Volume 2

Capítulo 133: Descendente da Fé

Enquanto Kyran quebra as correntes e analisa a sala, Izan conversa com ele.

– Eu ainda não entendo como eu vim parar aqui.

– Pelo o que eu pude analisar, o senhor era um sacerdote de algum templo da costa ou da própria ilha Et Affectio.

– A ilha do fogo?

– Sim.

– Como chegou a essa conclusão melhor do que eu mesmo?

– Traços pelo corpo, rosto, mãos, postura, educação, entre outras coisas, sua memória pode estar falha, mas sua cultura fica gravada em sua aparência e na sua forma de agir.

– Você é um homem muito bem treinado para um “guerreiro de fé”.

– Meu treinamento na Floresta de Pando foi excelente, e as viagens que fiz com um amigo me fez descobrir e a ver mais coisas do mundo.

Izan percebe um tom mais animado de Kyran ao mencionar a viagem com o amigo e fica curioso para saber mais detalhes.

– O Clã Pando? Esse amigo também é de lá?

– Não, ele foi para a floresta para melhorar seus estudos, e de lá viajou para outros lugares para estudar e conhecer.

– E você acabou embarcando nessa jornada?

– Sim.

– Interessante... Então você deve ter grandes histórias para contar, quem sabe quando sairmos daqui você possa me contar algumas.

– Com prazer... Achei!

– O quê?

– O acesso para a próxima sala.

– Então vamos?

– Um momento.

– O quê?

– A Izan mulher, eu falei para ela como chegar aqui.

Os dois ouvem um barulho e a Izan mulher surge com um demônio agarrado em suas costas, ela tem dificuldade de atingí-lo, mas Izan velho e Kyran ajudam ela a desprendê-lo de seu corpo, ao tirá-lo Kyran o mata com sua maça e Izan velho a ajuda a se levantar e a verificar se tem algum ferimento.

– Você está bem?

– Sim, obrigada... Já descobriram uma forma de sair daqui?

– Ainda não, mas Kyran já sabe como prosseguir.

Kyran acha uma brasa quente debaixo da mesa de tortura e pega ela com a mão e mostra para os Izan:

– Aqui, peguem na minha mão.

– Não está te queimando?

– Sim, mas sou resistente às técnicas dessa magia... Se eu ativar junto com vocês não seremos separados.

Izan velho pega na mão de Kyran e Izan mulher pega na brasa e demostra dor, enquanto a brasa energiza-se preparando para teleportar os três para outro lugar. Kyran comenta ao ver a Izan mulher se incomodar com a queimadura:

– Eu disse para você pegar na minha mão, não na brasa.

– Tudo bem, é só uma queimadura.

– Não, essa magia é cheia de armadilhas e essa é uma delas.

Izan fica preocupada e os três são teleportados, em instantes eles se veem no meio de um corredor grande e longo, iluminado por tochas, sem portas ou passagens por perto e cheio de animais.

Entre eles estão cobras venenosas maiores que as comuns e besouros enormes, Kyran se posiciona na frente de Izan velho e a Izan mulher se posiciona atrás para defendê-lo, todos são atacados pelas cobras e besouros e Kyran os alerta:

– Preparem-se!

Os três se saem bem contra os bichos, durante a luta Kyran observa sinais na parede do corredor que indicam o caminho que eles devem seguir:

– Esse é o caminho, vamos andando.

Um barulho suspeito é ouvido dos dois lados do corredor, cada lado surge um monstro errante deixando o Izan velho desconfortável.

– Essa criatura de novo não.

Os monstros correm indicando que vão atacar o trio, Kyran intercepta a investida do monstro que está indo em sua direção, mas Izan mulher não consegue conter o do seu lado, ela então é empurrada e colocada contra a parede enquanto é atacada ferozmente pelo monstro, Izan velho a ajuda dando golpes com o bastão na cabeça do monstro chamando a atenção.

