Volume 2

Capítulo 132: Missão de Kyran

Em um local elevado está localizado um vulcão pequeno e adormecido, no topo do vulcão tem ruínas do que parece ter sido um belo castelo, em sua base foi construída uma mina, que agora está aparentemente abandonada e deserta, com apenas madeiras velhas, trilhos enferrujados e alguns carrinhos quebrados cheios de pedras espalhados indicando abandono, o sol está se pondo deixando o lugar escuro, o ar está estranho e com um pequeno cheiro de enxofre, a alguns metros de distância da entrada da mina está Kyran.

Ele está usando a roupa de baixo e roupas velhas e rasgadas. Ele está sentado cercado por cobras, mas não demostra medo, ele se mantém calmo e inicia uma espécie de meditação, as cobras passam por suas pernas e algumas sobem no seu colo.

Kyran calmamente passa a mão em algumas e as tira de cima de seu corpo, tentando se levantar sem incomodá-las, algumas ameaçam atacar, mas a calma de Kyran é sobrenatural fazendo com que elas não o incomodem, ele se afasta e se aproxima da mina, imaginando que lá é seu objetivo.

Na entrada ele ouve o som de pessoas conversando mais adentro, ele sente uma aura dourada tomar seu corpo e identifica parte do teste da Magia Electi.

– Missão de Herói!

Ele pensa um pouco, lembrando-se dos seus treinamentos, dos livros e dos jogos em Pando que têm esse estilo de missão, ele olha sério para dentro da mina e diz pedindo:

– Preciso de uma armadura média, elmo, balestra, aljava com flechas, escudo médio e uma maça de guerra.

Cada item pedido surge magicamente equipando o seu corpo, uma armadura leve cobre seu corpo, pés, braços, pernas e tronco, um elmo simples que protege o topo, atrás e laterais da cabeça deixando sua face exposta para não a sua visão.

Ainda em seu rosto surge uma máscara que cobre seu nariz e boca para que o ajude a respirar dentro da mina, nas costas uma aljava com muitas flechas e uma balestra, em seu braço esquerdo aparece um escudo médio e na mão direita uma maça de guerra, grande com a cabeça cheia de espinhos.

Ele fica surpreso por ver uma pequena bolsa em sua cintura com uma espécie de ração, folhas e ervas medicinais que neutralizam alguns tipos de venenos e ajudam contra possíveis ferimentos e um frasco que ele identifica ser uma poção que lhe dê algum auxílio em regeneração ou que o ajude em batalha.

– Ótimo, exatamente como em Pando, os danos são reais, mas com o foco em me matar e não em me treinar... Preciso ser cauteloso e focado.

Logo ao entrar Kyran vê uma bola de fogo vindo em sua direção, ele se defende com o escudo e continua andando atento, ele detecta armadilhas e se previne de algumas, mas acaba acionando outras.

Ele consegue se defender com o seu escudo das flechas que saem das paredes, ele salta de alçapões e se esquiva de pedras pesadas, ele acelera o passo e entra em uma câmara, ele vê o corpo de duas pessoas mortas, aparentemente aldeões sem caraterísticas de guerreiros ou lutadores.

Ainda na sala há três pessoas vivas, um rapaz jovem, da raça dos Aurem, pele e olhos claros, altura e porte físico médio, atraente com um semblante simpático e animado, ele está usando roupas características de um mágico e segura um pequeno cetro de prata em sua mão. Olha para Kyran e diz:

– Que infortúnio.

O outro ser é uma mulher, aparentemente humana, pele negra, cabelos crespos, castanhos escuros, volumosos e amarrados formando um coque grande, estatura e porte físico médio, ela não é muito atraente, ela demostra estar brava com um semblante antipático e demostra ser uma lutadora, pois veste roupas leves, bandagens nos pés e nas mãos e uma manopla de prata na mão esquerda. Ela diz:

– Não vejo a hora de sair daqui.

O último dos três é um homem velho, aparentemente humano, estatura alta, magro, roupas de um aldeão comum sem classe definida visualmente, ele segura um bastão velho que usa como apoio, os três demostram estarem bem cansados, como se já estivessem lutando há bastante tempo.

