Volume 2

Capítulo 127: As Provas de Baltazar II

– Acabou?

– Claro que não, só comemos para dar início aos melhores testes!

– Testes? Ainda vamos começar?

– Sim! Siga-me.

Melissa pega o cutelo e aponta para o teto, a lâmina fica eletrocutada e se transforma em seu machado de bronze escuro, ela levanta da cadeira e grita batendo forte o machado na mesa que fica em pedaços.

Citius, Altius, Fortius!

A cabana estremece e tudo ao redor se distorce mudando de forma, Baltazar se vê em um grande campo aberto com itens diversos, palcos e várias pessoas sentadas em uma plataforma oval que cerca todo o campo, essa plataforma é alta e formada por várias escadas que possibilitam uma boa visão de todo campo.

Baltazar admira o local olhando de ponta a ponta, ele percebe que sua roupa mudou novamente, ele veste algo mais leve e curto, para uso esportivo, ele vê Melissa com uma roupa semelhante mostrando mais seu corpo que ele achava que era mais musculoso do que robusto, ela está usando uma faixa dourada na cabeça no lugar de sua diadema, ela está animada e se alongando se preparando para iniciar a disputa contra Baltazar.

– Se prepare guerreiro do mar... Vamos iniciar nossa aventura!

Melissa faz um movimento com sua mão como se chamasse Baltazar, ele é puxado por magia para perto dela, linhas são formadas no chão e perto deles aparece um suporte com alguns itens, Melissa explica:

– Você deve conhecer alguma dessas modalidades, vamos ver quem ataca mais longe esses itens, separadamente é claro, qualquer dúvida é só me copiar:

Melissa pega um peso, uma bola pequena feita de metal e arremessa, ao cair a magia faz um risco e mostra os metros de distância, Baltazar pega um peso igual e arremessa da mesma forma que ela, depois de sua ação Melissa o elogia:

– Muito bom, Baltazar... Vamos continuar.

Melissa agora pega um disco e arremessa, Baltazar segue os mesmos movimentos com o seu disco arremessando-o, Melissa ri e diz pegando um martelo pesado:

– Não se ganha todas... Vamos para o próximo item.

Melissa arremessa o martelo e Baltazar arremessa o dele em seguida, ele vê o resultado e se anima com a disputa:

– Bom, estou pegando o jeito.

Os dois continuam e em seguida arremessam um dardo parecido como uma pequena lança, depois Melissa corre e salta, ao aterrissar ela ri e comenta:

– Agora temos que nos arremessar, consegue? O seu é bem pesado.

Baltazar se concentra, corre e faz o mesmo, Melissa dá uma desanimada, mas demostra humildade com os resultados, um pergaminho voa até a mão dela e ela lê:

– Muito bom... Baltazar seu resultado foi: arremesso de peso 23,12 metros, lançamento de disco 74,08 metros, lançamento de martelo 86,74 metros, lançamento de dardo 98,48 metros e salto em distância foram 8,95 metros. Bem..., eu consegui 22,63 metros no arremesso de peso, 76,80 metros no lançamento de disco, 82,29 metros no lançamento de martelo, 72,28 metros no Lançamento de dardo e 7,52 metros no salto em distância... Devo dizer que você foi muito bom, há tempos que alguém não me passa assim.

Baltazar sorri e diz:

– Fico honrado em ter disputado com você...

– Calme-se, terá tempo para agradecimentos, ainda não acabamos.

– Ainda não?

– Não!

Melissa ri, conjura uma mesa de metal entre ela e Baltazar, ela coloca seu braço sobre a mesa e diz animada e ansiosa:

– Coloque esse membro avantajado e grande na mesa Baltazar.

Ele coloca seu braço na mesa e ela ri.

– Achei que você colocaria outra “coisa”, julguei mal.

Ela ri e Baltazar fica confuso.

– Não entendi...

– Vamos seguir.

Os dois apertam forte as suas mãos e iniciam uma “queda de braço”, uma disputa de força que pede que um force o braço do outro de uma forma que as costas da mão encostem-se à mesa, a disputa fica igualda por alguns segundos, Melissa admira a força de Baltazar e comenta:

– Existia um mito de que uma disputa entre Electi dura mais de mil dias... Já imaginou, eles nunca pensaram que teríamos que comer não? Tolos!

