Volume 2

Capítulo 147: Magnus Leafar Musou o Electi de Eras

Erèm respira fundo, anda até seu trono e se apoiando nele diz:

– É uma pergunta complexa, pois sua resposta é um pouco longa.

Ray demostra estar impaciente e nervoso, ele fica ao lado de Erèm e diz ainda bravo.

– Temos tempo e você me deve isso.

– É verdade, eu te devo...

Erèm sorri para Ray e o conduz a sentar no trono dela, ele estranha, mas segue sentando-se no trono da rainha de Libryans, ela se afasta um pouco e começa a falar:

– Certo Ray... Eu o coloquei sentado aí, pois além de precisar estar sentado para ouvir a verdade que quer saber, o trono pode passar uma ideia de como é difícil tomar certas decisões, você teve uma perda recentemente, deve entender o que eu estou falando.

Ray demostra ficar mais calmo, mas mantém o semblante sério e bravo.

– Estou pronto!

– Ótimo... Magnus Leafar Musou é, ou melhor, era o Electi mais poderoso vivo.

– Um traidor!

– Por favor, deixe-me terminar... eu sei que suas emoções e pensamentos estão em conflito ou estão fortemente direcionadas para um lado, mas você está errado Ray. Leafar foi um inimigo, um mestre, um Electi, e por último um amigo muito confiável... Magnus Leafar foi o Electi da segunda geração de Electi, ele era de “Libra”, muito conhecido como o Libriano, depois disso ele assumiu a ilha do tempo, que foi afundada pelo nosso inimigo que achou que lá havia a relíquia dos primeiros Electi.

– Então você quer me dizer que ele não é o inimigo, o traidor?

– Isso, ele não é nosso inimigo e nunca foi um traidor.

Ray perde o controle e começa a gritar inconformado:

– Então temos mais de um inimigo! Ele matou várias pessoas! Ele varreu os refugiados de Sodorra antes que pudéssemos salvá-los!

– Já chega!!!

Erèm grita na sala, fazendo o local ficar com as luzes mais fortes e intensas, parecendo um dia de sol no meio da noite, e continua:

– Ray eu entendo sua frustração, mas não admitido esse nível de ignorância, onde está aquele rapaz coerente e pronto a ouvir a explicação e tentar entender tudo.

– Você quer que eu entenda?

– Sim! Você vai entender...

Erèm está falando mais alto que Ray, sua autoridade e convicção faz com que Ray abaixe o tom de sua voz:

– O que eu preciso entender? O porquê de tantas mortes? Você ajudou na morte de todas essas pessoas?

– Muitos no seu lugar já teriam pagado caro por tanta ousadia Ray, não abuse da nossa relação, eu também tenho limites, você está sentado no meu trono, frente a frente comigo, e sei que você sente que eu não sou sua inimiga, não deixe emoções, perturbações e dúvidas cegarem você... Já que você precisa tanto ouvir, melhor eu mostrar.

Entre as mãos de Erèm surgem um cubo rubik negro e branco, Ray estranha e questiona:

– Uma caixa preta?

– Viu? Você é bem mais inteligente do que esse menino desesperado que entrou aqui... Sim, mas não uma caixa preta qualquer, devido a mente que está dentro dela e o poder serem maiores que o comum, a caixa preta teve que ter uma adaptação e uma evolução para conseguir manter a capacidade do que há aqui dentro.

– Estamos falando da mente de... Leafar?

– Sim, você sabe que a caixa preta guarda informações e as memórias de quem as depositou aqui dentro até o momento em que foram colocadas, podendo renová-las só depois de um tempo.

Erèm se aproxima de Ray e estende o rubik com as duas mãos para que ele o pegue.

– Mesmo eu, que pareço forte e durona fico triste com você me olhando com desconfiança e dúvida, espero que isso devolva a confiança e o afeto que um afilhado tem por sua madrinha... Pegue e tudo será resolvido.

Ray fica chocado com tanta informação e pela iniciativa de Erèm, que através dela irá saber de muitas coisas através do rubik negro e branco. Ray respira fundo e pega o artefato, ele está ofegante, a sua adrenalina está alta, ele olha para Erèm que diz preocupada:

– A verdade pode ser dura Ray, mas não perca a fé.