– Aqui está muito quente...

O velho está escorado na parede, o rapaz está ferido sentado em uma pedra e a mulher está perto dos corpos em pé e ofegante, eles veem Kyran e a mulher comenta com sarcasmo:

– Ótimo, mais um para o grupo de exilados.

O senhor demostra ânimo e comenta:

– Ele pode ser de grande ajuda, qual o seu nome meu jovem?

O rapaz diz com alívio:

– Reforços! Finalmente!

Kyran guarda sua maça prendendo-a em sua cintura, ele olha atentamente pra cada um deles com um ar sério, enquanto se aproxima deles ele cria uma aura pura e quente auxiliando o seu julgamento, a mulher o identifica e diz sem surpresa:

– Um guerreiro de fé, não vai ajudar muito.

O rapaz fica pensativo e o senhor discorda:

– Qualquer ajuda é bem-vinda.

Mesmo sério Kyran é educado e se apresenta:

– Eu sou Kyran, sim eu sou um guerreiro da fé, membro dos Koètuz, grupo sob as ordens do reino de Libryans.

– Libryans, eu já ouvi falar.

Kyran observa a reação de cada um depois de informar quem ele é e de onde ele veio, e aguarda o retorno que é imediato, os três dizem juntos a mesma frase:

– Eu sou Izan!

Kyran estranha inicialmente, ele anda até o senhor, olha em seus olhos e diz com um sorriso diretamente para ele:

– Prazer Izan.

Os outros dois estranham, Kyran rapidamente saca sua balestra, a carrega e mata o rapaz, o velho se espanta e a mulher sem demostrar muita surpresa ataca Kyran, que se defende com seu escudo, ela se afasta e questiona brava:

– Como ousa? Quem você pensa que é?

Kyran guarda a balestra e responde calmamente, enquanto dá as folhas e a poção de sua bolsa para o velho Izan:

– Eu já disse, eu sou Kyran, guerreiro de fé e graças a isso eu consigo sentir suas almas, mesmo sendo mágicas.

O velho Izan estranha tudo e questiona com medo:

– Eu não entendo, por que você fez isso?

– Por favor, pegue, o senhor vai se sentir melhor depois de tomá-los.

– Como devo confiar em você?

Kyran pega na mão do velho Izan e conecta-se com a aura dele, o senhor sente a bondade em Kyran e ganha sua confiança, Kyran aos sentir isso tem certeza da sua afirmação.

– O senhor é real!

– Real?

– Sim, eu achei que eu estaria só aqui, mas não... Essa mulher que também se nomeou “Izan” é um ajudante dessa magia, raramente é alguém com esse nível de estresse e antipatia, mas a magia deve usá-la para testar nossa paciência e falso julgamento, o menino é um traidor, mesmo animado e inspirador eu senti suas intenções, ele é aquele que sempre espera uma oportunidade crítica para nos trair e acabar com nossas chances de sucesso ou com nossas vidas, e estranhamente eu sinto que o senhor não é daqui. O senhor veio de fora...

– Fora?

– Sim, o senhor não se lembra de como veio parar nessa magia?

– Não...

– A magia usa artifícios que hipnotizam e seduzem as nossas mentes para nos prender aqui, sem ao menos nos questionar o que estamos fazendo ou o que viemos fazer.

– Como um sonho?

– Sim, às vezes sonhos ruins ou bons.

– Mas se é tudo como um sonho, por que você me deu esses medicamentos?

– Essa magia é diferente, o que acontecer aqui acontecerá na realidade, é uma magia poderosa e traiçoeira na maioria das vezes, temos que nos precaver e tomar cuidado.

A mulher fica surpresa e demostra mais tranquilidade e empatia:

– Interessante, pois raramente alguém assim entra nessa magia.

O velho Izan se medica enquanto Kyran conversa com a mulher:

– Então vai nos ajudar a chegar até o fim?

– Sim, também quero chegar ao fim, mesmo não sendo real.

– Obrigado.