– Eu não sou um Electi.

– Sei disso, é só um papo para distrair você, mas não funcionou.

Baltazar começa a ganhar, colocando muita força em seu braço e usando seu corpo como auxílio, Melissa segura o máximo que pode, a mesa dá uma pequena envergada fazendo um pequeno barulho por causa da força usada sobre ela, Melissa diz em êxtase.

– Maravilha! Isso porque há tempos troquei a mesa de madeira por uma de metal, será que você vai me fazer trocar ela novamente? Por uma mais grossa quem sabe.

Os músculos dos dois ficam tonificados, as veias saltam demostrando o uso de força extrema, Melissa se concentra e começa a virar a disputa ganhando pouco a pouco, ela ganha a queda de braço e corre para perto dos espectadores, ela dá um pulo com os braços para cima e diz animada.

– Invicta na queda de braço!

Todos gritam, levantando-se pouco a pouco e sentam-se em seguida formando o movimento de uma onda de pessoas, Baltazar massageia sua mão e o braço, enquanto admira a animação de Melissa, que se aproxima dele.

– Muito bom guerreiro... Vamos para o próximo antes que você canse ou desista.

– O quê? Próximo?

Um grande peso aparece na frente dele e de Melissa, o peso é formado por uma barra grossa de metal com pesos nas duas pontas, Baltazar inicia o levantamento junto com Melissa, ele identifica que o peso deve ter aproximadamente 500 quilos, depois de muito esforço e de alguns segundos, os dois conseguem levantar um pouco o peso, mas o soltam por cansaço, Melissa deduz dizendo:

– Usamos muita força já... Já sei!

Melissa aponta uma mão para o peso dela e outra para o peso de Baltazar, os pesos diminuem, ela inspira fundo como se inspirasse energia restaurando parte de sua força, ao expirar, um vento refrescante sai de sua boca, tomando Baltazar e restaurando um pouco da energia dele também.

– Não se acostume, demorei muito para aprender, é difícil usar de novo.

– Cheiro bom...

– Gostou? Faz parte da técnica também, quando eu aprendi... O que eu estou falando? Vamos ao levantamento de peso!

Os dois voltam a pegar nas barras de metais, Baltazar analisa que deve ter em torno de 400 quilos, mas com parte de sua força renovada ele deduz que vai conseguir, ambos pegam firme na barra e erguem sobre suas cabeças, eles se mantêm firmes por alguns segundos, depois eles jogam o peso no chão ao mesmo tempo.

O estrondo é forte e simultâneo indicando empate dos dois, a platéia levanta e grita dando moral para eles, que demostram estar exaustos, Baltazar senta em uma cadeira próxima e Melissa se joga para trás ao mesmo tempo que um grande colchão aparece amortecendo sua queda.

– Que delícia... Saudades da minha cama.        

Baltazar relaxa por um minuto, ele respira fundo e percebe partes vazias em sua memória novamente, resultado da Magia Electi, ele se esforça para lembrar-se de algo importante, mas antes que consiga ele é interrompido por Melissa, que grita e levanta em um pulo:

– Tauromaquia!

Um touro grande aparece em uma curta distância e avança para atacar Baltazar, ele se posiciona e apara o touro segurando em seus chifres, em uma disputa acirrada Baltazar consegue imobilizar e até acalmar o touro.

– Calma amigo, não vai querer ferir um “irmão”.

Melissa se afasta e diz conjurando uma coxa de avestruz assada em sua mão para comer.

– Isso é só a primeira etapa.

Melissa assobia, em seguida o touro cresce se tornando um dos Grandes Animais, um touro de nível elevado, maior, mais forte, mais resistente a até mais inteligente que um comum, o touro joga Baltazar para trás e se posiciona para atacá-lo novamente, Baltazar urra e entra em seu estado de fúria.

– Vamos com tudo então!

Melissa se espanta com o início da luta dos dois touros e diz com a boca cheia de carne:

– Isso vai ser melhor do que eu imaginei...