Ray sente seu corpo paralisar, sua mente expandir e a sua alma sair do corpo, ele sente sendo puxado para o céu, para as nuvens, até sair de Arbidabliu, nos astros ele para em um chão invisível, de pé ele vê à sua frente a imagem de Leafar, que o questiona:

– Ray? O que está fazendo aqui?

– Leafar? Você me consegue me ver?

– Sim, e posso ouvi-lo também.

– Onde eu estou? Eu deveria estar na sua memória.

– Entendi... Você acessou o rubik sagrado, o artefato que eu criei.

– Sim.

– Ele é diferente da caixa preta que você acessa memórias e diferente do cubo rubik que o leva para um período na história, este é uma união de ambos, criando uma mente ativa que mostra tudo, uma forma de defesa também, para não revelar informações importantes para qualquer ser.

– Então você é um “clone” de Leafar dentro do rubik sagrado?

– Exatamente, com a minha mente no dia em que eu a coloquei, eu não sei mais de nada depois disso ... Aliás, se você está aqui eu devo estar morto, correto?

– Sim.

– Pena... O Império foi destruído?

– Sim.

– Ótimo... Estou sentindo que Erèm está me atualizando com algumas informações.

Uma aura dourada envolve os dois, Ray vê que ao redor deles as estrelas brilham mais fortes e o sol começa a mudar de cor, para outras cores claras até ficar branco. Leafar não para de olhar para Ray e diz:

– Entendi... Você usou a Magia Electi dos dez, e me acusa de traição... Você quer saber a verdade?

– Sim, quero saber de tudo.

– Que assim seja.

Ray estranha a boa recepção e questiona surpreso:

– Fácil assim?

– Me estranha alguém como você ter passado por tanta coisa e ainda achar que está em uma situação fácil. Mas sim, eu sou um amante da verdade, mas às vezes precisamos guardá-la para que mentiras não surjam ou que pessoas se firam.

Leafar levanta suas mãos e movendo-as para todas as direções faz o universo ao redor mudar de lugar, e leva os dois para o solo de Arbidabliu novamente.

– No início, na criação dos Electi...

Ray percebe que Leafar está mostrando para a época da criação dos primeiros Electi e diz:

– Não precisa voltar tanto.

– Erèm também disse que você está impaciente, mas se você quer saber a verdade eu preciso revelar todas as mentiras que já lhe foram ditas, assim você saberá da “verdade”.

Ray demostra medo por sentir que descobrirá muito mais do que achou que iria descobrir, Leafar vê isso em seus olhos e comenta:

– Acalme-se e segure as suas emoções, será uma viajem inesquecível pelo tempo.

Os dois aterrissam no solo em um campo aberto e bonito, sem sinal de animais ou pessoas ao redor, o lugar é iluminado pelo sol, mas o céu está escuro, podendo se ver as estrelas e as luas que rodeiam rapidamente o planeta, Leafar olha para Ray e inicia:

– Deus... O Criador de Mundos e do Universo, após ter feito Arbidabliu, fez três seres extraordinários e “perfeitos”, os Electi, escolhidos de Deus, esses três chamados de “W”, “B” e “R”, esses seres ajudaram o Criador nesse novo mundo, ele então fez os humanos, que foram bem auxiliados por esses três Electi. Com uma boa população já formada o Criador fez um pedido “O Desejo de Deus”, para que todos amassem a ele e a tudo que ele fez, incluindo uns aos outros, algo aparentemente simples e fácil... Mas décadas depois apareceu uma “barreira” que impedia o pedido de nosso Criador.

 Ray o interrompe:

– Os Electi caíram em desgraça com a ausência de Deus, isso eu já sei.

– Aí que está... Duas mentiras.

– Mentiras?

– Sim... A primeira é que não foram os Electi que caíram em desgraça, foram os humanos, eles começaram a brigar e a odiar uns aos outros, começaram a lutar entre si para terem mais terras, mais comida, mais água e mais poder. No início todos tinham fácil acesso a magia e a energia do mundo, com o mau uso dela e a ganância que tiveram, o nosso mundo ficou cansado e não conseguiu mais dar o tanto de energia que podia dar antes, assim o mundo começou a morrer... Verdade, eu falei de duas mentiras, a segunda é que Deus nunca se ausentou. Ray, Ray! Deus nunca se ausenta de nós! Nós é que nos ausentamos dele! E foi isso que os humanos fizeram, quanto mais distantes ficavam de Deus, mais maldade e crueldade aparecia no planeta, terras foram destruídas, rios poluídos, animais foram extintos, para cada humano vivo eram dez desgraças que caiam sobre o mundo... Imagina como isso terminaria?