Kyran vasculha a câmara em que eles se encontram e encontra corpos de aldeões mortos e do jovem Izan, ele não acha nada de interessante e fica um tempo admirando o cetro do rapaz, vendo que não lhe tem utilidade ele deixa tudo para trás e segue pela mina junto com o Izan velho e a Izan mulher, ao saírem da câmara e seguirem por um corredor pouco iluminado por tochas, Kyran os alerta:

– Cuidado! Não se aproximem das paredes.

Eles olham atentamente para as paredes e veem besouros maiores do que o normal andando pelas paredes, Izan mulher auxilia o Izan velho a andar para que ele não precise se apoiar na parede e não chamar a atenção dos besouros.

– Por aqui.

Kyran fica atento o tempo todo e nota um momento de ataque, os besouros voam para cima deles hostilmente, ele corre e com seu corpo e escudo ele também defende os outros dois, a Izan mulher tem um bom desempenho conseguindo se defender sozinha, dando mais abertura para Kyran proteger Izan velho, que é protegido com sucesso, os besouros começam a lançar um tipo de gás quente, Kyran os alerta novamente.:

– São Brachinus... Besouros bombardeiros, protejam-se como puderem.

Com a manopla da Izan, a maça de Kyran e o bastão do Izan velho eles matam uma boa parte dos besouros, eles seguem correndo para outra parte da mina e encontram outra câmara grande.

-Ali!

Ao entrarem três armadilhas são acionadas, Kyran salta escapando do alçapão que abre debaixo dele, dentro do alçapão há cobras venenosas, no salto ele defende os outros dois de espinhos que são lançados da parede, eles ficam surpresos pelas habilidades de Kyran e o velho elogia:

– Meu rapaz, você é muito bom, obrigado.

– Obrigado, mas não precisa agradecer agora, vamos sair daqui primeiro.

– Sua presença me dá mais esperança disso.

Kyran tem um mau pressentimento e diz: – Inimigos! Preparem-se!

Kyran se posiciona para lutar, a mulher e o velho seguem o alerta e também se preparam para um possível confronto, duas passagens secretas abrem ao fundo da câmara e delas saem um grupo de Aurem hostis, eles estão bem armados e atacam os três:

– Intrusos! Matem-nos!

Kyran se coloca à frente dos dois para receber a maior parte dos ataques e conter o avanço deles, a mulher o auxilia batendo e atordoando alguns, o velho usa seu bastão para pegar cobras do alçapão para atacar nos inimigos e com a visão mais ampla da área ele avisa a mulher e Kyran de ataques furtivos dando mais vantagem ao grupo, em pouco tempo os Aurem são derrotados, com todos os inimigos no chão Kyran questiona os Izan em tom preocupado:

– Vocês estão bem?

O velho balança a cabeça indicando estar bem e a mulher comenta:

– Eu não sou real, não faz diferença.

Kyran olha para ela e diz:

– Não diga assim, de alguma forma sua imagem aqui deve refletir a existência de alguém que já viveu ou vive na realidade... E por força do hábito eu quero que todos que estão ao meu lado estejam bem.

A Izan mulher se sente bem com o modo de pensar de Kyran e admirando-o diz:

– Eu estou bem, obrigada.

Kyran e Izan mulher analisam os corpos dos Aurem e não encontram nada de importante ou útil pra o momento.

– Vamos seguir, deve ter um caminho longo pela frente.

Izan velho questiona olhando os Aurem no chão.

– Mas o que estamos procurando?

– Nossa missão é achar o Electi do Fogo.

– Já o viu antes ou sabe seu nome?

– Nunca o vi, e seu nome está apagado da minha memória.

– Apagado?

– Sim, essa magia apagou algumas informações da minha mente para prejudicar meu desempenho, já era o esperado.

– Assim como fez com a minha?

– Sim, e quanto mais tempo ficamos aqui, pior pode ficar.

– Entendi... E como saberemos que encontramos esse Electi?

– Ele irá se apresentar, pois precisamos passar pela aprovação dele para sair e para pegar a chave dele.

