Volume 2
Capítulo 145: Reencontro II
Em uma das montanhas brancas de neve, de Irene White, está uma cabana grande e isolada, ela é confortável e quente e dentro dela é possível ignorar o frio intenso que está do lado e fora, em uma cama maior que o normal Jhon acorda.
A cabana está um pouco escura, ele se levanta e por impulso ele usa magia no lugar para identificar onde está, antes que fizesse outra magia, um homem dentro da cabana fala com ele:
– Poupe energia rapaz, você está no reino de Irene White em uma cabana simples para viajantes, mesmo com muito frio lá fora você está seguro aqui.
Com magia Jhon consegue identificar que está seguro, no lugar ele percebe que além da lareira mágica que mantém a luz e o calor da cabana estável, também tem um homem conhecido, que está sentado no canto da cabana. Jhon o chama pelo nome:
– Otoko?
Otoko é um homem, Dionamuh-M, velho, com cabelos e barba longas e grisalhas, aparência comum, mesmo dentro da cabana ele está usando roupas apropriadas para o frio, calça, casaco, luvas e botas, tudo com a maior parte feita de pele de Grandes Animais, ele está sério, se levanta e reforça o que disse:
– Eu diria meu nome, não precisa usar magia, poupe-a, você vai precisar dela depois para ir embora.
– Por quê?
– A montanha está perigosa hoje, ainda mais depois de um evento que aconteceu no Grande Continente, você deve saber o que foi.
– Sim.
– Pelas suas vestes e a informação que li, na mensagem que estava com você, percebi que você é usuário de magia, então guarde-a para se teleportar ou para se locomover em segurança na nevasca.
– Entendi.
– Na mesa ao lado tem comida e bebida, sirva-se à vontade.
– Obrigado.
Otoko demostra que irá sair e Jhon o questiona:
– Você já vai?
– Sim, vim só para te acomodar e ver se você está bem.
– Você mora aqui?
– Não, eu venho aqui às vezes... É um lugar importante para mim, me traz boas lembranças.
– Entendi... Importa-se de contar um pouco sobre?
Otoko olha estranho para Jhon que explica:
– Os últimos acontecimentos me deixaram um pouco frágil e cansado, uma boa história pode me ajudar.
– Entendi...
– Se quiser, como um acordo e forma de agradecimento, quando eu estiver pronto eu consigo teleportar você para onde você quiser.
Otoko sorri e diz baixo, olhando para um tapete velho e grosso que parece um colchão de tão grosso e acolchoado:
– Infelizmente não para onde e com quem eu gostaria de estar.
– Otoko?
– Sim, pode ser... Mas não sei se uma história de Dionamuh-M descendente de Ivo vai lhe ajudar.
– Tenho certeza de que sim, se tem emoção e relatos de uma vida honrosa já irá me ajudar e muito.
Otoko percebe que Jhon está carente e com muitos pensamentos atolados em sua mente, e escolhe uma história que possivelmente irá motivá-lo e animá-lo para seguir em frente.
– Certo, que assim seja...
Na proa de um Montgolfier, em um barco que no lugar de velas tem três balões enormes que sustentam o barco no ar perto das nuvens, há um homem, de pela branca, idade entre cinquenta a sessenta anos, cabelos ondulados, curtos e grisalhos, barba grisalha e curta, um pouco atraente demostrando ter sido um belo jovem, a estatura dele é média, porte físico forte e um pouco acima do peso, ele está usando armadura leve, corporal e com tecido claro e leve. No broche do peito, no brasão no cinto e na parte de trás de sua roupa tem um besouro pálido desenhado e em alto relevo.
Ele olha para frente e pressente algo junto com o vento que passa por ele, ele tira sua espada da bainha e antes de virar-se ele para, guarda a espada demostrando estar mais tranquilo e diz:
– Conheço essa presença... Mestre Maxmilliam?
Maxmilliam surge atrás dele surpreendendo a tripulação, todos se assustam pensando que é um ataque inimigo, mas ao perceberem que ele é um aliado todos se afastam e voltam aos seus afazeres. Maxmilliam se aproxima do homem na proa, que aparenta ser o dono da embarcação, e diz de uma forma despojada e amigável:
– Mestre Djal Elisus, há quanto tempo!
– Muito mesmo.
– Me desculpe, não foi minha intenção aparecer assim de surpresa, eu estava procurando uma forma de escapar do mar, que está turbulento lá embaixo.
