Volume 2

Capítulo 128: A Vida de Direito

O sol nasce iluminando um belo jardim com bancos e uma fonte com água cristalina aonde passarinhos vão se deliciar e se refrescar, o cantar deles entra pelas janelas da casa acordando os moradores que vivem nela, a casa é uma mansão de três andares, com vários cômodos, todos bem reformados, mobiliados, limpos e arrumados.

Atrás da mansão existe uma enorme fazenda da família, formada por gados, plantio e galinheiro, o galo cantou mais cedo, acordando o trabalhador mais dedicado e velho que cuida de toda fazenda.

No maior dos quartos da mansão uma cachorrinha de pelos pretos, pequena e sem raça definida sobe na cama de casal, ela está agitada, animada e acorda sua dona com vários gestos de carinho e afeição, sua dona acorda animada ao ver sua pequena amiga bem alegre:

– Farofa? Pare menina... Acalma-se, pelo visto ainda não saiu hoje, cachorra arteira.

A cachorra vendo sua dona acordada e preste a levantar comemora correndo pelo quarto bagunçando algumas coisas.

– Se você bagunçar algo eu vou te deixar presa na corrente.

Uma mulher com trajes domésticos entra no quarto;

– Madame? Vejo que seu despertador já a acordou.

– Sim, ela não tem jeito mesmo.

– Precisamos ver os preparativos para hoje senhora.

– Depois do café, por favor.

– Sua prima já chegou e seu cunhado já está comendo.

– Mas já? Que rápido... Cunhado? Mal-educado, não deveria ter dado nada para ele ainda.

– A madame o conhece.

– Sim... Certo, vou tomar um banho me arrumar e já desço, por favor, leve a Fafá para dar uma volta para acalmar os ânimos.

– Certo madame.

– E meu marido?

– Saiu logo cedo, disse que eram assuntos urgentes do Império.

– Como sempre, obrigada, pode ir.

– Licença.

A dona da mansão vai até seu banheiro, toma um belo banho em uma banheira grande, bonita e com detalhes dourados, ela se arruma com roupas leves e chamativas, ela desce as escadas, vai até a cozinha, olha a comida e o trabalho de seus empregados, depois ela se dirige até a sala de jantar, chegando à sala ela se depara com sua prima e a cumprimenta feliz.

– Lili! Que prazer em vê-la.

– Cayth, que saudades.

As duas se abraçam e sentam à mesa, Lili diz animada:

– Fiquei feliz pelo convite, obrigada.

– Claro que eu não iria esquecê-la, é sempre um prazer tê-la aqui, você deu muito apoio para nós e literalmente salvou minha vida.

– Nada, não é para tanto... Desculpe, mas podemos comer?

– Claro, claro... Obrigada por me esperar.

– A viagem foi um pouco longa e não comi nada hoje cedo.

Lili ri pela cara feia que Cayth faz olhando para seu cunhado, que já está terminando de comer, ele olha com cara de pouco caso e diz:

– Você demorou para levantar, isso porque não faz nada da vida.

– Obrigada por sua observação Onurb, mas eu tenho muitos afazeres, afazeres dados a nós mulheres, ao contrário de você que não faz nenhum trabalho de um homem.

– Obrigado pela sua observação e assim nós vivemos.

Lili tenta acalmá-los:

– Por favor, hoje é um grande dia, vocês têm suas diferenças, mas vamos relevá-las.

– Sim, eu tenho classe ao contrário dele. Desculpe-me Lili, vamos comer.

– Vamos, vou lhe contar como foi minha viagem.

Elas se servem com leite e biscoitos, Lili conta sobre sua viagem até o local com algumas partes cômicas fazendo as duas rirem, Onurb parece indiferente, só ouvindo e olhando pela janela, Cayth vê sua governanta passando e a chama:

– Rossy!

– Sim, madame.

– Baltazar, já comeu?

– Está comendo lá fora.

– Lá fora? Por quê?

– Maxmilliam chegou e estão conversando na frente da casa.

– Não diga “casa” Rossy, esse lindo palacete é o maior da região...

Onurb comenta com irônica olhando pela janela e se aproximando dela.

– Hoje eu descobri que classe é diferente de humildade.

Cayth olha brava para Onurb e com exclamação diz:

– Desculpe?

– Está desculpado... Se me derem licença eu vou fazer algo que homem não faz, “nada”.

