Leafar em um lugar parecido com Pacem.

 

– Por que não me mata?

– Não é necessário, como eu disse, você irá para um lugar melhor do que aqui.

– Eu não mereço.

– Não importa o que eu acho, o que importa é o que realmente é, no fundo sabemos que você é bom, mesmo servindo Xarles você fez muitas coisas boas.

– Mas fiz muitas coisas ruins também.

– Não cabe a mim julgar agora, garças a sabedoria que adquiri recentemente sinto que você ainda tem uma missão para fazer, só espero que seja para o lado certo dessa vez.

Ian demostra muito desânimo e comenta confuso e com raiva de si mesmo:

– Não... Aquele menino... Ray, quando eu o vi, eu senti a culpa...

– Culpa?

– Eu matei Ynascar na batalha da universidade.

Leafar fica pensativo, Ian começa a chorar e diz olhando para o céu;

– Ele foi meu amigo, meu irmão de batalha e por minha causa ele não está hoje lutando pela causa que ele sempre lutou... Ele poderia estar lutando hoje ao lado de seu filho.

– Pelo o que eu soube, Furcifer matou Ynascar.

– Mas eu o ajudei, nós lutamos como inimigos, ele destruiu uma das minhas Zordrak... Nós dois ficamos muito fracos... Depois Ynascar foi facilmente morto pelo traidor.

– Então não foi sua lâmina que deu fim à vida dele.

– Mas...

– Não há “mas”! Você sempre foi rancoroso e se preocupa com coisas irrelevantes, se eu for pensar como você, então Rafael foi culpado de ter lhe treinado bem, ou Deus foi o culpado por ter feito Rafael, ou Deus é culpado por ter criado tudo e a todos.

– Mesmo assim me sinto culpado.

Leafar olha sério para Ian, demostrando que está perdendo sua paciência com os lamentos e diz:

– Não se sinta culpado, eu estou lhe dando uma segunda chance, com a sua perda você finalizou sua missão de proteger o rei a todo custo.

– Ainda prefiro a morte.

– Que irônico, anos atrás discordamos nesse mesmo assunto, naquele caso era eu que concordava com a sua morte, mas hoje não.

 

Ray tem a visão de uma conversa que Leafar teve com os Atilados em Oratio Tenebris.

 

– Minha missão é chegar até Rafael e lhe dar o poder Electi que consegui durante minha vida, assim ele voltará a ser o Electi Supremo podendo acabar com o verdadeiro inimigo. Vocês sabem que por muitos erros e pecados vocês estão fadados a viver por muito tempo no Vale das Sombras antes que consigam voltar para Deus... Com meus poderes e o nome Electi eu diminuirei essa pena se me ajudarem nessa causa, para aqueles que ainda buscam outro propósito na vida eu deixo que escolham em sair agora e seguir pelo mundo procurando outras formas de se redimir, de aproveitar o tempo que tem ou até acumular mais erros e pecados... Uma coisa eu garanto, farei de tudo para proteger esse mundo, colocarei minha própria vida em risco, estejam cientes que se andarem ao meu lado, farão o mesmo.

Ray vê uma conversa particular entra Leafar e Ynis em Oratio Tenebris.

– Me desculpe não seguí-lo até o castelo.

– Tudo bem, mas peço que me faça um favor.

– Será uma honra.

– Preciso que leve alguns que não merecem esse destino e que chame todos os reis e líderes do Grande Continente.

– Eles irão me ouvir?

– Irão, diga que eu estou pedindo, junte todos que puder e vá até Libryans, Furcifer deve agir depois da queda do império de Xarles ou até antes.

– Um exército de reis, engenhoso, mas não isso deixará os outros lugares sem liderança?

– Sim, mas isso não será um problema, há algumas pessoas em especial que já estão posicionadas para ajudar nesse sentido.

– Certo... Farei como pediu e tenha cuidado com esse ataque.

– Sim, e você também, tenha muito cuidado, Furcifer não medirá esforços para matar tudo e a todos.

 

Ray vê o momento em que Doug e Júlio se separaram de Rupert e Meena em algum lugar dentro de Sodorra.

 

– Vocês têm certeza disso?

– Sim, eu e Rupert vamos até a ala nobre do castelo enquanto vocês preparam nossa fuga.

– É muito arriscado.

– Sim, mas é necessário, é a nossa missão.

Os quatro se abraçam forte, e ainda abraçados Rupert comenta:

– Saudades do Ray.

– Sim, pena ele ter ficado doente.