– Suponho que tenha visto o desenho do besouro pálido no casco.
– Sim, e eu fiquei feliz em rever um brasão antigo e conhecido.
– Bom, eu estava fazendo a vigia de um grupo que está auxiliando os reinos para uma futura guerra contra o Império e recebi uma mensagem para resgatar um herói de guerra.
– Quem escreveu essa mensagem para vocês tomarem-na como prioridade?
– Um Electi, um pedido vindo de um deles é de grande importância e urgência.
– Entendi... Obrigado por vir me ajudar.
– Não imaginei que eu viria aqui para ajudar um Mestre de Magia, se você precisa de ajuda é melhor nós tomarmos cuidado.
Eles riem e caminham pelo barco, Djal mostra a embarcação e se desculpa:
– Você foi mais rápido do que nós, me desculpe por isso, nós íamos descer para procurá-lo.
– Tudo bem, assim eu o ajudei a economizar tempo.
– Sim, mas você tem certeza de que não há mais ninguém lá embaixo?
– Tenho sim, eu e meu grupo fomos separados e precisamos nos reunir agora.
– Certo, isso será fácil agora.
Djal faz sinal para o capitão tomar outro rumo, o Montgolfier vira e segue para Libryans, após a manobra Djal fala:
– Não conheço muito sobre magia, mas se você conseguiu chegar até aqui em cima, não conseguiria chegar mais próximo de Libryans ou até lá?
– Não, eu até desaprendi essa magia, por tantos anos de bloqueio e falta de uso fiquei enferrujado nesse quesito.
– Entendi, sei muito bem como é estar enferrujado, faz tempos que não luto, nem sei se sei usar mais uma espada de novo.
– Isso é fácil para alguém como você, lembro bem dos boatos que diziam que você parecia um dos “Imortais” lutando.
– São só boatos, e isso já faz muito tempo.
– Muito tempo mesmo, sei bem como é.
Ambos riem por se verem velhos e Maxmilliam continua:
– Mas alguém com seu histórico e conhecimento deveria estar em um cargo mais condecorado do que um simples vigia.
– Eu neguei, quero mais descanso, lutei muito em minha vida, formei família e agora faço coisas mais simples e tranquilas, como aproveitar bem os momentos da vida sem a pressão da morte nas batalhas.
– Entendi... Mudando de assunto, quanto tempo para chegarmos até Libryans?
– Estamos viajando de uma forma segura já que o céu fechou completamente, então vamos demorar um pouco mais do que o previsto.
– Entendi.
Maxmilliam pega seu cajado, o segura com as duas mãos e diz confiante:
– Não se preocupe com o quesito segurança, diga para a tripulação que vamos o mais rápido possível, de todo o meu grupo eu provavelmente estou mais distante e quero chegar junto ou até antes que eles.
– Ótimo, então seguiremos com força total... Tripulação!
Kyran acorda na beira da praia, ele se sente cansado e esgotado, ele rasteja um pouco para longe da água para que não seja puxado pela maré e descansa um pouco ganhando força para se levantar.
Em pouco tempo ele se sente melhor e começa a analisar o lugar, a praia está deserta e sem rastros e sinais de que tenha alguma civilização próxima a ele. Ele vê que tem uma pequena bolsa de pano com comida, ele come um pouco e nota que em seu dedo está o anel que estava na Magia Electi, ela aprecia o anel e diz não acreditando:
– “O Anel do Retorno”!... Não imaginei que ele existiria na realidade.
Ele admira o anel e vê que preso na bolsa tem uma mensagem, pedindo para um determinado grupo o ajudar.
– Esse grupo... Me parece familiar.
– Kyran!
Kyran ouve ao longe um grupo de guerreiros saindo da floresta próxima da praia e se aproximando, liderando o grupo estão dois homens conhecidos de Kyran, ao vê-los ele se alegra e anda rápido até eles.
– Enom? Nimo?
– Kyran!
Os três se abraçam e Kyran diz animado:
– Quanto tempo, que saudades... Vocês foram para o Império, tive medo de que estivessem mortos.
– É uma missão arriscada, mas necessária e no fim, nós conseguimos vencer! Quase formos mortos é claro, até mais de uma vez na verdade, mas nós conseguimos escapar.