– Sim...

– Foi aí que a orbe foi feita, a famosa “Relíquia de um Sangue Espirituoso”, Deus não conseguia mais chegar em seus filhos, todos estavam cegos e corrompidos, mas os Electi por ainda seguirem o desejo de seu criador, fizeram o sacrifício, deram os seus sangues e suas vidas imortais para salvarem os mortais. O poder dos três Electi Supremos paralisou o mundo, as luas e até o sol, e durante um ano tudo foi mudado, o ar, águas e terras foram restauradas e limpas, vidas extintas foram trazidas de volta e a impureza dos homens foi lavada.

Ray começa a entender tudo e comenta espantado com as revelações:

– Eles também sacrificaram seus nomes.

– Você entendeu... Essa mentira contada por séculos foi para que a humanidade não perdesse a esperança nela mesma, dizendo que aqueles que têm poder são mais fáceis de serem corrompidos do que os mortais, tentando afastá-los da ganância por poder. A mentira fez o sacrifício ser uma forma deles se desculparem pelo o que fizeram, mas infelizmente ninguém reconhece e sabe o que eles fizeram por todos nós.

O coração de Ray acelera com as informações novas, que vão abrindo a sua mente e o ajudam a entender muitas coisas, ele fica confuso pois algumas coisas que eram simples agora ficam confusas, mas fica aliviado por algumas coisas complexas ficarem mais fáceis de entender. Ele sente que sua mente vai explodir e que seu coração vai sangrar, junto com a mente acelerada suas emoções vão longe, sentindo uma tristeza pelos maus acontecimentos e uma grande felicidade por saber que tem seres fazendo o bem como ele mesmo deseja fazer. Finalmente ele diz:

– Incrível...

Leafar faz o cenário mudar para o Castelo Divine em Pronuntio e depois que Ray respira fundo por alguns segundos, ele continua a falar:

– Infelizmente o mal que havia no mundo era grande, então ele não foi completamente destruído, uma pequena parte foi reunida e selada para que seja destruída depois.

– Existe outro artefato?

– Não... É o mesmo... No fundo da Relíquia você consegue ver uma pequena pedra negra, o motivo de o sangue sagrado estar ali é para manter selado esse mal, sendo também um dos motivos da relíquia ficar escondida, se ela fosse só um símbolo de gloria e salvação ela estaria exposta para que todos a vissem, mas não, ela não é uma relíquia apropriada para ser tocada por qualquer um. A origem da magia do Caos veio dela, junto com os Guerreiros Caos... Depois que o mundo voltou a ser um lugar de paz ele foi auxiliado por um Electi, aquele que sobreviveu na criação da Relíquia, nessa época já intitulado como “Rafael”, que tem como tradução “Deus curou” ou “Deus cura”, uma forma de representar o poder divino sobre os mortais.

– Mas por que a Relíquia não foi destruída depois? O mal que ela guarda?

– Rafael tentou... Mais de uma vez, até que ele foi ao extremo, ele conseguiu diminuir mais o mal que havia lá dentro, mas junto destruiu seu poder, o poder Electi foi dividido em várias partes pelo mundo.

– O poder do Electi Supremo foi dividido?

– Sim. Foi um infeliz acidente, o poder dele se separou e se uniu a qualquer ser vivo que o encontrasse, e quem matasse esse ser adquiria esse poder, se o poder se unir a um peixe, por exemplo, após matá-lo você adquiria o poder sem ao menos saber, criando assim um ciclo indetectável, já que era um poder supremo, não tinha como localizá-lo facilmente, nem mesmo Rafael conseguia mais com o seu poder reduzido.

– Onde estão as partes do poder de Rafael?

– Voltarei neste assunto em breve, mas vamos continuar a ordem cronológica da história... Rafael conseguiu rever um pouco de seu antigo poder, mas por medo de morrer e por medo que o poder Electi caísse em mãos erradas, ele criou a segunda geração de Electi.

– Zodíaco.