Enquanto Baltazar luta com o touro, Melissa come e conversa com si:

– Lembro-me do dia que eu enfrentei um Grande Animal, Baltazar tem a sorte de estar enfrentando um touro, eu enfrentei aquele polvo gigante... Apesar de que não era um Grande Animal, era um Grande “filho de Ivo”, eu deveria ter deixado o olho dele roxo quando tive a chance... E pensar que hoje em dia tem um grupo que usa essa “arte apelativa” em guerras... Eu queria entender; com tanto poder no Grande Continente eles entram em guerra e precisam pegar nosso poder para acabar com a guerra que eles mesmos iniciaram... Sem nexo algum... Ou será que aquele Electi apareceu?

Melissa fica pensativa ao ponto de ignorar a luta brutal de Baltazar com o touro gigante e continua a indagar-se:

– Será que isso é possível? A segunda geração vir atacar na época da terceira... Foi dito que isso seria possível... Mas por que agora?

Melissa termina de comer, joga o osso para o lado e diz se espreguiçando:

– O intervalo acabou! Vamos para o próximo passo!

Baltazar ouve e fica indignado saindo do seu estado de fúria.

– Isso é um intervalo?

O touro desaparece antes de pular em cima de Baltazar e Melissa grita:

– Homem ao mar!

Todo o campo se torna água profunda, Baltazar afunda e logo emerge dentro de um barco pequeno que emerge junto com ele, ao lado Melissa também emerge com um barco igual, ele fica confuso por tudo acontecer rápido demais, ele sente que a água restaurou parte de sua energia e ferimentos da luta contra o grande touro, ele pega firme no mastro e na vela e olha com confiança para Melissa.

– Esse jogo você não precisa explicar.

– Ótimo!

– Preparasse para perder!

– É o que veremos!

Melissa ri e aponta sua mão para o céu, seu machado surge em sua mão, em seguida o céu escurece formando uma tempestade:

– Já que você tem experiência em navegação Baltazar, vamos explorar tudo o que você já passou!         

A água transborda no campo e toma toda a plataforma e as pessoas que permanecem no fundo, Baltazar estranha, mas Melissa o tranquiliza:

– São ilusões da magia, não se preocupe...

Ele volta a focar na corrida de barco e ela olha para dentro da água e comenta para si:

– Bem... Eu acho que são.... Enfim...

O mar fica agitado, redemoinhos se formam em lugares aleatórios, trovões caem, uma chuva e vento forte tomam o lugar todo, e um grande furacão se forma à distância, aparentemente longe do percurso, Baltazar olha para todos os lados e só vê tempestade, a água em fúria e consegue ver uma ilha muito distante, Melissa o informa, falando alto por causa do barulho da tempestade que atinge seu ápice:

– Lá é Aeterna! Nosso objetivo!

Os dois iniciam a corrida até a ilha Aeterna, o percurso é longe e muito difícil, eles passam por grandes ondas, ventos desfavoráveis e fortes, muita chuva e o medo do furacão se aproximar e levá-los para longe da competição.

Melissa fica entusiasmada ao ver Baltazar orando para a natureza ajudá-lo, e fica orgulhosa dos humanos ao ver a natureza respondendo ao seu pedido, Ela ergue seu machado conjurando energia para auxiliá-la na corrida também, Melissa fica empatada com ele, mas aos poucos Baltazar passa para a liderança, ela se esforça e fica perto de alcançá-lo, os dois já avistam a praia da ilha e ele se anima.

– Enfim! Esse é o Touro Náutico! Avançando em águas turbulentas dentro de tempestades.

Ele urra indicando vitória, Melissa fica sorridente e ansiosa para o final da corrida. Ao chegar em águas rasas, Baltazar ouve um barulho estranho, ele vê à distância que o furacão atingiu um barco de tamanho médio, o barco se destroça com o impacto.

Ele analisa melhor e vê várias pessoas na água, muitas dessas pessoas demostram quem estão precisando de ajuda, devido ao acidente e a tempestade, sem pensar Baltazar muda o seu percurso para ajudá-los, Melissa avista tudo ficando animada e contente, Baltazar se aproxima e tenta acalmá-los enquanto tranquilidade nas águas para natureza para que ele possa salvá-los.

– Eu estou chegando, mantenham a calma!

Baltazar pula na água para ajudar as pessoas, antes que ele encoste na água, Melissa diz baixo e em bom tom, sua voz passa pelo barulho da tempestade e avança mais rápido que a luz tomando toda Magia Electi

– Você venceu!