– Será que ele vai se recuperar?

– Sim, com certeza, ele sempre foi assim... Vocês lembram-se de quando caímos na competição?

– Sim, uma pequena queda deixou todos nós muito machucados e Ray se recuperou mais rápido que qualquer um de nós.

– Ele também é otimista, sempre nos dando moral e nos motivando falando que um dia faríamos algo importante para o mundo igual os pais dele.

Eles ficam em silêncio por um tempo e quando o soluço do choro toma conta do silêncio eles dizem:

– Te amamos Ray, nosso irmão e amigo... Não sabemos se nos veremos algum dia novamente e se sairemos vivos dessa missão, mas espero que você saiba o quanto você é importante para nós.

Meena ri e comenta limpando as lágrimas de seu rosto:

– Ray diria “Parem de bobeira, claro que nos veremos de novo”.

– Bem o jeito dele mesmo... Ray...

Eles param de se abraçar e Rupert fala:

– Doug e Júlio, se a gente não chegar até o horário combinado vocês devem seguir.

– Não...

– Sim! Poderá nos considerar como mortos, nós já sabemos sobre relíquia e o poder que ela pode dar, precisamos descobrir se o Império sabe mais detalhes e se conseguiremos pegá-la antes de alguém com más intenções.

– Ou avisar uns dos líderes do continente.

– Isso também, mas devemos ter cuidado em quem confiar, Ian Nai deu uma chance para que nós pudéssemos escapar, ir contra o que ele falou e voltar a agir contra o Império será muito perigoso, pois mais ninguém do Império será amigável.

– Principalmente aquele “Águia de Sangue”, ele foi fazer um trabalho e deve voltar, portanto tomem cuidado vocês dois.

– Sim tomaremos.

– Nunca mais falamos o nome do grupo... Vamos?

– Vamos, pelo Ray também!

Eles esticam um braço para frente com os punhos fechados e se encostando um no outro, eles sorriem e dizem juntos:

– Infantes!

Os quatro se abraçam novamente e se despedem declarando a importância do grupo, amor, carinho e o afeto que eles têm entre si.

 

Ray volta muito mais no tempo e vê uma cena que o deixa em plena nostalgia.

 

– Que bebe lindo.

– Sim, puxou você papai.

– Com uma mãe linda como essa, não seria diferente ele ser perfeito assim.

– Ynascar W, você está com galanteios hoje?

– Hoje é um dia especial, quem sabe damos um irmão para ele.

– Pare de besteira, você sabe a briga que foi para termos um, vamos curtir o tempo que teremos com ele, pois nunca saberemos quando será o último.

– Verdade...

Raquel e Ynascar se abraçam forte com Ray ainda no colo de Raquel, que questiona preocupada:

– Você está com medo?

Ynascar respira fundo e olhando para os dois, ele diz:

– Sim, é uma grande missão pela frente.

– Grande e maravilhosa, iremos amá-lo, ensiná-lo, educá-lo e prepará-lo para o mundo.

– Vimos muito do mundo, por isso temo pelo destino dele.

– Sim, esse é o meu maior medo...

– Será que ele será um grande herói como os pais?

Raquel fala enquanto acaricia a testa, rosto, bochecha, nariz e os lábios de Ray que sorri a todo momento:

– Ele já é nosso herói... Ray, meu filho, você não precisa ser o maior do mundo, ou ser um grande herói, eu já ficarei orgulhosa e feliz se estiver do lado certo da batalha... Espero que tenha ótimos amigos, que respeite os outros e que sempre seja dedicado e honrado temente ao nosso Criador.

– Se ele tiver o senso empático apurado da mãe, ele achará ótimos amigos.

– E quem sabe uma ótima parceira... Ou parceiro.

– O nome dele será esse mesmo? “Ray”?

– Sim, “Ra” de Raquel e Y de “Ynascar”.

– Ray Blok W... Ficou bom.

– Sim... Ray, eu quero que você nesses seus primeiros minutos de vida no mundo saiba que você é muito amado e que faremos de tudo para que não te falte amor, carinho, afeto, aventuras e muitos momentos felizes, infelizmente coisas ruins acontecerão, mas você sempre terá suporte para superar esses males, nós pai e mãe a partir de hoje somos seu pilar principal e susteremos tudo para que você nunca caia... Te amamos muito Ray!

 

Jhon vê uma conversa entre Kyran e Lili.

 

– Kyran meu amigo, eu acho bonito essa sua relação, mas você não tem outros planos?