– Isso... Entre os doze escolhidos para seguirem os passos de Rafael e o “Desejo de Deus”, alguém peculiar foi convocado entre esses doze.

– Você.

– Ivo e Adéa foram os primeiros a sentirem atração física e amorosa por pessoas do mesmo sexo, devido ao preconceito da vila onde moravam eles foram forçados a procriar, por não sentirem prazer um com o outro o ato sexual tornou-se impossível entre eles, mas o desespero e o amor por si próprio chegaram até Rafael, que os abençoou, gerando vida no útero de Adéa com o gameta de Ivo, sem precisar da pratica do ato comum ou forjar uma gravidez. A gestação gerou um menino, que inconvenientemente se uniu a um dos poderes de Rafael que circulava o mundo.

– Impressionante!

– Uma pequena borboleta, nela havia o poder de Rafael, você deve imaginar a probabilidade disso acontecer, ela então pousou no berço desse menino e ele a comeu sem saber o que aconteceria depois, além de receber uma benção divina ele foi munido de um grande poder, duplicando suas capacidades normais, tornando-se muito mais do que um mortal... Anos depois seus pais foram mortos por serem considerados aberrações e abominações, seu filho como fruto da união dessa “Monstruosidade”, assim chamado, foi caçado para que morresse também.

– Que horror...

– Eles tinham medo de que essa “raça” se proliferasse e acabassem com a procriação dos seres, como o fim da vida.

– Posso imaginar o que veio em seguida.

– Sim... Fúria, vingança, ódio... Esse menino descobriu que tinha um grande dom e grandes poderes, então ele os usou... Entenda Ray, se todos alegam matar descendentes dessa linhagem para preservar a vida, por que eles matam outros seres, descendentes morrem por ódio, animais morrem para virar roupa, comidas e até armas, e nunca lutaram para proteger um deles... Enfim, esse “menino”...

– Você?

– Sim... Eu... Eu fiz de tudo para destruir e matar todas essas pessoas, se era uma praga que eles queriam, foi uma praga que eles encontraram, muitos morreram, foram caçados, julgados e punidos por um único descendente, o primeiro da linhagem... Esse “menino” foi confrontado várias vezes por Rafael, até que em uma batalha de corpo, mente e alma esse menino entendeu “O Desejo de Deus”, ele encontrou a redenção e como prova desse arrependimento Rafael o colocou como regente do templo de Libra, como o Electi de Libra... Magnus Leafar.

Leafar os muda de lugar com magia, para o topo da torre mais alta do castelo, para vejam toda a paisagem, Ray admira a vista, ainda bem impactado com as informações e Leafar continua:

– Por muitos anos os Electi criaram novas raças, você as conheceu bem em seus estudos, todas são incríveis e poderosas, eu ficava atento e admirando esse novo objetivo de vida, com o tempo eu percebi que mesmo com novas raças, que criaram mais diversidade e mais oportunidade de vida, a descendência de Ivo e Adéa ainda existia e ainda era recriminada, assim eu criei um lugar para “nós”, pois sabia da rejeição que muitos sofreriam, para que não caíssem no mar de ódio e raiva, eu criei um mar de paz e proteção, longe do ódio alheio e perto do acolhimento de seus semelhantes, assim esse lugar amenizaria um pouco as coisas. Eu sei que o melhor seria a inclusão, mas incialmente a separação foi necessária e assim nasceu a...

– A Floresta de Pando, você é o fundador que ouvi falar.

– Sim, assim eu usei meu outro nome “Musou”, para separar as responsabilidades e para não gerar confusões e não atrair inimigos... O que eu vou contar agora é um ponto de vista que ouvi de um antigo morador de Pando: “Procriação entre irmãos é proibido, mas no início da vida foi algo necessário, tomando uma proibição como ‘contingência’ para a multiplicação, será que os descendentes de Ivo e Adéa não são a nova ‘contingência’ para a multiplicação em massa não consumir o mundo e eles mesmos?”.

Ray pensa em falar algo, mas sua mente não para de processar as novidades com tantas informações que recebeu em pouco tempo, Leafar percebe o silêncio e a supressa de Ray e continua:

– Não existe comprovação disso, mas foi algo que mudou o meu modo de ver as coisas, pelo menos eu achei bem coerente.

– Sim... é verdade.



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