Baltazar para no ar por magia e tudo ao redor fica paralisado como se o tempo parasse. Baltazar ouve em sua mente agradecimentos de várias pessoas, ele flutua até a praia e questiona a Electi:

– O que foi isso?

 Melissa desaparece do barco e aparece perto de Baltazar.

– Isso o que você viu, é uma simulação, mesmo sabendo que eram ilusões você foi salvá-los... Por quê?

– Foi impulso, no momento eu achei que fosse real.

– Em uma época foi, tudo o que você passou dentro dessa magia já aconteceu na realidade...

Melissa olha para o barco destruído e se emociona ao lembrar-se do ocorrido.

– A escolha parece simples, mas para mim não era... Eu era uma mulher apaixonada pela vitória, “perder” não existia em meu livro de regras.

– Esses testes... Você os fez?

– Sim, e depois disso eu coloquei todos eles nessa magia... A batalha dos demônios que invadiram minha ilha muitos anos atrás, as disputas de comida que eu fazia com homens e mulheres da minha vila... Eu chamo de vila até hoje, porque na época éramos poucos, mas nos amávamos como uma família... Disputa de pesos, força e essa corrida... Aconteceu exatamente, como agora: Eu chegando à linha de chegada, eu via a praia e já imaginava minha vitória e o quão doce seria esfregar minha glória na cara daquele filho de Ivo...

– Ivo, um descendente?

– Mas tudo mudou quando aquele furacão pegou um barco de viajantes e os jogou para cá, os gritos de socorro me paralisaram, é incrível como segundos decisivos se tornam horas em nossas mentes, era como se tudo estivesse parado, e eu tendo que escolher, entre vencer ou perder...

Melissa limpa uma lágrima que escorre de um de seus olhos e sorri animada para o céu que se abre revelando um belo sol radiante, o furacão e as pessoas na água desaparecem, mas em sua mente ela ainda os vê e continua a falar:

– Aquele desgraçado... É como se ele soubesse que tudo aquilo iria acontecer...

– Quem era ele?

– Libriano... Enfim, me desculpe voltar nessa história, é que alguns magos, mestres de magia e até um de maldição conseguiram avançar nesse teste, até essa parte, mas não passaram dela, não só por ignorarem as pessoas, mas não souberam enfrentar a tempestade corretamente, como você sabe, não se brinca com a natureza. Com tudo, fico feliz em ver alguém que conseguiu.

Baltazar fica feliz e questiona:

– A senhora perdeu então a disputa?

– Sim, no seu caso mesmo que você ignorasse os aflitos e seguisse para a praia você ganharia, como eu já havia dito eles eram só ilusões, e a sua atitude coroou a situação de uma forma magnífica.

– Obrigado...

– Mas no meu dia não foi ilusão, então foi uma “perda”, eu pulei na água e salvei aquelas pessoas, eu não acho que fiz muito, mas sei que fiz a diferença em ajudá-las, eu cheguei animada à praia, mas ao ver que perdi minha animação diminuiu rapidamente. Antes que eu renunciasse meu cargo e assumisse a derrota ele virou para mim e disse “Estou admirado, você ganhou, com a glória que tanto falou que ganharia”... Eu questionei se ele causou a situação e ele me respondeu, “Não preciso acrescentar fatos para testar as pessoas, eventos como esses acontecem há todo o momento, minha posição foi esperar algo assim acontecer e observar” ... “Às vezes precisamos perder, para ganhar”.

Baltazar fica emocionalmente tocado com a história, imaginando tudo o que foi dito e passando até a admirar o Electi Libriano da segunda geração que Melissa comentou:

– Incrível...

Melissa se recompõe da emoção e olha orgulhosa para Baltazar.

– Baltazar de Thur, Touro Náutico, Guerreiro do Mar... Apesar de lutar mais em terra, você ainda domina os mares.

Ele sorri e ela continua:

– Homem de moral reluzente como um trovão e forte como um raio... Pronto para o último passo?

Baltazar ri demostrando cansaço.

– Ainda tem mais um “passo”?

Melissa sorri e diz.

– Sim, seu retorno para casa... Foi uma honra conhecê-lo.

Baltazar se aproxima para se despedir, mas Melissa o interrompe e aponta para a sua cara.

– Não! eu detesto despedidas, adeus!



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