– Largue-a criatura!

Quando o bastão quebra com um golpe forte o monstro se vira para o velho e antes de atacá-lo ele é coagido por Izan mulher, que aproveita a brecha dos ataques para se erguer na luta, o monstro perde o equilíbrio e fica tonto com uma sequência de golpes que ela dá, unindo pés e socos com a manopla de prata até que o monstro caia derrotado.

Enquanto isso Kyran derrota o seu oponente dando golpes com sua maça, Kyran por um momento abaixa a guarda num momento de distração de quando viu que Izan velho ia ser atingido, com isso ele foi pego pelo monstro e através dos golpes fortes perdeu boa parte de sua armadura do tronco e o elmo, mas não teve ferimentos graves, com os monstros derrotados eles fazem a formação novamente e Kyran diz olhando para a direção certa:

– Ótimo, nos saímos bem.

– Não tanto, mas sim.

– Obrigado por ajudar o senhor Izan.

– Tudo bem, nossa missão é que vocês dois saiam bem.

– Nos três.

Os três percorrem o corredor em pouco tempo e Kyran estranha por não haver mais inimigos ou passagens para outros lugares e suspeita que eles estejam presos em outra armadilha, ele para, os outros param atrás dele e o questionam:

– O que houve?

– Um momento...

Kyran fica em silêncio meditando, uma aura emana de seu corpo, ele a canaliza para as suas mãos e depois até a ponta de sua maça, ele se posiciona e bate forte na parede com ela, um buraco grande se abre e suga os três para dentro dele.

Os três caem dentro de uma biblioteca grande com várias mesas, estantes e cadeiras, tudo bem velho e gasto com o tempo, ao se levantarem eles sentem um tremor e várias armadilhas são acionadas e Kyran os alerta:

– Cuidado!

Os três correm atrás de Kyran, que contém a maioria as armadilhas, entre elas, flechas que saem de vários lugares, Izan mulher se esquiva, Kyran com o escudo defende totalmente Izan velho, que fica preocupado por Kyran ter sido atingido algumas vezes por priorizar a defesa dele:

– Pare de me proteger! Tenha mais cuidado.

– Não, o senhor precisa de mais ajuda do que eu.

– Mas você é o nosso guerreiro, sem você não sairemos daqui.

– E sem o senhor a saída será em vão.

Lanças saem entre pisos no chão, Izan mulher é atingida, mas nada grave, Izan velho é atingido na perna, mas é salvo das outras armadilhas por Kyran, que faz de tudo para protegê-lo, Kyran é atingido na perna também, mas não é ferido graças a armadura que a cobre.

Pedras caem, acelerando a fuga dos três para que não sejam esmagados, eles saem da biblioteca entrando em um salão com várias estátuas de humanos e algumas de animais, os três estão ofegantes, mas Kyran se mantém em alerta e atento, ele recupera um pouco de fôlego, bate forte em uma estátua que revela ser uma criatura da magia, a criatura cai e Kyran a mata:

– Cuidado, nem todas são estátuas... Na verdade eu temo que nenhuma delas seja.

Os olhos de todas as estátuas pegam fogo, todas as cabeças viram para olhar para o trio e os corpos delas demostram estarem quentes como brasas, com rachaduras vermelhas que emanam ar quente, os três se preparam para o ataque enquanto algumas criaturas balbuciam sons estranhos e os rodeiam antes de atacar.

Kyran se coloca à frente para proteger os outros dois e as estátuas vivas atacam, por estarem em um número maior os inimigos separam Kyran da formação defensiva.

– Cuide do velho Izan!

Izan mulher defende o senhor Izan com todas as suas habilidades de luta, ela é ferida no início por seus inimigos serem revestidos com uma camada grossa de pedra quente. Ela analisa:

– Não será fácil.