Cayth pensa em responder, mas Lili puxa seu braço e questiona:

– Prima! Quem é esse Maxmilliam?

– É o avô do meu marido.

– Lembro-me dele, já o vi em uma das festas, acho que no casamento também.

– Sim... Vamos lá vê-los.

As duas saem da mansão, seguidas por Rossy, do lado de fora da mansão Maxmilliam está conversando e rindo com Baltazar que diz ao ver Lili, Cayth e Rossy:

– Madame? Me desculpe, sei que não é hora disso.

– Não se preocupe, você é nosso mais antigo empregado, dedicado e melhor trabalhador que temos, você cuida muito bem da nossa fazenda, por esse motivo quero lhe convidar para o nosso evento hoje à noite:

– Essas coisas não são para mim, senhora.

– Deixe disso, você é importante para nós, você é praticamente da família.

– Obrigado.

– E você Maxmilliam, como foi a viagem?

– Tranquila, agradeço o convite também.

– É um prazer...

– E meu bisneto?

– Vai chegar à tarde com minha irmã.

– Irmã?

– Sim, Alexia, lembra-se dela?

– Sim lembrei a sortuda?

– Isso!

– Ela é boa no jogo de cartas, mulher de grande sorte.

– Sim, queria ter só um pouco da sorte dela.

Maxmilliam cumprimenta Lili, Rossy e entra na mansão questionando:

– Onurb está lá em cima?

Rossy responde.

– Sim, senhor.

– ele não muda em nada... Vou vê-lo.

Lili cumprimenta Baltazar, ele se despede e volta para a fazenda atrás da mansão, Rossy se aproxima e fala com Cayth.

– Madame, podemos ver os preparativos?

– Sim, vamos adiantá-los, a tarde eu quero dar atenção ao meu príncipe, estou morrendo de saudades dele.

A manhã se passa com Rossy e algumas empregadas preparando os detalhes do grande jantar que terão a noite, Lili e Cayth supervisionam e aconselham tudo, em um momento Rossy aborda Cayth:

– Senhora, um dos nossos vizinhos quer vê-la.

Cayth demostra antipatia e questiona:

– Vizinhos? Qual dos dois?

– O mestre Jhon.

– Podia ser o outro, mas vamos... Lili? Venha, me acompanhe no chá.

Lili, Rossy e Cayth saem da mansão pela lateral e vão até o jardim, e seguem para uma mesa aonde empregadas estão arrumando e colocando bolos, chá, água, leite e biscoitos, depois de arrumarem a mesa Lili e Cayth se acomodam:

– Rossy, por favor, peça para ele vir aqui.

– Sim madame.

Lili fica curiosa:

– Quem é?

– Um treinador de magia da cidade, Jhon de alguma coisa.

– Pelo jeito você não simpatiza com ele.

– Não mesmo, ele é descendente de Ivo, aquela raça que se relaciona intimamente com outros homens.

– Sério?

– Sim! E pior, isso já está ficando normal, tenho até medo de que isso possa afetar o meu filho, que infortúnio.

– Mas também não é assim.

– É sim! Se eles que sabem usar a arte da magia não se curarem, é que deve ser uma maldição perigosa, e não contam para nós para não nos apavorar.

– Que horror Cayth, não pense assim.

– Ou para não os colocarmos em uma fogueira... Horror é temos que conviver com essa gente estranha e sem escrúpulos.

– Nossa Cayth, abra a sua mente, ser descendente de Ivo não define quem eles são... Espere um momento, eu lembrei agora que você elogiou seu vizinho, não é esse? Você falou que admira ele.

– Sim, o outro, não que eu goste, mas eu odeio menos que esse, eles são um “casal”, acho muito estranho dizer isso, mas não quero confusão, ainda mais na época em que meu marido está sendo promovido.

– Mas tente abrir sua mente Anirak.

– Não me chama assim... Não sou mais aquela menina pobre.

– Mas aquela menina pobre tinha sonhos, vontades...

– Tudo tolice de menina.

– Você deveria apoiar a evolução das mulheres, nossa evolução.

– Que evolução Lili? Eu já sou grata por ter arrumado um bom marido que me ama e que tem condições de manter uma boa casa e um bom cargo, não tenho culpa que tem mulheres azaradas que têm que trabalhar e fazerem tudo sozinhas, e por causa dessa minoria eu devo... deixa pra lá, vamos falar sobre coisas boas.