– Eu sou um descendente de Ivo, só por isso eu não teria um futuro. A Floresta de Pando me deu muito... Razão de viver, amor próprio, amigos, família, tudo que o mundo tirou de mim só por ser o que sou...

– Sei como é...

– Lá eu fui treinado e bem educado com uma cultura que transcende qualquer outra no mundo, eu já consegui muito, muito mais do que sonhei um dia.

– Mesmo assim Kyran, você pode chegar mais longe, você comentou que um Electi te chamou para ajudá-lo na ilha, é uma grande oportunidade.

– Eu sei, mas assim eu deixaria vocês.

Lili fala com um tom de zombaria.

– “Vocês”? Duvido que eu seja um empecilho.

Kyran fica um pouco envergonhado e diz:

– Pare com isso, você é importante para mim também.

– “Também”! Mas eu não sou a razão principal.

– Pedi para parar, sua feia.

Lili ri vendo Kyran ficar sem jeito com a brincadeira e a indireta dela, ela o abraça e se desculpa.

– Me desculpe, acho engraçado você forte, grandão e implacável ter sentimentos assim, e ficar tímido às vezes com isso.

– Todos nós temos, medos, sonhos, vontades, desejos...

– E o seu Kyran?

– O meu o quê?

– Sonhos, vontades, desejos?

– Eu já estou feliz com o que eu tenho, quero que Jhon consiga conquistar os objetivos dele, ele fica muito feliz quando aprende coisas novas.

– Eu acho que ele conseguiu muito graças a você, já está na hora de você seguir, veja o que já passamos, e se houver um perigo de novo?

– E você Lili, se houver mais batalhas perigosas, você daria sua vida por uma causa que você acredita e queira proteger?

Lili fica séria e desanima por Kyran ter argumentos bons contra a vontade dela de que ele deve procurar outra forma de felicidade no mundo.

– Sim... Eu entendi o que você quer dizer, é verdade, mesmo eu não sendo considerada mulher eu sou mulher, compartilho um pouco da sua dor, e sei que o que temos hoje já é muito bom, e que lutamos para que outros tenham mais do que tivemos e teremos.

– Sim, toda forma de amor, luta e conquistas que sejam de bom grado e sem fins egoístas são bons e proporcionam uma melhoria para o nosso mundo.

– Agora eu sei por que o Electi queria você lá, você é muito especial Kyran.

– Você também Lili, você é a primeira de muitas.

– Que Deus abençoe suas palavras.

– Nessa última batalha eu achei que iria morrer.

– Na Magia Electi ou Sodorra?

– As duas... Temo por não poder ver o “final feliz” ou até me despedir.

– A minha despedida eu queria com uma grande festa, com muita dança e música.

– Não essa despedida... Digo as últimas palavras.

– E você precisa disso?

– Sim... Por quê?

– Kyran, o tanto que você já faz, não só pelo Jhon, mas como você trata todos, suas ações dizem tudo, você é um homem que não precisa de últimas palavras, você sempre deixa claro o que é: um grande herói, “Descendente de Fé”.

Kyran sorri e abraça Lili:

– Obrigado.

– Por nada... Mas agora eu fiquei curiosa...

– Com o quê?

– Como seria o seu “Final Feliz”? Por favor, diga que teria um casamento estilo Pando, ouvi falar de coisas lindas sobre o casamento que vocês fazem lá.

– Seria interessante mesmo, mas isso é algo distante...

– Não diga isso...

– Vamos para algo mais “real”... Um final feliz seria com a unificação do Grande Continente, que os meus “irmãos” não precisem de um lugar específico para se sentirem seguros e acolhidos... E que Jhon chegue no auge de sua capacidade.

– E é só isso? E para você?

– Tudo isso já é para mim.

– Não gostaria de um grande amor?

– Tem coisas que não podemos mudar, da mesma forma que ele nunca quis que eu fosse “normal”, não posso pedir para que ele seja como eu ou que compartilhe do mesmo sentimento que eu.

– Esse seu modo de pensar, foi tudo em Pando que aprendeu?

– Sim... Mas e você Lili, o seu final feliz, qual é?

– Também quero que haja mais paz, claro que sempre terá brigas, lutas por poder e outras coisas, mas que não chegue a situações como essa do Império, e que pessoas como eu possam dizer o que sentem sem serem recriminadas e odiadas.

Os dois sorriem imaginando seus finais felizes e dando as mãos eles dizem:

– Morrer pelo o que acreditamos... Sempre.



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