– Que bom, e também, vocês acabaram indo juntos, isso deve ter facilitado tudo.
– Um pouco, mas a tentação de fazer “algo” era grande.
Os três riem e Kyran diz:
– Eu duvido que essa tentação não tenha sido saciada.
Eles ficam envergonhados e avisam o grupo que está vindo logo atrás:
– Pessoal esse é o Kyran, encontramos nossa missão, agora vamos retornar.
– Que missão?
– Recebemos a missão de resgatar você, um sacerdote recebeu uma mensagem mental de um Electi... Izan!
– Isso!
– Izan disse que um herói muito honrado e talentoso precisava de ajuda, mas não deu a localização exata, então viemos procurá-lo, desculpa se demoramos muito.
Kyran fica com o moral elevado e admirado com Izan, que provavelmente mandou a mensagem para eles no momento em que ele iniciou o teste, pois já sabia que ele sairia vitorioso da Magia Electi.
– Tudo bem. O importante é que acabamos de nos encontramos.
– Sim, e vamos para Pando?
– Não, eu preciso ir para Libryans.
– Libryans... Você ainda está com Jhon?
– Sim.
– Sim como?
– Como assim “como”?
– Você entendeu o que queremos saber.
– Não sei... Do mesmo jeito que eu saí de Pando.
Enom e Nimo demostram desânimo, eles olham um para o outro e antes que questionem Kyran diz mais sério:
– Vamos esquecer isso, eu fiz minha escolha e estou feliz com ela.
– Então vamos, o caminho até Libryans é um pouco longo.
– Ótimo, assim teremos tempo para vocês me contarem o terror que é o Império e as escapadas que vocês deram por lá.
– Sim, mas você terá que nos contar das suas tentações também.
– Não!
– Sim! Com certeza você deve ter passado por situações constrangedoras. Em algum momento vocês tiveram que tomar banho, ou dormir próximos.
– Não mesmo.
– Vai sim! Já imagino Kyran todo sério segurando o “monstro” pronto para sair e devorar aquele mago inocente.
Kyran não consegue segurar os risos e empurra seus amigos.
– Parem com isso!
– Imaginem Kyran dizendo: “larga esse cajado, vou dar-lhe uma arma mais forte que essa!”.
– Vocês não valem uma moeda.
– Para alguém que controla magia ele deveria ver por trás desses belos olhos famintos e cheios de desejos.
– Você ganhou, eu conto, mas parem de falar alto assim.
– Todo bem, nosso grupo aqui aceita nossa descendência.
– Que raridade.
– Sim, eu não acreditaria nisso anos atrás, mas hoje vemos muitos “simpatizantes”.
Enom e Nimo param e abraçam Kyran novamente.
– Bom ver que você está bem e que continua bem-humorado.
– Digo o mesmo.
– Por favor Kyran, avise os seus amigos em Libryans que você vai voltar para Pando, ou venha conosco, essa sua escolha não nos agrada, você sabe disso.
– Vocês escolheram ir à missão juntos, o que achariam se eu pedisse para vocês se separarem?
– Mas é diferente.
– Não... Infelizmente não é diferente, existem coisas que não escolhemos.
– Entendi... Então te daremos força, mais do que antes.
Kyran diz com tom de zombaria;
– Vocês nunca me deram força, sempre zombavam de mim.
– Mas isso era antes, e você não era muito amigável no início.
– Agora há pouco vocês estavam me zoando.
– Pare de ser chato, vamos indo, porque nós temos muita história para pôr em dia.
– Muitas mesmo.
Dentro dos dias Kyran conversou e se enturmou com o grupo de Nimo e Enom que contaram várias histórias de luta, espionagem e eróticas com um pouco de romance que ele sentia falta de ouvir desde que saiu da Floresta de Pando.
Kyran também compartilhou suas aventuras e sua felicidade, mesmo com certas limitações em sua relação, ele foi aconselhado e acolhido pelos amigos que não via há muito tempo, sentindo saudades dos outros amigos de Pando que teve algumas notícias no percurso.
– Floreste de Pando foi mais que um lar...
Maxmilliam usou seu poder para proteger e acelerar a sua viagem na embarcação voadora de Djal, ambos relembraram de contos antigos de luta e da época boa de juventude, incluindo os objetivos que foram alcançados e os que ainda planejam realizar até suas mortes.
– Enquanto houver vida, haverá feitos para concluir.