– Mas Cayth, com a influência do seu marido você consegue ajudar.

– Não quero! Eu quero ajudar na futura carreira do meu filho, mudar para uma casa maior e expulsar meu cunhado vagabundo da minha mansão.

– Você é teimosa, não adianta insistir.

– Bom que você sabe...

As duas são interrompidas por Jhon, ele está bem vestido e cheiroso, ele se aproxima cordialmente e simpático inicia a conversa:

– Boa tarde, me desculpe interromper a conversa de vocês.

– Tudo bem Jhon, sente-se conosco.

A Farofa chega e brinca um pouco com Lili, Jhon e depois fica com Cayth, nesse tempo Jhon conversa com Cayth:

– Vim avisar que infelizmente Ian Nai e parte da corte não virão.

– Como assim?

– Surgiram uns imprevistos e eles estão dando atenção a essa causa que se estendeu.

– E o que poderia ser de tanta importância?

– Kyran não me disse com detalhes, mas tem a ver com a revolução das mulheres e os direitos delas.

Cayth demostra ficar brava e Lili questiona:

– Kyran?

– Sim, meu companheiro, ele trabalha junto com Ian.

Cayth levanta e ataca algo para a farofa pegar ao longe, a cachorra pega o item e fica brincando na região em que pegou, Cayth demostra estar brava e comenta com Lili:

– Viu o que eu falei! Agora essas desocupadas estão atrapalhando o meu dia e o dia do meu marido.

– Cayth acalme-se...

– Tudo bem... Desculpe-me Jhon, eu me excedi, sei que elas estão lutando por uma causa nobre, eu só estou achando ruim coincidir com um dia especial para mim.

– Eu entendo...

– Por favor, se sirva, o chá está muito bom... Se vocês não se importarem eu vou falar com minha governanta e já retorno, tudo bem?

– Tudo bem.

Cayth tenta, mas não consegue esconder sua raiva, ela entra na mansão e grita: .

– Rossy!

– Sim madame.

– Eu não acredito, aquele desaforado veio me falar que...

– Eu já sei madame.

– Você já sabe? E por que não me avisou?

– Soube assim que ele chegou, ficaria desrespeitoso interromper e ir à frente dele dizer algo que ele veio falar.

– Não ficaria! Preferiria ouvir de você do que dele, parece que ele teve o gosto de me dar essa notícia.

– Acho que não senhora.

– Será? Essa raça é traiçoeira.

– Se me permite dizer senhora, se ele não viesse avisar seria vergonhoso separar tantos lugares, pronunciar a presença de pessoas importantes e no fim, elas não aparecerem... A senhora lembra-se do desastre que foi a festa da família Constror?

– Sim, muitas pessoas não compareceram e nem avisaram.

– Sim, ele ficou sabendo por que o marido dele trabalha com Ian, e sabendo disso ele pediu que avisasse a senhora o mais rápido possível.

– “Marido”? Credo...

– Madame?

– Sim, você está certa, me desculpe...

– Algo mais que eu possa fazer pela senhora?

– Não, obrigada, como estão os preparativos?

– Está tudo em ritmo acelerado, terminaremos bem a atempo e sem nenhum inconveniente.

– Ótimo, eu vou voltar a fazer companhia para eles no jardim, qualquer coisa me chame.

– Certo madame.

Cayth volta ao jardim e conversa com Jhon e Lili a tarde toda sobre assuntos comuns que não envolvam os receios e preconceitos de Cayth, sendo uma conversa agradável para todos. No final da tarde Jhon se despede para buscar Kyran e para se arrumarem para o jantar na mansão.

– Foi uma tarde agradável, muito obrigado por tudo.

– O prazer foi nosso.

– Nos vemos mais tarde.

 Lili sobe para se arrumar e Cayth é abordada por alguns guardas que têm um prisioneiro de guerra que não para de chamar pelo seu nome, o porão da mansão era usado antigamente como calabouço, depois de algumas reformas essa área foi reduzida e modificada, mas ainda há uma cela bem forte, onde está o prisioneiro que chama pela dona da casa, Cayth desce sozinha e vê o rapaz:

– O que você quer comigo?

– Anirak, sou eu, Ray, você está enfeitiçada.



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