Ela opta por usar só a manopla para ataques diretos e pontapés para afastá-los, ao derrotar alguns inimigos ela percebe que eles são ocos e menos resistentes do que parecem ser.

– Me enganei, será fácil sim.

Pouco a pouco Kyran se aproxima da mulher e do velho Izan, o senhor está recuado e é atingido poucas vezes, mas ele já demostra muito cansaço e fraqueza pela idade avançada.

Kyran parece selecionar uma das estátuas e a destrói, vários pedaços de pedra quente caem e ele pega um pedaço que aparenta ser o coração da criatura e ora em nome de Deus em um tom baixo próximo ao seu coração.

A mulher e o velho Izan não escutam nada porque ele fala muito baixo, mas todas as estátuas em volta sentem como se uma voz muito alta estivesse ecoando no local, elas sentem dores, recuam, tentam tampar seus ouvidos e até usam seus dedos afiados para destruir seus ouvidos.

Pouco a pouco as estátuas viram cinzas, restando só os três no salão vazio com uma porta grande no fundo, Kyran destrói o coração de pedra e se aproxima dos dois:

– Vocês estão bem?

– Sim.

O velho Izan ainda surpreso com a cena questiona Kyran:

– Como você conseguiu fazer aquilo?

– Na luta eu identifiquei o líder deles, geralmente demônios criados a partir de algum elemento da natureza são conjurados a partir de um, destruir um não destruirá os outros, mas eles são conectados, então usei o principal para atacar os outros.

– Demônios?

– Sim, depois de destruir alguns eu descobri que são demônios gerados de terra e fogo.

– Mesmo extintos eles podem ser recriados aqui?

– Sim, por isso a oração os afetou.

– Brilhante! E como um guerreiro de fé, a palavra de Deus é destrutiva contra eles.

– Exatamente, bom, podemos seguir?

A Izan mulher sente uma dor forte na mão que foi queimada com a brasa na sala de tortura, Kyran pega em sua mão e através de uma aura dourada ele passa a queimadura para ele.

– Pronto, não vai doer mais.

– Mas e você?

– Não se preocupe, sou forte contra essa magia... E o senhor? Vejo que está fraco.

– Não se preocupe, vamos em frente, devemos estar próximos do fim.

– Tem certeza de que não quer descansar um pouco?

– Não, obrigado, podemos seguir.

– Então vamos, mas tenham mais cuidado e não se afastem de mim.

No caminho até a porta no final da sala alguns alçapões são acionados deixando os três preocupados, Kyran demostra muita experiência com armadilhas e escapa de todas e ainda auxilia os outros para que também escapem delas.

Rapidamente eles chegam à porta, por medo de ter outra armadilha que possa machucar os seus companheiros, Kyran dá uma investida arrombando a porta e passando por ela de uma vez.

Kyran olha para os lados e percebe que está sentado à uma grande mesa de jantar, muitas pessoas atraentes e bem vestidas estão sentadas comendo juntos.

Todos são da raça Aurem de pele e olhos claros, ele vê que na mesa tem vários tipos de comidas, o cheiro está ótimo e fresco, com bebidas diversas e em grande quantidade, todos estão animados, conversando e aparentemente festejando algo, Kyran fica confuso e observa tudo procurando detalhes que o ajude, ele vê a Izan mulher sentada perto dele e se comunica com ela:

– Izan?

– Oi, tudo bem com você?

– O que houve?

– É um jantar simples, você já provou o porco assado?

Kyran se preocupa identificando que está em uma nova armadilha, ele tanta se levantar, mas é segurado por dois homens que dizem educadamente:

– Senhor, por favor, aguarde mais um momento, sua anfitriã já está chegando.

– Anfitriã?

Kyran percebe que ainda está usando os mesmo trajes e que debaixo da mesa estão os seus armamentos: escudo, maça de guerra, balestra e aljava com flechas. Ele tenta pegá-los, mas está impossibilitado de se mexer muito.