– Chave?

– Sim, precisamos encontrá-lo para que o senhor saia e eu preciso da chave dele para cumprir a missão do meu grupo.

– Entendi..., bem..., então vamos.

– O senhor está melhor para seguir?

– Sim, aquela poção e as ervas me deram ânimo, sinto que consigo andar sem ajuda e até acho que posso lutar melhor agora.

– Certo, mas não se desgaste, não sabemos o que há pela frente.

Enquanto Kyran e o velho conversavam, a Izan mulher verificava as duas passagens secretas, assim que eles terminam a conversa ela os informa:

– Uma das passagens tem um corredor bloqueado e na outra o caminho é bem estreito.

Kyran pensa um pouco e decide:

– Vamos voltar, melhor não arriscarmos por esses caminhos novos.

– Você é quem manda.

Os três saem da câmara e são teleportados instantaneamente, sem terem a chance de reagirem ou de fugirem, Kyran se vê em uma sala vazia, iluminada por velas, sem porta ou janela e com várias frestas por onde passa o ar.

Kyran fica em silêncio analisando tudo e esperando ouvir algum sinal dos outros, depois de alguns segundos ele se aproxima de uma vela que ele percebe ser diferente das outras, ele assopra ela e em seguida é teleportado para outra sala maior.

A sala parece ser uma cozinha com móveis velhos e desgastados, nessa sala está a Izan mulher, lutando contra dois demônios, Kyran vê outros dois mortos no chão e identifica que ela não precisa de ajuda, ele olha ao redor e pergunta preocupado:

– Você viu o velho Izan?

– Não! Eu cheguei aqui e já fui atacada por esses monstros.

Kyran se aproxima dela de forma que, se ela precisar de ajuda ele consegue ajudar, enquanto a luta acontece ele analisa a sala procurando algo que o ajude a ir atrás de Izan, ao mexer em um monte de panelas velhas ele percebe que uma está quente e diz para a mulher, que mata outro demônio:

– Depois que terminar com o outro coloque a sua mão dentro dessa panela.

– Certo!

Kyran coloca a mão dentro da panela quente e se teleporta para outra sala, nela está o senhor Izan deitado em uma mesa de tortura, seus braços e pernas estão amarrados por correntes que ligam engrenagens abaixo da mesa que irão desmembrá-lo em instantes, Kyran corre e quebra uma das correntes.

– Izan? O senhor está bem?

– Sim, mas não sei como eu vim parar aqui.

– É um nível elevado da magia, eu já passei por um treinamento assim, “O Mundo Duvidoso”, seremos teleportados para várias salas sem ligação direta até chegarmos ao nossos objetivos ou acharmos algo que neutralize essa poder.

Depois da explicação Kyran quebra outra corrente, dando liberdade para Izan se sentar e ajudá-lo a se livrar das outras duas correntes.

– Obrigado.

Kyran fica em alerta, esperando por alguma armadilha ou inimigo, mas é surpreendido sendo jogado contra a parede, ele se mantém de pé e se prepara para enfrentar seu inimigo, Izan fica assustado e questiona:

– Que criatura é essa?

– Um monstro errante!

O monstro demostra que seu alvo é Izan atacando-o freneticamente, Kyran não pensa duas vezes e corre para salvá-lo, Izan é ferido no braço, mas é defendido dos outros golpes, Kyran usa seu escudo para aparar e para empurrar o monstro para trás.

Depois de criar um espaço bom entre eles, Kyran inicia seus ataques com sua maça, golpeando forte os pontos críticos que fazem o monstro enfraquecer rápido e recuar, o monstro tenta surpreender Kyran, mas não tem sucesso, pois Kyran demostra estar atento a tudo, ele mata a criatura e corre para ajudar Izan que estanca o ferimento e usa as últimas folhas e o final da poção para se medicar.

– Realmente esses itens foram essenciais...

Kyran fica aliviado por ver Izan bem e o velho agradece pelo feito de Kyran contra o mostro:

– Obrigado, eu estou muito velho para lutas assim.

– Não se preocupe com isso.



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