– Que magia poderosa... Essa anfitriã pode ser a Electi da magia.

 Kyran volta a observar as pessoas e vê o Izan velho na ponta da mesa, ele bebe muito e está cercado por homens e mulheres bem atraentes com trajes sexys e com ações ousadas, ele percebe que Izan foi seduzido pela Magia Electi e tenta chamá-lo:

– Izan? Izan!

Sem resposta Kyran usa toda sua força e se levanta da cadeira saindo da magia que restringia seus movimentos, ele anda até Izan e no caminho é abordado por uma mulher muito bonita, ela anda de uma forma sexy e fala com um jeito bem insinuante:

– Você é o famoso Kyran?

– Não sou famoso.

Kyran ignora a mulher e continua o seu caminho, ela insiste, segura em seu braço, o puxa e de alguma forma o paralisa.

– Calma, por que não nos divertimos primeiro?

Kyran olha fixamente para os olhos dela e diz bem sério:

– Minha diversão é matar monstros como vocês!

Kyran pega firme na mão dela e a solta, ela demostra estar surpresa por ele se soltar tão facilmente e se afasta dizendo:

– Ele é de outro gosto.

Kyran continua seu caminho até Izan e se surpreende ao ver um homem com os mesmos traços de aparência e beleza de Jhon, esse homem se aproxima e diz:

– Kyran, eu também me divirto em aventuras, você poderia me contar as suas.

– Não posso... Eu estou ocupado.

– Ou quem sabe a gente possa fazer as nossas.

Kyran é abalado de alguma forma, sua mente começa a ser afetada e ele começa a ceder ao encanto da Magia Electi, ele tenta se livrar do homem que tenta abraçá-lo e cai perto da cadeira em que estava sentado, o homem se aproxima, mas antes de tentar algo ousado Kyran puxa sua maça e ameaça atacá-lo:

– Afaste-se!

O homem se afasta e demostra raiva:

– Como pode? Não funcionou com ele!

A mulher, que foi recusada anteriormente por Kyran, comenta avisando os outros sentados à mesa:

– Ele não é como os outros, precisamos usar outra forma de prendê-lo.

Todos se levantam da mesa e cercam Kyran para atacá-lo, rapidamente ele pega a balestra e atira contra todos os que cercam o Izan velho, depois de matar facilmente alguns, os outros fogem e Izan recorda do seu objetivo e de Kyran

– O que está havendo? Kyran! Onde estamos?

– Ainda estamos presos, cuidado!

Kyran é acertado por alguns objetos pontiagudos, mas não dá atenção a eles, ele foca em correr e ajudar Izan antes que ele seja ferido, Kyran sobe na mesa e salta para perto de Izan e o ajuda a combater os Aurem.

– Cheguei.

Izan se arma com uma espada que estava na mesa e se defende contra seus inimigos, ele também recua dando espaço para que Kyran enfrente os inimigos sem que ele precise ficar distraído em protegê-lo, a mulher Izan se aproxima confusa:

– Por que vocês estão fazendo isso?

– Se afaste, não quero machucá-la!

– Não vê a maravilha que é estar aqui? Aproveitem...

A Izan mulher é empurrada por uma mulher, alta, bonita e com trajes nobres indicando ser a líder do lugar que questiona:

– Kyran, esse é o nome do invasor da Magia Electi?

Ela conjura uma bola de fogo em suas mãos e a ataca em Kyran, que se defende com o escudo, os outros Aurem correm e entre eles surge o rapaz que Kyran matou no início da missão alegando ser um traidor, ele está usando os mesmos trajes e o cetro de prata que Kyran identifica ser o mesmo que antes, o rapaz aponta o cetro para o velho Izan e diz embravecido:

– Acertou quem era o traidor, está de parabéns, mas agora terá que escolher qual dos três passará para a próxima fase.

A líder conjura três lanças de fogo e mira nos três.

– Morram!



Comentários